quinta-feira, 6 de maio de 2010

SP não avança em ranking de saneamento, diz estudo

AE - Agência Estado
A região metropolitana de São Paulo coleta 97% de seu esgoto, mas, sem redes coletoras suficientes, despeja nos Rios Tietê, Pinheiros, Tamanduateí e afluentes 18 milhões de litros por hora de sujeira - volume suficiente para encher 17 piscinas olímpicas. Esse descompasso faz com que a cidade de São Paulo não consiga avançar no ranking nacional de saneamento.

Estudo do Instituto Trata Brasil, que analisa investimentos feitos no setor em 2009, aponta a 22.ª colocação para a capital entre 81 cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes. Em 2007, São Paulo ocupava o 21.º lugar; em 2008, foi para 22.º. A lista tem como base dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades.

E o que impede a cidade de avançar? Desde 1992, o governo estadual gastou mais de US$ 3 bilhões na despoluição do Rio Tietê, mas isso não bastou para eliminar seu aspecto de esgoto a céu aberto. Apesar dos investimentos da Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp) na ampliação da rede coletora - R$ 1,2 bilhão entre 2008 e 2009 -, a falta de tratamento também continua sendo a "pedra no sapato" da cidade. E a meta é resolver o problema só em 2018.

Defesa

Em nota, a Sabesp informa que é a única companhia estadual que possui cidades operadas entre as cinco primeiras colocadas do ranking do estudo do Instituto Trata Brasil, que analisa os investimentos no setor de saneamento no País: Franca (2.ª) e Santos (5.ª). De 2008 a 2009, a Sabesp afirma ter realizado mais de 64 mil novas ligações de esgoto na capital. O incremento, alega a empresa, teve impacto direto no volume de esgoto tratado. Em 2009, passou a limpar 496 bilhões de litros, o equivalente ao atendimento a 9,5 milhões de habitantes, 25 bilhões a mais do que no ano anterior.

"Em regiões de grande crescimento demográfico, a universalização dos serviços de saneamento é tarefa das mais complexas. Desde que teve início o Projeto Tietê, em 1992, o índice de coleta na Região Metropolitana saltou de 66% para 85% e o de tratamento, de 24% para 72%. Neste período, a população da Grande São Paulo pulou de 15 milhões para quase 20 milhões", diz a nota.

Na cidade de São Paulo, em 1992, aponta a Sabesp, 77% do esgoto era coletado e menos de 30%, tratado. A população do município era em torno de 9,5 milhões. Atualmente, mesmo com o incremento de mais 1,5 milhão de habitantes, a coleta está universalizada (excluindo favelas e áreas irregulares) e 75% do esgoto coletado é tratado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O possível país do futuro, por José Alencar

PAULO RABELLO DE CASTRO


O palestrante indiano daquela noite discorreu sobre o desafio das empresas privadas indianas diante da globalização e da competição com a China, tema dos mais importantes para qualquer um que pense em desenvolvimento. Fechou sua fala aos empresários, reunidos no clube de negócios do WTC, na capital paulista, com uma pergunta: “E vocês, brasileiros, que não têm uma China como vizinha, qual é o senso de urgência que os mobiliza a tentar tornar seu país melhor e mais eficiente?”.

A pergunta incômoda era de Ravi Ramamurti, professor emérito da Universidade Northeastern. Ele tentava projetar o futuro de seu país, mostrando que a economia da Índia seria, antes de 2040, a terceira maior do mundo, logo depois da China e dos Estados Unidos, deixando para trás europeus e outros asiáticos. O questionamento sobre o senso de urgência e o rumo do Brasil ficou sem resposta até que o homenageado da noite, o vice-presidente José Alencar, recebeu a palavra.

Digno, com sua voz grave, mas com pensamentos modulados por uma temperança bem mineira, que suavizava o aço rígido de suas convicções, Alencar foi buscar no íntimo de suas vivências um depoimento sobre o futuro do Brasil. Como resposta resumida, foi a melhor que já ouvi sobre nosso verdadeiro potencial, mais uma vez valorizado pelos estrangeiros, capazes de encontrar em nós virtudes que, inclusive, nem sabemos se temos.

Alencar fez três observações fundamentais. O Brasil é um país rico, um diferencial a mais na comparação mundial. Primeiro, por seus recursos. Não só os naturais, como a abundante terra arável, água como ninguém e sol forte a ponto de propiciar mais de uma safra por ano, mas principalmente por outro tipo, o recurso humano, o povo brasileiro. Trata-se de gente capaz de aprender rápido, inovar e improvisar e que agora também se educa e aprende a ter disciplina no trabalho. Logo em seguida – lembrou Alencar ao indiano –, pelas empresas brasileiras e seus empreendedores, por sua persistente disposição para crescer e lucrar. Tanto o Brasil como a Índia, durante algum tempo, satanizaram o ganho empresarial, chamado Lucro, como se ele fosse medida de exploração do trabalho, e não a fonte de novos empregos, quando bem reinvestido. No passado, endeusamos os gastos públicos sem retorno, as bondades casuísticas feitas com o sacrifício dos impostos pagos por todos. Mas a Índia e o Brasil finalmente estão aprendendo que a fonte do progresso social, do verdadeiro desenvolvimento, é o lucro, e não o prejuízo, o paternalismo ou a repartição da pobreza. Desperdícios custam para toda a sociedade, enquanto a produção eficiente gera riqueza e oportunidades de ascensão coletiva. Está aí a classe C para mostrar isso.

As empresas são “bens da comunidade”. Os governos
não deveriam tentar substituir empresários
Finalmente, a terceira observação, de profundidade filosófica. As empresas são “bens da comunidade”, de que cuidam seus donos, não importando se é um indivíduo ou se são dezenas de milhares de acionistas reunidos numa sociedade anônima, pois um dos maiores interesses do empresário é ver sua iniciativa engrandecida, mesmo quando ele não estiver mais lá. Os governos não deveriam tentar substituir os empresários, que são muitos e cada vez mais bem preparados no Brasil. O papel econômico dos governos é desobstruir o caminho para o progresso do Brasil, com cinco ações: remover a ignorância, a falta de saúde e saneamento, a precariedade da infraestrutura e as políticas antagônicas ao crescimento, como juros altos demais e impostos irracionais. No Brasil, cabe aos governos tocar esse “Quinteto do Desenvolvimento”.

Nosso senso de urgência deveria nos levar a buscar quem coordene esse notável time de empresários e trabalhadores. Na democracia, como nos lembrava Alencar, reside nosso trunfo final, nossa arma competitiva em relação a outras potências que não permitem a liberdade de expressão nem são verdadeiras economias de mercado.

É tempo de refletirmos sobre a mensagem desse grande brasileiro que jamais desiste.

A China e a “primarização” das exportações brasileiras

por Cláudia Trevisan
Seção: ECONOMIA\ Estadão
14.abril.2010 00:41:38



A explosão da demanda chinesa por commodities na última década foi o que transformou o país asiático em um fator crucial para a economia brasileira. Também foi a principal razão para o processo de “primarização” da pauta de exportações nacionais no mesmo período, com a expansão do peso dos produtos básicos e o encolhimento da parcela representada por bens industrializados, que possuem maior valor agregado.
Há dez anos, quando a China começou a entrar no radar dos embarques brasileiros, a exportação de bens básicos respondia por 22,79% do total, enquanto a participação de manufaturados e semimanufaturados estava em 59,07% e 15,52%, respectivamente, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. As estatísticas relativas ao ano 2000 mostram que a China aparecia em 12º lugar na lista dos principais destinos das exportações brasileiras. O país asiático saltou para a sexta posição no ano seguinte, consolidou-se no terceiro lugar a partir de 2005 e chegou à liderança em 2009.
A meteórica ascensão foi acompanhada do aumento do peso das commodities nos embarques brasileiros. Em 2007, ano anterior à eclosão da crise mundial, o percentual de bens básicos aumentou para 32,12% e os relativos a manufaturados e semimanufaturados caíram para 52,2% e 13,57%, respectivamente.
Se forem considerados os números do ano passado, influenciados pela retração da demanda norte-americana, a fatia dos bens primários é ainda maior: 40,50%, quase o dobro do patamar existente no ano 2000, e próximo dos 44,02% obtidos pelos manufaturados.
Isso não significa que a venda de bens industrializados diminuiu, mas sim que ela aumentou em ritmo bem menor que a de produtos básicos, principalmente minério de ferro, soja e petróleo _sem considerar o cenário atípico de 2009. A expansão do peso das commodities reflete também a forte alta de seus preços no mercado internacional em razão do aumento da demanda chinesa nos últimos anos.
A diversificação da pauta das exportações brasileiras é um dos pontos principais do Plano de Ação Conjunto para o período 2010-2014 que os presidentes Hu Jintao e Luiz Inácio Lula da Silva vão assinar em Brasília na sexta-feira, durante a segunda visita oficial do dirigente chinês ao país.
No ano 2000, o principal produto de exportação do Brasil foram aviões, com vendas de US$ 3,054 bilhões, valor quase idêntico aos US$ 3,048 bilhões movimentados por minério de ferro, que aparecia em segundo lugar. Sete anos depois, os embarques de minério de ferro haviam se multiplicado por três, para US$ 10,56 bilhões, enquanto a venda de aviões subiu 54,5%, para US$ 4,72 bilhões, o que colocou o produto em quarto lugar no ranking, atrás de minério, petróleo e soja, que se transformaram nos principais produtos de exportação.
A ascensão do minério de ferro à condição de principal estrela das exportações brasileiras acompanha o processo de transformação da China no maior fabricante de aço do mundo, responsável por quase metade da produção global. Os dirigentes chineses consideram estratégico ter uma indústria siderúrgica forte para alimentar o ritmo anual de crescimento de 10% do país e suprir a demanda do movimento de urbanização, pelo qual milhões de chineses se mudam do campo para as cidades. O aço é a principal sustentação desse processo, utilizado na construção, em obras de infraestrutura e na fabricação de bens de consumo duráveis, como carros e eletrodomésticos.
A China se transformou no maior fabricante de aço do mundo em 1996, com produção de 101,24 milhões de toneladas, mas foi na década seguinte que seu peso no setor aumentou de maneira desproporcional. Oito anos depois de ter se tornado o líder mundial, a China dobrou sua produção anual, para 222,4 milhões de toneladas em 2003, segundo dados da World Steel Association.
O volume dobrou de novo em apenas quatro anos e chegou a 490 milhões de toneladas em 2007. No ano passado, a China produziu 567,84 milhões de toneladas, o equivalente a 46,5% do total mundial _o Brasil fabricou 33,7 milhões de toneladas em 2008. A quantidade de aço que sai das siderúrgicas chinesas supera a soma do que é fabricado pelos oito países que aparecem em seguida no ranking da World Steel Association.
Para produzir todo esse aço, a China precisa de quantidades crescentes de minério de ferro, sua principal matéria-prima. Essa foi a razão pela qual o país se tornou o cliente número um da brasileira Vale, que é a maior produtora de minério de ferro do mundo. No ano 2000, esse item representava 5,53% das exportações nacionais. O percentual subiu para 6,57% em 2007, 8,36% no ano seguinte e chegou a 8,66% em 2009. A soja participava com 3,97% nos embarques brasileiros em 2000, índice que subiu para 4,18% em 2007, 5,53% em 2008 e 7,47% no ano passado. No movimento contrário, o peso dos aviões saiu de 5,54% para 2,94% em 2007. No ano passado, sob efeito da crise, o percentual encolheu ainda mais, para 2,52%.
(Este texto foi publicado domingo no Estadão)
Tags: Aviões, Brasil, China, Exportações, Minério de Ferro, Produtos básicos, Soja
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14/04/2010 - 10:05
Enviado por: Cyber
Este texto me faz lembrar que continuamos a ser uma colônia extrativista. Gostaria que fosse bem diferente, mas os números mostram isto. Ao invés de aumentarmos a exportação de produtos de alto valor agregado, afinal a tonelada de um avião pode chegar a valer alguns milhões de US$, aumentamos a exportação de minério de ferro, que vale alguns centavos de US$. Minério este que compramos de volta na forma de eletrônicos e eletrodomésticos, baratos sim, mas nos quais o valor agregado foi multiplicado por pelo menos 1 milhão (considerando o peso final em ferro).
Produto chinês, de uma forma geral, é considerado de baixa qualidade. Assim era o produto japonês na década de 1950-60, no final na década de 1970 ao contrário já era garantia de qualidade. Ao meu ver, a China vai pelo mesmo caminho, eles estão aprendendo e rápido. A população do Japão nunca passou de 150 milhões, os chineses já são mais de 1,3 bilhões.