domingo, 1 de dezembro de 2024

Advogado ligado a Mendonça e secretário de Tarcísio são favoritos para TCE-SP, FSP

 O advogado Maxwell Vieira e o atual controlador-geral de São Paulo, Wagner Rosário, são citados como os favoritos para duas vagas de conselheiros do Tribunal de Contas do Estado que serão abertas nos próximos meses.

Vieira deve ocupar o lugar que hoje pertence ao conselheiro Robson Marinho, que deve se aposentar em dezembro. Ele será indicado pela Assembleia Legislativa.

O atual controlador-geral de São Paulo, Wagner Rosário,
O atual controlador-geral de São Paulo, Wagner Rosário, - Roque de Sá/Agência Senado

O advogado foi preterido no início do ano em outra vaga que tinha sido aberta na corte, o que desagradou ao ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, a quem ele é ligado. Por isso, agora deve ser contemplado.

Já Rosário, que tem status de secretário estadual, é o mais cotado para o lugar de Roque Citadini, que se aposenta no terceiro trimestre do ano que vem. A vaga nesse caso é da cota do governador Tarcísio de Freitas, amigo do controlador-geral desde os tempos de colégio militar.

Haverá ainda uma terceira vaga disponível, no final de 2025, do conselheiro Sidney Beraldo, mas para a qual ainda não há nome forte.

Com as trocas, Tarcisio terá indicado ao fim do seu mandato 4 dos 7 membros da corte de contas.


Três equívocos sobre processos de autocratização e crises da democracia em escala global - Marcus André Melo, Folha

 

Ao longo dos oito anos em que venho atuando como colunista aqui na Folha critiquei análises sobre crises e ameaças à democracia bem como índices de qualidade da democracia produzidos pelo VDEM e Freedom House. É reconfortante saber que estas instituições reconheceram as insuficiências apontadas por muitos analistas. A ideia de uma "recessão democrática" no mundo foi em parte produto da ascensão de Trump em 2016. Sua reeleição, em 2024, tem efeito similar, magnificando simbolicamente a narrativa de uma crise global da democracia. Já houve vieses no sentido contrário: quando a Argentina saía do regime militar e Menem, que havia sido encarcerado pelo regime, assumiu o poder, não se detectou nenhum retrocesso nos índices em seu mandato; Menem, no entanto, aumentou o número de juízes da Suprema Corte de 5 para 9, garantindo de imediato maioria na casa. Conscientes ou não, os analistas "torciam" para que a transição desse certo.

Em Oregon, manifestante segura placa com a frase Trump Vence em comício de apoio ao republicano em 6 de janeiro de 2021, dia em que apoiadores do republicano invadiram e atacaram o Capitólio, em Washington - Terray Sylvester - 6.jan.21/Reuters

Há pelo menos três equívocos nestes debates. O primeiro é o não reconhecimento de que a autocratização não é inexorável e os casos de reversão são mais frequentes do que os de entronização de regimes. O VDEM finalmente acaba de produzir um mea culpa sobre este ponto, que foi objeto de críticas de vários analistas. Segundo o instituto, desde 1900, 48% dos casos de autocratização (U-turns) são revertidos. Mais importante: nos últimos 30 anos, essa porcentagem sobe para 70%. E o principal: 93% dessas reversões levaram a regimes com qualidade igual ou superior aos regimes vigentes antes da autocratização. Se há uma tendência real, é a de democratização.

O segundo reconhecimento pelo VDEM é o de que a piora dos índices reflete o fato de que nas três últimas décadas a democracia estendeu-se a "lugares difíceis", onde a probabilidade de reversão seria muito maior. São países muito pobres e/ou onde nunca houve regime representativo. Por construção, portanto, tem havido mais países piorando do que melhorando índices. Daí a curva de sino (bell curve) nos índices de lugares difíceis.

Segundo o VDEM, a expressão "autocratização" denota decréscimos no índice de qualidade da democracia independentemente do seu nível. Assim quando o escore de países como Noruega ou Dinamarca —ou Belarus e Nicarágua— declinam, conclui-se que estão se "autocratizando". O resultado é uma inflação de casos de autocratização. O termo também é inadequado por sugerir governo de um único indivíduo. Há também o problema simétrico: que a elevação do escore em não democracias, quando passam de tiranias personalistas para autocracias modernas e burocratizadas (ex. China), significa que estaria ocorrendo democratização, mesmo que essa mudança leve à probabilidades decrescentes de mudança nos regimes.

Um terceiro equívoco diz respeito a um possível viés subjetivo na codificação e comparabilidade. No caso do VDEM, malgrado a excelência técnica de seus pesquisadores e codificadores nos diversos países, eles produzem disparates. O que, reconheço, são inevitáveis dado a magnitude da tarefa envolvida. Em seu relatório de 2023, chega-se à uma conclusão inteiramente implausível: que o Canadá e Portugal haviam deixados de ser democracias liberais. Em seu relatório de 2024, não houve registro de anomalias como essa.

O Hotel Municipal: decadência, restauração e a volta ao apogeu- Por Ignácio de Loyola Brandão, OESP

 


Foto do author Ignácio de Loyola Brandão

Crítico de cinema de O Imparcial, em Araraquara, em um sábado de 1954 fui para Tamoio, onde Carlos Coimbra dirigia o filme Armas da Vingança.

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Havia no elenco uma cantora da Tupi, Silvana Marçal, morena, sensualíssima. Ficamos amigos. Uma tarde, recebi um telefonema dela dizendo que iria a Araraquara assistir a um filme. “Você me acompanha?” Encontrei-a no Cine Paratodos, hoje templo religioso.

Terminada a sessão, o centro deserto, sem saber o que fazer, vimos o confortável hall do Hotel Municipal, decidimos esperar ali. Sentamo-nos. Então apareceu o dono do hotel. “São hospedes?” Não. “E o que fazem aqui?” Expliquei: Esta moça é da TV Tupi, está fazendo um filme em Tamoio, fomos ao cinema, esperamos o jipe que vem buscá-la. “Atriz?” O sujeito se enfureceu, babando feroz: “Atriz? Sei o que é atriz! Em meu hotel? Caiam fora! Fora! Vão lá para a Rua Oito”. Era a rua dos bordéis. Atordoados, fomos saindo, ele vociferou: “Aqui é lugar de respeito!”.

Em foto de 2005, a casa da promotora Cíntia Pupin, um projeto de Fuad Murad, trazia uma lareira com cadeiras de madeira do encerramento do Hotel Municipal de Araraquara.
Em foto de 2005, a casa da promotora Cíntia Pupin, um projeto de Fuad Murad, trazia uma lareira com cadeiras de madeira do encerramento do Hotel Municipal de Araraquara. Foto: Rogério Assis/Estadão

Saímos estupefatos e de repente explodimos em uma gargalhada. Rimos muito. O dono do hotel estava a nos olhar, pasmo. Ainda ríamos quando o jipe chegou e Silvana partiu. Ela morreu há décadas. O melhor veio agora.

Erguido em 1919, o Hotel Municipal foi orgulho da cidade por décadas. Ali se hospedaram os presidentes Epitácio Pessoa e Fernando Henrique Cardoso. E o poeta Coelho Neto, o paisagista Burle Marx, o compositor Villa-Lobos, os Alimondas, músicos clássicos, cantores como Jorge Goulart e Marlene, nomes como Tônia Carrero, Paulo Autran, Anselmo Duarte, Alberto Ruschel, Eliana Macedo, dos musicais da Atlântida. Havia ainda o requinte do bar na esquina, hoje loja. Por anos, reuniram-se ali jovens como Hugo Fortes, depois advogado de alta estirpe; Luis Roberto Salinas Fortes, filósofo, tradutor de Sartre; Sidney Sanches, que nos anos 1990 foi presidente do Supremo Tribunal Federal e assinou o impeachment de Collor. Sem esquecer o Zé Celso.

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Veio um período de decadência, o hotel foi minguando até chegar à restauração, em que se associaram poder público e empresários. Hoje, voltou ao apogeu, a cada ano abriga os escritores que chegam para a Festa Literária da Morada do Sol. Quantas vezes, o CEO do hotel, Juliano Karam, me ajudou a autografar centenas de livros que seriam doados às escolas? Quando vou à minha terra, fico no hotel. O apartamento em que me hospedo tem na porta, desde a primeira semana de outubro, uma bela etiqueta de madeira com meu nome. Homenagem ao escritor da terra. Cada vez que pego a chave penso em Silvana. Ela está vendo, e rindo.

PS: Hoje, as 15 horas, autografo meu livro infantil, Só Sei Que Nasci, na Livraria da Vila da Fradique.