sexta-feira, 31 de março de 2017

A grande disputa, O Globo


Somos um país de grande concentração de terras. Os grandes imóveis rurais privados perfazem a maior parcela do território

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Dias atrás foi lançado o Mapa Fundiário do Brasil, uma compilação de informações de 20 bases de dados oficiais, incluindo Incra, Funai, ICMBIo, Serviço Florestal, entre outros, que mostra a primeira fotografia sobre a ocupação e a posse das terras no país.
O mapa — produzido pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), em parceria com o Laboratório de Geoprocessamento da Esalq/USP como parte da construção do Atlas de Agropecuária Brasileira — indica que 53% do território brasileiro constituem-se de terras privadas; 5%, de assentamentos; e 37%, de áreas públicas.
O mapa confirma que somos um país de grande concentração de terras nas mãos de poucos. Os grandes imóveis rurais privados perfazem a maior parcela do território, com 234 milhões de hectares, ou seja, seis vezes a área de assentamentos e mais do que o dobro da área ocupada pelos pequenos ou médios imóveis rurais.
Mas o fato que talvez chame mais atenção é a enorme área de terras públicas pertencentes à União e aos estados e sem destinação definida, ou seja, áreas que não são unidades de conservação, terras indígenas, áreas militares, unidades de pesquisa ou qualquer outra forma de uso definido. São 86 milhões de hectares em disputa, o equivalente a quase 20 vezes o Estado do Rio de Janeiro ou mais do que o dobro de todas as áreas envolvidas nos conflitos do Oriente Médio.
Concentradas na Amazônia e com quase 80% cobertos por florestas, estas áreas encontram-se num limbo, ficando à mercê de ocupações ilegais, grilagem, violência e degradação ambiental. Da área total desmatada na Amazônia nos últimos anos, nada menos que 24% foram registrados nas áreas públicas não destinadas. A intensidade do desmatamento em áreas não destinadas é 60 vezes maior que em áreas publicas protegidas.
É fundamental promover a destinação para conservação e uso sustentável destas áreas, para que gerem produtos e serviços para a sociedade ao mesmo tempo que conservem a biodiversidade e a água e contribuam para o equilíbrio climático do continente.
Infelizmente, o governo e o Congresso Nacional têm feito o oposto, cedendo às pressões de invasores de terras publicas. Promovem a redução de unidades de conservação, revertendo a destinação definida e aumentando as áreas em disputa.
A se confirmar a desafetação (excluir da área de conservação ou “descriar” uma área), a mensagem que fica é que valem a pena a grilagem e o desmatamento ilegal. Péssimo sinal em tempos em que se pretende passar o Brasil a limpo com o combate à corrupção e às ilicitudes em geral.
Tasso Azevedo é engenheiro florestal


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Temer sanciona terceirização com vetos, OESP







Presidente vetou trechos já contemplados pela Constituição







O Estado de S.Paulo
31 Março 2017 | 19h45



Foto: André Dusek|Estadão

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer sancionou o projeto de lei que regulamenta a terceirização irrestrita, aprovado pela Câmara dos Deputados na semana passada. A lei foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União, com três vetos parciais ao texto aprovado na Câmara, conforme antecipou a Coluna do Estadão. A medida já tem efeito a partir desta sexta-feira, 31.

  

Com isso, as empresas já podem contratar trabalhadores terceirizados para qualquer função. Antes, o entendimento em vigor era de que essa contratação só era permitida para funções que não fossem a atividade-fim da empresa. Por exemplo, uma montadora poderia ter terceirizados nas funções de limpeza ou de segurança, mas não na linha de produção. 
O principal veto no projeto sancionado por Temer é o que permitia que o prazo do contrato do trabalhador temporário poderia ser alterado mediante acordo ou convenção coletiva. Com isso, os contratos temporários terão 180 dias e poderão ser prorrogados por até 90 dias. Ou seja, a duração máxima dos contratos será de 9 meses.
Outros dois trechos, segundo o Palácio do Planalto, foram vetados porque dispunham sobre direitos trabalhistas que já são assegurados pela Constituição. Um deles obrigaria o registro, na carteira de trabalho, da condição de temporário. O outro assegurava aos trabalhadores temporários direitos como salário e jornada e equivalentes ao recebido por empregados na mesma função ou cargo. Ele também assegurava INSS, FGTS, férias e 13.º salário proporcionais.
De acordo com o Planalto, outros ajustes na lei serão realizados por meio de emendas à proposta da reforma trabalhista. Com a decisão de sancionar o projeto antes do prazo final (14 de abril), o governo desistiu de editar uma MP para colocar as proteções aos trabalhadores terceirizados. A expectativa é que a o texto da reforma trabalhista seja votado no mês que vem. 
O texto sancionado traz apenas três salvaguardas genéricas: diz que os terceirizados não poderão realizar serviços diferentes daqueles para os quais foram contratados, que terão as mesmas condições de segurança, higiene e salubridade dos empregados da “empresa-mãe” e que estarão abrangidos nas regras da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) sobre fiscalização.
Reforma Trabalhista. O Estado apurou que um dos pontos que devem ser incluídos na reforma trabalhista é a garantia de que a empresa não poderá demitir um funcionário e recontratá-lo imediatamente depois como terceirizado. O novo prazo deve girar em torno de 18 meses. Também deve ser incluída a obrigatoriedade de a empresa-mãe fiscalizar se a empresa contratada está cumprindo suas obrigações trabalhistas e previdenciárias. Essa exigência evitaria uma queda na arrecadação da Previdência.

O projeto aprovado na Câmara no último dia 22 foi considerado bastante duro pelas centrais sindicais. Inicialmente, Temer estava disposto a esperar a aprovação de um projeto mais brando, que tramita no Senado, mas desistiu por pressão dos empresários. 



O presidente Michel Temer sancionou com vetos nesta sexta-feira, 31, o projeto de lei aprovado na Câmara dos Deputados que regulamenta a terceirização de atividades nas empresas públicas e privadas. O texto original do projeto de lei de 1998 permite a uma empresa terceirizar todas as suas atividades, inclusive o seu negócio principal.
Temer, porém, vetou três trechos do projeto aprovado pela Câmara que já estavam contemplados pela Constituição Federal. Entre eles, a prorrogação do contrato temporário de trabalho de seis para nove meses. O Planalto informou que os "ajuste" no texto serão feitos por meio da proposta da reforma trabalhista.
Outro projeto, de 2003, chegou a ser discutido no Senado e cogitou-se até que ele fosse aprovado em tempo hábil para que Temer pudesse costurá-lo com o de 1998. O texto mais recente é considerado mais brando em relação aos trabalhadores. 

quinta-feira, 30 de março de 2017

Alta tecnologia e inovação buscam simplificar a vida, FSP


Por trás de todos aqueles ícones que aparecem na tela do celular há uma altíssima tecnologia. E o propósito dela é simplificar a vida das pessoas

O Brasil tem mais de 170 milhões de smartphones em operação. Daqui a um ano, segundo projeção da Fundação Getúlio Vargas, eles serão mais de 236 milhões. Cada aparelho tem em média 15 aplicativos que servem para o usuário se comunicar, se divertir, monitorar dados de saúde, pedir uma refeição, realizar operações bancárias, se informar, se orientar no trânsito, entre outras atividades.
A grande maioria não se dá conta, mas por trás daquele pequeno ícone que aparece na tela do celular ou do tablet há uma altíssima tecnologia, a cada dia mais sofisticada. E o propósito dessa alta tecnologia é simplificar o uso do aplicativo para facilitar a vida das pessoas.
"A tecnologia fica cada vez mais complexa na parte invisível para que o uso do aplicativo fique mais amigável para o usuário. A regra básica é a busca pela simplicidade", afirma Antonio Graeff, especialista em criação de produtos digitais com mais de 18 anos de experiência.
Essa máxima da alta tecnologia invisível em busca de um serviço melhor e mais simples serve para os aplicativos, mas também para muitos outros equipamentos que nos rodeiam. Graeff cita o exemplo dos carros, cuja parte mecânica básica se mantém muito parecida desde Henry Ford, na virada do século 19 para o 20.
Mas a alta tecnologia está lá, imperceptível a olho nu, em milhões de linhas de código que controlam desde a ingestão de combustível até o funcionamento dos freios.
Para acadêmicos, desenvolvedores e empresas que se utilizam do universo digital, está bastante claro que o uso inteligente da alta tecnologia não tem nada de exibicionista.
Pelo contrário. Ao usar um aplicativo que funciona bem, o consumidor não deve pensar em como foi difícil desenvolvê-lo ou em quantos "nerds" vindos do MIT (Massachusetts Institute of Technology) passaram meses ou anos trabalhando nele. Deve pensar em como é fácil utilizá-lo ou simplesmente não pensar em nada, uma vez que a experiência deve ser prazerosa, não penosa.
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Outra preocupação é que esses serviços sejam inclusivos para públicos que tenham familiaridades muito distintas com o universo digital. Afinal, a internet como a conhecemos hoje (com a introdução do www - world wild web) está à beira de completar 26 anos, e os smartphones ganharam popularidade só depois de 2007, com o lançamento do primeiro iPhone.
É pouquíssimo tempo, e isso quer dizer que enquanto os nascidos na era pós-internet podem ser considerados doutores no manejo de equipamentos e serviços digitais, alguns com mais idade ainda engatinham neste mundo.
"Ninguém pode ser deixado para trás ou ficar com dificuldade de acesso a essas ferramentas que estão aí para facilitar a vida de todos. Essa é uma das principais preocupações de desenvolvedores de aplicativos", afirma Juliano Spyer, antropólogo digital e pesquisador da University College London.
Spyer fez parte de um grupo multinacional que pesquisou o uso de meios digitais e a influência que eles exercem em comunidades díspares como o interior da Bahia, do Chile, da Índia ou da Itália, entre outras.
"Há muitas diferenças na forma como as pessoas se relacionam com aplicativos, com a internet. Em um mesmo país, em uma mesma cidade, as diferenças estão presentes e ligadas a idade, escolaridade, interesse por esse universo. Quem quiser atingir e ser compreendido por todo mundo terá que apostar na simplicidade", afirma Spyer.
Além da simplicidade, há outras características que um bom app de serviço deve ter.
Primeiro, ser ágil. Se demorar para abrir ou para ir de uma função a outra, o usuário tenderá a abandoná-lo.
Depois, ser organizado visualmente. É preciso haver uma priorização das funções, para que as de maior demanda estejam mais à mão.
Não deve também ocupar muita memória do aparelho. Ninguém gosta de ler a mensagem "armazenamento quase cheio" em seu celular, e, quando isso acontece, tende a apagar o aplicativo pelo tamanho que ocupa.
Precisa ser autoexplicativo e ter foco. Se quiser ser muito abrangente (com excesso de funções), não conseguirá cumprir as exigências anteriores.
E, mais importante que tudo, precisa resolver as necessidades do usuário.