terça-feira, 29 de agosto de 2017

Governo de SP quer sócios para empresa de saneamento, FSP


Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, discursa durante envento de celebração dos 15 anos da Sabesp na NYSE (Bolsa de Nova York)
O governador de SP, Geraldo Alckmin, em evento dos 15 anos da Sabesp na Bolsa de Nova York

O governo Alckmin tenta votar com urgência um projeto de lei que cria uma holding para atrair investidores interessados em explorar o saneamento básico, sem abrir mão do controle da Sabesp.
A ideia é criar uma sociedade controladora inicialmente gerida pelo Estado. Depois, o governo pretende vender participações na holding para captar recursos –mantendo a maioria das ações com direito a voto.
A proposta prevê a transferência dos 50,3% que o governo detém na Sabesp para a nova empresa. Segundo a companhia, é uma maneira mais barata para levantar recursos e acelerar seu programa de investimentos.
Um decreto assinado em 2012 pelo governador tucano estabelece que, até 2020, São Paulo deve universalizar a coleta e tratamento do esgoto.
O projeto, no entanto, é considerado genérico por parlamentares e analistas consultados pela Folha.
Uma das dúvidas é sobre a destinação dos recursos da venda de ações do Estado na holding, que poderiam reforçar o caixa do governo sem necessariamente financiar investimentos da companhia.
Em uma das 77 emendas ao texto, o deputado Edmir Chedid (DEM), da base aliada, tenta garantir um mínimo de 30% dos dividendos da Sabesp para saneamento. As propostas de alteração serão apreciadas nesta terça (29) e a expectativa é que o projeto siga para discussão em plenário ainda nesta semana.
"O projeto nasce para injetar recursos para o governo, e não para a Sabesp. Esse investidor entra comprando uma participação em um projeto que não tem muitos detalhes", diz Pedro Galdi, analista-chefe da Magliano Corretora.
Outra incerteza é sobre quais ativos seriam gerenciados pela holding. O texto fala que o objetivo da sociedade controladora é "reunir ativos de saneamento básico", sem, no entanto, especificar outros além da Sabesp.
De acordo com Guilherme Dantas, sócio do escritório de advocacia Siqueira Castro, isso abriria margem para criar novas empresas que possam explorar serviços de saneamento, não só em São Paulo. O texto prevê que a holding expanda sua atuação para além do Estado.
Até agora, o mercado reagiu mal. As ações tiveram quatro pregões de queda depois de o governo encaminhar a proposta à Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). No mês, a Sabesp acumula desvalorização de 7,7%.
O texto chegou ao Legislativo em 1º de agosto, em regime de urgência. Deveria passar por três comissões: Constituição e Justiça, Infraestrutura e Finanças –apenas a CCJ é comandada pela base.
No dia 15, o presidente da Casa, Cauê Macris (PSDB), reuniu os três colegiados em uma só sessão, que aprovou o projeto sem ressalvas. A bancada do PT argumentou que essa votação burlou o regimento e pediu a anulação do resultado. Também solicitou audiência pública com representantes da Sabesp, que aconteceu na quarta (23).
Um dia antes, as três comissões se reuniram novamente e, em uma única sessão, aprovaram a proposta.
Barros Munhoz (PSDB), líder do governo, nega que a tramitação tenha sido acelerada e que seguiu todos os ritos previstos pelo regimento.
O deputado conta que a proposta partiu da Sabesp, diante da necessidade de atuar em outras áreas e de recursos para o governo.
Procurada pela reportagem, a companhia não se manifestou sobre o assunto. 

Em Nova York, Alckmin anuncia capitalização da Sabesp,


Apresentação a investidores feita pelo governador na Bolsa de Valores de NY prevê criação de uma holding de saneamento básico
Seg, 15/05/2017 - 18h49 | Do Portal do Governo
Em viagem aos EUA, o governador Geraldo Alckmin esteve nesta segunda-feira (15) na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), onde anunciou a produção de estudos para a criação de uma holding de saneamento básico que reunirá a Sabesp e outras possíveis empresas subsidiárias. O anúncio aconteceu durante a comemoração dos 15 anos da entrada da Sabesp na Bolsa nova-iorquina.
O pronunciamento de Alckmin na NYSE faz parte de uma viagem planejada para apresentar projetos a investidores que segue até a próxima quarta-feira (17). A realização de estudos para capitalização da Sabesp foi aprovada pelo Programa Estadual de Desestatização – PED na última sexta-feira (12).
A proposta prevê a criação de uma sociedade anônima para exercer o controle acionário direto sobre a Sabesp. O Estado de São Paulo continuará, em qualquer hipótese, detendo participação acionária suficiente para garantir o exercício do controle acionário da empresa.
“Com a criação da holding, onde ficará a Sabesp e outras possíveis empresas do Estado, nós conseguiremos trazer mais capital privado, mais investimentos para ampliar o trabalho e contar com a expertise da iniciativa privada”, disse Alckmin, que destacou ainda a possibilidade de serem criadas subsidiárias relacionadas ao saneamento básico, como resíduos sólidos, por exemplo.
A SabespFundada em 1973, é a maior empresa de saneamento das Américas e a quarta maior do mundo em população atendida. Possui 27,7 milhões de clientes e opera como concessionária em 367 dos 645 municípios do Estado. Atende a 13% da população brasileira e responde por cerca de 25% de tudo que é investido em saneamento no país.
Nos últimos anos, a empresa superou a pior seca da história da Região Metropolitana de São Paulo, onde vivem mais da metade de seus clientes, em meio a uma crise econômica no Brasil, que também afetou a situação da companhia. O sucesso foi resultado de grandes investimentos, de obras inovadoras e gestão eficiente, que levaram à recuperação do nível das represas que abastecem a população e de boas condições econômico-financeiras.
Em 2016, a Sabesp obteve lucro de R$ 2,9 bilhões em 2016, período no qual investiu R$ 3,9 bilhões. A receita líquida passou de R$ 14 bilhões e o Ebitda ajustado atingiu R$ 4,6 bilhões, com margem Ebitda ajustada de 32,4%.
Perfil da empresaSociedade anônima de capital aberto e economia mista, passou a ter suas ações negociadas no segmento do Novo Mercado da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBovespa) e na Bolsa de Nova York (NYSE), na forma de ADR nível III. Ambos são os mais altos níveis de governança corporativa nas respectivas bolsas. Atualmente, seu capital está assim dividido: 50,3% nas mãos do Governo do Estado, 30,3% com acionistas na BM&FBovespa e 19,4% na NYSE.
A inserção ampla no mercado de capitais permitiu à Sabesp acessar fontes mais baratas de financiamento e, com isso, ampliar seus investimentos na expansão e na melhoria continuada dos serviços de saneamento no Estado de São Paulo. A gestão da empresa aperfeiçoou-se e atingiu elevados padrões de transparência e eficiência.
Nestes 15 anos, as ADRs da Sabesp valorizaram-se 896% na NYSE, superando muito a performance do índice Dow Jones, que subiu 110% no período. Já o valor de mercado da Sabesp aumentou em mais de seis vezes: passou de R$ 3,275 bilhões para R$ 21,175 bilhões. No mesmo período, na BM&FBovespa as ações da Sabesp subiram 807%, ante 462,4% do Ibovespa.
O ingresso no mercado de capitais, associado a uma gestão eficiente e transparente e a projetos e obras de grande porte, possibilitou à Sabesp expandir substancialmente os serviços de saneamento. Os investimentos saíram de um patamar de R$ 1 bilhão ao ano para quase R$ 4 bilhões. Entre 2017 e 2021, a companhia planeja investir R$ 13,9 bilhões em obras de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A estupidez há de crescer, OESP


A quantidade de informação a que temos acesso multiplicou-se infinitamente, mas nossa quantidade de tempo continuou a mesma. Assim, a superficialidade do conhecimento torna-se a regra

Daniel Martins de Barros, O Estado de S.Paulo
02 Julho 2017 | 05h00
SÃO PAULO - Pelo andar da carruagem aposto que a vida inteligente será a primeira a ser extinta no planeta. Não pelo fim da vida em si, mas pelo ocaso da inteligência que testemunhamos aproximar-se a cada alvorecer. Apesar de não ter uma definição precisa, de forma geral todo mundo sabe diferenciar a inteligência da estupidez. Diante de ambas, é possível identificar os lados de cada uma. 
Mas às vezes ficamos na dúvida. Admiramos as capacidades intelectuais daquela pessoa culta, que tem muito conhecimento e é capaz de oferecer soluções inspiradoras. No entanto, quando notamos que, apesar de toda sua bagagem, o raciocínio lógico é falho, fazendo-a titubear diante problemas novos, sem relação com situações análogas, percebemos que fomos apressados em considerá-la inteligente. 
O contrário também acontece: se achamos esperto o sujeito que pensa rápido, que abstrai facilmente conceitos difíceis, logo mudamos de opinião se lhe falta conhecimento ou sobra ignorância. É por isso que uma das teorias mais influentes sobre a inteligência a divide em dois componentes: inteligência fluida e inteligência cristalizada. A primeira constitui essencialmente o raciocínio abstrato, que permite resolver problemas lógicos independentemente de conhecimentos prévios, torna-nos mais adaptáveis a ambientes mutáveis. A segunda depende do acúmulo de experiência, desenvolvimento progressivo de habilidades, constituindo, entre outros, o vocabulário e a cultura geral. Juntas, elas constituem uma medida geral de QI, que – surpresa – vem aumentando a cada geração.
Por espantoso que seja para quem passa os olhos pelas redes sociais, testes de QI ao longo dos anos mostram que conforme as gerações se sucedem aumentam as pontuações. A bagatela de três pontos por década, em média. Veja então que não é só por preguiça que pedimos aos filhos para nos ajudar a encarar as novas tecnologias – de alguma maneira eles são realmente mais espertos que nós. 
As explicações para esse fenômeno, chamado de efeito Flynn, vão da redução nas taxas de desnutrição do mundo até o aumento dos estímulos abstratos em nossa realidade tecnológica, passando pelo aumento do tempo das crianças na escola. Ninguém sabe a causa ao certo – ou quanto tempo durará.
Se ainda assim a estultice parece florescer ao nosso redor como cogumelo depois da chuva é porque sabedoria não tem relação necessária com o QI. Uma coisa é ser capaz de dizer a semelhança entre o elogio e a crítica (teste clássico da capacidade de abstração), outra é ser capaz de ponderar pontos de vista opostos que se refletem nos elogios e nas críticas. Da mesma forma, conhecer fundamentos de sistemas políticos não nos habilita para manejar a complexidade político-ideológica pós-moderna. Aliás, bem ao contrário, a forma como lidamos com o conhecimento hoje em dia contribui para a redução da sabedoria. Isso acontece porque a quantidade de informação a que temos acesso multiplicou-se infinitamente, mas nossa quantidade de tempo continuou a mesma. Assim, a superficialidade do conhecimento torna-se a regra, sendo raros os momentos em que nos dedicamos a, de fato, nos aprofundar em determinado assunto. 
A consequência é que o descompasso entre o que sabemos e o que pensamos saber se aprofunda. Esse abismo, batizado de efeito Dunning-Krueger em homenagem à dupla de psicólogos que o descreveu na virada para o século 21, acontece quando não somos totalmente ignorantes em algum tema mas estamos longe de dominá-lo. Nessa situação temos a incontrolável tendência de superestimar nosso conhecimento. Pior: quanto menos sabemos, mais achamos que sabemos. 
Ironicamente, quem realmente é expert em um assunto normalmente acredita estar longe de compreendê-lo tão bem. Só ao nos dedicarmos com afinco a algum tópico vislumbramos humildemente a profundidade abissal que a ignorância pode alcançar.
Por isso que a estupidez há de crescer. Diante de um mundo mais complexo, em que recebemos informações sobre cada vez mais assuntos com cada vez menos profundidade, enquanto não admitirmos nossas limitações não haverá aumento de QI que baste para nos salvar.