sexta-feira, 13 de março de 2020

Onde está a Nova Política?, Humberto Dantas, OESP

Humberto Dantas
03 de março de 2020 | 08h20

Faz cerca de um ano que os políticos estaduais e federais eleitos em 2018 tomaram posse. Os membros do Poder Executivo em janeiro, e os legisladores em fevereiro – a exceção está na Assembleia Legislativa de São Paulo, cujos mandatos começaram em março. Em 2022, isso será finalmente corrigido, seguindo padrão nacional. Nesse período, fico me perguntando: o que representa a tal “nova política” que encantou tanta gente nas últimas eleições?
Por razões óbvias, descartarei dessa identificação o que vem do Poder Executivo federal. O discurso conservador que democraticamente agrada milhões de brasileiros é marca dessa ausência. A defesa da família e dos amigos; os encontros às escondidas com lideranças partidárias; a agressividade pouco democrática; o escancarado flerte histórico com milicianos; o desequilíbrio emocional e intelectual; a sensação de ser maior que o próprio partido; a acusação de que corruptos “são os outros”; as negações às ações da justiça apontando o dedo para adversários e inimigos imaginários; o ataque à imprensa; a liberação de espaço e recursos federais aos montes para aliados, isso tudo é antigo. Muito antigo, infelizmente.
Sobram aqui os governadores, mas não tenho condições técnicas de analisar os 27. Sobrarão, assim, os legisladores, e aqui deixarei de avaliar as assembleias, com exceção de uma casa vergonhosa chamada Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e seus velhos vícios de poder submisso – suas CPI’s continuam inofensivas e suas leis inconstitucionais, como bem mostrou esse jornal. Também vou ignorar os senadores, bem como os deputados da bancada da agressividade na Câmara que, a despeito do primeiro mandato têm levado para o parlamento um comportamento infantil, desequilibrado e pouco produtivo – o grupo eleito pelo PSL, a despeito das recentes separações, se destaca com louvor aqui.
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Sobra o que será o tema central de nossa conversa. E sobra algo? O que os agentes da “renovação” trouxeram de tão especial em um ano de mandatos parlamentares na Câmara dos Deputados? Você viu algo tão diferente e capaz de lhe fazer cair o queixo? Eu não. E aqui terei que abrir mão momentaneamente da expectativa que obviamente desejamos depositar numa futura geração que tem potencial, lembrando que 12 meses não são suficientes para grandes provas. Assim: antes da crítica, precisamos de paciência e esperança.
Fechado esses parênteses, vou ser bem claro sobre o motivo maior de minha acidez: utilizar ferramentas, por vezes questionáveis, de gestão do terceiro setor ou de empresas para tocar gabinetes parlamentares pouco muda a situação dos PARLAMENTOS a ponto de falarmos sobre uma NOVA POLÍTICA. Legislativos são casas coletivas, políticas (sim! Isso é importante de dizer) e necessárias de serem pensados em sentido PLURAL, ou seja, o todo é infinitamente maior que a soma das partes. Assim, sofisticar entre quatro paredes mantêm as coisas quase no mesmo lugar. Algo como reformar um apartamento no mais escangalhado dos edifícios, o que no curto prazo será bom apenas da porta para dentro. Numeremos alguns pontos:
  • Se dizer sofisticado porque realizou processo seletivo para contratar assessor político, por exemplo, é negar a própria incapacidade de verificar que a lógica de um mandato representa algo específico, pontual e que minimamente deveria ter sido planejado a ponto de, inclusive, se ter clareza inicial, anterior à campanha, acerca de quem seria ideal em qual posição. Partidos fortes, por exemplo, ofertariam com naturalidade assessores contratados em processos internos e ideologicamente sintonizados com esses mandatos e seus princípios. Mas não! Muitos não tinham partido faltando sete meses para as eleições de 2018, e se elegeram pelo “estrategicamente mais fácil”. Isso é novidade? Nunca! Aqui não existe lá grande inovação, e abundam exemplos de imaturidade na composição das equipes. Ademais, a forma como se demite servidores contratados desse modo “inovador” então, é um verdadeiro convite ao que existe de mais deprimente. Exemplos também não faltam.
  • Distribuir recursos de emendas por meio de editais públicos é algo simpático, interessante, mas reforça o caráter executivo do parlamento, e se aproveita politicamente de um dinheiro bastante questionável – isso é novo? Além disso, o fato de criarem canais, sobretudo virtuais, de contato para futuro pedido de votos em nada rompe aspectos bastante conhecidos do velho modo de fazer política com base na máquina pública e seus recursos. Aqui, a lógica retrofit é clara demais.
  • Atacar os próprios partidos, forçando expulsões ou ganhando o noticiário para atrair aplausos é também absolutamente infantil e individualista. Isso em nada renova. A criação de partidos novos para escapulir da legenda original então, completa quase uma década diante das resoluções e percepções da justiça eleitoral sobre fidelidade. Tristeza!
  • Ter um planejamento estratégico de mandato em tese trafegaria no óbvio, e o parlamento em termos coletivos pouco ganha com isso. Trata-se de uma possível ferramenta, apenas uma, para se fazer individualmente o que precisa ser pensado coletivamente. Incrível como parte dessa nova geração se frustra quando descobre que terá que interagir e fazer política no PLURAL para ter o que deseja no exercício de gestão. Isso está longe de ser a nova política possível e desejada.
  • Planejar deixar o mandato depois de menos de dois anos ocupando uma cadeira de deputado para buscar o cargo de prefeito em 2020 é outro fenômeno absolutamente possível de ser chamado de “mais do mesmo”.
  • Utilizar a estrutura do gabinete para encubar futuros candidatos e utilizar a comunicação individual – que só a justiça não pune à luz da impessoalidade requerida pela Constituição Federal – são pontos que um dia merecerão mais atenção e crítica. Além disso, ficar horas postando vídeos no celular sem dar a mínima atenção ao que de fato ocorre dentro do plenário é uma triste atitude adolescente, assim como postar insanamente conteúdos de autopromoção nas redes sociais se distancia do que as atribuições parlamentares exigem. Mitar e lacrar pessoalmente flerta com o ridículo.
Aqui estão apenas alguns exemplos. Outros poderiam ser listados, e todos eles somados talvez ofertem aos menos atentos à política um sentimento de que efetivamente a inovação funciona a pleno vapor. A questão é entender se quem avalia tudo isso como revolucionário não tem uma visão estreita e limitada do que a política efetivamente exige como desafio, sobretudo em casas coletivas onde o sentido das palavras PARTIDO e PARLAMENTO precisam ser revisitadas no coletivo.
Assim, depois desse cargueiro de atitudes questionáveis que têm sido chamadas de “inovação”, confesso que mesmo sem ter simpatia ideológica pelo NOVO, é de lá que ao menos parece vir uma noção minimamente decente e razoável de PARTIDO POLÍTICO condizente com o que democraticamente pregam. A liderança da legenda na Câmara dos Deputados tem buscado se destacar com a criação de métricas, estabelecimento de objetivos claros para a bancada, instrumentos de transparência coletivos e coisas do tipo. Mas isso não são as criticadas ferramentas descritas acima? Sim, mas não dentro do gabinete, e sim sob a lógica de PARTIDO, elemento fundamental e essencial que efetivamente merece ser inovado em nome do fortalecimento do parlamento e da lógica de nosso desenho de democracia representativa.
Assim, se tais ferramentas de características mais gerenciais e, por vezes empresariais, darão certo teremos que esperar o tempo nos dizer, mas ao menos parece haver um mínimo compromisso com o PARTIDO. O NOVO saiu na frente aqui, restando saber se suas partes (deputados) entenderão e respeitarão isso tudo. Dessa forma, ainda temos muito o que evoluir, mas o simples compromisso de uma legenda em tentar se mostrar como partido é mais valioso que a pretensa sofisticação de mandatos que, isoladamente, estão mais preocupados em se dizer diferentes em meio ao que eles mesmos entendem como deprimente.
Na Câmara dos Deputados, onde cada ator isolado equivale à fração 1/513, tenho a lembrar que o peso final de gestos quixotescos será rigorosamente muito próximo de 0, e provavelmente, nessa toada, é isso que muitas dessas “novidades” acrescentarão às suas votações quando lhes perguntarem em 2022: no que efetivamente você INOVOU? O que CONQUISTOU? Onde está a NOVA POLÍTICA que me vendeu em 2018? A não ser que o eleitor continue, bombardeado por muito alarde e pelos próprios valores individualistas, acreditando que uma andorinha barulhenta criou em voo solo um verão ensolarado. Isso também é mais do mesmo, mas não vou aqui falar do quanto o eleitor também precisa ser parte dessa NOVA política.

PSB e PDT formam aliança nacional para as eleições e lançam Márcio França em SP, FSP

Ex-governador paulista, França diz que os dois partidos juntos são maiores que o PT

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SÃO PAULO
Aos gritos de "São Paulo quer mudança, agora é Márcio França", o PSB e o PDT anunciaram nesta quinta-feira (12) uma aliança nacional para as eleições municipais de outubro.

O ex-governador França, do PSB, que perdeu as eleições estaduais de 2018 para João Doria (PSDB), recebeu o apoio de líderes do PDT, como Ciro Gomes, em evento que marcou o lançamento da sua pré-candidatura à prefeitura da capital paulista, num hotel em São Paulo.
"PDT e PSB juntos são maiores que o PT", discursou França, referindo-se a tempo de televisão na propaganda eleitoral e ao número de deputados na Câmara. A nova frente de esquerda se apresenta como uma alternativa ao petismo.

"Não somos obrigados a ficar subjugados a nada", completou França, também em referência ao PT. Com a resistência do ex-prefeito Fernando Haddad em concorrer, os petistas farão prévias para decidir seu candidato em São Paulo no dia 22. O favorito hoje é o ex-deputado Jilmar Tatto.
PSB e PDT formam aliança e lançam Márcio França (PSB) para a Prefeitura de São Paulo
PSB e PDT formam aliança e lançam Márcio França (PSB), à direita, para a Prefeitura de São Paulo - Carolina Linhares/Folhapress
Em entrevista a jornalistas, França afirmou que alianças com o PT já foram feitas em outras eleições, mas que agora há outro caminho. A busca do PT por manter a hegemonia e o protagonismo na esquerda afastou da sigla caciques de outras legendas do mesmo campo político, como Ciro.
"Não há dificuldade com a convivência com o PT, mas somados temos um tamanho maior que o PT. A nossa somatória passa para o Brasil uma conta que talvez as pessoas não tivessem uma noção, de que o PT é muito importante, mas não é o único e nem o maior", disse.
França também se opôs ao atual prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), que era vice de Doria na eleição de 2016.
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"Aqui em São Paulo o eleitor tem basicamente a opção de renovar o mandato do prefeito, que é uma continuação do mandato do governador Doria. E há um outro campo, em que vamos fazer uma disputa leal com o eventual adversário do nosso campo, que é o PT. Vamos fazer uma disputa honesta de quem é que vai eventualmente para o segundo turno. Se chegar a ir, é outra eleição", completou.
França, que foi próximo do PSDB e foi vice-governador do tucano Geraldo Alckmin em São Paulo, criticou políticos de direita, chamando-os de insensíveis por não voltarem suas políticas aos mais pobres.
Também afirmou que a eleição será mais voltada a questões municipais do que ideológicas e que o presidente Jair Bolsonaro, uma vez que a Aliança pelo Brasil não será criada a tempo, não deve interferir na disputa paulistana.
"É claro que vai ter componente ideológico, porque a eleição de São Paulo repercute no Brasil todo, mas a vida das pessoas tem muito a ver com o serviço que está funcionando ou não. E os serviços públicos estão com problema, em especial o das pessoas mais pobres."
Antes de declarar apoio a França, o PDT chegou a conversar com Marta Suplicy, hoje sem partido. A ex-prefeita buscava se viabilizar como vice de Haddad, caso ele decidisse concorrer. O partido, no entanto, resistiu em filiá-la para ser vice do PT.
Para Ciro, uma vitória de França em São Paulo teria "repercussão histórica". O ex-ministro se coloca como alternativa ao PT e não declarou apoio ao petista Haddad no segundo turno das eleições em 2018.
No mesmo sentido, Carlos Siqueira, presidente do PSB, disse que "seria uma sinalização ao país de que é possível ter um sistema político diferente". "Não se pode aceitar o que acontece no país de cabeça baixa", completou Siqueira, em crítica a Bolsonaro.

Carlos Lupi, presidente do PDT, manifestou a vontade de que Antônio Neto (PDT) seja vice de França.

A aliança eleitoral entre PDT e PSB, nascida em São Paulo e costurada desde o ano passado, deve se expandir para outras capitais e mira, a longo prazo, a campanha presidencial de 2022 —com Ciro concorrendo ao Planalto novamente.

A ideia é oferecer uma alternativa de esquerda ao PT e quebrar a polarização com o bolsonarismo. Na avaliação de líderes trabalhistas e socialistas, essa outra frente de esquerda é mais viável para derrotar Bolosonaro em 2022, uma vez que o antipetismo contribuiu para sua vitória em 2018.

Em relação às eleições de 2020, os dois partidos costuram alianças também em outras capitais. O PSB deve apoiar Martha Rocha (PDT) no Rio e Juliana Brizola (PDT) em Porto Alegre. No Recife, João Campos (PSB) deve ter o apoio do PDT. Em Florianópolis, os partidos devem apoiar candidato do PSOL.
Além de PDT e PSB, a Rede e o PV também articulam para reforçarem a aliança nas capitais.