Estudo inédito do Ibope revela que três tipos marcantes de eleitor emergiram das urnas eletrônicas em 2016. Seu comportamento e convicção – distintos entre si – são decisivos para entender a eleição. Os nomes com que são apresentados aqui, porém, não são de responsabilidade do Ibope. O batismo é por conta e risco deste repórter. São o “convicto engajado”, o “isentão decisivo” e o “só voto obrigado”.
O Ibope aplicou uma bateria de questões sobre política e eleições em todo o Brasil após o primeiro turno. O conjunto de respostas foi submetido a uma análise de cluster. Simplificando, ela agrupa indivíduos com opiniões similares, e separa esses agrupamentos segundo divergências. Eis o resultado.
O primeiro grupo, onde estão 36% dos eleitores que foram votar, é politizado e tem a cabeça feita. Todos, sem exceção, disseram ter definido seu voto para prefeito logo nas primeiras semanas, assim que souberam quem eram os candidatos. Nenhum anulou ou votou em branco. Todos dizem que iriam votar mesmo se o voto não fosse obrigatório. Dois em cada três têm preferência por algum partido. São os “convictos engajados”.
Em uma campanha eleitoral, sua convicção fica evidenciada nas primeiras pesquisas de intenção de voto, ao declararem espontaneamente em quem votarão. Quando muito, definem sua preferência assim que descobrem o candidato de seu partido, logo que a campanha eleitoral chega aos meios eletrônicos.
E são engajados porque participam ativamente do “buzz” nas mídias sociais – publicando ou compartilhando conteúdos contra ou a favor de um nome ou de um partido –, quando não participam pessoalmente da campanha de seu candidato preferido. São mais frequentes no interior do que na capital, nas menores cidades do que nas metrópoles. Têm 30% mais chance de serem filiados a um partido, discutem política no WhatsApp e leem blogs.
Embora sejam fundamentais em uma eleição, para fazer decolar uma candidatura, eles raramente mudam de opinião. São, portanto, menos permeáveis às campanhas. Aí entra o segundo grupo.
O “isentão decisivo” tem quase tanto interesse por política quanto o “engajado convicto”, mas é maleável. Deixa para definir seu voto nas últimas semanas, dias e horas da eleição. Assiste a mais telejornais, se informa em sites de mídia tradicional, discute política e eleição com amigos e familiares, presta mais atenção ao horário eleitoral e aos debates. Tem tanta identidade partidária quanto a média. Está aberto a mudar de ideia.
O “isentão” tem um terço a mais de chance de ter mudado de candidato após receber mensagem negativa sobre ele nas mídias sociais ou no WhatsApp. Por isso mesmo é decisivo: representando 26% do eleitorado que foi votar, é um dos principais responsáveis pelas mudanças de última hora na intenção de voto. É o quarto de eleitores curiosos, metropolitanos e que busca informação até o final. É positivamente volúvel.
O terceiro e maior grupo é o oposto do “convicto engajado”. Seus integrantes não têm interesse por política, não têm identidade partidária, têm mais de o dobro de chance de terem anulado ou votado em branco em 2 de outubro. Se concentram nas cidades das periferias das regiões metropolitanas e se informam sobre a eleição principalmente pela TV e pelo rádio. Não veem propaganda eleitoral nem gostam de debates entre candidatos.
Se o voto fosse facultativo, 84% deles não iriam votar. Os integrantes do “só voto obrigado” são 38% de todos os que votaram no primeiro turno. É o maior grupo, o menos interessado e o mais imprevisível: pode votar em qualquer um ou em ninguém.
Há um quarto grupo, que não entrou na conta acima porque não votou. São 10% do eleitorado, e tão ou mais desengajado do que os “só voto obrigado”. Mas a abstenção foi o dobro disso, não? Oficialmente, sim. Esses fantasmas formam o quinto grupo, o dos que permanecem no cadastro eleitoral mesmo depois de mortos.
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