domingo, 4 de maio de 2025

Quem influenciou quem? Ruy Castro FSP

 Elis Regina, que teria feito 80 anos em março, parece estar de volta —pelo menos nos termos que o Brasil permite isso a uma pessoa que já se foi há tanto tempo. O magnífico filme "Elis & Tom", de Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay, de 2022, já foi um renascimento. "Elis", sua biografia por Julio Maria, saiu de novo, agora pela Companhia das Letras. E, incrível, Elis está presente até no rádio de táxis que tenho tomado. Sua voz volta para fazer companhia às de Leila Pinheiro, Marisa Monte e Maria Rita, suas mais aplicadas herdeiras. Mas, se Elis teve seguidoras, ela própria teria sido herdeira de quem? De Angela Maria, claro, depois temperada com Nora Ney, a resultar numa cantora que sabia cantar e dizer.

A imagem mostra três capas de discos de vinil sobre uma superfície escura. A capa superior é de 'Bobby Troup!', com uma foto em preto e branco de um homem sorridente. A capa do meio é de 'The Greatness of Joe Mooney', apresentando um close do rosto de um homem com cabelo grisalho. A capa inferior é de 'She Dances Overhead' de Matt Dennis, com uma imagem colorida de pernas femininas em uma saia azul. As capas contêm títulos e informações sobre as faixas dos discos.
LPs clássicos de Bobby Troup e Joe Mooney e CD de Matt Dennis, cantores americanos - Heloisa Seixas

Influências são sempre discutíveis e podem ser surpreendentes. Ella Fitzgerald, para muitos, foi a maior cantora negra. Por quem ela se dizia influenciada? Pela branca, e também grande, Connie Boswell. E qual era a cantora que, segundo ela própria, tinha Ella como modelo? Doris Day. Bing Crosby saiu de quem? Do tenor irlandês John McCormack e de Louis Armstrong. E quem saiu de Bing? Frank Sinatra, Billy Eckstine, Mel Tormé, Dean Martin e dezenas de outros, inclusive o nosso Dick Farney —e, num palpite ousado, mas facilmente defensável, Orlando Silva.

Orlando Silva? Sim, de quem saíram Cyro Monteiro, Lucio Alves e, confessadamente, João Gilberto, todos no início da carreira. E enganam-se os que dão João Gilberto como influenciado por Chet Baker. João Gilberto e Chet Baker é que foram influenciados por Joe Mooney, Matt Dennis, Bobby Troup e uma quantidade de americanos que já cantavam baixinho e quase sem vibrato em fins dos anos 1940. Os quais, todos, podem ter saído do jovem Nat King Cole.

Raul Seixas queria ser Elvis Presley. Há quem ouça ecos de Jerry Adriani em Renato Russo. E não ria, mas sempre achei Roberto Carlos um Waldik Soriano suavizado por Tito Madi.

Bem, eu disse que essa história de influência de um cantor sobre outro era discutível.

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