quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Sem chuva, água do Alto Tietê só dura mais 2 meses (não lido)


FABIO LEITE - O ESTADO DE S. PAULO
22 Outubro 2014 | 03h 00

Segundo maior manancial paulista, com 521 bilhões de litros, está com 8,5% da capacidade; represas não têm volume morto para usar

SÃO PAULO - Enquanto os governos federal e paulista discutem a exploração de mais água do volume morto do Sistema Cantareira, o segundo maior manancial que abastece a Grande São Paulo caminha para o esgotamento, operando a pleno vapor e sem ter uma “reserva estratégica” no fundo de suas barragens. O Sistema Alto Tietê atingiu nesta terça-feira, 21, 8,5% da capacidade e, caso as chuvas não voltem com força, os reservatórios podem secar completamente em menos de dois meses, antes da água do Cantareira. 
Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o Alto Tietê tem capacidade para 521 bilhões de litros, atrás apenas do Cantareira em volume máximo de armazenamento entre os seis sistemas que abastecem a Grande São Paulo. Isso significa que nesta terça-feira as cinco barragens que formam o manancial localizado entre as cidades de Salesópolis e Suzano somavam 44,3 bilhões de litros, quantidade que não chega à metade da segunda cota do volume morto do Cantareira, de 106 bilhões de litros. Há um ano, o nível do Alto Tietê era de 52,8%.
Daniel Teixeira/Estadão
Biritiba Mirim. Sabesp decidiu romper um dique para ampliar a vazão de água do sistema
Embora tenha registrado um volume de chuvas abaixo da média em quase todos os meses deste ano - a exceção foi setembro -, a crise do Alto Tietê foi agravada pela exploração máxima da capacidade do manancial em pleno período de estiagem. Isso ocorreu porque, ao lado do Sistema Guarapiranga, o Alto Tietê tem sido utilizado pela Sabesp desde janeiro para socorrer bairros da capital antes atendidos pelo Cantareira.
Hoje, segundo a Sabesp, cerca de 1 milhão de pessoas que eram atendidas pelo Cantareira em bairros da zona leste da capital, como Aricanduva, Cangaíba, Penha, Sapopemba e Tatuapé, recebem água do Alto Tietê, cuja área de cobertura saltou para mais de 4 milhões de pessoas.
Esse “socorro” ao Cantareira só foi possível porque, em fevereiro deste ano, o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), órgão regulador dos mananciais paulistas, autorizou, em plena crise, o aumento de 10 mil para 15 mil litros por segundo a vazão máxima para produção de água na estação de tratamento Taiaçupeba, em Suzano.
Depois disso, a Sabesp tem operado o manancial próximo da capacidade máxima, enquanto o nível dos reservatórios vem caindo diariamente. 
O Ministério Público Estadual (MPE) investiga se a crise no Alto Tietê está relacionada a uma suposta superexploração dos reservatórios do manancial. Em junho, o Estado revelou que o nível de armazenamento das represas do Alto Tietê caiu em uma velocidade maior que a do Cantareira. 
À época, a Sabesp negou que houvesse crise no manancial. Em julho, contudo, a empresa divulgou que havia feito estudos para captar água do volume morto do Alto Tietê. “Caso seja necessário, o levantamento mostra que a partir de agosto a companhia poderá acessar 10 bilhões de litros da represa Biritiba-Mirim. E a partir de novembro poderão ser captados 15 bilhões de litros da Represa Jundiaí”, informou a Sabesp.
Negativa. No mês passado, contudo, o secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, negou que houvesse água abaixo do nível das comportas nas represas do Alto Tietê, como ocorre no Cantareira. “Não tem volume morto lá para ser utilizado”, disse Arce. “O que nós fizemos foi alargar a passagem de um reservatório para o outro. Mas isso está pronto, não tem mais nada além disso”, completou.
A obra descrita pelo secretário foi o rompimento de um dique para alargar a passagem de água entre as Represas Biritiba-Mirim e Jundiaí, em Mogi das Cruzes, para que um volume maior de água chegue à Represa Taiaçupeba, em Suzano, onde fica a estação de tratamento de água da Sabesp. Além disso, a companhia também contratou uma empresa para provocar chuva artificial sobre as represas da região, com o bombardeio de nuvens. A prática também ocorre no Cantareira.

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