quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Walter Feldman se licencia do cargo de deputado


Eleito pelo PSDB, o aliado de Marina enfrenta processo por infidelidade partidária desde que migrou para o PSB

05 de fevereiro de 2014 | 17h 01

Ricardo Della Coletta - O Estado de S. Paulo
Brasília - Um dos principais aliados da ex-senadora Marina Silva, o deputado federal Walter Feldman (PSB-SP) anunciou na tarde desta quarta-feira, 5, no Plenário da Câmara, o seu licenciamento do cargo. Como justificativa, ele disse que pretende devolver o mandato ao partido que o elegeu, o PSDB, uma vez que ao migrar para o PSB junto com Marina passou a trabalhar por candidaturas que serão adversárias dos tucanos.
Feldman se transferiu para a sigla do presidenciável e governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), em outubro, quando a Justiça Eleitoral negou o registro da Rede Sustentabilidade, partido que Marina Silva tentava criar. Com a troca de siglas, Feldman passou a responder a um processo por infidelidade partidária movido pelo Ministério Público.
"Enfrentaremos o pedido de perda de mandato pela infidelidade partidária, que nunca tive, porque sempre manifestei publicamente ao PSDB (minha intenção de trabalhar pela criação da Rede)", declarou Feldman em Plenário.
Em São Paulo, Feldman é um dos defensores de uma chapa própria do PSB e da Rede, que, caso se viabilize, enfrentará o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Já nacionalmente, o ex-tucano atua pela candidatura de Campos, que também vai disputar votos com Aécio Neves (PSDB).
"O meu mandato original é pelo PSDB", argumentou Feldman ao Broadcast Político. Ele disse que "não se sentia bem" com a situação.
Feldman disse também que tinha a intenção de devolver o mandato ao PSDB renunciando ao cargo, mas optou pela licença para evitar um entendimento de que ele estaria adotando uma manobra para fugir da ação eleitoral. Agora, o deputado licenciado diz que vai se concentrar na sua defesa na oficialização da Rede Sustentabilidade e também na sua profissão de formação, a medicina.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O jornalismo diante da agenda negativa da imprensa

Quem acompanha o noticiário pela televisão, em especial o da TV Globo, certamente já se impressionou com o predomínio de notícias sobre violência, corrupção, tragédias, acidentes, declínio econômico, aumento de preços, congestionamentos e por aí vai. A lista de mazelas públicas e privadas exibida pelo menos quatro vezes ao dia nos telejornais poderia ser ampliada ainda mais dando margem a duas suposições: os editores e repórteres passaram a ver apenas um lado da realidade ou então existe uma predeterminação para que o pessimismo também contamine a população, pelo menos até as eleições.
Meu colega Luciano Martins Costa já abordou a agenda pessimista da imprensa a partir das manchetes dos grandes jornais brasileiros. Suas análises deixam claro que, deliberadamente ou não, existe uma tendência a priorizar o negativo seja por questões políticas ou para explorar o voyeurismo e morbidez para vender jornais. Pretendo ir um pouco além para explorar a atitude de repórteres e editores diante desta tendência.
É claro que a alternativa de só dar notícias boas, como ocorria na imprensa durante o regime militar, é tão equivocada quanto só dar as ruins. Não se trata de fazer uma escolha, mas de ter em mente que a sociedade em que vivemos é complexa, dinâmica e diversificada. Às vezes com um pouco mais de otimismo, noutras de pessimismo. É impossível um equilíbrio estático e não há uma fórmula única para avaliar os dados do dia a dia. O desafio do jornalista é achar a dose certa.
É aí que reside a especificidade da profissão. A principal função do jornalismo é a prestação de serviços de interesse público mediante a produção de notícias capazes de gerar debate e, com isso, ampliar o conhecimento coletivo e individual. O noticiário ocupa neste cenário um papel fundamental, pois é ele que alimenta a reflexão entre as pessoas e, consequentemente, as suas decisões. 
Produzir pessimismo é uma forma de induzir a decisões equivocadas porque todo mundo sabe que o quotidiano é feito de coisas ruins e coisas boas. Logo, a ênfase no negativismo, ou no ufanismo, é um sinônimo de mau jornalismo porque ignora a realidade social e engana o público ao lhe fornecer um quadro distorcido do mundo em que vivemos.
Também não se trata de adotar uma estratégia salomônica: dar uma notícia ruim e outra boa. É uma técnica ultrapassada porque a realidade é dinâmica e não adianta querer transmitir uma ideia de equilíbrio porque a mudança é permanente. Os extremos (pessimismo ou ufanismo) são mais confortáveis porque o jornalista não precisa viver a dúvida permanente se está ou não levando em conta os demais dados da realidade. Mas podem ser um erro fatal se considerarmos a sua credibilidade pública.
Para manter uma sintonia mínima com a dinâmica social, os profissionais da imprensa não têm outra alternativa senão pesquisar, duvidar, conferir e compartilhar dados, informações e conhecimentos. Isso toma tempo, o que gera um conflito inevitável com o ritmo industrial de produção jornalística adotada pelas empresas de comunicação. É aí que possivelmente reside uma das causas da atual distorção do noticiário oferecido ao público.
Uma consequência prática, fácil de perceber entre telespectadores, especialmente nas grandes cidades, é o crescente ceticismo em relação ao noticiário. As pessoas começam a mostrar cansaço em relação à insistência na ênfase negativista. Não há uma rejeição clara dos números, fatos ou eventos transmitidos, o que revelaria uma atitude proativa, mas uma tendência a não levá-los em conta como elemento essencial para a tomada de decisões. As pessoas consultam cada vez mais parentes, amigos e as redes sociais na hora de fazer uma opção.
As pessoas também se queixam que a imprensa costuma omitir nomes e marcas envolvidos em questões polêmicas. A atitude é uma compreensível precaução preventiva de empresas e profissionais contra ações judiciais dos suspeitos, mas o público acaba ficando diante de uma situação difícil: duvidar de tudo ou especular sobre o que não foi revelado. Nem uma nem outra opção atendem às necessidades dos leitores, ouvintes, telespectadores ou internautas.
O resultado é o distanciamento crescente entre as pessoas e a imprensa, que passa a ser vista cada vez mais como uma distração ou voyeurismo social, em vez de ser, prioritariamente, um fator de geração de conhecimento coletivo e individual voltado para a consolidação de relações comunitárias.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

'Rolezinho' político, por ELIANE CANTANHÊDE, na FSP



BRASÍLIA - O Brasil oficial só acorda mesmo depois que o Carnaval passa, mas já começou a espreguiçar ontem, com a reabertura do Judiciário e do Legislativo.
De manhã, Dilma aproveitou a posse dos novos ministros para mais um discurso de defesa de sua política econômica. Logo depois, veio a balança comercial: a pior em 20 anos.
À tarde, Henrique Alves e Renan Calheiros fizeram apaixonada defesa da Câmara e do Senado, depois da leitura longa e estéril da mensagem presidencial. Henrique desmentiu que o Congresso esteja "armando bombas" para explodir as contas públicas, e Renan entrou na onda: também há "rolezinhos" no Congresso, mas não políticos, só legislativos. (E, certamente, não de turminhas da periferia, mas da turma da pesada do centro do poder.)
O presidente do STF, Joaquim Barbosa, e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha passaram mais um dia de gato e rato. Desafiador, Cunha filou a boia dos militantes que acampam na frente do tribunal em favor dos réus (só dos petistas). Teimoso, Barbosa insiste em não assinar o encruado mandado de prisão do (ainda) deputado.
Mas a oposição também não tem o que comemorar: o ministro Marco Aurélio, relator do caso Siemens no STF, foi logo avisando, já no primeiro dia, que não vai manter sigilo desse processo, que pega os tucanos de jeito em São Paulo.
E esse foi o menor problema do governador Geraldo Alckmin quando o Brasil oficial começou a encarar 2014. Além do discurso do petista Alexandre Padilha sobre "heranças malditas", ao trocar a Saúde pela campanha paulista, Alckmin teve a notícia de que bandidos atacaram o carro em que estavam seu filho e sua neta no centro de São Paulo.
O drama é pessoal, e o risco, político. Enquanto flagelo de favelas e periferias, a violência é só estatística, mas, quando chega às áreas nobres e aos poderosos, ganha destaque. E atinge em cheio as reeleições.