domingo, 7 de março de 2021

A força do Crowdsourcing para novas iniciativas colaborativas - Colab

 Recentemente houve um fenômeno polêmico na bolsa de valores mundial, que agitou investidores e causou interesse global a partir de uma ação colaborativa feita para uma empresa americana, a GameStop. Essa história será o nosso ponto de partida para falar sobre uma grande mudança de comportamento que segue junto com a evolução digital e que foi tema do artigo do Apolitical escrito por Josh Solinger, analista de dados de operações em Pierce County, Wisconsin. 

Contextualizando

Mas antes de entrar no foco da discussão, vamos resumir o que de fato aconteceu com a GameStop, ela foi o alvo de um crowdsourcing - termo descrito por Jeff Howe e usado para explicar o processo de obtenção de serviços, ideias ou conteúdo gerado a partir de um grande grupo de pessoas, especialmente da comunidade online. Essa movimentação de crowdsourcing aconteceu na rede Reddit, na qual um grupo de pessoas apostaram contra a queda das ações da empresa que nunca havia lucrado e que "do nada" teve um verdadeiro disparo positivo a partir dessa atitude coletiva. Essa manobra é conhecida na bolsa de valores como short squeeze

O que é short squeeze?

É o termo usado para uma movimentação que acontece em uma ação da bolsa que sobe depressa e faz com que investidores que apostaram na queda dessa ação sejam obrigados a comprá-la rapidamente, evitando assim prejuízos maiores. Consequentemente, ao invés do preço cair, ele sobe e o fundo de investimentos precisa comprar por um preço maior do que o esperado, antes que suba ainda mais. 

Aplicado à história da empresa americana de games, o valor das ações que era de US $17 teve uma alta em janeiro para aproximadamente US $350. Segundo Josh, o mecanismo pelo qual o preço das ações disparou, com o ato de muitas pessoas comprando ações ao mesmo tempo, não é novo. O que marcou como uma ideia inovadora esse movimento foi a forma que aconteceu, através da campanha de crowdsourcing nas redes sociais.

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Crowdsourcing no setor público

A comparação feita no artigo está exatamente na força de um ideal pensado e feito coletivamente, que somado a tecnologia, levará a sociedade a novos lugares, que são surpreendentes e perturbadores ao mesmo tempo. Nas palavras de Josh, esse cenário aplicado à realidade tem duas saídas para os gestores: tentar surfar na onda ou ser engolido por ela. "São os desenvolvimentos em ideias de crowdsourcing em um setor de tecnologia próspero que devem fornecer um roteiro para os governos locais enquanto fazem a transição do modo de sobrevivência."

A partir da análise do artigo, resumimos em 4 tópicos o que Josh Solinger acredita ser um aprendizado em tempo real para ser utilizado em decisões públicas que envolvem o potencial dos gestores e da população. Veja abaixo suas ideias implementadas na gestão pública.

1- A união faz a força: A quantidade de novas informações que os servidores públicos do governo local devem aprender para se manter relevantes requer mais generalização e adaptabilidade. Porém, a informação não para de chegar e a chance dela ficar obsoleta é grande. Josh acredita que uma mentalidade generalista será importante para fazer parte da mudança que os governos lutam para terem novas ideias e conceitos.

 "Para os servidores públicos, o risco é que fiquem paralisados ​​pela sobrecarga de informações. A boa notícia é que não precisamos lidar com todas essas informações sozinhos. No Reddit, como as informações estavam disponíveis gratuitamente, uma comunidade de oito milhões de pessoas foi capaz de produzir um resultado extraordinário. Não há motivo para não podermos fazer algo igualmente ambicioso no governo, se apenas fizermos um convite para todos participarem." comenta em seu artigo.  

2- Tenha uma relação de amizade com o cidadão: Convidar pessoas de fora para fazerem parte de processos, formulários, pesquisas e documentação é um passo importante no envolvimento de uma gestão, principalmente pública, no qual essas pessoas são os cidadãos. Eles irão se sentir importantes contribuindo com processos que fazem parte de uma escala muito maior que um só grupo de pessoas.

"Os servidores públicos devem fazer sua parte para deixar de lado as normas tradicionais de burocracia opaca e pensamento isolado. Em vez disso, eles devem estar dispostos a tornar sua prestação de serviços vulneráveis ​​a exames críticos por 'especialistas cidadãos' e adotar um pensamento em nível de sistema para usar a riqueza crescente de conhecimento em suas comunidades." conclui Josh. 

3- Decisões a partir de análise de dados: "Se os governos locais quiserem acompanhar o ritmo de crescimento da informação, eles terão que ser ágeis e gastar menos tempo trabalhando em estruturas burocráticas." argumenta Josh, que para ele a ideia de inovação colaborativa parte da utilização e análise de dados usado com inteligência integrada pelos departamentos de uma gestão. 

4- A tecnologia a favor da transformação: Já sabíamos do grande potencial que tem quando juntamos uma intenção coletiva a uma ferramenta da tecnologia, na pandemia ficou ainda mais claro que essas atitudes irão transformar, e muito, a nossa dinâmica como pessoas e como sociedade. Josh visualiza que em breve plataformas digitais e os aplicativos serão um requisito para os governos acompanharem as mudanças mundiais e para além disso, os cidadãos também terão participação ativa nessas mudanças. Até parece que ele está falando do Colab, né?  Mas sim, podemos tê-lo como exemplo, já que a solução de gestão pública colaborativa explora esse tipo de recurso tecnológico como ponte entre cidadão e gestão a fim de contribuírem para uma construção de comunidades melhores. 

"Isso exigirá que os governos entendam melhor as informações. Se não o fizermos, o risco é que os cidadãos engajados não vejam seus governos locais como parceiros na construção da comunidade", finaliza Josh. 

Portanto vale de exemplo prático o que aconteceu na bolsa, essa pauta específica de crowdsourcing pode ser aplicada em diferentes ocasiões, mas a ideia central é unir um grupo de pessoas com o mesmo interesse, uma causa específica, dentro da ferramenta certa! Essa é uma forte movimentação que pode surpreender - e transformar - uma rua, um bairro, uma cidade, um governo, um país… o mundo! 


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sábado, 6 de março de 2021

Equador é o futuro?, OESP

 Moisés Naím, O Estado de S.Paulo

15 de fevereiro de 2021 | 05h35

Apesar de ser o país das Ilhas Galápagos, de ter 32 majestosos vulcões, vários deles ativos, e ser o principal produtor de bananas do mundo, o Equador raramente atrai a atenção da mídia internacional. Não é o Brasil, o México ou a Argentina, os gigantes da região. Sua instabilidade política não é tão grave quanto a do Peru e o país não sofreu um saque como o da Venezuela

Em suma, é um país latino-americano normal: pobre, desigual, injusto, corrupto e cheio de gente decente e trabalhadora. Sua democracia é imperfeita, mas competitiva; suas instituições são fracas, mas existem; e sua economia, a oitava maior do continente, depende da exportação de petróleo, bananas, camarões e ouro, bem como do dinheiro que os equatorianos vivendo no exterior remetem a seus parentes em casa.

Ultimamente, o Equador está ganhando as manchetes com mais frequência. Eleições presidenciais sempre são notícia. A atenção incomum da mídia se deve ao fato de alguns analistas alertarem para a possibilidade de o resultado sinalizar uma mudança que transcende o Equador. A questão concreta é: a esquerda voltará ao poder na América Latina?

Entre o fim do século passado e o início deste, os presidentes de esquerda proliferaram. Tivemos de Lula a Hugo Chávez, de Evo Morales ao casal Kirchner e de Michelle Bachelet a Rafael Correa. A possibilidade de uma virada à esquerda na América Latina se baseia no fato de que as eleições do Equador são as primeiras de uma série que inclui presidenciais em Honduras (março), Peru (abril) e Chile (novembro), e legislativas em El Salvador, México e Argentina.

No primeiro turno das eleições equatorianas, nenhum candidato obteve votos suficientes, forçando uma segunda votação em 11 de abril. O candidato com mais votos no primeiro turno foi o esquerdista Andrés Arauz, promovido e protegido pelo ex-presidente Rafael Correa. O segundo lugar, bem distante do primeiro, é objeto de uma disputa acirrada entre o candidato conservador Guillermo Lasso e o indígena Yaku Pérez, que denunciou fraudes.

Guillermo Lasso - Equador
O candidato Guillermo Lasso, candidato do movimento Creo e do Partido Social Cristão, representa a opção conservadora e de centro-direita  Foto: Jose Sanchez Lindao/AFP

O empresário promete eficiência, crescimento econômico e emprego. O candidato de esquerda oferece mais igualdade, menos pobreza e mais justiça. E o líder indígena jura reivindicar os direitos dos povos indígenas e proteger o meio ambiente. Vimos essa oferta de alternativas eleitorais – empresário, esquerdista e indigenista – em outros países. Seu resultado é imprevisível. O Brasil é presidido por um populista de extrema direita, e o México, por um populista de esquerda.

Mas, além das ideologias que prevalecerão nos próximos anos, há uma tendência ainda mais importante: o uso de testas de ferro no poder. Essa se revela na propensão dos presidentes que não podem ser reeleitos a “instalar” no poder seus parentes ou pessoas próximas a eles na esperança que atuem como seus representantes políticos.

Arauz, o mais votado no primeiro turno, é candidato graças ao apoio do ex-presidente Rafael Correa. Este não pôde concorrer, pois foi desqualificado pela Justiça equatoriana por envolvimento em corrupção. Cristina Kirchner foi presidente da Argentina graças a seu marido, Néstor Kirchner (e reeleita após ficar viúva dele). No México, a deputada Margarita Zavala, mulher do ex-presidente Felipe Calderón, foi candidata nas presidenciais de 2018, nas quais Andrés Manuel Lopez Obrador foi vencedor. Na Colômbia, Juan Manuel Santos e Iván Duque chegaram à presidência graças ao apoio do ex-presidente Álvaro Uribe. No Brasil, Dilma Rousseff foi presidente graças a Lula e, na Bolívia, Lucho Arce venceu as eleições graças à popularidade de seu ex-chefe, Evo Morales, que lhe deu todo o seu apoio.

Com suas promessas impossíveis de cumprir, sua predileção por políticas de fracasso já conhecido e suas propensões autoritárias, o populismo – tanto de direita quanto de esquerda – é sempre uma grande ameaça. Mas a sua continuidade é uma ameaça ainda maior. Se um presidente populista é incompetente ou corrupto, mas a democracia funciona em seu país, os eleitores cuidarão de tirá-lo do poder. Os países podem superar o mandato de um mau presidente, mas o dano pode ser enorme e irreversível se esse mau presidente continuar no poder. Ou se, após o término de seu mandato, ele conseguir exercer o poder por meio de um de seus representantes políticos.

É importante impor limites jurídicos firmes à continuidade dos presidentes. Idealmente, devem ser eleitos por um período não superior a seis anos e não inferior a cinco. No final desse único mandato, não podem candidatar-se novamente à presidência. Nunca mais.

Esta solução para a continuidade no poder é difícil, mas não impossível de ser adotada. Infelizmente, o uso de testas de ferro na política é muito mais difícil de impedir. Mas é extremamente importante que o identifiquemos para denunciá-lo e, possivelmente, erradicá-lo./ TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL


Mario Sergio Conti Não é só Bolsonaro que esculhamba o Brasil, mas a pasmaceira, FSP

 

A política brasileira embrutece e emburrece. Não só por causa de Bolsonaro. Ele diz mentiras às pencas porque sabe que são engolidas com casca e tudo. Preside uma destruição sem paralelo na história nacional e ainda assim trota rumo ao golpe. Mas não é só ele que esculhamba o Brasil.

O que abate a política atual é a pasmaceira. Bolsonaro continua nas boas graças de megaempresários e microexecutivos, de senadores e deputados risíveis, de pastores e padres cúpidos, de generalecos e juízes chinfrins, da banca cinzenta e da juventude dourada.

Pessoa caminha em direção a porta instalada sobre despenhadeiro
Ilustração de Bruna Barros para a coluna de Mario Sergio Conti de 6 de março de 2021 - Bruna Barros/Folhapress

O 1% está com ele. Porque lucram com a Bolsopeste; ou descolam escrivaninhas para si e os seus; ou abocanham verbas e concorrências; ou babam por privatizações na bacia das almas; ou porque querem passar a boiada toda e acabar com os direitos dos desprezados.

Para piorar, uns 29% dos brasileiros aclamam qualquer pestilência do presidente. São os mata-mouros de ignorância rompante, os marombados que cravam o sorvete na testa. Os bofes de maus bofes que estão doidos para dar um pau nos maricas.

Por fim, 70% oscilam entre a frescura e o mimimi, segundo o presidente. Como bater panela na janela não é agir, eles já aguentaram 261 mil mortes, o bilu-bilu nos filhos, o desmonte da democracia, o desemprego na estratosfera, as boquinhas da milicada que açambarcou o Planalto —e só sairá de lá escorraçada.

A maioria silenciosa tem como porta-voz uma minoria iracunda, a dos profissionais da indignação. É com as veias do pescoço intumescidas que eles lançam reptos, impropérios, mandingas, sarcasmos, perdigotos, imputações. Puxa, que coragem.

Uma coragem discursiva, porém. A retórica briosa é válvula de escape, tagarelice que disfarça o raquitismo da nano-oposição, sua incapacidade em enfrentar Bolsonaro. Como ele é o campeão da baixaria, e bate abaixo da cintura, não há como encurralá-lo no ringue da baixeza verbal.

É de propósito que chama a galera para bate-bocas. Pois assim troca evidências materiais, como o palacete kitsch de 6 milhões de pixulés de Flávio Rachadinha, por delírios metafísicos do tipo spray antipeste. Acha melhor ser bucéfalo que trombadão.

Há raposas que entram na esparrela por esperteza. São os interesseiros do quanto-pior-pra-ele-melhor-pra-nós, a turma do lero-lero que cabe numa cifra: 2022, o ano santo em que ficarão por cima da carne seca. São parceiros do descalabro presidencial.

E há a maioria da maioria: os cansados de tanta guerra. São os que iriam à rua dar um basta a Bolsonaro, mas temem voltar para casa com a peste no sangue. Os acabrunhados pela traição do PT, pela lhaneza com que seus chefes foram corrompidos por empreiteiros.

Entre eles há também os que confiaram na Lava Jato, mas viram que seus heróis são manipuladores em proveito próprio, gananciosos vulgares.

De modo que, parafraseando Adorno, morrer de peste no Brasil de hoje atesta a irrelevância do ser vivo diante do absoluto social. A situação é tão sem saída que o ceticismo parece ter se entranhado no tecido nacional. Daí o embrutecimento e emburrecimento.

O mal-estar é evidente. Mas talvez ele seja sinal de uma volatilidade prestes a forçar saídas inesperadas. Como é melhor imaginar que se conformar, cabe tirar a política do piloto automático.

Pé no chão, porém. Se vingar a tradição, pode até ocorrer um estouro social. Algo entre a campanha das Diretas e o levante de 2013: uma revolta que sacuda a nação e o poder.

As explosões de massa em países pobres costumam ter fôlego curto. Por eles por não contarem com uma classe forte o suficiente para lhe servir de coluna vertebral. Também não constroem estruturas organizativas que imponham suas reivindicações. Tanto que as Diretas e 2013 foram derrotadas

Outro costume nacional, que serve de recurso para as autoridades civis, militares e eclesiásticas de todos os séculos, é a conciliação. Nesse cenário, governadores, Congresso e o Supremo, mancomunados com o empresariado e o Exército, mandariam Bolsonaro passear.

As duas alternativas implicam na queda do presidente. Num caso, ele apontaria para uma Assembleia Constituinte. Noutro, poria de pé um governo de união nacional. Ele organizaria a vacinação coletiva e daria um primeiro trato na debacle econômica. Depois, veria o que fazer.

Uma terceira possibilidade é tudo continuar como está. Ou seja: aprofundamento da degradação e do apodrecimento. A pasmaceira seria coroada por um golpe, uma saraivada de mortes à la Mianmar.

Mario Sergio Conti

Jornalista, é autor de "Notícias do Planalto".