domingo, 13 de janeiro de 2019

Chicago e a política pública, FSP




Chicago e a política pública

Pena que outra revolução causada pela universidade não tenha tido tanto destaque


Universidade de Chicago ficou famosa no Brasil pelas políticas liberais defendidas por alguns de seus professores. Pena que não tenha tido tanto destaque a revolução que provocou na análise econômica e na relevância da política pública para o desenvolvimento.
A economia estuda dilemas e tenta estimar os custos e os benefícios das diversas opções. Essa definição inclui temas tão díspares como a escolha do restaurante, o consumo de drogas, a leniência com a inflação ou o que fazer em caso de poluição.
Há 80 anos, Chicago contava com economistas notáveis, como Jacob Viner, Henry Simons e Frank Knight, e seus alunos começaram a combinar os modelos teóricos com a pesquisa aplicada. A regra do jogo era submeter as conjecturas sobre economia ao escrutínio da melhor evidência disponível, descartando preconceitos e argumentos frágeis.
Os resultados foram impressionantes. Milton Friedman aperfeiçoou a análise estatística dos dados econômicos com seus trabalhos sobre consumo. George Stigler botou de ponta-cabeça a teoria da regulação e foi o primeiro a estudar com rigor a economia da informação.


O economista norte-americano Milton Friedman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 1976
O economista norte-americano Milton Friedman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 1976 - Reprodução
Theodore Schultz observou que a educação poderia aumentar a produtividade e cunhou o termo capital humano. Jacob Mincer e GaryBecker documentaram a relevância da educação para a renda pessoal.
Becker utilizou as técnicas da economia aplicada para estudar a discriminação no mercado de trabalho, a ocorrência de crimes e a estrutura das famílias, incluindo o número de filhos. Robert Fogel adotou as mesmas técnicas para revolucionar a história econômica.
James Heckman aperfeiçoou a estatística para estimar os impactos da legislação trabalhista, da educação e do cuidado com a primeira infância sobre o emprego e a renda, alguns exemplos da sua imensa agenda de pesquisa.
Heckman tentou confirmar a tese dominante de que a diferença salarial entre brancos e negros decorria apenas de fatores objetivos, como educação. Afinal, maior produtividade gera mais resultados, qualquer que seja a cor da pele dos trabalhadores. Depois de muita pesquisa, rejeitou a tese e admitiu que a política de direitos civis foi relevante para reduzir a discriminação racial.
​Friedman, Schultz, Stigler, Fogel, Becker e Heckman receberam o Nobel de economia.
Há 50 anos, Carlos Langoni, cuja tese de doutorado foi orientada por Schultz em Chicago, mostrou que o gasto com ensino fundamental no Brasil era mais rentável do que qualquer outro investimento. Pouco depois, ele mostrou, com impressionante sofisticação técnica, que educação era o fator mais importante para explicar as diferenças individuais de renda.
Foi de pouca valia. Preferimos continuar a subsidiar concreto e máquinas em vez de educar as pessoas.
Marcos Lisboa
Presidente do Insper, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005) e doutor em economia.

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