quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Com RenovaBio, custo de etanol pode cair até R$ 0,45 por litro, diz Nastari. Novacana

O custo de produzir etanol deve cair R$ 0,19 a R$ 0,45 por litro, ou 12% a 29%, com o aumento da produtividade agroindustrial no setor sucroenergético após a implantação do RenovaBio – programa de fomento aos bicombustíveis e à redução de emissões no Brasil ainda em gestação no governo federal. A estimativa é da Datagro Consultoria.
Ao Broadcast Agro, Plinio Nastari, presidente da consultoria e integrante do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), explicou que o custo de produção do combustível vai refletir o aumento da produtividade nas lavouras de cana-de-açúcar e nas destilarias quando o programa for adotado.
"O RenovaBio cria um sistema que premia o produtor. Quem vender primeiro é o mais eficiente e o que mais economiza toneladas de carbono", disse Nastari. A proposta desenhada do RenovaBio prevê que produtores de etanol emitam Créditos de Descarbonização de Biocombustíveis (CDBios). Esses papéis seriam comercializados na B3 e adquiridos por distribuidoras que venderem combustíveis fósseis como forma de compensar emissões.
Recursos captados com os CDBios se transformariam em novos investimentos para o setor e a produtividade agroindustrial voltaria a crescer, o que não ocorre desde a década passada. O investimento reduziria o custo do etanol, e, consequentemente, os preços aos consumidores, gerando demanda. "Não tem subsídio, não tem taxação e nem imposto novo. Por isso é tão difícil ser contra (o programa)", disse Nastari.
Levantamento da Datagro aponta que a produtividade agroindustrial no setor sucroenergético brasileiro cresceu de 2.025 litros de etanol por hectare de cana, para 6.831 litros/hectare entre 1975, ano de nascimento do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), e 2010, a uma taxa de, 3,54% ao ano. Com o agravamento da crise do setor e a redução dos gastos com lavouras e a indústria, a produtividade agroindustrial caiu entre 2010 e 2016, para 5.688 litros/hectare no ano passado.
"O RenovaBio estimulará o produtor a investir em produtividade e o primeiro passo será retomar os níveis de 2010. Mas existem produtores que já estão acima desses 6.831 litros de etanol por hectare, com 9 mil a 10 mil litros por hectare, e o programa induziria outros produtores a irem nessa direção", afirmou Nastari.
O presidente da Datagro Consultoria é cauteloso ao comentar a demora do governo para anunciar o RenovaBio. Após mais de um ano de discussão no Ministério das Minas e Energia, o programa está na Casa Civil e deve se transformar em uma Medida Provisória. "Está havendo uma avaliação com participação de vários ministérios para estudar os impactos da medida. É normal dentro do trâmite e reputo isso como um cuidado até justificado pela extensão do RenovaBio", concluiu.
Gustavo Porto

The Economist: A morte do motor de combustão interna



“A inventividade humana […] ainda não encontrou um processo mecânico que substitua os cavalos na propulsão de veículos”, lamentava o diário francês Le Petit Journal em dezembro de 1893.
A resposta para isso foi organizar a corrida Paris–Rouen para carruagens sem tração animal, disputada em julho do ano seguinte. Entre os 102 inscritos para a competição apareceram veículos movidos a vapor, gasolina, eletricidade, ar comprimido e hidráulicos. Apenas 21 deles foram aprovados para a corrida de 126 quilômetros, assistida por grandes multidões. O vencedor, com folga, foi o motor de combustão interna, que no século XX seria a força motriz da indústria e mudaria a história do mundo.

O grande fim

No entanto, ele está com os dias contados. Os rápidos avanços tecnológicos das baterias jogam a favor dos motores elétricos. Em Paris, em 1894, nem um único carro elétrico chegou a figurar na largada, em parte porque as baterias precisavam ser substituídas a cada 30 quilômetros. Os elétricos de hoje, movidos a bateria de íon-lítio, saem-se muito melhor. O Chevrolet Bolt, por exemplo, tem autonomia de 383 quilômetros; e o Tesla Modelo S, recentemente, fez uma viagem de mais de mil quilômetros com uma única carga, num experimento conduzido por aficionados da marca.
Segundo cálculos do banco UBS, o “custo total de posse” de um elétrico deve se equiparar ao de um carro a gasolina já no ano que vem – muito embora com perdas de rentabilidade para o fabricante. Bastante otimista, a entidade prevê que os elétricos responderão por 14% de todas as vendas de carros novos até 2025; hoje eles representam apenas 1%. Há previsões mais modestas, mas os cálculos vêm sendo revistos constantemente, à medida que as baterias ficam melhores e mais baratas: o custo por kWh caiu de US$ 1.000, em 2010, para uma faixa de US$ 130 a US$ 200 atualmente.
As regulamentações também estão ficando mais rígidas. No mês passado, a Inglaterra ingressou numa seleta e crescente lista de países exclusivamente elétricos, ao declarar que, até 2050, todos os carros zero-quilômetro do país terão de ser zero-emissão.
A transição do par pistões-combustível para baterias-motor elétrico não deve demorar tanto. Os primeiros estertores de morte do motor de combustão interna já ecoam pelo mundo – e várias das consequências serão positivas.
Para se ter uma ideia do que vem pela frente, basta pensar no quanto o motor de combustão interna moldou as condições da vida moderna. As regiões mais prósperas foram reformatadas para receber os veículos motorizados, com enormes investimentos em malha rodoviária e o advento dos subúrbios, além dos shopping centers e lanchonetes drive-thru.
Praticamente 85% dos americanos se deslocam de carro para o trabalho. A fabricação de automóveis foi ainda um vetor de desenvolvimento econômico e expansão da classe média no mundo pós-guerra. Hoje há cerca de 1 bilhão de carros circulando pelo planeta, a grande maioria movida a combustíveis fósseis. Embora a maior parte esteja em repouso, juntos os motores de todos os caminhões e carros dos Estados Unidos podem produzir dez vezes a energia gerada pelas usinas do país. O motor de combustão interna é o mais possante da história.
A eletrificação, porém, provocou o caos na indústria automobilística. Suas marcas mais prestigiosas se alicerçam num legado de engenharia — especialmente na Alemanha. Comparados aos veículos atuais, os elétricos são bem mais simples e possuem menos peças; parecem antes computadores com rodas. Na prática, isso significa que carecem de menos mão-de-obra para a montagem e de menos sistemas subsidiários fornecidos por terceiros.
Os operários das velhas linhas de montagem estão preocupados com a degola. Com menos componentes passíveis de estrago, o mercado de manutenção e de peças irá encolher. E enquanto as montadoras atuais debatem-se com a custosa herança das antigas fábricas e com um quadro de funcionários inchado, as novatas entram na disputa sem empecilhos. As marcas de luxo talvez consigam se sobressair com investimentos em design e apresentação, mas as montadoras voltadas para o mercado de massa, com margem mais apertada, terão de competir sobretudo no custo.
Isso, claro, se as pessoas continuarem a comprar carros para uso pessoal. Com a propulsão elétrica, mais as novas tecnologias de piloto automático e aplicativos de táxi, é possível que ganhe força uma nova concepção de “transporte como categoria de serviço”, em que frotas automobilísticas ofertam deslocamentos personalizados.
Segundo estimativas mais radicais, a indústria automobilística pode encolher até 90% se isso ocorrer. Com a adoção em massa de carros elétricos compartilhados e sem motorista, as cidades poderiam dar novo destino a seus estacionamentos (que ocupam até 34% da área em alguns lugares), substituindo-os por novos empreendimentos habitacionais; e as pessoas poderiam dormir enquanto percorrem grandes distâncias até o trabalho – uma suburbanização às avessas.
Mesmo sem essa transição para os veículos automatizados seguros, a propulsão elétrica irá gerar enormes benefícios ambientais e de saúde pública. É mais eficiente carregar baterias em centrais elétricas do que queimar combustível em uma infinidade de motores esparsos.
Os atuais carros elétricos reduzem em 54% a emissão de carbono frente aos movidos a gasolina, segundo o National Resources Defence Council. Esse número deve crescer à medida que os elétricos ganharem mais eficiência e a geração de eletricidade se tornar mais ecológica.
A poluição atmosférica nas cidades também sofrerá uma drástica redução. Segundo a Organização Mundial da Saúde, este é o principal fator de risco ambiental para a saúde da população: o ar poluído contribui para 3,7 milhões de mortes anuais. Um estudo concluiu que as emissões dos escapamentos matam 53 mil americanos todos os anos, contra 34 mil mortes em acidente de trânsito.

Automóveis e autocracias

E há ainda a questão do petróleo. Praticamente dois terços do consumo americano de petróleo se dá no transporte, e boa parte do consumo restante utiliza subprodutos do processo de refino. Não há unanimidade na indústria petrolífera quanto à data em que o pico de demanda será alcançado.
A Shell acredita que isso possa acontecer num prazo de pouco mais de uma década. Os efeitos nos preços, contudo, serão sentidos muito antes. Como ninguém quer ficar com petróleo sem serventia debaixo do solo, os novos investimentos devem escassear, especialmente em áreas novas onde a exploração é muito cara, como no Ártico.
Por outro lado, países produtores como a Arábia Saudita, que dispõem de vastas reservas com baixo custo, serão forçados a extraí-las logo, antes que seja tarde demais: o Oriente Médio continuará influente, mas num grau bem menor do que no passado.
Embora o mercado para o gás natural deva continuar forte, pois será importante na geração de energia para toda essa frota de elétricos, a volatilidade das cotações do petróleo criará problemas para os países que dependem das receitas do petróleo para alimentar seus cofres. Quando os volumes minguarem, o período de ajustes será tenso, particularmente nos lugares onde a disputa pelo poder desde há muito está ligada ao controle das reservas do hidrocarboneto. Em países como Angola e Nigéria, onde o petróleo muitas vezes se revelou uma maldição, a difusão dos recursos econômicos pode gerar benefícios imensos.
Enquanto isso, uma verdadeira caçada ao lítio está em curso. A cotação do carbonato de lítio subiu de US$ 4 mil/tonelada, em 2011, para mais de US$ 14 mil/t. Também a demanda de cobalto e metais de terras-raras, usados em motores elétricos, está disparando. O lítio não é usado apenas para mover carros: empresas de geração de eletricidade estão em busca de baterias gigantes que possam armazenar energia nos momentos de baixa demanda a fim de utilizá-la nos horários de pico. Será que isso fará do Chile, com suas abundantes reservas de lítio, a nova Arábia Saudita? Não exatamente, uma vez que os carros elétricos não consomem esse elemento; as baterias automotivas usadas de íon-lítio podem ser reaproveitadas em linhas de distribuição e depois recicladas.
O motor de combustão interna teve uma trajetória respeitável — e talvez ainda continue reinando por muitas décadas nos domínios da navegação e da aviação. Em terra, porém, os motores elétricos em breve proporcionarão liberdade e conveniência de forma mais barata e menos poluente.
Conforme a transição para os carros elétricos reverta a tendência observada nas regiões mais ricas, de queda no consumo de eletricidade, os legisladores terão de entrar em cena, garantindo que haja uma capacidade de geração adequada. Eles talvez tenham de ser os parteiros de novas normas e regulações visando os postos públicos de recarga e a reciclagem de baterias, motores de terra-rara e outros componentes em “minas urbanas”. Também terão de lidar com a turbulência provocada pela extinção de empregos nas velhas fábricas.
É bem provável que os carros elétricos transformem o mundo de maneiras profundas e inimaginadas no século XXI, da mesma forma que fizeram os motores de combustão interna no século XX. Mas a estrada pela frente é cheia de solavancos, e é bom apertar os cintos.
The Economist
Tradução e adaptação novaCana.com

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Crise de identidade pode amadurecer ou levar ao fim o PSDB, Poder360


Disputa surda começa a superar limites partidários em SP
Reunião da Executiva do PSDBSérgio Lima/Poder360 - 12.jun.2017

16.ago.2017 (quarta-feira) - 6h45
atualizado: 16.ago.2017 (quarta-feira) - 7h15

OXIGÊNIO NO NINHO.

Não anda fácil a vida do PSDB. Fora o jogo externo, de suas próprias entranhas brotam movimentos críticos. Grupos se rivalizam, opondo opiniões. Uns tratam do presente, outros pensam no futuro. Todos enfrentam o maior dilema político desde sua fundação, em 1988.
Em carta aberta, um grupo relevante de economistas cariocas pede a volta às origens, qual seja, um partido “comprometido com a justiça social, a ideia de uma economia de mercado governada pela livre iniciativa, a estabilidade da moeda, a responsabilidade fiscal e a integração do Brasil ao mundo desenvolvido”. Pregam no centro do espectro político, necessário, segundo eles, para enfrentar o risco da eleição, em 2018, de um “radical populista, de esquerda ou de direita”, que arruinaria o país.
O “Movimento Mário Covas”, por sua vez, é recheado de parlamentares que se fizeram conhecidos pelas “cabeças pretas”. Alinhados com Tasso Jereissati, pregam distância do governo de Michel Temer e propõem uma autocrítica de sua trajetória recente. Daí surgiu o polêmico programa de TV no qual assumem os “erros cometidos” e os “desvios” dos princípios de sua fundação.

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Em São Paulo, uma surda disputa começa a ultrapassar os limites partidários e se espraia na sociedade à procura de resposta para a pergunta fatal: entre Geraldo Alckmin e João Doria, quem terá mais chances de vencer Lula em 2018?
E, para apimentar o caldo tucano, FHC pensa alto e se move acima de todos, chateando os governistas e alisando a oposição, ao sugerir a renúncia de Temer. O ato de “grandeza” do presidente construiria uma transição dentro da transição, e somente assim se acalmariam as chamas da terrível crise que teima em permanecer, e a se ampliar, no país.
Ninguém sabe qual será o desfecho desse imbróglio tucano. Agora, uma coisa é certa: quando o PSDB foi fundado, há 29 anos, o Brasil era outro e a política nem se fale. Estávamos no início da redemocratização do país, em pleno funcionamento da Assembleia Nacional Constituinte. Daí surgiu a socialdemocracia brasileira como uma “terceira via”, nem o conservador Centrão, nem o radical PT. Fazia sentido. Hoje, tudo mudou.
O PSDB precisa, definitivamente, descer do muro onde se equilibra para assumir sua posição frente aos desafios da sociedade contemporânea. Esta reivindica oportunidades de progresso e bem-estar sem ligar para as velhas ideologias. Esgotou-se, no mundo todo, o modelo socialdemocrata. Pouco importa se a “direita” ou a “esquerda” é quem manda, o que interessa é como os problemas concretos da sociedade serão solucionados. Ela não dispensa a presença do Estado, mas quer ver eficiência na gestão pública, governos capazes de entregar qualidade de vida.
Os valores da era digital são distintos. Sustentabilidade, educação empreendedora, cooperação criativa, a diversidade, segurança pública, drogas, alimentação saudável, entre outros temas recentes. Pode-se ser “esquerda” numa hora, e bancar a “direita” na outra. O que não pode é cultivar o populismo, nem pregar a luta de classes, muito menos estimular o ódio na sociedade. Tolerância é a palavra-chave.
A crise de identidade do PSDB permitirá que ele adentre em sua maturidade política. Ou não. Se o partido conseguir conversar com a cidadania, verá um horizonte azul. Se fincar as amarras no passado, ou, pior, apegar-se ao poder carcomido, encontrará seu fim.