quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Climatechs buscam espaço em políticas industriais, EPBR

 

Editada por Nayara Machado
nayara.machado@epbr.com.br

Climatechs buscam espaço em políticas industriais

Indústria verde, edifícios mais sustentáveis, expansão renovável e novos combustíveis estão entre os principais desafios para o mundo enfrentar a crise climática, mas também são uma grande oportunidade para as empresas de tecnologia que miram soluções de descarbonização.
 
Em 2023, os investimentos na fabricação de tecnologias limpas somaram cerca de US$ 200 bilhões em todo o mundo, um salto de mais de 70% em relação a 2022.
 
Com o mundo correndo para triplicar a capacidade renovável, a BloombergNEF estima  que o armazenamento de energia atingirá 411 gigawatts até 2030, um aumento de 15 vezes em relação à capacidade atual. Mas isso pode ser desacelerado por restrições da cadeia de suprimentos e acesso à rede – oportunidade para startups de softwares que facilitam o fluxo de energia na rede e hardwares que ajudam a gerenciar a demanda.
 
Na construção, algumas startups estão trabalhando para descarbonizar aço e concreto, enquanto outras estão criando novos materiais ou resgatando materiais que estavam no ostracismo, como madeira.
 
Já a nova geração de combustíveis tem atraído cada vez mais o interesse em inovações que olham para o aproveitamento de resíduos ou o uso de CO2 como insumo – com a conquista de parceiros importantes na indústria da aviação.
 
No Brasil, as empresas de tecnologias climáticas, também chamadas climatechs, estão em busca de espaço nas políticas de incentivo à descarbonização da indústria.
 
“O Brasil tem um potencial enorme para ser líder no combate às mudanças climáticas. Estamos desenvolvendo tecnologias transformacionais e queremos estabelecer o diálogo com as políticas públicas para garantir que elas reconheçam esse mercado emergente e potencializem o alcance dessas tecnologias”, resume Ana Capelhuchnik, diretora jurídica e sócia-fundadora da Lemon Energia.
 
No final de julho, a Lemon e outras nove empresas que se identificam como fornecedores de tecnologias com potencial de descarbonização lançaram o Fórum Brasileiro de Climatechs (FBC).
 
São empresas de diferentes portes e diversas áreas de atuação: uso do solo, cidades sustentáveis, eletromobilidade, energia.
 
O lançamento ocorreu durante reunião com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
 
Um dos interesses do grupo é “estreitar laços com o governo”, diz Ana, na discussão de políticas como a Nova Indústria Brasil (NIB), que tem entre seus eixos a inovação e a sustentabilidade – e pode ajudar a impulsionar os fluxos de financiamento para as climatechs brasileiras.

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Embora ainda não tenha apresentado uma agenda prioritária, algumas discussões no Congresso Nacional estão no radar das empresas que formam a coalizão.
 
A exemplo da reforma tributária. “Tem mecanismos de reforma tributária que podem afetar de maneira diversa empresas de tecnologia. A gente entende que é necessário discutir isso tendo em perspectiva o tipo de incentivo que a gente quer dar para tecnologias que façam combate a mudanças climáticas”, afirma a executiva em entrevista à epbr.
 
“Não temos uma proposta concreta do que, por exemplo, deveria ser estruturalmente alterado na reforma tributária, mas essa certamente é uma pauta comum entre as empresas do fórum”.
 
No caso da Lemon, que trabalha com energia solar por assinatura para pequenos e médios negócios, Ana aponta ainda o debate sobre a regulação da micro e minigeração distribuída
 
“A gente acha fundamental que a regulação e a regulamentação incentivem o modelo de negócios que tornam a GD mais democrática. Um caminho, por exemplo, é a regulamentação do Open Energy, que é a possibilidade de compartilhamento de dados com a infraestrutura elétrica”.

Diferenciar biomassa de fósseis. Também membro do FBC, a Combio produz e fornece vapor renovável para indústrias de mineração, papel e celulose, biocombustíveis e alimentos e bebidas, entre outras – mas esbarra em dificuldades na hora de captar financiamento para os projetos.
 
“O BNDES lançou várias vezes linhas de energias renováveis, e sempre quando a gente ia lá, o programa tinha lá energia elétrica, e a gente é energia térmica. Então, várias vezes a gente não conseguiu captar, só porque, na hora de escrever o programa, alguém esqueceu de botar a térmica a biomassa”, conta Roberto Véras, sócio e diretor de sustentabilidade da Combio. 
 
A expectativa agora, com o fórum, é melhorar essa articulação para dar mais visibilidade a soluções que não estão no mainstream e buscar diferenciação em relação aos fósseis para um mercado com potencial de atrair mais de R$ 100 bilhões ao longo das próximas décadas, diz Véras.
 
“Aqui em São Paulo, para colocar uma caldeira a óleo ou a gás, é exatamente a mesma dificuldade que para colocar uma caldeira a biomassa. Na questão tributária, o nosso vapor é cheio em todas as alíquotas. Até hoje, a gente vem navegando sem capital barato exclusivo. São questões que poderiam e deveriam ser simplificadas quando você está falando de descarbonização, transição energética”.
 
Mesmo sem apoio, a estimativa da Combio é evitar a emissão de 800 mil toneladas de CO2 na atmosfera em 2024 com suas caldeiras a biomassa.

No mundo, a participação da tecnologia climática no capital do mercado privado e nos subsídios estatais aumentou para 11,4% no terceiro trimestre de 2023, acompanhando uma taxa anual de 10% no ano ao longo de uma década, mostra um levantamento da PwC publicado no final do ano passado.
 
Apesar do apetite de financiadores iniciantes, a consultoria observa que para investidores em empreendimentos de tecnologia climática, os últimos dois anos foram um “teste de determinação e adaptabilidade” diante de turbulências geopolíticas, inflação e aumento das taxas de juros.
 
No ano passado, o investimento total em capital de risco e capital privado caiu 50,2% em relação a 2022, atingindo US$ 638 bilhões, enquanto o financiamento de startups de tecnologia climática caiu 40,5% no mesmo período, levando a um patamar observado cinco anos atrás.

Petrobras 9199) entre as 500 maiores do Mundo - Fortune- MEIO

 Entre as 500 maiores empresas do mundo há nove brasileiras, segundo o ranking anual da revista Fortune. Petrobras, na 99ª colocação, é a mais bem colocada, com receita de US$ 102,4 bilhões e lucro de US$ 24,8 bilhões. Mas perdeu 28 posições em relação à lista anterior, com queda de 17,7% na receita, um movimento que atingiu as principais empresas globais de óleo e gás, como ExxonMobil, Shell e Equinor. A segunda brasileira é a JBS, em 176º lugar. Em seguida aparecem Itaú Unibanco (189) e o Banco do Brasil (217). Bradesco (252), Caixa Econômica Federal (334), Raízen (345), Vale (363) e Vibra Energia (493) completam as posições do Brasil. A liderança segue com o Walmart há 11 anos, com receita de US$ 648 bilhões e lucro de US$ 15 bilhões. (Fortune)

Aliás, o Itaú registrou lucro recorrente gerencial de R$ 10,1 bilhões no segundo trimestre, alta de 15,2% frente ao mesmo período do ano anterior. O resultado ficou praticamente em linha com o esperado. O retorno sobre patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) anualizado foi de 22,4%, com crescimento de 1,5 ponto percentual. A carteira de crédito total ajustada bateu R$ 1,254 trilhão, com um avanço anual de 8,9%. (InfoMoney)

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Na busca por maior produtividade no trabalho, Venvanse, a princípio recomendado apenas para quem tem diagnóstico de TDAH, ganhou espaço em grandes empresas de tecnologia e comércio de São Paulo. O medicamento é oferecido em grupos no Telegram, assim como prescrições médicas falsas. Em consultas de 5 minutos, a R$ 1.200 e que geram receitas idênticas, o remédio é recomendado para que a pessoa tenha foco. (BBC Brasil)

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terça-feira, 6 de agosto de 2024

A postura do governo Lula para com a Venezuela está correta, Joel Pinheiro da Fonseca, FSP

 Maduro roubou e levou. É uma triste constatação, mas a esta altura já é praticamente certa. A oposição teve mais votos, conforme pode ser comprovado nos mais de 80% das atas eleitorais a que ela teve acesso e que disponibilizou online, com as devidas assinaturas e QR Codes. Já o regime segue se recusando a apresentar quaisquer atas e, dado que é tecnicamente difícil falsificá-las, deve seguir assim, inventando alguma desculpa que não convencerá ninguém.

Enquanto isso, grande parte dos países americanos e europeus se prontificou a não reconhecer a vitória de Maduro. Alguns, como os EUA, reconhecem a vitória de seu opositor. Já o Brasil tem adotado uma postura mais cautelosa: não reconhece vitória nenhuma e se limita a pedir muito educadamente as benditas atas eleitorais que estão com o CNE (Conselho Nacional Eleitoral).

O venezuelano Nicolás Maduro em evento em Caracas - Maxwell Briceno - 3.ago.24/Reuters

Agora, um grupo de ex-chefes de Estado espanhóis e latino-americanos —membros da Iniciativa Democrática de España y las Américas (Grupo Idea)— cobra uma postura mais dura do Brasil. O Brasil não é um país que valoriza a democracia? Então, qual a dificuldade em condenar em voz alta aquilo que está óbvio para o mundo inteiro?

Naquilo que descreve da farsa eleitoral comandada por Maduro, o Idea diz a mais pura verdade. Quando, no entanto, questiona a conduta brasileira, afirma algo questionável: "Admitir tal precedente [o escândalo das eleições venezuelanas] ferirá de morte os esforços que com tanto sacrifício seguem sendo feitos nas Américas para sustentar a tríade da democracia, do Estado de Direito e dos direitos humanos".

Ora, julgam os signatários que, se o Brasil se juntar ao coro dos demais, Maduro deixará o poder? Isso já foi tentado antes e já sabemos a resposta. Nem notas de repúdio, nem corte de relações, nem sanções econômicas conseguirão tirar Maduro do poder. A única coisa que potências externas como EUA poderiam fazer para mudar o regime é uma intervenção militar. Mas quem seria louco o bastante para embarcar numa aventura tão obviamente desastrada?

O fato incontornável é que, depois de um breve engodo eleitoral, a ditadura Maduro seguirá no poder como sempre esteve. Sabendo disso, é preciso decidir como interagir com ela.

Cortar relações diplomáticas —a consequência inevitável de se denunciar publicamente a fraude— em nada nos ajudaria. Temos interesses em comum com a Venezuela —na compra de energia, no controle das fronteiras, no pagamento de dívidas e diversas outras questões que podem surgir. Assim como negociamos sem problemas com ditaduras como China e Arábia Saudita, podemos negociar com ela.

Lembremos, ademais, que Maduro pode estar isolado no continente, mas segue próximo de China e Rússia, que terão tanto mais influência sobre o regime quanto menos influência tivermos nós e demais países americanos. É isso que desejamos?

Nosso erro, olhando para trás, foi a pretensão ingênua de que poderíamos pôr fim à ditadura. Agora que está claro o fiasco do plano, cumpre manter as relações. O problema é que, para chegar a essa nova normalização, teremos que dar uma resposta pública à pergunta sobre quem venceu o pleito de 2024.

Itamaraty acerta ao se limitar à cobrança das atas antes de se pronunciar. Não se confunda essa postura com as falas improvisadas de Lula e as manifestações do PT, todas vergonhosas e desnecessárias. Mas mesmo essa postura acertada tem data de validade. Em algum momento ficará claro que as atas não virão mesmo, e aí restará ao governo utilizar alguma desculpa para continuar considerando legítimo o governo Maduro. É o preço de nossa pretensão ingênua de que poderíamos pôr fim à ditadura diplomaticamente. Dado esse erro original, o Itamaraty agora faz o melhor que dá.