quinta-feira, 30 de abril de 2020

Sesc e Senac vencem, Bolsonaro perde, Carta Capital Farofafá

Sesc 24 de Maio
Governo Bolsonaro perde na Câmara e Sesc e Senac não vão mais perder recursos
O ministro Paulo Guedes sofreu uma nova derrota hoje na Câmara dos Deputados, em seu intento de sufocar o Sistema S. Na aprovação da Medida Provisória 907/2019 (a chamada MP da Embratur), foi aprovado um destaque do PCdoB que impede a transferência de recursos do Sesc e do Senac para o orçamento da Agência Brasileira de Turismo (que substitui a Embratur).  A transferência retiraria do sistema cerca de R$ 325 milhões e afetaria ainda mais o atendimento de excelência que é hoje realizado nessas instituições. A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB AC) foi quem apresentou a emenda, aprovada por 232 votos contra 222.
Foi suprimido o artigo 31 da MP, que transferia 4% dos recursos hoje destinados ao Sesc e ao Senac para a Agência Embratur. Se fosse bem-sucedida, a dupla Guedes-Bolsonaro conseguiria o fechamento de 245 escolas e a demissão de 10 mil trabalhadores do Sesc e do Senac, segundo estimativa da oposição. Em vez de combater o desemprego, o dispositivo contribuía para aumentá-lo numa área especialmente importante. “Não é aceitável a dilapidação do Sistema S”, disse a deputada Jandira Feghali (PCdoB RJ). “Ambas as entidades prestam relevantes serviços à população”. A MP reformula a Embratur, transformando-a numa agência de serviço social autônomo.
O relator da MP, Newton Cardoso Jr. (MDB-MG), tinha proposto o uso de recursos do Sesc e do Senac em vez de recursos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Com a mudança, uma das principais fontes de verba para a agência Embratur será o Fundo Geral do Turismo (Fungetur), que passará a ser abastecido com o adicional da tarifa de embarque internacional, atualmente direcionada ao Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac).
A MP também previa cobrança de direitos autorais pela execução de obras literárias, artísticas ou científicas, mas o deputado Newton Cardoso Jr decidiu deixar o tema para a Medida Provisória 948/20, que trata do cancelamento e renegociação de reservas e eventos no setor de turismo.

Pandemia expõe despreparo de influenciadores, Palavra Aberta, FSP

Audiência mais crítica cobra menos superficialidade das celebridades digitais, que não entregam

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SÃO PAULO
Uma festa promovida pela influenciadora Gabriela Pugliesi movimentou o último fim de semana de abril nas redes sociais, provocando a ira de grande parte do público que a acompanha e também daqueles que mal sabiam de quem se tratava.
Em uma atitude que contraria totalmente a quarentena, a blogueira de mais de 4 milhões de seguidores recebeu outras influenciadoras em sua casa e postou fotos e vídeos do encontro no Instagram – em uma das postagens, dizia “Foda-se a vida”. Naquele domingo, o Brasil já registrava mais de 4 mil mortos por Covid-19.
Festa de Gabriela  Pugliesi
Festa de Gabriela Pugliesi : influencer quebra quarentena, posta fotos na internet, apaga e pede desculpas - Reprodução
A repercussão negativa foi tão grande que diversas empresas que patrocinavam Pugliesi afirmaram que romperam contrato, usando as redes para defender as orientações das autoridades de saúde e afirmar que não concordam com esse tipo de conduta – posicionamento este foi exigido por milhares de internautas revoltados que foram aos perfis das marcas exigir uma atitude.
Essa não é a primeira vez que Pugliesi, que se tornou celebridade por exibir um estilo de vida fitness, ganha manchetes e vira um dos assuntos mais comentados nas redes.
Entre outras polêmicas, seu nome já esteve envolvido em disputa com o Conselho Regional de Educação Física do Rio de Janeiro e do Espírito Santo (Cref1) por exercício ilegal da profissão de educador físico. Ela também foi criticada por, após contrair o novo coronavírus, publicar um texto em que “agradecia” à doença por fazê-la repensar atitudes, o que foi visto por seus seguidores como falta de empatia com quem está sofrendo com os diversos impactos sociais trazidos pela Covid-19.
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O papel dos influenciadores digitais, essas pessoas com muitos seguidores nas plataformas digitais e, portanto, com capacidade de influenciar opiniões e comportamentos, especialmente no que tange ao consumo, vem sendo extensamente debatido nos últimos anos. No entanto, ninguém previu que uma pandemia poderia acelerar certos processos já em curso e impor novos cenários.
Se não podemos sair de casa, como ficam os posts de look do dia, com roupas das últimas coleções enviadas por lojas, e as fotos de viagens para lugares paradisíacos patrocinadas por agências? Com empresas cortando verba de marketing, quem vai pagar por campanhas e posts de “recebidos do dia”, onde são exibidos os presentes enviados pelas marcas? Com milhões de pessoas sem emprego e dependendo de auxílio emergencial, quem vai comprar os produtos promovidos por esses influenciadores?
Em um contexto crítico de revisão de relações de consumo e ressignificação de relações sociais, como vender um estilo de vida que não existe mais –ou, em poucas palavras: o que vai ser da “cultura influencer”?
Diversos veículos estrangeiros, como Vanity Fair, Forbes, Wired e o jornal The New York Times vêm publicando reflexões para tentar responder essas e outras perguntas e apontar tendências para esse mercado que movimenta milhões anualmente especialmente entre o público jovem – no Brasil, um levantamento de 2019 do Ibope Inteligência mostrou que 52% dos internautas seguem algum digital influencer, sendo que na faixa etária entre 16 e 24 anos essa porcentagem salta para 75%.
É óbvio dizer que influenciadores têm grande responsabilidade sobre os conteúdos que postam, curtem e compartilham, e é muito positivo que a audiência perceba incongruências entre discursos e atitudes, mas a pandemia de Covid-19 parece apontar para uma intolerância à superficialidade e à glamourização promovida por muitas dessas celebridades virtuais, justamente quando estamos mais online do que nunca.
O crescimento da audiência de influenciadores dedicados à divulgação científica e causas sociais pode ser um aspecto desse movimento.
Tudo isso pode trazer mudanças profundas e perenes no tipo de conteúdo que é produzido e consumido nas redes. A consultoria YouPix, dedicada a discutir a cultura digital, indica que haverá uma redefinição do que significa influência digital, reforçando a responsabilidade e o papel social dos influenciadores e a necessidade do meio empresarial repensar valores e investir em reputação.
A concretização dessas tendências precisa vir acompanhada de ações de educação midiática que reforcem nas crianças e jovens o consumo responsável e crítico de conteúdos online e offline com os quais eles se identifiquem e que combinem com seus valores. Saber ler criticamente e participar de forma ativa do mundo conectado em que vivemos é uma demanda urgente.
Isso tudo passa pela orientação dos pais e, claro, da escola, e não só por exigência da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mas pelo fato de que a construção da ideia de cidadania não pode mais desprezar o digital. Uma geração educada midiaticamente será capaz de construir redes mais empáticas, éticas e saudáveis para lidar com desafios imprevisíveis – como é o caso de uma pandemia.
Mariana Mandelli
Coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta

“A crise do coronavírus é pior que meu sequestro”, afirma Abilio Diniz, OESP

Sonia Racy
30 de abril de 2020 | 00h40

JB NETO/ESTADÃO CONTEÚDO
Abilio Diniz está concentrado, entre outras, no projeto Estímulo 2020, montado por Eduardo Mufarej. “Me engajei profundamente nessa iniciativa”, explicou Diniz, em conversa exclusiva com a coluna na terça-feira. “Farei o mentoring do projeto, 100% privado e sem fins lucrativos, voltado para os pequenos e médios negócios afetados pela pandemia”, detalha o empresário.
Pelo que se apurou, a distribuição de R$ 20 milhões destinados a quem já passou nos critérios de seleção começa amanhã, Dia do Trabalhador. Aqui vão trechos da entrevista.
Por que falta dinheiro para esses pequenos negócios?
A pessoa que tem uma pequena loja, uma pequena assistência a celulares ou ainda um espaço para conserto de roupas, está parada há dois meses.
Elas não têm acesso ao sistema financeiro?
Os bancos seguram muito, não gostam – e, muitas vezes, nem podem emprestar visando sua saúde financeira. Por isso estamos buscando recursos privados, sem fins lucrativos.
E o Carrefour, onde você mantém participação? Tem registrado queda de demanda?
Na França, houve redução mas está voltando. Aqui, houve pico de demanda, as pessoas estocaram e estamos voltando à normalidade.
O mundo vai sair dessa crise com uma nova visão do capitalismo?
Não sei se vai ser uma nova era ou um novo capitalismo, mas tenho certeza de que muita coisa será diferente. A retomada da economia tem que ser muito bem programada e, de preferência, feita com todo cuidado.
A Alemanha fez a retomada e está tendo problemas. Isso pode se repetir aqui?
Temos que voltar de maneira bem planejada pelos governos. E mais: nenhum país no mundo vai sair bem dessa crise sem colocar muito dinheiro. A ideia de dar R$ 600,00 para aqueles que praticamente não existem – os informais, quem não têm conta em banco e têm o registro de nascimento e olha lá – é uma maneira inteligente de ajudar.
Por quanto tempo?
Esse tipo de coisa tem que continuar, tem que colocar muito dinheiro, por quanto tempo, eu não sei, ninguém sabe. Temos que distribuir recursos para quem não tem acesso e condições.
Governo e iniciativa privada?
Temos que nos unir para programar, de forma detalhada, a reabertura da economia. É caminho fundamental a união dos Três Poderes. Sei das dificuldades neste, da polarização. Precisamos dessa união agora e, depois, podem brigar. Estou já atuando nessa linha. Mas é preciso que todos ajudem. Serenidade é palavra de ordem.
O Brasil terá retomada lenta ou rápida depois da covid-19?
A economia de muitos países emergentes já estava um bocado abalada. Isso significa que a base de comparação, entre um ano e outro, facilita. Para crescer, não é tão difícil. Todo mundo me acusa de ser otimista, mas eu estou vendo o Brasil nesse momento, desse jeito. Estou bem esperançoso, não sei quando termina esse vírus, não sou médico, então, não dá para saber. Essa é a crise mais severa que eu já vi na vida empresarial, sem dúvida. Ela consegue até ser pior que meu sequestro.
Dessa pandemia, vai sair um novo capitalismo?
Não. Pelo o que estou observando, vai sair um mundo mais solidário. Na saída dessa crise, o mundo será mais forte, mais solidário, com menos discriminação, mais oportunidades, maior geração de empregos e renda, com maior inclusão social. Acredito na preocupação generalizada das pessoas e também com o próprio Planeta.
Vamos voltar ao capitalismo selvagem?
Essa palavra está em desuso. Hoje praticamos um capitalismo consciente ou, então, estaremos fora do mercado.