sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O G-20 e a simbiose entre Estados Unidos e China, Celso Ming, OESP

O G-20 foi criado para ajudar a coordenar políticas para administrar com um mínimo de harmonia a ordem global. No entanto, se hoje há mais dissenso do que consenso, se há uma guerra comercial em curso, se a política do presidente do país mais poderoso do mundo é não olhar para os interesses dos demais, mas colocar os dos Estados Unidos acima de todos, em que consiste obter consenso mínimo? Talvez esse encontro se encarregue apenas de ordenar minimamente desentendimentos e conflitos de interesses.
O presidente Trump já determinou, por exemplo, que não se trabalhe mais para o livre-comércio, mas que as demais economias se conformem com reduzir seus superávits com os Estados Unidos, de maneira a garantir mais emprego para os trabalhadores americanos. No ano passado, a balança comercial dos Estados Unidos registrou déficit com 102 países. E esse empenho de Trump já é suficiente para criar novos enroscos globais. Tanto é que as primeiras minutas do documento a ser assinado pelos maiorais do mundo em Buenos Aires ignora questões de comércio exterior.
Neste momento, o maior conflito está sendo travado entre Estados Unidos e China. Trump já impôs tarifas alfandegárias sobre importações da China que alcançam US$ 250 bilhões por ano. E a China, por sua vez, retaliou mais ou menos nas mesmas proporções. Pelos canais diplomáticos, no entanto, as portas se mantêm abertas para o entendimento possível. Assim, o fato macropolítico mais importante desta reunião de cúpula é o encontro entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, o terceiro que acontece entre os dois.
Quem chega agora e olha para esses dois pesos-pesados pode ter a impressão de que a estratégia de Trump nesse ringue consista em nocautear Xi e a estratégia do líder chinês, em se esquivar dos golpes do norte-americano para, lá pelas tantas, levá-lo às cordas. Mas não é tão simples.
Estados Unidos e China vivem hoje uma relação simbiótica, de mútua dependência econômica. Se, de um lado, os Estados Unidos vêm importando demais da China, por outro lado não podem abrir mão do financiamento em dólares que a China proporciona para a cobertura do déficit fiscal, que em 2018 alcança US$ 779 bilhões. É com os dólares obtidos com o superávit comercial com o resto do mundo, principalmente com os Estados Unidos, que a China compra os títulos do Tesouro dos Estados Unidos hoje incorporados às suas reservas de US$ 3,1 trilhões. Se, numa situação limite, os Estados Unidos deixarem de importar da China, ou terão de produzir mais caro o que consomem, ou terão de importar de outros países. Ou seja, o risco não é apenas de mais inflação, mas, também, de alta dos juros, na medida em que haverá menos demanda para os títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Outra maneira de encarar essa complementaridade ou esse desequilíbrio complementar, digamos assim, é pelo lado da poupança. Os Estados Unidos operam hoje com uma poupança insignificante, de apenas 4% do PIB. A China poupa mais de 50%. Se os Estados Unidos reduzirem seu consumo, poderão importar menos e conviver com um déficit comercial mais baixo. Se a China consumir mais, terá menos produção para exportar e um superávit também mais baixo. Ou seja, não se trata de que o mais forte enquadre o mais fraco, mas de produzir ajustes recíprocos.
Este não é o único tema em pauta nesse encontro, se é que alguma coisa desses termos será tratada pelos dois. O presidente Trump vem acusando a China de pirataria tecnológica, principalmente no campo digital, e de movimentos imperialistas no resto do mundo, notadamente sobre os países emergentes.
Ninguém espera desse encontro entendimento definitivo entre as duas superpotências. Talvez não aconteça nem a decisão de seguirem conversando, tampouco a de criar um mecanismo bilateral qualquer que se encarregue tanto de apagar eventuais incêndios como de organizar saídas para determinados impasses. Mas uma simbiose não se destrói apenas com jogo político.

Mais militares no ministério de Bolsonaro, BR18

A nomeação do almirante Bento Costa Lima Leite para o Ministério de Minas e Energia aumenta o número de militares no governo de Jair Bolsonaro.
Não perca a conta: general Hamilton Mourão (vice-presidente), general Augusto Heleno (GSI), general Fernando Azevedo e Lima (Defesa), general Santos Cruz (Secretaria de Governo), almirante Bento Costa Lima Leite (Minas e Energia), tenente-coronel Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), além de Wagner Rosário (CGU), que é auditor, mas é também capitão do Exército. /M.M.

Delegado especialista em PCC chefiará Polícia Civil de SP no governo Doria, FSP

Delegado Ruy Ferraz Fontes assumirá o cargo de delegado-geral do estado em janeiro

O diretor do Denarc, Ruy Ferraz Fontes, apresentou o balanço da operação
Ruy Ferraz Fontes, que assumirá o cargo de delegado-geral da Polícia Civil no governo Doria - Divulgação/Polícia Civil
 
    Rogério PagnanRogério Gentile
    SÃO PAULO
    governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB) vai anunciar nesta sexta (30) o delegado Ruy Ferraz Fontes como o futuro delegado-geral da Polícia Civil, o chefe máximo da instituição.
    Fontes é considerado um dos principais especialistas no país sobre a estrutura da facção PCC (Primeiro Comando da Capital), e sua escolha indica uma política agressiva de combate ao crime organizado na gestão Doria.
    É dado como certo que o tucano deve transferir a cúpula do PCC, que hoje está na penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de SP, para presídios federais, como pretende a Promotoria, mas que teve a discordância da gestão Márcio Franca (PSB).
    O plano de remoção pode atingir em torno de 20 detentos, incluindo Marcola, principal chefe do PCC.
    Também deve ser anunciado nesta sexta o nome do ex-delegado-geral Youssef Chahin como secretário-executivo da Polícia Civil. Ele tende a ser o braço direito do general João Camilo Pires de Campos.
    Para o comando da Polícia Militar,  o governador eleito deve manter o coronel Marcelo Vieira Salles. Outros dois nomes são contados para o cargo, mas o atual comandante teria a preferência de tucanos.
    Entre os motivos estão os indicadores de violência, em especial referente a crimes patrimoniais, praticamente todos eles em queda neste ano. Salles também tem boa aceitação da tropa.
    No início de novembro Doria anunciou o general da reserva João Camilo Pires de Campos para comandar a Secretaria da Segurança Pública, indicação que foi antecipada pela Folha.
    Campos, 64, foi um dos responsáveis pela área de segurança do programa de governo de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República e passou para a reserva após 48 anos de serviços no Exército.
    Essa será a primeira vez que um nome do Exército comanda a Secretaria da Segurança Pública em São Paulo desde 1979, quando Erasmo Dias foi titular da pasta. 
    Ao anunciar o general, o tucano descumpre promessa de campanha de colocar um policial à frente da pasta. Doria foi aconselhado por auxiliares a recuar dessa promessa, sob o risco de começar o novo governo tendo de administrar um mal-estar entre as polícias. Se escolhesse um policial civil, irritaria os policiais militares. Se escolhesse um policial militar, traria desconforto para os policiais civis.

    OUTROS NOMES

    Doria já anunciou outros nomes para o primeiro escalão de seu governo. Marcos Penido, que deixou a pasta das Subprefeituras da gestão Bruno Covas (PSDB) na cidade de São Paulo, assume a 'supersecretaria' de Energia, Saneamento, Recursos Hídricos e Meio Ambiente. 
    Julio Serson, ex-secretário das Relações Internacionais no município, assumirá uma secretaria especial na mesma área no estado e também será presidente da companhia Investe SP. 
    Wilson Pedroso, braço-direito de Doria e ex-chefe de gabinete na prefeitura, será chefe de gabinete de Doria no governo do estado. Pedroso foi aplaudido por militantes tucanos que estavam no evento. 
    Nos últimos dias, Doria já havia anunciado outros nomes. Nesta segunda-feira (12), por exemplo, anunciou que o desembargador Paulo Dimas Mascaretti, ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, será o secretário de Justiça de sua administração. 
    Anunciou ainda a deputada estadual Celia Leão (PSDB) como secretária da Pessoa com Deficiência. Ela é a primeira tucana anunciada por Doria como membro de seu secretariado. O distanciamento de Doria em relação ao partido vinha sendo criticado por membros do PSDB.
    Antes, Doria já havia confirmado três atuais ministros do governo Michel Temer (MDB) para o seu secretariado: Gilberto Kassab (Casa Civil), Rossieli Soares (Educação) e Sérgio Sá Leitão (Cultura). Na campanha eleitoral, Doria usou a gestão Temer para atacar adversários. Em debates e programas de rádio e TV, buscou desgastar seu adversário Paulo Skaf (MDB) ao associá-lo ao presidente da República.
    Doria também decidiu que a Secretaria de Governo será extinta e suas funções serão assumidas pelo vice-governador eleito Rodrigo Garcia (DEM).