quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Por que o mar nos faz sentir tão bem?, BBC News FSP

 A. Victoria de Andrés Fernández

The Conversation * | BBC News Brasil

Você já deve ter ouvido dizer que quando nadamos no mar, o corpo e a mente voltariam ao seu "estado mais primitivo".

Que nos sentimos bem porque é como se estivéssemos retornando ao ventre da mãe ou lembrando de estágios evolutivos muito ancestrais.

Tudo isto nada mais é do que uma visão embrionária e evolutiva de... um enorme mito completamente desprovido de base científica!

mulher branca flutuando no mar
Tomar banho de mar gera uma sensação de bem-estar - Getty Images

Não importa quão atraente ou idílico possa parecer, não temos capacidade de lembrar nem o estado ontogenético da nossa pessoa como indivíduo, nem o estado filogenético da nossa linhagem como espécie.

Em outras palavras, não nos lembramos de quão confortável era o saco amniótico que nos protegia quando éramos fetos nem, muito menos, temos a capacidade de saber o que os táxons que nos precederam sentiram em nosso caminho evolutivo até a condição de homo sapiens.

O que é evidente —e repetidamente verificável— é a sensação de bem-estar que um mergulho no mar nos gera. O bem-estar vai além do simples prazer.

Enquanto o prazer seria o desfrute de algo relacionado ao êxtase ou à euforia específica (ou seja, é uma sensação imediata), o bem-estar é algo mais profundo, é um estado de prazer mais "consolidado", harmonioso e calmo e que transcende o puramente sensorial.

Isso porque, enquanto o prazer está mais relacionado ao vivenciado, o bem-estar envolve aspectos mais plurais como a saúde, a virtude, o conhecimento ou a satisfação de desejos.

Quando entramos no mar, ao prazer puramente somático junta-se um bem-estar mental muito mais complexo, que nos faz sentir felizes e satisfeitos.

Mas por quê?

mulheres brancas no mar
Entrar no mar também reduz a sensação de cansaço - Getty Images

O óbvio

Tendemos a pensar no mais óbvio: entrar na água nos esfria e isso neutraliza o calor do verão quando ele está muito intenso.

Obviamente, isso está correto. Satisfazer uma necessidade fisiológica, como comer quando temos fome ou beber quando sentimos sede, é sempre prazeroso. Mas no caso do banho de mar, há muito mais.

Do ponto de vista da neurofisiologia, foi demonstrado que a imersão vertical na água gera efeitos positivos muito interessantes.

Para começar, aumenta a velocidade do fluxo sanguíneo nas artérias cerebrais média e posterior.

Além disso, se a imersão for acompanhada de exercícios de baixa intensidade (como caminhar na água), alcançamos a mesma velocidade do fluxo sanguíneo cerebral do que ao correr fora da água.

Menos esforço para os mesmos benefícios. Uma pechincha que justifica a boa reputação da hidroginástica.

Juntamente com este aumento no fluxo circulatório cerebral, os estímulos somatossensoriais gerados pelo aumento da pressão hidrostática produzem um aumento na atividade cortical cerebral, tanto nas áreas motoras quanto nas áreas sensoriais ou parietais. Um ponto para o nosso cérebro.

Terceiro, apenas mergulhar até aos ombros reduz o edema muscular e aumenta a atividade cardíaca (sem aumentar o gasto energético), promovendo um fluxo sanguíneo generalizado e o transporte de nutrientes e resíduos através do corpo.

Isto, que se traduz numa redução drástica da sensação de cansaço, é a razão pela qual uma sessão de jacuzzi é recomendada aos atletas após exercício intenso.

Para quem não se dedica a quebrar recordes, o que percebemos é como nossas pernas ficam muito mais leves à medida que o retorno venoso é favorecido.

Todos os efeitos acima são resultado da imersão em água. Mas você pode estar pensando que não nos sentimos tão bem nadando na piscina como quando nadamos no mar. E você está certo novamente.

Aos efeitos derivados da própria imersão em água, devem ser acrescentados aqueles relacionados com a natureza especial da água do mar.

mulher branca no mar
Entrar no mar também reduz a sensação de cansaço - Getty Images

Nadar no mar

A água do mar, como bem sabemos, recebe contínuas contribuições fluviais de sais e minerais.

As fontes hidrotermais subaquáticas e as erupções vulcânicas no fundo do mar também contribuem para a manutenção de uma elevada concentração salina (com uma média de 35 g/kg de água, dos quais 80% são cloreto de sódio e o restante, principalmente, cloreto de magnésio, sulfato e brometo).

A consequência direta é dupla. Por um lado, a água salgada é mais densa que a água doce. Isto requer menos esforço muscular para nos manter à tona. Ou seja, nadamos mais relaxados no mar porque flutuamos mais. Por outro lado, os sais são absorvidos pela pele.

Isto representa uma contribuição muito importante para inibir a quebra da barreira cutânea causada por agentes irritantes dérmicos, o que acelera a sua recuperação e previne a secura.

Este fato é especialmente interessante no tratamento de doenças de pele como a dermatite de contato ou a psoríase e tem levado à consideração dos banhos de mar como tratamento adicional no cuidado com a dermatite crônica.

A água do mar especialmente enriquecida com sais de magnésio, como a do mar Morto, também demonstrou uma interessante ação anti-inflamatória.

A todos estes efeitos benéficos devemos acrescentar a ausência de ações negativas devido aos aditivos que aparecem necessariamente nas piscinas.

A adição de cloro é necessária para evitar a proliferação de protozoários, bactérias e fungos na água, mas irrita a pele. Evitamos esta agressão substituindo a piscina pelo mar.

O mar é mais do que água

Vimos que a imersão na água é benéfica e que, além disso, a água marinha é especialmente aconselhável para a pele. Mas tomar banho de mar é muito mais do que entrar numa banheira à qual foram adicionados sais.

O grande volume de água que se acumula nos mares e oceanos atua como um regulador térmico muito importante.

A maior capacidade térmica de um meio denso (como a água) em comparação com o ar funciona como um amortecedor de temperatura, de modo que as zonas costeiras são menos frias no inverno e menos quentes no verão do que áreas de localização geográfica semelhante, mas no interior.

Isto gera um resfriamento contínuo do ar quente e o estabelecimento de correntes que geram a reconfortante e fresca brisa marítima.

A brisa também traz consigo uma concentração muito elevada de ânions (partículas eletricamente carregadas) que penetram não só na pele, mas também nos pulmões.

Seus efeitos fisiológicos e psicológicos não são desprezíveis: prevenção de distúrbios neuro-hormonais, redução dos efeitos do estresse, ação antioxidante pelo aumento dos níveis de uma substância chamada superóxido dimutase e até melhora da acne.

Podemos ainda acrescentar consequências mais benéficas, como o relaxamento causado pela intensidade da cor azul ou os efeitos calmantes e sedativos do maravilhoso som do bater rítmico das ondas. Faça como eu e aproveite o mar porque, além de tudo, é de graça.

* A. Victoria de Andrés Fernández é professora do departamento de biologia na Universidade de Málaga.

Este texto foi publicado originalmente no site de divulgação científica The Conversation e foi reproduzido aqui sob a licença creative commons. Leia a versão original (em espanhol).

As Olimpíadas das mulheres, Juca Kfouri, FSP

 Como fartamente anunciado, dos 276 atletas brasileiros em Paris, 153 são mulheres, 55% da delegação.

O que até justificaria a mudança dos artigos nesta abertura de coluna: das 276 atletas brasileiras em Paris, 123 são homens, 45% da delegação…

E o maior número de medalhas conquistadas pelo Brasil é delas: das 13, ganharam 9. As duas de ouro, também, de Rebeca Andrade e Beatriz Souza.

Em Tóquio, três anos atrás, a delegação nacional levou 47% de mulheres, e elas trouxeram 9 das 21 medalhas.

Rebeca Andrade comemora medalha de ouro conquistada na competição de solo
Rebeca Andrade comemora medalha de ouro conquistada na competição de solo - Mike Blake/Reuters

Ainda há chances de, nos esportes como futebol, vôlei e vôlei de praia, mais mulheres trazerem mais medalhas, sendo certo que ao menos a prata virá para Marta & cia.

O quanto tamanho sucesso incomoda os misóginos a rara leitora e o raro leitor encontrarão nas redes antissociais, assim como os racistas que implicam com a simples referência às mulheres negras vencedoras.

Aqui faço pequena pausa para um testemunho pessoalíssimo: houve um momento em minha vida profissional que, com exceção da ESPN, onde o chefe era José Trajano, na Folha, no UOL e na CBN minhas chefias eram todas chefas; Eleonora de Lucena no jornal, Márion Strecker na internet e Marisa Tavares na rádio. E não tenho nenhuma queixa, muito ao contrário.

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Antes que alguém venha com a baboseira de sexismo reverso, como há os idiotas do racismo reverso, é bom frisar que a bem-sucedida presença feminina nada tem contra os homens —do mesmo modo que sublinhar a façanha dos negros não implica em ser contra os brancos.

Trata-se, apenas, de dar espaço a quem sempre sofreu discriminação e hoje ocupa cada vez mais os lugares que merecem e que lhes era negado.

Até porque as seleções brasileiras que mais longe chegaram em Paris são dirigidas por dois homens —o melhor treinador da história do vôlei, José Roberto Guimarães, e o competentíssimo Arthur Elias.

Ver e ouvir as entrevistas das medalhistas, ou das ainda candidatas às medalhas, estabelece escandalosa diferença para o que se vê e ouve dos atuais jogadores da seleção brasileira de futebol.

Talvez por não estarem milionárias, e também nada contra quem fica milionário à custa de seu trabalho honesto e ético, o tom das jogadoras semifinalistas do vôlei, e das finalistas do futebol, é o de quem deseja a medalha olímpica como a coroação do trabalho em equipe, sem um pingo de arrogância e com muita, mas muita simpatia.

Enfim, a semana vai terminando e, com ela, as Olimpíadas, que já deixam saudade, embora ainda faltem algumas emoções.

Como ficarão vazios os nossos dias sem provas das cinco horas da manhã até as sete horas da noite!
Sim, é claro, temos o futebol do Campeonato Brasileiro, da Copa do Brasil e da Libertadores para nos entreter.

Mas e o sorriso da Rebeca, o choro vitorioso da Bia, a marcha do Caio Bonfim, que, ao não perder o rebolado, deu ele também uma lição aos preconceituosos?

Torcida ideológica

O Brasil anda precisando se reencontrar com o Brasil.

O que teve de gente torcendo contra a Marta, ou contra a Carol Solberg, por identificá-las com a esquerda foi uma grandeza e nisso a direita brasileira é de uma pobreza franciscana.

À esquerda, e ainda bem, não se viu torcida contra Gabriel Medina.

Ao contrário, o que se ouviu foram críticas às regras do surfe que o puniram por falta de ondas. Tenha dó.

PGJ define Operação Salus et Dignitas como tributo à cidadania; líder do PCC foi preso, MPSP

 

Mais de mil agentes públicos desarticularam ecossistema do crime e violação de direitos

O procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, disse durante entrevista coletiva concedida na tarde desta terça-feira (6/8) que a Operação Salus et Dignitas representou um verdadeiro "tributo à cidadania", já que a articulação entre as instituições viabilizou uma resposta firme contra o ecossistema no qual proliferam atos ilícitos e sistemática violação de direitos humanos na região central da cidade. "A operação não se esgota hoje. A sociedade pode ficar confiante", disse o PGJ.

"Onde há o crime organizado presente há violação de direitos", sublinhou o promotor Lincoln Gakyia, um dos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), cuja investigação de mais de um ano culminou na operação deflagrada agora em conjunto com o governador do Estado, a Polícia Militar, a Polícia Civil, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Federal, a Receita Federal e o Ministério Público do Trabalho.

De acordo com o promotor, houve dez prisões, cinco preventivas e cinco em flagrante. Entre os detidos, está uma liderança do PCC que abastece o tráfico de drogas na cracolândia a partir da comunidade do Moinho. Oliveira e Costa ressaltou que a denominação da operação - saúde e dignidade - não é casual. O foco é proteger os dependentes químicos.

Desde as primeiras horas desta terça-feira, mais de mil agentes públicos foram para as ruas para cumprir as ordens judiciais. Eram sete mandados de prisão, 117 de busca e apreensão, 46 de arresto, sequestro e bloqueio de bens e 44 de interdição de imóveis. "O tráfico de entorpecente é apenas uma das atividades dentro do repertório criminoso dessa região, que envolve profusas atividades ilícitas, como o comércio ilegal e receptação de peças veiculares, armas e celulares; contaminação do solo com a reciclagem e ferro-velho; exploração da prostituição; captação ilegal de rádios transmissores da polícia; submissão de pessoas a trabalho análogo a escravo, entre outras graves violações a direitos humanos", sustentam os promotores do GAECO nos pedidos deferidos pela 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital.

Durante as investigações, constatou-se que o PCC vem atuando de maneira estratégica na assim denominada cracolândia e em diversas outras áreas do centro, replicando a lógica dos agentes econômicos, só que nos mercados ilícitos. Ao garantir o controle de um território específico, consegue-se maximizar os lucros através de atividades ilícitas diversificadas, ao mesmo tempo em que restrições que limitam sua expansão são superadas. Na visão das autoridades envolvidas com a Operação Salus et Dignitas, o ambiente de desordem favorece a prática de atividades ilícitas, sendo os consumidores de entorpecentes, dentre outros, vítimas das organizações criminosas.

Confira a galeria de imagens da operação.