Relatório clama por uma agenda econômica centrada em seres humanos
Foi lançado nesta semana, em meio às celebrações do centenário da OIT, o relatório da comissão global sobre o futuro do trabalho, que tive a honra de integrar.
Acontecendo ao mesmo tempo e no mesmo país em que o Fórum Econômico Mundial, o evento pode não ter recebido grande atenção da imprensa brasileira. Mas o que o texto revela é, em tempos de populismo, uma visão centrada em políticas públicas para enfrentar desafios que o século trouxe para a humanidade.
Frente à chamada revolução industrial 4.0, ao envelhecimento da população e à mudança climática, a resposta aparece na forma de programas para evitar o crescimento da desigualdade e melhorar a preparação das gerações futuras e o conceito de uma sociedade ativa ao longo da vida.
É importante lembrar que, segundo pesquisadores, haverá em poucos anos a extinção de profissões e de tarefas dentro de várias ocupações, diante da automação e da robotização aceleradas. Outras serão criadas, demandando, porém, competências distintas das que estavam em alta até pouco tempo.
O cenário exige grande investimento nas pessoas. Por isso, o relatório clama por uma agenda econômica centrada em seres humanos, especialmente uma ampliação em suas capacidades.
Isso envolve trabalhar com o conceito de aprendizagem ao longo da vida, ou seja, desde a primeira infância, para desenvolver competências basilares e promover autonomia para que todos possam aprender a aprender.
Afinal, numa vida em que tarefas vão sendo extintas e assumidas por máquinas, teremos que nos reinventar continuamente, passando a desempenhar atividades que demandam, entre outras, capacidade de resolução criativa e colaborativa de problemas complexos, reflexão crítica e maior profundidade de análise.
Teremos também que contar com agências de aconselhamento profissional e com um ecossistema educacional que inclua modalidades ágeis de cursos para capacitação, recapacitação e requalificação.
A certificação de conhecimentos previamente adquiridos ganha força e sentido de urgência, além de um investimento maior em escolas técnicas e profissionais que fomentem não só a aquisição das competências necessárias para uma profissão específica mas também para obter outra rapidamente, se necessário.
No caso brasileiro, em que tão poucos buscam esse caminho, acerta o Itaú-BBA quando preconiza um ensino médio técnico que dialogue mais com a universidade, mediante reconhecimento de créditos adquiridos, e com o mundo do trabalho, num processo que incorpore uma abordagem de aprendizagem ao longo da vida.
Claudia Costin
Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário