Disputa surda começa a superar limites partidários em SP
OXIGÊNIO NO NINHO.
Não anda fácil a vida do PSDB. Fora o jogo externo, de suas próprias entranhas brotam movimentos críticos. Grupos se rivalizam, opondo opiniões. Uns tratam do presente, outros pensam no futuro. Todos enfrentam o maior dilema político desde sua fundação, em 1988.
Em carta aberta, um grupo relevante de economistas cariocas pede a volta às origens, qual seja, um partido “comprometido com a justiça social, a ideia de uma economia de mercado governada pela livre iniciativa, a estabilidade da moeda, a responsabilidade fiscal e a integração do Brasil ao mundo desenvolvido”. Pregam no centro do espectro político, necessário, segundo eles, para enfrentar o risco da eleição, em 2018, de um “radical populista, de esquerda ou de direita”, que arruinaria o país.
O “Movimento Mário Covas”, por sua vez, é recheado de parlamentares que se fizeram conhecidos pelas “cabeças pretas”. Alinhados com Tasso Jereissati, pregam distância do governo de Michel Temer e propõem uma autocrítica de sua trajetória recente. Daí surgiu o polêmico programa de TV no qual assumem os “erros cometidos” e os “desvios” dos princípios de sua fundação.
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Em São Paulo, uma surda disputa começa a ultrapassar os limites partidários e se espraia na sociedade à procura de resposta para a pergunta fatal: entre Geraldo Alckmin e João Doria, quem terá mais chances de vencer Lula em 2018?
E, para apimentar o caldo tucano, FHC pensa alto e se move acima de todos, chateando os governistas e alisando a oposição, ao sugerir a renúncia de Temer. O ato de “grandeza” do presidente construiria uma transição dentro da transição, e somente assim se acalmariam as chamas da terrível crise que teima em permanecer, e a se ampliar, no país.
Ninguém sabe qual será o desfecho desse imbróglio tucano. Agora, uma coisa é certa: quando o PSDB foi fundado, há 29 anos, o Brasil era outro e a política nem se fale. Estávamos no início da redemocratização do país, em pleno funcionamento da Assembleia Nacional Constituinte. Daí surgiu a socialdemocracia brasileira como uma “terceira via”, nem o conservador Centrão, nem o radical PT. Fazia sentido. Hoje, tudo mudou.
O PSDB precisa, definitivamente, descer do muro onde se equilibra para assumir sua posição frente aos desafios da sociedade contemporânea. Esta reivindica oportunidades de progresso e bem-estar sem ligar para as velhas ideologias. Esgotou-se, no mundo todo, o modelo socialdemocrata. Pouco importa se a “direita” ou a “esquerda” é quem manda, o que interessa é como os problemas concretos da sociedade serão solucionados. Ela não dispensa a presença do Estado, mas quer ver eficiência na gestão pública, governos capazes de entregar qualidade de vida.
Os valores da era digital são distintos. Sustentabilidade, educação empreendedora, cooperação criativa, a diversidade, segurança pública, drogas, alimentação saudável, entre outros temas recentes. Pode-se ser “esquerda” numa hora, e bancar a “direita” na outra. O que não pode é cultivar o populismo, nem pregar a luta de classes, muito menos estimular o ódio na sociedade. Tolerância é a palavra-chave.
A crise de identidade do PSDB permitirá que ele adentre em sua maturidade política. Ou não. Se o partido conseguir conversar com a cidadania, verá um horizonte azul. Se fincar as amarras no passado, ou, pior, apegar-se ao poder carcomido, encontrará seu fim.
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