quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Não foram dados os primeiros passos, Celso Ming, OESP

Uma vez completados os primeiros 30 dias de governo Bolsonaro, ainda não temos nenhum anúncio de providências na política econômica

Celso Ming, O Estado de S.Paulo
30 Janeiro 2019 | 21h15
Pouco antes da mudança de governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, avisou que, a partir de janeiro, novidades na política econômica seriam anunciadas quase diariamente.
Uma vez completados os primeiros 30 dias de governo Bolsonaro, ainda não temos nenhum anúncio de providências na política econômica. O que há são declarações de intenção: de levar adiante a reforma da Previdência; de reduzir a carga tributária para as empresas; de simplificar o sistema tributário; de reduzir a burocratização; de fechar novos acordos de comércio exterior; de recolocar em marcha leilões de concessão de serviços públicos; e de privatizar grande parte do setor estatal.
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Brazil's Privatization Secretary Salim Mattar speaks at Credit Suisse Latin America conference in Sao Paulo, Brazil January 29, 2019. REUTERS/Amanda Perobelli
Essas declarações se repetem desde as eleições e foram reafirmadas em Davos, por ocasião do Fórum Econômico Mundial. Mas, por enquanto, não há novidade, tampouco a formulação de um plano de prioridades ou detalhamento do projeto de reforma da Previdência.
O clima geral ainda é de confiança, como demonstram a redução da percepção do índice de risco (queda do CDS de 5 anos) da economia, a relativa estabilidade das cotações do dólar no câmbio interno e a alta da Bolsa, de 10,36% nestes 30 primeiros dias do mês.
Os levantamentos do Boletim Focus, do Banco Central, esperam avanço do PIB neste ano de 2,5%; retomada da produção industrial da ordem de 3,0%; inflação anual de 4,0%, abaixo da meta, que é de 4,25%; e entrada de investimentos estrangeiros diretos de US$ 80 bilhões. São números que refletem otimismo, à espera de que o novo governo anuncie seus projetos e não faça nenhuma grande besteira em política econômica.
Mas as incertezas continuam aí. Ainda não se sabe como o rombo das contas públicas e a dívida serão equacionados. Os governadores de nada menos que seis Estados decretaram estado de calamidade financeira, à espera do socorro da União. E, em alguns casos, o governo continua reforçando a percepção de que ainda não sabe o que quer. O último dos casos são as declarações de que estudava intervir na diretoria da Vale, para todos os efeitos uma empresa privada.
A privatização de empresas estatais, tal como novamente anunciada pelo secretário de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia, Salim Mattar, é providência saneadora, na medida em que, além de conter a ineficiência e a roubalheira, reduz a drenagem de recursos públicos para atividades não essenciais.
O Tesouro está quebrado e não pode seguir sustentando empresas públicas carregadas de distorções e de má governança. O Boletim de Participações Societárias da Uniãomostrou que, apenas de 2012 a 2017, o Tesouro despejou R$ 142 bilhões em empresas estatais e teve como retorno apenas R$ 96 bilhões.
No entanto, mesmo se muito bem feita, a privatização intensiva por si só não recuperará as finanças públicas. É a venda das joias da família que pode até reduzir o endividamento federal hoje de R$ 3,9 trilhões, mas não pode ser entendida como decisão estratégica de política econômica. Ela não é instrumento de alavancagem do sistema produtivo e de criação de empregos.
Enfim, sabemos, em suas grandes linhas, o que pensam os responsáveis pela política econômica. Mas ainda não temos decisões.
CONFIRA
» Subvenções a estatais
O gráfico mostra a evolução das subvenções do Tesouro a empresas públicas. Não se trata de injeção de capital novo, mas apenas de despesas com pessoal e outros custeios. A estatal que mais recebeu vitaminas no período 2012 a 2017 (inclusive) foi a Embrapa (R$ 15,9 bi). A segunda foi a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (R$ 9,1 bi). E a terceira, o Hospital Nossa Senhora da Conceição (R$ 5,8 bi). Vêm a seguir o Hospital das Clínicas de Porto Alegre (R$ 5,7 bi) e a Conab (R$ 4,8 bi).

Meirelles sobre a reforma da previdência


À frente da Secretaria de Fazenda de São Paulo, o ex-ministro Henrique Meirelles afirmou, em entrevista ao Estado de S. Paulo, que fará ajustes na Previdência estadual assim que uma reforma for aprovada pelo Congresso Nacional. Meirelles confia que a proposta será aprovada ainda no primeiro semestre deste ano. Responsável pelo projeto na gestão Michel Temer, o ex-ministro da Fazenda admitiu que não houve um engajamento firme dos governadores, mas considera que a situação agora é diferente. Meirelles disse que o mais provável é que o governo João Doria (PSDB) faça um contingenciamento “cautelar” entre 2% e 3% das despesas. Leia os principais trechos da entrevista:


Qual é a estratégia para as finanças de São Paulo, que está em situação melhor que outros estados, mas também passa por dificuldades? Estamos fazendo uma revisão rigorosa e cuidadosa de todos os itens do Orçamento para 2019, exatamente vendo qual é o número de receitas recorrentes e o que depende de vendas de ativos, receitas eventuais, etc. A nossa conclusão é que vai, sim, haver uma dependência da alienação de ativos para equilibrar (as contas). O Orçamento aprovado pela Assembleia Legislativa, de receitas e despesas equilibradas em R$ 231 bilhões, prevê nessas receitas R$ 10 bilhões com venda de ativos.

Haverá contingenciamento? 

Havendo necessidade, vamos contingenciar uma parte. Agora, nós contamos certamente, e é parte importante da estratégia, em fazer entrada de capital privado na Sabesp. E tem duas alternativas, duas hipóteses: ou a manutenção da legislação que prevaleceu até agora, com isso nós faríamos a montagem de uma companhia holding da Sabesp e venderíamos ações da companhia holding. Nesse caso, esperamos arrecadar cerca de R$ 5 bilhões. É uma estimativa. Por outro lado, existe medida provisória em tramitação no Congresso. Caso essa MP seja transformada em lei, haverá possibilidade concreta, de fato, de privatização da Sabesp. Portanto, a venda do controle. Nesse caso, haveria possivelmente a entrada de mais recursos, possivelmente algo na casa de dois dígitos, mais de R$ 10 bilhões.

Que outras privatizações o senhor pretende fazer? Tem outro projeto prioritário que é a privatização de presídios. É algo que, de fato, oferece possibilidades e temos aí um número bastante expressivo de presídios que poderão ser colocados para privatização, o que poderá não só oferecer uma melhor qualidade de serviços, mas também certamente vai gerar arrecadação suplementar. Para se ter uma ideia, no caso do presídio, possivelmente não será privatização de grande controle, porque não é uma companhia. Será uma concessão de serviço, via PPP (Parceria Público-Privada) ou concessão ou cessão. Existem 71 unidades com aproximadamente 200 mil detentos, e 11 presídios em construção. Então, isso também é um projeto relevante.

Onde seria preciso cortar despesas nesse primeiro momento?É um valor, considerando-se o porte do Estado, de R$ 231 bilhões em despesas, é um valor pequeno. Estamos pensando algo entre 2% e 3% das despesas totais. Então, é um contingenciamento cautelar, que poderá ser liberado à medida que essas vendas de ativos começarem a se concretizar.

A Previdência de São Paulo tinha um problema de registro divergente do Tesouro Nacional. Como está isso? É um problema da Previdência de todos os estados. Vamos trabalhar também num projeto de reforma no âmbito da reforma federal. No momento em que reforma federal for aprovada, daí nós faremos também os necessários ajustes aqui na Previdência do estado. Nós temos já um fundo de previdência complementar, que é importante, relevante, a Prevcom, e temos também a SPPrev. Ou seja, São Paulo tem já uma estrutura desenvolvida nisso. Agora, como todo o país, precisa fazer olhando para frente, para o futuro, uma reforma também da Previdência estadual mais à frente

O que será necessário fazer na Previdência do estado? Estamos estudando isso. Não é uma situação como a federal, que tem um déficit (grande). Hoje, muitos estados têm deficit grande, que não é financiável, e têm de fazer uma reforma. São ajustes de longo prazo, mas nos pontos clássicos de idade mínima, tempo de contribuição etc. É uma situação importante, pelo aumento da expectativa de vida dos brasileiros e dos paulistas, mas não é situação de emergência como é a nacional.

O senhor esteve à frente da proposta de reforma do governo Michel Temer. Como vê as chances de aprovação da reforma pelopresidente Jair Bolsonaro? 

Acho que está indo da forma adequada. Quanto mais cedo o governo definir qual é o projeto, melhor e mais rápida será a negociação com o Congresso.

Acha que dá para aprovar no primeiro semestre? Acredito que sim, esse é um projeto que andou muito bem durante o ano de 2017. Em 2018, não, porque teve a eleição.

Os policiais militares são um problema para a Previdência do estado? Não, normal, como todas as polícias militares. É algo que terá de ser devidamente endereçado por conta do aumento da expectativa de vida. É um processo normal. Não é um problema específico. Estamos conversando, tratando de outros assuntos. Tenho tido reuniões sobre outros assuntos com o secretário de Segurança, é um clima de total cooperação.

Faltam 3.000 km para que a ferrovia Norte-Sul ligue extremos do país,

Faltam 3.000 km para que a ferrovia Norte-Sul ligue extremos do paísFoto: Beth Santos/Secretaria Geral da Presidência da República
De acordo com a Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, empresa que faz a gestão desse sistema, até o momento foram investidos R$ 12,5 bilhões. Hoje a ferrovia Norte-Sul está dividida em três partes: Tramo Norte, entre Açailândia (MA) e Porto Nacional (TO), com 720 quilômetros de extensão, já em operação e administrado pela subconcessionária "Ferrovia Norte Sul S.A" desde 2007, com movimentação de 8,4 milhões de toneladas de produtos em 2018; o Tramo Central, com 855 quilômetros de extensão entre Palmas (TO) e Anápolis (GO), que se encontra em operação pela Valec desde 2015; e o Tramo Sul, entre os municípios de Ouro Verde de Goiás (GO) e Estrela d´Oeste (SP), com 682 km de extensão, cujas obras estão em fase final.
Confira a seguir as condições atuais dos principais trechos que compõem a Ferrovia Norte-Sul, que, quando totalmente implantada terá extensão superior a 4.100 quilômetros.
Barcarena (PA) - Açailândia (MA) - Em projeto. São aproximadamente 477 quilômetros de extensão, concebidos com o propósito de ampliar e integrar o sistema ferroviário nacional e estabelecer a sua interligação com o Complexo Portuário de Vila do Conde, no Pará. A implantação desse trecho transformará a logística regional de transporte de minério de ferro e o desenvolvimento da exploração de outros minerais. Também facilitará o escoamento da produção de açúcar, milho, etanol, soja e seus subprodutos (farelo e óleo) na área de influência da ferrovia.
Açailândia (MA) - Palmas (TO) - Com 720 quilômetros de extensão, o trecho encontra-se subconcedido à ferrovia Norte-Sul S.A. Essa estrada de ferro facilitou a logística de transporte de etanol e grãos, como milho, soja (além de farelo e óleo) para a região Centro-Norte do Brasil. Em Açailândia (MA), a ferrovia se conecta à estrada de ferro Carajás - EFC, que acessa o complexo portuário de São Luís (MA). Em Porto Franco (MA), com a implantação da ligação a Eliseu Martins (PI), a ferrovia Norte-Sul se conectará com a ferrovia Transnordestina, em construção, o que permitirá acesso aos portos de Suape (PE) e Pecém (CE).
Palmas (TO) - Anápolis (TO) - O trecho de 855 quilômetros foi concluído em 2014 e é operado pela Valec. Nesse trecho são transportados principalmente farelo de soja, madeira triturada e minério de manganês. A ferrovia Norte-Sul (FNS) terá acesso a vários portos e corredores de exportação, sendo que em Figueirópolis(TO) se conectará à ferrovia de integração Oeste-Leste. Isso permitirá o acesso ao Porto Sul, que será construído nas proximidades de Ilhéus (BA). Em Campinorte (GO), vai se interligar com a ferrovia de integração do Centro-Oeste, estabelecendo um canal com a maior região produtora de soja do país, no estado de Mato Grosso.
Ouro Verde (GO) - Estrela d´Oeste (SP) - Partindo de Ouro Verde de Goiás, cidade distante 40 quilômetros ao norte de Anápolis, esse trecho, em construção, atravessará boa parte do sudeste goiano, uma das principais regiões do agronegócio no país, e chegará a Estrela d´Oeste (SP), completando 684 km de extensão. Em Estrela d'Oeste, a ferrovia Norte-Sul se conectará com a ferrovia EF-364, operada pela Rumo Logística, acessando assim o Porto de Santos.
Estrela d'Oeste (SP) Panorama (SP) - Em projeto. A ferrovia Norte-Sul pretende avançar até Panorama/SP, às margens do rio Paraná, numa extensão de 264 quilômetros. Esse prolongamento proporcionará nova alternativa de transporte para a produção agroindustrial do oeste paulista e leste de Mato Grosso do Sul. Em Panorama (SP), a ferrovia se conectará com a EF-366, operada pela Rumo, com possibilidade de acesso ao Porto de Santos(SP).
Panorama (SP) / Chapecó (SC) - A partir de Panorama/SP, a ferrovia prosseguirá em direção ao sul, até Chapecó, atravessando os estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Esse trecho ferroviário proporcionará nova opção de transporte para a produção da região. Os estudos de viabilidade já foram concluídos e a extensão final do trecho foi de 950,8 quilômetros.
Chapecó (SC) / Rio Grande (RS) - A ferrovia também prosseguirá até o porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Os estudos de viabilidade estão concluídos e a extensão final do trecho foi de 832,9 quilômetros.