quinta-feira, 1 de maio de 2025

Opinião | 1º de maio esvaziado. Celso Ming, OESP

 Estão indo embora os tempos em que um sonho comum entre as pessoas era um bom emprego formal, aquele com carteira assinada, certa estabilidade e direitos trabalhistas.

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Mesmo com 7,7 milhões desempregados, alguns setores da economia não conseguem mão de obra. É, por exemplo, o caso dos supermercados, como vêm atestando empresas do setor.

Há uma circunstância nesse cenário: nada menos que cinco gerações de trabalhadores dividem o mercado de trabalho – e buscam objetivos diferentes em uma atividade, como pesquisas estão verificando. São elas as assim denominadas: geração silenciosa (1927–1945), os baby boomers (1946–1964), a geração X (1965–1980), geração Y ou millennials (1981–1995) e os recém-chegados da geração Z (1995 a 2010).

Por conta desses desencontros, o mercado de trabalho enfrenta maior rotatividade; conflitos geracionais causados por visões distintas sobre sucesso na carreira e desfrute do lazer; e busca de maior independência no exercício de qualquer atividade, como autonomia para definir a carga de trabalho e para prestação de serviços para mais de um empregador. A segurança do emprego já não é a mesma. A alta rotatividade sujeita o empregado à demissão a qualquer dia. Bateu nos 50, já não é fácil encontrar quem ofereça emprego.

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Nesse ambiente, não há o mesmo interesse de antes na sindicalização. É tão insegura a aposentadoria futura proporcionada pela Previdência Social, que grande número de trabalhadores prefere ganhar a vida e seu futuro com atividade por conta própria, seja ela denominada empreendedorismo ou trabalho autônomo, hoje facilitada pela difusão dos aplicativos. É o que poderia, em princípio, proporcionar a formação de um pé-de-meia maior do que o do INSS.

Cinco gerações de pessoas se dividem atualmente no mercado de trabalho, situação que impõe mudanças estruturais no modelo de trabalho e no seu significado para cada geração.
Cinco gerações de pessoas se dividem atualmente no mercado de trabalho, situação que impõe mudanças estruturais no modelo de trabalho e no seu significado para cada geração. Foto: Marcos Müller/Estadão

governo Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT) continuam no século passado. Querem enfiar todos os casos na CLT, dos anos 40, quando não havia computador, nem celular. Consideram a terceirização e as atividades ligadas ao empreendedorismo como “trabalho precarizado” ou truque que sonega direitos trabalhistas. Querem o retorno do imposto sindical e se escandalizam quando os novos empreendedores rejeitam a sindicalização e propostas de regulamentação da atividade.

É por isso e por coisas do gênero que a comemoração de 1º de maio já não é a mesma. Quando consegue algum sucesso de público é por conta dos shows propiciados por artistas contratados para isso ou, então, dos sorteios de brindes. No ano passado, reuniu apenas punhados de gente no estacionamento do Corinthians.

Neste ano, nem mesmo o antigo líder sindical e hoje presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, entendeu que devesse comparecer ao encontro convocado pelos líderes das centrais sindicais – trocou a participação em eventos por pronunciamento em rádio e TV. O 1º de Maio esvaziado é um sinal dos tempos e deve ser entendido como tal, com as suas implicações.

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