sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Brasileiro toma R$ 3 bi por dia emprestados



  • 22 de setembro de 2010 | 
  • 10h35 | do JT
Categoria: Crédito
Gisele Tamamar
Os bancos emprestaram R$ 701,1 bilhões para os brasileiros até julho. Um valor 19,2% maior do que registrado no mesmo período do ano passado – quando o saldo foi de R$ 587,9 bilhões – e equivale a uma média de R$ 3,3 bilhões em crédito por dia. Na avaliação dos especialistas, a alta é impulsionada, principalmente, pelos financiamentos imobiliários, pela compra de automóveis e também pelo crédito consignado.
De acordo com o vice-presidente da Associação Nacional dos executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, o aumento do crédito reflete o bom momento da economia e deve continuar em expansão nos próximos meses. “Do ponto de vista do consumidor, esse cenário é bom porque aumenta o poder de compra e possibilita o financiamento da casa própria e a compra do carro, por exemplo”, destaca.
Oliveira também lembra que enquanto os prazos para pagamentos estão maiores, as taxas de juros estão em queda, resultado de uma maior concorrência no sistema financeiro, redução da inadimplência, normalização do mercado externo e o bom cenário econômico nacional. Em agosto, a taxa média para pessoa física atingiu o menor índice desde 1995: 6,75% ao mês, conforme a Anefac.
O professor da FGV-Eaesp, José Pereira da Silva, destaca que o aumento do crédito possibilita a melhora do padrão de vida das pessoas, mas é importante se preocupar com as taxas de inadimplência. “As estatísticas do Banco Central mostram que a inadimplência está em queda, mas não me sinto seguro para afirmar que essa tendência vai continuar”, afirma.
Segundo o professor, a população de baixa renda tem carências de consumo e é constantemente bombardeada com anúncios para estimular a compra.
Uma família com renda mensal de R$ 1,5 mil compromete 70% do valor com três necessidades básicas: transporte, alimentação e moradia. “O que sobra é muito pouco. Por isso, é importante ter um bom controle para não se endividar com facilidade”, orienta.
A analista financeira, Andreza da Silva, 29 anos, precisou recorrer ao crédito para tornar viável a compra de um apartamento de R$ 110 mil. O financiamento corresponde a 80% do preço do imóvel, que será quitado em 16 anos com uma taxa de 10% ao ano.
Enquanto ela era inquilina, gastava R$ 650 por mês com aluguel. Com a compra do imóvel, a despesa saltou para R$ 1.350. O que possibilitou a “troca” foi o aumento salarial de 20% conquistado em 2009. “O aumento de salário foi primordial para que eu pudesse assumir um valor maior que o aluguel que eu pagava”, diz.

Eles moram sozinhos e são grandes consumidores



Carolina Dall’Olio
Eles são solteiros, divorciados ou viúvos. Priorizam o trabalho e, como resultado, têm mais chances de ascender profissionalmente. Os salários costumam ter como único destino seu sustento e bem-estar. Pelo comportamento, perfil de consumo e também pelo papel cada vez mais relevante que desempenham na economia, eles estão modificando rapidamente a cara da cidade.
Hoje, 7,194 milhões de brasileiros vivem sozinhos, 1,645 milhão deles no Estado de São Paulo. É como se, num edifício com 100 apartamentos, 12 fossem ocupados, cada um, por um único morador. Em menos de uma década, o grupo dos sozinhos cresceu mais de 50%. E só tende a aumentar. “Com mais renda e mais emprego, muitos jovens podem sair da casa dos pais ou então mudam de cidade em função do trabalho”, justifica Maria Lucia Vieira, coordenadora da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (Pnad/ IBGE). “O envelhecimento da população e profissionalização da mulher, postergando o casamento, também reforçam a tendência.”
As pessoas que vivem sós reúnem características que combinam muito bem com o desenvolvimento econômico de uma cidade. Independentemente da renda que têm, o que chama atenção em seu perfil é a maneira como gastam seu dinheiro. “Diferentemente dos casados, esse público tem menos compromissos financeiros, como escola dos filhos ou mesmo o sustento de outro cônjuge”, explica Renato Trindade, que coordenou uma pesquisa da Bridge Research sobre os solteiros paulistanos. “Portanto, têm um poder de consumo maior.”
Eles investem apenas em si. Por isso, quando a relações públicas Paloma Costoya, de 25 anos, mudou de emprego e passou a ganhar “bem mais”, ela logo soube para onde iria o dinheiro extra: para as prestações da casa própria (hoje ela paga aluguel) e para as muitas baladas do fim de semana. Paloma gasta cerca de R$ 500 por mês só para se divertir. “Eu sou solteira e trabalho tanto que, quando tenho um tempo livre, quero mais é aproveitar”, argumenta. Mesmo assim, ainda sobra dinheiro para custear sozinha todas as despesas do apartamento em que mora no Ipiranga e também para financiar a próxima casa em que pretende viver.
Consumidores como Paloma têm transformado o mercado imobiliário paulistano. Antes dominada por lançamentos com três ou quatro dormitórios, a cidade agora começa a assistir uma multiplicação dos imóveis menores, de um dormitório. De acordo com o Sindicato da Habitação (Secovi-SP), foram entregues 1.632 unidades na capital no primeiro semestre de 2010, um crescimento de 371% em relação ao mesmo período do ano passado.
“O mercado imobiliário é o mais impactado por esse público, mas o setor de comércio e serviços também está se modificando em função deles”, afirma Luiz Goes, sócio da consultoria GS&MD – Gouvêa de Souza. Nos últimos cinco anos, a indústria já reduziu a embalagem dos alimentos pela metade do tamanho original. A oferta de serviços para atender a esse público – desde novos restaurantes, bares e boates até pacotes de turismo especificamente direcionados a solteiros – também não para de crescer.
Paloma gasta seu sinheiro com diversão e prestação da casa própria (Foto: Paulo Pinto/AE)
Paloma gasta seu sinheiro com diversão e prestação da casa própria (Foto: Paulo Pinto/AE)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Dia da Árvore deveria se chamar Dia da Muda

Marcos Sá Corrêa - O Estado de S.Paulo  17/09/2010
O País comemora na próxima semana mais um aniversário de seu atraso ambiental. É o Dia da Árvore.
A data deitou raízes no calendário cívico nacional há quase cem anos. Pelo menos cinco décadas depois de desabrochar nos Estados Unidos. A festa começou em Nebraska em 1872, quase ao mesmo tempo em que brotavam os primeiros parques nacionais do mundo. Fazia parte de uma onda de conservação da natureza que o resto do mundo imitaria mais cedo ou mais tarde.
Aqui, ficou para mais tarde. Perdeu a chance de marcar, no fim dos século 19, a campanha contra o desmatamento do sueco Alberto Loefgren, chefe da seção de botânica da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo. Loefgren queria o pacote completo. Não o plantio simbólico de mudas. Mas sobretudo os parques e o Código Florestal.
A resposta do governo saiu no começo do século 20. Reduzia-se ao Dia da Árvore, que na prática era o desmatamento de Loefgren reduzido à mínima potência. O Código Florestal e os primeiros parques nacionais, discutidos desde o Segundo Reinado e empurrados com a barriga pela República Velha, vingaram na década de 1930, às vésperas do Estado Novo. Bem depois que a moda americana se alastrara até as colônias africanas.
Nos Estados Unidos, o Dia da Árvore, que em outros lugares do Hemisfério Norte cai em março, como a primavera, acontece em 23 de setembro, para coincidir com o aniversário de Julius Morton, o cidadão de Nebraska que inventou a cerimônia. No Brasil, cai em 21 de setembro, para coincidir com a entrada da primavera, época em que uma tradição indígena muito mais renitente celebra a estação das queimadas.
Talvez por causa desse paradoxo, nosso Dia da Árvore - que, pelo decreto 55.795, chama-se Festa Anual da Árvore desde 1965 - deveria se chamar Dia da Muda. Árvore é coisa que se leva muito tempo para fazer. Muda, não. Dá fruto no dia da festa. E basta.
Como o decreto de 1965, que o País esqueceu, as mudas plantadas em 21 de setembro têm forte pendor para não crescer. Quem passou pelas escolas públicas do Rio na década de 1950, no tempo em que os alunos cantavam o Hino Nacional e hasteavam a bandeira antes de entrar na sala de aula, deve se lembrar da data como o dia em que todo mundo se perfilava em volta de um buraco no pátio, onde as professoras cravavam uma haste tenra, desfolhada, dizendo se tratar de um futuro pau-brasil - ou árvore que o valha.
Meio século depois, se uma ínfima porcentagem desses brotos tivesse crescido, as escolas públicas cariocas estariam hoje debaixo de bosques. Não em áreas cimentadas. E essa aridez não é só produto do acaso nem do cerco imobiliário que espremeu as escolas em áreas cimentadas. O Movimento Viva Rio, há dez anos, tentou doar mudas para Cieps da zona oeste, onde os prédios de Oscar Niemeyer geralmente cozinham ao sol escaldante em terrenos desérticos. Ouviu, da primeira diretora consultada, que árvore em escola só serve para os alunos se esconderem atrás do tronco, fazendo bobagens.
Mas as mudas nem por isso perdem a festa de seu dia. Amanhã, pelo menos nas rodovias de São Paulo, 120 mil miniaturas de espécies nativas serão distribuídos nos postos de pedágio pela SOS Mata Atlântica, com minuciosas instruções sobre como e onde plantá-las. Eis uma oportunidade que a educação ambiental dos estudantes brasileiros não deveria perder, seguindo o destino dessas menores até chegar a hora de virarem, de pleno direito, árvores. Daqui a três anos.