domingo, 25 de outubro de 2015

Silêncio eloquente, Audálio Dantas, Aliás OESP


Esperava-se uma Praça da Sé tinta de sangue no culto ecumênico pela morte de Vlado. Mas ali a ditadura começava a cair

RELACIONADAS
No fim da tarde de 31 de outubro de 1975, uma sexta-feira, eu olhava, do alto da escadaria da Catedral da Sé, o que restava de movimento na imensa praça, a principal da cidade de São Paulo. Fazia poucos minutos que terminara o culto ecumênico em memória do jornalista Vladimir Herzog, morto uma semana antes sob tortura, numa dependência do II Exército. Quem não soubesse o que ocorrera ali instantes antes, com a participação de uma multidão de 8.000 pessoas, não podia entender a calma que reinava no grande espaço da praça, que àquela hora poderia estar tinto de sangue.
Os últimos participantes do ato ecumênico iam saindo da praça, em pequenos e silenciosos grupos. Lembravam grupos familiares que acabavam de assistir à missa de uma tarde de domingo. Na verdade, acabavam de participar de um acontecimento que marcaria a história recente do País. A catedral tornara-se pequena para conter a multidão, que transbordou de seus limites e avançou pela praça, ocupando as escadarias e o espaço que se estende até o monumento do marco zero da cidade. Oito mil pessoas - indignadas, mas silenciosas - protestavam contra o assassinato de Herzog, na maior manifestação de massa ocorrida desde a imposição do Ato Institucional nº. 5, em 1968, pela ditadura.
PUBLICIDADE
Além dos últimos participantes do culto que se retiravam, também deixavam a praça os últimos dos quinhentos policiais que a ocuparam, com ordens de atirar caso qualquer movimento extrapolasse o ato religioso. Alguns dos policiais carregavam desajeitadamente metralhadoras, como se estivessem em retirada de uma guerra que não chegou a acontecer. A retirada contrariava a previsão sinistra de uma autoridade: a de que, naquela tarde, poderia ocorrer um banho de sangue.
A informação de que a manifestação se encerrara sem incidentes chegou à sacristia da catedral, onde ainda se encontravam o cardeal de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, e os outros celebrantes do culto ecumênico: o rabino Henry Sobel e o pastor presbiteriano Jaime Wright. Além deles, o cardeal arcebispo de Olinda e Recife, d. Helder Câmara, que permanecera no altar durante toda a celebração, em silêncio. A ditadura militar proibira a simples menção de seu nome pelos veículos de comunicação. Aos generais não bastava proibir ideias.
Na condição de presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, que tinha denunciado o assassinato de Herzog e propusera a realização do culto, eu tinha sido o último orador da celebração. A tensão que dominava a catedral e a praça estava em mim, como estava em cada pessoa que participava do ato. Tinha sido extremamente difícil, para mim, articular algumas palavras. As que consegui dizer pareciam arrancadas das entranhas.
Na sacristia, d. Helder mantinha-se em silêncio, como durante a celebração. Perguntei-lhe sobre a razão de não ter dito algumas palavras no final do culto. Sua resposta sintetizou o grande momento que a cidade e o país viviam: 
- Há momentos, meu filho, em que o silêncio diz tudo.
A essas palavras d. Helder acrescentou, serenamente:
- A ditadura começou a cair hoje.
O tempo se encarregaria de demonstrar que ele estava certo. 
Dei a um capítulo de meu livro As Duas Guerras de Vlado Herzog (Civilização Brasileira, 2012) o título de “Suspiros de alívio”, no qual registrei o clima de apreensão que tomava conta do país às vésperas da realização do culto ecumênico. As ameaças gritadas por autoridades militares, ou que circulavam nos bastidores, acenavam com a possibilidade de um massacre, caso o ato religioso se transformasse em “provocação” contra o regime. Ficava claro que os militares da ultradireita, que se opunham ao propalado projeto de abertura política do general Geisel, esperavam que na Praça da Sé surgisse o pretexto que justificasse uma intervenção violenta, um banho de sangue que poderia levar a um endurecimento do regime e, principalmente, a uma repressão política mais violenta. Os meios políticos temiam por um retrocesso no anunciado processo de abertura.
A maioria dos veículos de comunicação, que se mantivera “em tempo de espera”, quase em silêncio, compartilhava do mesmo medo. Como os políticos, a mídia suspirou aliviada quando o culto na Sé terminou sem incidentes. Os poucos jornais que vinham repercutindo os acontecimentos que se seguiram ao assassinato de Herzog, como O Estado de S. Paulo, livre da censura desde janeiro de 1975, abriram páginas inteiras. Em manchete de primeira página, o Jornal da Tarde destacava em sua edição de 1º de novembro: 
Tensão, medo. Do alto dos prédios vizinhos, homens do Dops fotografavam a multidão 
Tensão, medo. Do alto dos prédios vizinhos, homens do Dops fotografavam a multidão 
“Às 18 horas de ontem os meios políticos de Brasília já tinham trocado o estado de tensão por um clima de euforia mal contida. As principais lideranças partidárias davam por findas suas ligações telefônicas com São Paulo - que se prolongaram pela manhã e pela tarde - sendo seguramente informadas: o ambiente na cidade permaneceu tranquilo, antes, durante e depois do culto ecumênico pela morte do jornalista Vladimir Herzog, celebrado na Catedral da Sé”. 
A tensão e o medo que dominaram o dia 31 de outubro vinham se multiplicando desde a noite de 27, quando em memorável reunião no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo foi proposta a realização de uma missa em memória de Vlado Herzog. A ideia do culto ecumênico prevaleceu pelo fato de Vlado ser judeu e, assim, a homenagem não ficaria restrita a apenas uma crença religiosa, no caso a católica.
A diretoria do sindicato procurou o cardeal Arns, que imediatamente se dispôs a organizar a celebração. A notícia exasperou os militares do porão. As ameaças começaram a chegar ao sindicato, algumas oficialmente, por militares do comando do II Exército, a maioria anonimamente, em termos assustadores. Numa entrevista, o coronel Erasmo Dias, secretário de Segurança, ameaçou com uma guerra à subversão, advertindo: “Vamos almoçar os comunistas antes que eles nos jantem”.
As ameaças chegaram aos religiosos que fariam a celebração. O governador Paulo Egydio, considerado aliado do general Geisel, despachou dois secretários de Estado para a casa de d. Paulo Evaristo Arns. Eles portavam um argumento assustador: poderia haver mortes, e o cardeal poderia ser responsável por uma tragédia. Na Congregação Israelita Paulista, a ameaça chegou fardada. Dois oficiais do Exército argumentavam para o rabino Sobel que ele, como estrangeiro, não deveria participar de uma manifestação política, ainda mais por se tratar de provocação comunista.
A presença do presidente da República em São Paulo, desde a véspera do culto ecumênico, colocava uma grande interrogação sobre a trama que se desenrolava nos bastidores. De onde partiriam as tentativas de se impedir a realização do culto ou de evitar que ele assumisse grandes dimensões? Aos torturadores entrincheirados no DOI-Codi do II Exército era evidente que interessava que o ato oferecesse o pretexto para uma repressão violenta contra a subversão comunista. A Geisel e seus aliados interessava a manutenção da ordem que os militares da ultradireita tentavam derrubar. As cartas se embaralhavam. Causava estranheza o fato de o coronel Erasmo Dias, identificado com a chamada linha dura, ser um dos responsáveis pela armação da Operação Gutenberg, que estabeleceu um verdadeiro cerco na cidade, com quase quatrocentas barreiras policiais nas principais vias de acesso ao Centro, a pretexto de fiscalização do trânsito.
A presença de Geisel em São Paulo, oficialmente para participar de inaugurações e de visitas protocolares, tinha na verdade a ver com a agitação reinante entre os militares que contestavam a sua autoridade e o clima de preocupação com a realização do culto ecumênico. Foi durante essa visita que o general-presidente ordenou ao comandante do II Exército, general Ednardo D’Ávila Melo, que mandasse instaurar o Inquérito Policial Militar para apurar a morte de Herzog. Era o chefe impondo a sua autoridade. 
No episódio, Geisel não agia como um defensor dos direitos humanos, mas como o militar que se preocupava em preservar a hierarquia. Especulava-se que o presidente fora o último a saber da morte de Herzog. Na tarde de 31 de outubro, quando deveria regressar a Brasília, ele chegou ao Aeroporto de Congonhas, onde deveria embarcar no avião presidencial que o aguardava, mais cedo do que o previsto. Não embarcou imediatamente. Ficou conversando com as autoridades que o acompanhavam até que recebeu a notícia de que o culto ecumênico terminara na Praça da Sé, sem incidentes.
Passados quarenta anos, restam algumas indagações e uma certeza. A certeza: o protesto silencioso do 31 de outubro de 1975 mudou os rumos do Brasil. Mas - eis as indagações - o que teria acontecido se tivesse rumado à Sé uma multidão muito maior do que a das 8 mil pessoas que conseguiram chegar lá naquele dia, a maioria a pé? E se parte dos 8 mil tivesse partido da catedral numa passeata?
*AUDÁLIO DANTAS É JORNALISTA, ESCRITOR,  AUTOR DE AS DUAS GUERRAS DE VLADO HERZOG (CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA), PRÊMIO JABUTI DE 2013

Dias de terror, Marco Antonio Rocha , Aliás


"Vlado me pergunta que atitude tomar: ‘Dê o fora para qualquer lugar, com Clarice e as crianças. Na semana que vem você volta’. Ele disse que não tinha nada a esconder. Não era um criminoso


Aquela foi uma semana em que o terrorismo de Estado brasileiro pretendia dar um novo e decisivo passo: o de completar a caçada aos “comunistas da imprensa” - como diriam seus mentores militares, seus beleguins civis, seus empresários bajuladores, seus políticos interesseiros. 
RELACIONADAS
Inaugurado em 13 de dezembro de 1968, com o AI-5, Ato Institucional n.º 5, e com a apreensão violenta e ilegal de toda a edição do jornal O Estado de S. Paulo, por causa do seu editorial Instituições em Frangalhos, onde se denunciava a formalização da ditadura no Brasil, o regime se aperfeiçoara nas ações militares e policiais, desumanas e alheias à lei, contra as guerrilhas de esquerda, urbanas e rurais, deixando milhares de vítimas nas ruas, nas matas e nos porões da tortura. E legou histórias terríveis que muitos sobreviventes contariam anos depois - inclusive a da presidente Dilma Rousseff.
Vencida a guerrilha, desmanteladas suas organizações, era chegada a fase de intimidar ao máximo as oposições políticas que, embora moderadamente, ainda se manifestavam nos jornais e revistas, pois rádios e TVs eram firmemente controlados pela ditadura. Assim se garantiria para muito mais tempo, se não para sempre, o regime do AI-5, de arbítrio e tirania política. Caso contrário, a ditadura teria mais inimigos firmes a combater e aos poucos seu arbítrio e tirania se enfraqueceriam, como acontece com todas as ditaduras.
PUBLICIDADE
A propaganda ditatorial se encarregara de incutir na opinião pública a ideia de que a guerrilha não era um movimento interno, de oposição ao governo ditatorial. Vinha de fora, tinha inspiração internacional, e se destinava a implantar o comunismo. Era a maneira como o comunismo e seus agentes pretendiam tomar conta do Brasil. Pensavam os estrategistas militares, os policiais da tortura e os políticos aproveitadores do regime que a opinião pública apoiaria a caçada aos “comunistas da imprensa, inimigos do Brasil”. Facilitava a tarefa de “limpeza” que tinham em mente e silenciava muitos jornalistas que não sendo nem comunistas nem de esquerda também não aprovavam o regime do AI-5. A deposição e morte do presidente Salvador Allende, no Chile, dois anos antes, e o golpe vitorioso do general Augusto Pinochet estimulavam a direita brasileira a não temer reações adversas das comunidades democráticas internacionais.
Esse era o ambiente pesado na semana de 20 a 24 de outubro de 1975 e que culminaria no sábado, 25, com a tortura e o assassinato do nosso competente colega, meu especial amigo, escritor, desenhista e cineasta, cujas potencialidades estavam apenas emergindo, Vladimir Herzog, Vlado como era seu nome na família e na Iugoslávia, onde nascera na região que hoje é a Croácia.
Eram seis horas da manhã de sexta-feira, 24 de outubro de 1975. Toca o telefone. Minha mulher, Olinda, atende. Fala baixo um ou dois minutos. Volta para o quarto com o olhar aflito: “Marco, levaram o Konder. Era a Yara no telefone”. Era também o aviso que eu previa.
Levanto da cama meio sonado e dou início ao plano que havia preparado.
A caçada aos “comunistas” da imprensa se acelerava. Vários colegas estavam presos desde a semana anterior. Antes, na terça-feira, ou quarta, não lembro direito, num jantar na casa do cônsul da Inglaterra em São Paulo, encontro o Vlado e o Rodolfo Konder - colegas meus na revista Visão, e o Vlado, também na TV Cultura, onde eu mesmo era comentarista econômico no programa Hora da Notícia, que o Vlado editava, apresentado pelo âncora Nemércio Nogueira. O cônsul se despedia do posto e voltaria em breve para o seu país. Eu e o Konder estivéramos na Inglaterra, em maio, a convite do governo inglês, numa viagem de 15 dias que incluiu Londres e Edimburgo, na Escócia. Vlado morara na Inglaterra e havia trabalhado na BBC de Londres, assim como Fernando Pacheco Jordão, então diretor de jornalismo da Cultura, cuja filha, Bia, dele e da esposa Fátima, nascera na Inglaterra. Essas nossas ligações com a Inglaterra justificavam o convite para o jantar.
Na saída, já na rua, Clarice Herzog, mulher do Vlado, me pede para ir com eles até o carro, estacionado logo abaixo. Entramos, eu no banco de trás, Vlado, que não sabia guiar, no de passageiro, Clarice na direção. Os dois disseram que na segunda-feira anterior o Paulo Markun, preso havia já uns 15 dias no DOI-Codi, fora liberado para ir ao batizado da sua filhinha Anna, recém nascida. Markun era casado com a Diléa (então Markun, hoje Frate), que também estava presa no DOI-Codi. Na Igreja, Markun passou um recado para nós: seríamos presos no fim de semana, principalmente o Vlado. Era o que ouvira dizer naquele porão de torturas. Seríamos presos porque, segundo os malfeitores daquela seita, éramos da “célula do Vlado”. Célula era o apelido, na época, de grupos de comunistas que se reuniam.
Vlado me pergunta que atitude tomar: “Dê o fora” - respondi - “para qualquer lugar, com Clarice e as crianças. Na semana que vem você volta”. 
Vlado argumentou que não tinha medo porque não tinha nada a esconder. Não era um criminoso. “E, além disso, de que adianta? Na semana que vem me prendem do mesmo jeito.”
Ponderei que passado o fim de semana seria politicamente difícil, para a ditadura, prender jornalistas brasileiros, pois estariam presentes no Rio de Janeiro cerca de 400 jornalistas estrangeiros, cobrindo uma convenção internacional dos agentes de viagem. Eles espalhariam para o mundo inteiro qualquer notícia de prisões de jornalistas brasileiros. A ditadura tinha que se conter. Foi o que eu disse ao Vlado, na tentativa de aconselhá-lo a se esconder. E foi como nos despedimos naquela noite.

Dupla perseguição. Ele fugiu do nazismo e acabou assassinado pelos ‘SS’ do DOI-Codi
Dupla perseguição. Ele fugiu do nazismo e acabou assassinado pelos ‘SS’ do DOI-Codi

Em São Paulo, o DOI-Codi era o porrete do terrorismo de Estado. Dirigido por figuras bárbaras e obedientes como oficiais da SS nazista, a exemplo do delegado Sérgio Paranhos Fleury, transformado em herói da ditadura por ter matado o guerrilheiro Carlos Marighella numa emboscada, à queima-roupa, sem lhe dar voz de prisão; o recém-falecido coronel Brilhante Ustra (na época, major) chefe dos torturadores da Rua Tutoia; e, acima de todos, pelo conspirador sedicioso, general Ednardo D’Ávila Mello, que pretendia derrubar o então presidente general Ernesto Geisel, tido por ele como “molenga” no combate ao Grande Satã, que era o comunismo internacional no Brasil. 
Ao me recompor, na madrugada daquela sexta-feira, depois do telefonema da Yara, pedi à Olinda que preparasse as crianças, fechasse a casa, tomasse um táxi e fosse me encontrar na loja de pneus DPaschoal na Rua Clélia - era esse o plano e o código. Dali partimos para a fazenda da minha sogra no interior. Não tivemos notícia nenhuma na sexta-feira. 
No sábado pela manhã ouvimos pelo rádio a notícia de que Vladimir Herzog tinha se “suicidado” nas dependências do DOI-Codi e as “autoridades” do II Exército estavam à procura dos “comunistas” da “célula” dele, mencionados na notícia do rádio. Acho que foi a primeira vez na minha vida adulta que chorei de fato, e muito, já aos 39 anos de idade. Não apenas pela perda do amigo fraterno, gentil e franzino e do grande jornalista. Mas pela trágica ironia. Menino judeu, Vlado fugira para a Itália, com a família, durante a guerra, para escapar da ferocidade nazista na Croácia onde nascera. Era um ano mais novo que eu. Quando a guerra terminou eu tinha 9 anos, Vlado 8. Contou-me uma imagem do final da guerra quando, na estrada perto da aldeia, viu um batalhão das SS alemãs que se retirava. Pois, na vida adulta, foi barbaramente seviciado e assassinado pelos “SS” do DOI-Codi em São Paulo.
Na lista da célula, divulgada pelo rádio, estava o meu nome. Pensei que teria dois caminhos: 1) retornar a São Paulo para enfrentar o que houvesse; 2) ir para Brasília e pedir asilo político na embaixada da Iugoslávia que, naqueles dias, abrigava refugiados brasileiros e que, a partir de 1990, se desintegraria como nação numa medonha e destruidora guerra civil.
No domingo telefonei para o Dr. Ruy Mesquita, meu patrão no Jornal da Tarde. Falei que iria para a embaixada da Iugoslávia. Ele respondeu quase como numa ordem: “Nada disso. Venha para São Paulo e para o jornal. E fique no jornal. Não vá para sua casa”. Foi o que fizemos. Eu e minha mulher. Meus filhos, Alexandre e Julia, ainda pequenos, 7 e 3 anos, ficaram com os avós. No jornal, Ruy Mesquita me disse que naquela noite eu dormiria na casa dele. Telefonou para o ministro da Justiça de então, Armando Falcão, e disse que “o repórter que vocês estão procurando está aqui na minha frente, se você quiser, mande uma patrulha invadir o jornal para prendê-lo”. Armando Falcão disse que mais tarde voltaria a ligar. Ligou para dizer que eu deveria me apresentar no dia seguinte - segunda-feira, 27 de outubro de 1975 - ao comando do II Exército. 
Assim fiz, acompanhado do próprio Ruy Mesquita, do Audálio Dantas, então presidente do Sindicato dos Jornalistas, até hoje meu grande amigo, de minha mulher, Olinda Malmegrin Rocha, que muito mais tarde, alcançada pela Doença de Alzheimer, faleceria em 2012, com 70 anos. Sou casado hoje com Ana Luisa Trigo, jornalista como eu. Fomos recebidos pelo general Ferreira Marques, a quem Ruy Mesquita disse o seguinte (lembro até hoje): “General, viemos entregar o meu repórter que vocês estão procurando. Diante de mim e do meu jornal, a partir deste momento, consideraremos o senhor pessoalmente responsável pelo que vier a acontecer com ele”. A “visita” foi encerrada em clima tenso, com o general dizendo que estávamos diante de um oficial do Exército cuja palavra e civilidade pairavam acima de qualquer julgamento. Ali fiquei, para uma semana de depoimentos sobre minha vida inteira. E dali ouvia as repercussões políticas e cívicas da histórica missa ecumênica convocada pelo cardeal Arns.
Mal previa eu, naquele fusca dos Herzog, após o jantar do cônsul, que os 400 jornalistas estrangeiros presentes no Rio dariam ao mundo notícia muito mais grave do que prisões de colegas brasileiros - a do assassinato de Vladimir Herzog - e muito mais dolorosa para nós todos. No dia 31 de outubro, após a missa na Praça da Sé, cujo profundo silêncio repercutiu no mundo inteiro, teria início a caminhada histórica que livrou o Brasil, para sempre, do terrorismo e da intolerância de Estado. Mas que ainda teria tempo de mais um assassinato: o do Manuel Fiel Filho, três meses depois, e nas mesmas condições da morte do Vlado Herzog.
*MARCO ANTONIO ROCHA É JORNALISTA 

O desafiante - O giro do PSDB no espectro político e o deslocamento do PT, Ilustríssima 13 set 2015


Celso Barros – Folha de S. Paulo / Ilustríssima

RESUMO Em réplica a artigo de Sergio Fausto ("Ilustríssima", 2/8) autor sustenta que PSDB foi empurrado para longe de sua origem de centro-esquerda. O partido tucano tornou-se o grande civilizador da direita e deu duas vitórias a uma candidatura liberal, sem candidato maluco, fraude ou golpe, o que era inédito no país.

NO COMEÇO DOS anos 90, discutiam dois célebres intelectuais, um tucano, um petista. O tucano perguntou: "Afinal, quando o PT vai admitir que é social-democrata?"; o petista respondeu: "E o PSDB, quando vai admitir que não é?". A tensão entre a social-democracia que não ousa dizer seu nome e a social-democracia que só ousa dizer seu nome é uma das marcas do debate político brasileiro moderno e voltou ao centro do palco com a crise atual do PT.

O diretor do Instituto Fernando Henrique Cardoso, Sergio Fausto, publicou em 2 de agosto último, um importante texto, neste mesmo caderno, propondo que o PSDB volte às suas origens de centro-esquerda e ocupe o espaço que o PT está deixando aberto.

Ao mesmo tempo, lideranças mais radicais entre os manifestantes pró-impeachment declaram que o PSDB não é radical o suficiente na oposição ao PT (talvez por sua origem na esquerda).

O próprio Sergio Fausto percebe a tensão: pode haver dificuldades na "sobreposição de expectativas" de maior contundência oposicionista e maior coesão doutrinária.

Não é muito fácil para o PSDB executar o movimento proposto por Fausto. Mesmo supondo que o PT perca completa e permanentemente a centro-esquerda, ela não se converteria em um espaço vazio: ainda estariam lá movimentos sociais, intelectuais, além de um eleitorado que tem certas convicções formadas.

O processo de conversão desses setores ao PSDB implicaria uma longa reconciliação, durante a qual, podemos supor, o PSDB perderia os eleitores que votam nos tucanos por antiesquerdismo. Deve ser difícil para um tucano histórico ver a centro-esquerda em disputa e não poder correr para lá, mas fazê-lo traria riscos consideráveis. Não sendo tucano e não estando disposto a fazer apostas com as fichas dos outros, não me cabe dizer se o PSDB deve ou não seguir o conselho de Sergio Fausto.

De qualquer modo, a estratégia atual do partido é bem diferente. Parece ser uma reafirmação de sua liderança sobre o conjunto da oposição, que se radicalizou desde o ano passado. Cada lado acha que a radicalização começou com o outro, e imagino que alguém tenha razão, mas a polarização política aumentou no mundo todo: nos Estados Unidos, na Europa, na Turquia, para não falar da Venezuela.

É razoável supor que parte da polarização, em todos esses lugares, seja ansiedade pelo fim do ciclo de prosperidade em 2008. As lideranças políticas precisam lidar com a radicalização da base, pelos desafiantes mais entusiasmados em seu próprio campo –e isso nem sempre é fácil.

Há nisso também tensões entre a elite política da oposição e sua recém-descoberta base militante. A falta de traquejo dos tucanos com os manifestantes de março, por vezes sendo arrastados por eles, por vezes tentando ignorá-los, reflete a falta de experiência de rua do partido (que é o outro lado de seu discurso acadêmico afinado). Lembra um pouco a falta de traquejo do PT com seus aliados parlamentares.

Como tudo na atual crise política, a nova direita militante pode ser um grande passo no amadurecimento da democracia brasileira, se todos concordarmos em preservar a democracia brasileira. Mas no curto prazo gera ruído.

O que não se discute é que a crise do PT é mesmo uma boa hora para discutir o PSDB.

Antes de 1994, a direita brasileira nunca tinha tido um partido vindo da esquerda no seu comando (isso não é comum em lugar nenhum). Como isso aconteceu? Ainda faz sentido que seja assim? O que a crise do PT representa para o futuro da direita brasileira?

ALIADO Em sua origem, o PSDB foi um partido social-democrata. Seu aliado mais frequente em eleições majoritárias, antes de 1994, era o PDT de Leonel Brizola, e houve quem propusesse a fusão dos dois partidos (o que, inclusive, facilitaria a entrada dos tucanos na Internacional Socialista).

Fernando Henrique Cardoso foi o autor do projeto de imposto sobre grandes fortunas. Os tucanos foram fundamentais na confecção da Constituição social-democrata de 1988. O célebre discurso de Mario Covas pedindo um "choque de capitalismo" durante a campanha de 1989 foi, em parte, uma tentativa de superar a desconfiança dos empresários de que fosse, no fundo, um esquerdista radical (e o PSDB, afinal, apoiou Lula no segundo turno). Qualquer história da esquerda brasileira que não inclua Covas e FHC, Serra e Bresser, será sempre incompleta.

Mas os próprios fundadores do PSDB já sabiam que a escolha do nome "social-democrata" podia cobrar seu preço. O ex-ministro Bresser-Pereira contou, em entrevista de 2011 ao jornal "Valor Econômico", que Franco Montoro, democrata-cristão histórico, teve um momento profético durante os debates iniciais dos tucanos: dizia que, se o PT, com sua base sindical, virasse governo e moderasse seu discurso, seria a social-democracia brasileira e empurraria o PSDB para a direita. Em uma palestra de 1991 na Fiesp, Leôncio Martins Rodrigues dizia que o PSDB e o PDT não eram social-democratas, pois lhes faltava a base sindical. E completava dizendo que "só quem pode ser social-democrata é o PT, que não quer ser".

Como bem notou Sergio Fausto em seu artigo, o PSDB, como partido social-democrata, teve uma vida muito difícil. Na palestra na Fiesp citada acima, Leôncio Martins Rodrigues dizia que o PSDB foi o grande derrotado da eleição de 1990. Antes de 1994, só elegeu um governador, Ciro Gomes. Até o Plano Real, era difícil apostar em outro futuro para o PSDB que não o de aliado do PT ao centro ou candidato à fusão com o PDT.

BANCADA Entretanto, em 1994, o PFL fez o que os modelos de ciência política esperavam que fizesse e se deslocou para o centro, abdicando da cabeça de chapa para o PSDB. Só então os tucanos passaram a ter uma bancada parlamentar expressiva e estabeleceram sua base nos governos estaduais do Sudeste. O PFL foi mais consistentemente pró-governo nos anos 1990 do que o PSDB. O PSDB é um partido mais importante do que, digamos, o PDT ou o PSB, porque fez a aliança com o PFL em 1994.

Desde então, o PSDB chefia o bloco anti-PT. Dado que o PT também fez o que a ciência política esperava e se moveu para o centro, a profecia de Montoro se cumpriu, e o PSDB foi empurrado para a direita.

O PSDB é um experimento interessante de ciência política: sua posição dentro do sistema prevaleceu sobre a identidade de seus fundadores. O PSDB vota mais à direita no Congresso Nacional hoje em dia do que votava antes de 1994, suas alianças frequentes são bem mais conservadoras.

Não conheço estudos sobre recrutamento partidário tucano, mas os quadros jovens de destaque do PSDB (como os "cabeças pretas") não parecem estar lendo nada muito à esquerda. É provável que a maioria dos filiados ao PSDB nos últimos dez anos tenha sido atraída pelo antipetismo dos tucanos. É difícil citar um membro de destaque do PSDB com menos de 50 anos que tenha um perfil ideológico semelhante, digamos, ao de Mario Covas.

O deslocamento do PSDB à direita pareceu menos brusco pela comparação com o que estava acontecendo na social-democracia dos países desenvolvidos nos anos 1990. Foram os anos da Terceira Via de Tony Blair, que deu aos trabalhistas sua maior sequência de vitórias na história; da forte virada para o centro do antigo Partido Comunista Italiano; e de Bill Clinton na Casa Branca.

Essa leva de partidos de esquerda foi marcada pela adesão a parte do programa liberal, bem como pelo distanciamento cauteloso de suas bases sindicais. A participação de FHC na Conferência de Florença sobre Governança Progressista, ao lado de Blair, Clinton, Schroeder e D'Alema, reforçou a ideia de que o PSDB não tinha deixado de ser de esquerda, a esquerda é que tinha mudado.

Isso sempre foi uma miragem. Antes de Blair veio Thatcher, que já partia de um ponto completamente diferente daquele em que se encontrava o Brasil em 1994.

Uma coisa é se distanciar do estatismo dos "30 gloriosos" europeus com seu Estado de bem-estar social; outra coisa é se distanciar do estatismo conservador brasileiro, que, em que pesem suas realizações modernizadoras, entregou um país ainda mais desigual do que o que recebeu em 1964.

A liberalização no Brasil foi feita sem o ciclo igualitário que a precedeu na Europa. O PSDB foi, então, Thatcher e Blair ao mesmo tempo. Não é fácil dizer que a média entre Blair e Thatcher resulte em algo muito à esquerda.

Além disso, o movimento da social-democracia nos anos 1990 provavelmente foi excepcional, como foi excepcional a aproximação da direita europeia com bandeiras esquerdistas no pós-Guerra. Durante o Novo Trabalhismo britânico, houve um descolamento entre a renda dos muito, muito ricos e a renda do resto da população.

Após a crise de 2008, cresceram as dúvidas sobre o quanto desses ganhos realmente era recompensa por inovação e empreendedorismo. Se a virada do PSDB nos anos 1990 foi, no essencial, uma viagem na companhia da social-democracia europeia, vale testar se algum movimento semelhante ocorreu em sentido inverso nos últimos anos. O PSDB leu seu Giddens, mas está lendo seu Piketty?

É provável que o fator que faz a social-democracia voltar à centro-esquerda sempre que vai muito para a direita seja a base sindical. Faz diferença.

O paralelismo com a Terceira Via foi, portanto, só um anestésico para a virada do PSDB à direita. O que é preciso dizer, por outro lado, é que foi muito bom para o Brasil que o PSDB virasse à direita.

O PSDB foi o grande civilizador da direita brasileira. Em primeiro lugar, foi o lar ideal para os economistas liberais, pois no Brasil o estatismo foi de direita. A ditadura, como se sabe, começou economicamente liberal, mas, após adquirir controle completo do Estado, fez o que a ciência política esperava que fizesse e tratou de colocar uma parte maior da riqueza nacional sob controle estatal (isto é, sob o próprio controle).

Os políticos da direita tradicional brasileira que apoiaram a privatização nos anos 90 provavelmente pediam cargos para apadrinhados em estatais nos anos 70. Sob esse ponto de vista, parecem-se mais com os ex-comunistas russos do que com os liberais anglo-saxões.

O PSDB deu aos economistas liberais dos anos 1990 a chance de se apoiarem em algo um pouco mais parecido com Walesa ou Havel, um pouco menos parecido com Iéltsin. Uma privatização feita só com "insiders" do antigo regime provavelmente teria tido resultados piores.

É preciso uma grande boa vontade para não ver que há corrupção no PSDB, mas tentem imaginar o que seria a luta contra a corrupção dos governos de esquerda se ela tivesse que ser levada adiante só pela direita tradicional brasileira. Setores conservadores da imprensa tentaram lançar um pefelista, Demóstenes Torres, como campeão da luta pela ética. Não chegou a ser um sucesso. Os mesmos setores agora se aproximam de Eduardo Cunha.

E, finalmente, o PSDB deu à direita brasileira a única vitória eleitoral esmagadora, programaticamente clara e baseada em resultados de sua história. Os eleitos à direita anteriores, Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello, não conseguiram terminar um mandato; FHC emendou dois. Houve duas vitórias em primeiro turno por uma candidatura liberal, sem candidato maluco, sem fraude e sem golpe, o que era inédito na história brasileira. O PSDB foi o Juscelino que a UDN nunca teve.

Essa vitória foi possível graças a um sociólogo meio comuna aposentado pelo regime de 64, cuja grande ideia na vida foi implementar um plano econômico que jamais teria sido concebido se a Operação Bandeirantes tivesse, no linguajar de alguns manifestantes atuais, "terminado o serviço" e executado Pérsio Arida, preso, torturado e quase morto aos 16 anos por pendurar uma faixa sobre um túnel. Não a fazem como querem, já dizia um autor que FHC costumava discutir com os amigos.

REGIME É preciso perguntar: por que a direita brasileira precisou terceirizar a Presidência para um partido da esquerda? A explicação mais comum é o regime militar.

O regime militar foi muito popular por vários anos, mas entregou o país quebrado. Os políticos envolvidos com o regime militar não teriam legitimidade para disputar a Presidência. De fato, em 1989 a direita precisou lançar um candidato muito jovem, com pouco envolvimento com os governos militares e que, aliás, na campanha se dizia social-democrata.

Há outras formas pelas quais o regime militar pode ter prejudicado a direita brasileira no longo prazo: por exemplo, qualquer que seja sua opinião sobre os militares, não é provável que eles tenham se empenhado muito em promover civis com potencial de lhes tirar a Presidência. Vinte anos de promoção política pelo critério "aceitar ter pouca importância e concordar com o Poder Executivo" não devem ter selecionado políticos de direita nascidos para liderar –e devem ter atrofiado o talento dos que o tinham.

Outra interpretação invoca o grau extremo da desigualdade brasileira, que torna difícil a aplicação de um programa puramente liberal. Jorge Bornhausen já descreveu o PFL como centrista justamente porque o Brasil seria pobre demais para aderir ao liberalismo econômico radical.

De fato, boa parte do "conservadorismo popular" brasileiro é comportamental, não econômico.

O "modelo do eleitor mediano" também sugere (entre outras coisas) que, em países muito desiguais, partidos que defendam maior redistribuição de renda terão chances maiores de vencer eleições. E os economistas Daron Acemoglu, Georgy Egorov e Konstantin Sonin já sugeriram que, em países em que a população suspeita que os políticos vão "se vender" para a elite, candidatos têm incentivos para se apresentarem como esquerdistas.

O Brasil é muito pobre, muito desigual e a população tem bons motivos para suspeitar que os políticos vão se vender para o poder econômico.

Mas talvez essas condições tenham começado a mudar. O governo do PT começou a reduzir a desigualdade, e é difícil que os governos futuros possam ignorar essa tarefa completamente. A atuação do Judiciário e da Polícia Federal no combate à corrupção pode enfraquecer a suspeita de que os políticos vão sempre se vender às elites (no médio prazo; no curto prazo deve até fortalecê-la).

Tudo isso está no começo, mas talvez as condições que dificultaram à direita "ousar dizer seu nome" estejam perdendo força. Se a tendência continuar, os social- democratas do PSDB podem se tornar desnecessários à direita brasileira, mesmo supondo que o partido retenha sua hegemonia na oposição (e seu nome). Algo como o PFL renasceria, talvez dentro do PSDB. Isso não é uma denúncia (é incrível que seja necessário dizê-lo): o Brasil, como toda democracia moderna, precisa de uma direita viável.

É mais difícil montar uma direita democrática do que uma esquerda democrática em um país desigual como o Brasil (direita não democrática é até fácil demais).Não será possível vender ao eleitorado um programa liberal para o crescimento se os frutos do crescimento forem divididos como a riqueza atual é dividida.

Cedo ou tarde, a direita brasileira terá de entregar seu próprio programa de redução da desigualdade e precisará impor sacrifícios à sua base (como o PT impõe à dele o tempo todo).

O eleitorado brasileiro fez bem em forçar a direita brasileira a se aliar aos social-democratas.

PODER É claro, todo o raciocínio exposto acima supõe que o plano do PSDB seja voltar ao poder ganhando eleições, e que seus movimentos recentes sejam só tentativas de enfraquecer o governo para 2018. Nesse caso cabe discutir, como fizemos acima, a desigualdade brasileira, Tony Blair e a Conferência de Florença, Fernando Henrique Cardoso e Armínio Fraga.

Se, contudo, o plano for chegar ao poder por articulação pelo alto, por impeachment ou coisa parecida (nos moldes das votações "até virar" de Eduardo Cunha), a conversa é outra.

Trata-se, então, de discutir os termos de uma aliança com os políticos que se venderam ao PT nos últimos 12 anos. Nesse caso, a liberalização econômica seria feita não pela conquista do apoio consciente dos mais pobres (como em 1994), mas por sua desmobilização após a crise da esquerda. Não sei dizer se a reconstrução do velho "centrão" custaria mais ou menos ao erário do que um programa de redistribuição de renda.

Nesse último cenário, após o fracasso em ser uma versão mais sofisticada do PT, e um extraordinário sucesso em ser uma versão mais sofisticada do PFL, o PSDB voltaria às origens e lideraria o que, em 1988, chamou de "PMDB Arenizado". Em algum lugar, Orestes Quércia sorri.