sexta-feira, 8 de julho de 2022

Márcio França alega defesa da democracia ao justificar desistência e apoio a Haddad, fsp

 

SÃO PAULO

ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB) anunciou na tarde desta sexta (8) que não irá mais disputar o Governo de São Paulo nas eleições de outubro.

Em vídeo publicado nas redes sociais, França alegou a defesa da democracia ao justificar desistência de concorrer ao Palácio dos Bandeirantes e declarou apoio ao ex-prefeito Fernando Haddad (PT).

Apesar de não citar no vídeo, França deverá concorrer ao Senado na chapa de Haddad. No começo da semana, o ex-governador chegou a informar ao comando do PSB e a candidatos do partido a sua decisão.

O ex-governador Márcio França (PSB) durante sabatina da Folha e UOL - Reprodução/UOL

No vídeo, França diz que havia se comprometido que quem liderasse as pesquisas de intenção de voto poderia ser o candidato do campo político do qual faz parte.

"E aqui tem palavra, você sabe disso. É por isso que eu decidi apoiar agora a candidatura do Fernando Haddad para governador. Ele reuniu essas condições e está na frente nas pesquisas. E é a hora de defender antes de tudo a democracia", diz o ex-governador (veja abaixo).

Na publicação, França afirma ainda que em seus 40 anos de vida pública nunca viu "o Brasil numa situação tão grave", cita a miséria e a fome e diz que o único caminho para mudar essa situação é "eleger juntos pessoas comprometidas com o resgate de nossos direitos".

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"Nessa situação de emergência, nós temos que pensar em todos e não em projetos pessoais", diz ele.

"Fernando, vai você. Nós vamos juntos! Vamos buscar os nossos melhores dias. Eu abro mão da candidatura porque eu não abro mão dos meus princípios. Sempre fui assim. A democracia vai prevalecer e eu continuo sendo o mesmo Márcio França que não abre mão dessa democracia", continua.

França deverá participar neste sábado (9) de ato em Diadema, São Paulo, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) e de Haddad. ​

ex-governador vinha há meses driblando a pressão do PT ao insistir em sua candidatura. Ele argumentava que teria chances de atrair eleitores de centro-direita refratários a Haddad.

No último dia 30, no entanto, com a desistência do apresentador José Luiz Datena (PSC) de disputar o Senado por São Paulo a pressão sobre França aumentou para que ele desistisse.

Como Folha mostrou, ao comunicar de sua desistência a aliados, França contou que impôs como condição ser o único candidato do Senado na coligação.

A concordância com essa exigência contrariou o PSOL, que se diz excluído da negociação e ameaça lançar um candidato ao Senado caso não ocupe espaço majoritário na chapa.

Mariliz Pereira Jorge - A destruição da família, fsp

 O IBGE de 2010 já mostrava uma tendência de configurações familiares não tradicionais, mas o bolsonarismo insiste que há um só modelo, o deles: papai, mamãe e filhinhos. Nessa ordem de importância porque quem manda na casa bolsonarista é o homem, mesmo que o dinheiro seja da mulher.

A cada notícia em que a "família" é exaltada por um bolsonarista em apuros, fico aliviada que a minha não seja assim. Manuela Pinheiro, mulher do ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, classificou as denúncias de assédio contra seu marido como "ataques deliberados e impiedosos com o objetivo único de destruir nossa família". Só faltou culpar as feministas pelo fato de que seu marido não pode chamar uma funcionária ao seu quarto de hotel, tarde da noite, trajando uma cueca.

Manuella ao lado do marido, Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa
Manuella saiu em defesa do marido, Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa acusado de assédio sexual - @mpguimaraes no Instagram

Manuela pode não ter culpado, mas não faltou quem o fizesse. Numa página bolsonarista os comentários sobre o caso eram no seguinte tom: "Por que a palavra de uma mulher tem que valer mais do que a de um homem?", "Desde quando mão na cintura é assédio sexual?", "O que a esquerda quer com esse caso?", "Economista bem-sucedido, quantas mulheres não querem ele só por interesse financeiro?", "A maldade é humana, não masculina", "Muita mulher aproveitadora usando isso para destruir a imagem de um homem".

Todas essas manifestações foram feitas por mulheres. Vou ali vomitar e já volto.

Na alegria e na tristeza já não é o suficiente. Nas cerimônias de casamento deveriam incluir juras de lealdade em casos de assédio, estupro de vulnerável, violência doméstica. São alguns dos exemplos do que a "família" tradicional acoberta desde sempre, mas com o advento do bolsonarismo assume com orgulho nunca visto antes.

A fachada da "família" desmorona. Há rachaduras nos valores cultuados, mas não praticados por gente que se considera modelo para a sociedade. A cada denúncia, morrem os argumentos de que as mudanças culturais são as ameaças à família "tradicional". O que implode essa estrutura patriarcal não é o feminismo ou o casamento gay, mas a intolerância a práticas criminosas disseminadas que ainda acontecem e com a conivência de muitas mulheres.

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Violência doméstica é tolerada no seio de muita família de bem, assim como estupro de vulnerável acontece dentro de casa. Os mesmos lares que expulsam homossexuais, defendem que uma criança mantenha uma gravidez e acham que assédio é histeria de feminista. Se esse tipo de "família" será destruída por denúncias como a que enfrenta Pedro Guimarães, pode detonar a bomba.

Uma das casas mais antigas de SP será reconstruída a partir das ruínas das paredes; entenda a obra, OESP

 Décadas de arruinamento deixaram praticamente irreconhecível o que é uma das casas mais antigas ainda existentes na cidade de São Paulo: o Sítio Mirim, cujos registros mais antigos remetem a 1750. Não há mais telhado, portas ou janelas. O que restou das paredes será a base para uma reconstrução quase completa, determinada pela Justiça após quase 10 anos de disputa com a Prefeitura e objetivo de uma licitação que terá resultado divulgado ainda neste mês. 

Originalmente rural, a residência fica em uma praça na Avenida Doutor Assis Ribeiro, no distrito da Vila Jacuí, na zona leste, e é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1965. O projeto também prevê a transformação em um centro cultural, com oficinas, exposições e outras atividades de pequeno porte, com espaço interno de 199 metros quadrados. A previsão é que a obra comece neste semestre e dure 20 meses. O custo é estimado em R$ 3,5 milhões, com recursos municipais, porém a licitação selecionará a proposta de menor valor. 

Ruínas do Sítio Mirim, uma das casas mais antigas ainda existentes na cidade de São Paulo
Ruínas do Sítio Mirim, uma das casas mais antigas ainda existentes na cidade de São Paulo Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 24/06/2022

Durante os quatro primeiros meses, haverá também acompanhamento arqueológico, pois mais de 200 artefatos foram encontrados em prospecção parcial de equipe do Museu do Ipiranga no terreno, em 1982. Para a proteção dos trabalhos, será instalada uma cobertura temporária sobre o perímetro das ruínas.

A reconstrução utilizará principalmente o chamado “solo cimento”, produzido a partir da mistura de saibro umedecido e cimento e esmagado em formas de madeirite. Segundo o projeto, do escritório Restarq Arquitetura (contratado pelo Município), o material foi escolhido pelas características semelhantes às originais da residência, feita em “taipa de pilão” (terra socada em formas de madeira), comum no início da colonização paulista, chamado de período “bandeirista” ou “sertanista”.

Antes, os remanescentes passarão por um processo de limpeza e recuperação, por estarem hoje erodidos pelas chuvas, com a presença de insetos (como cupins, vespas e formigas) e recobertos de fungos e liquens. Na avaliação técnica, foi identificado que estão fragilizados e precisarão ser manipulados com cuidado, para evitar maior deterioração.

Para o projeto, a principal referência foi a reconstrução da chamada “Casa Bandeirista do Itaim”, que esteve em estado de arruinamento semelhante. Ela foi reconstituída há cerca de 10 anos no vão do Pátio Victor Malzoni, edifício da Avenida Brigadeiro Faria Lima também conhecido por ser a sede do Google e de outras empresas. 

Do lado externo, o Sítio Mirim receberá uma pintura a cal, resgatando a tradicional cor branca de edificações bandeiristas (como a Casa do Grito e o Pátio do Colégio, por exemplo). Na área interna, contudo, as partes originais de taipa de pilão não serão revestidas nem pintadas, a fim de mostrar a técnica construtiva e também lembrar o passado de arruinamento da casa. Porém haverá a aplicação de produtos para conservação.

Legenda: Fotos do Sítio Mirim datadas de 1945, atribuídas a Luis Saia, do Iphan
Fotos do Sítio Mirim em 1945, atribuídas a Luis Saia, do Iphan Foto: Reprodução/Projeto Executivo de Restauração do Sítio Mirim/Restarq

Já as telhas serão de cerâmica, como as originais, mas “grampeadas” com arame, pela identificação de que o local é “extremamente exposto aos ventos”. Por sua vez, o piso será de concreto polido e colorido em marrom claro, para remeter ao chão batido original. 

As novas sete portas e 10 janelas serão semelhantes às identificadas em documentação e fotos antigas, assim como será reconstruída a varanda que envolvia grande parte da construção. Haverá implantação de estrutura de elétrica, hidráulica e segurança contra incêndios, além de acessibilidade. No caso da madeira, por exemplo, em vez da canela preta, não mais comerciável, são sugeridas cedro, ipê, jatobá e outras equivalentes.

Para o pátio, o projeto prevê a implantação de um caminho de pedras irregulares e gramado. O paisagismo terá o objetivo de reduzir o impacto da urbanização do entorno na paisagem (especialmente da linha de trem, do viaduto e das casas do entorno), porém permitindo que a casa seja avistada desde a avenida. Para isso, foram indicadas espécies nativas arbustivas e de árvores de pequeno porte, incluindo algumas frutíferas.

Registro mais antigo da casa do Sítio Mirim data de 1750
Registro mais antigo da casa do Sítio Mirim data de 1750 Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 24/06/2022

Tombado pela autenticidade, Sítio Mirim está em degradação desde os anos 1970

O Sítio Mirim foi tombado em 1965, por sugestão do arquiteto Luís Saia, um dos nomes mais importantes da história do Iphan. Na justificativa, ele dizia que a casa era a de estilo mais autêntico entre as do bandeirismo paulista e que as características da planta apontavam “interferências individualistas”, em vez de serem meras reproduções do que era predominante na época. 

“O empenho (de preservação) maior deve incidir sobre este exemplar único, diferente, ilustrativo e, portanto, valioso. Sua perda seria irreparável”, justificou em documento da época. Entre os aspectos que assinalava, estava que a fachada principal ficava voltada ao Rio Tietê, demonstrando que o terreno do antigo sítio era maior que o atual.

A documentação encontrada até hoje indica que a residência existe ao menos desde 1750, quando pertencia ao guarda-mor Francisco de Godoy Preto, porém especialistas apontaram que provavelmente seja mais antiga. Segundo levantamento do escritório Restarq, foi habitada ao menos até 1945, mas já em "mau estado de conservação".

 Sítio Mirim é uma casa bandeirista feita com
 Sítio Mirim é uma casa bandeirista feita com 'taipa de pilão' Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 24/06/2022

A casa passou por um processo de restauro pelo Iphan em 1966. Cerca de cinco anos depois, nos anos 1970, após a morte do zelador, começou a ser alvo de saques, com a retirada das janelas e outros componentes, o que acelerou o arruinamento em conjunto com a exposição às intempéries, a trepidação provocada pela circulação de trens e a falta de manutenção. 

Neto e filho de pessoas que viveram na antiga casa, o contador Jaime Carlos Glass, de 72 anos, recorda-se de ouvir histórias sobre o local e como era feita a manutenção da taipa. “Sou de opinião que as obras sejam realizadas, mas precisamos preservar todo o espaço existente, criando ao lado nesta reforma uma estrutura cultural. E preservar também a memória dos antepassados, ou seja, criar um memorial indígena sobre os guaianazes”, disse.

Algumas obras de recuperação da antiga casa chegaram a ocorrer nas décadas de 1970 e 80, mas de forma parcial. Em 2007, o Município apresentou um projeto para o local, com arquitetura contemporânea, em que as ruínas seriam mantidas na forma atual, com a implantação de uma cobertura para evitar maior deterioração e a construção de outra edificação para atividades culturais, porém não foi adiante. 

A degradação do imóvel levou a críticas de diferentes setores. Morto em 2021 e de forte presença na zona leste, o padre Antonio Luiz Marchioni (mais conhecido como Padre Ticão) foi uma das principais lideranças da reconstrução do Sítio Mirim e transformação em um espaço para a comunidade. 

Por quase 10 anos, a casa foi alvo de uma disputa judicial em uma ação aberta pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), no nome do então promotor José Eduardo Ismael Lutti, que foi parar até no Supremo Tribunal Federal (STF). Um acórdão de 2019 determinou de vez a reconstrução. Na sequência, o projeto de restauro foi elaborado, mas enfrentou resistência no órgão estadual de patrimônio, por ser uma reconstrução quase integral. O resultado da licitação agora em curso é previsto para 21 de julho.

“Sempre que se restaura um bem histórico e o disponibiliza para sociedade está se resgatando a história não só do bem, mas da própria cidade e, no caso, do próprio País”, diz Lutti, hoje procurador de Justiça no MPSP. “A única forma de se manter preservado o bem histórico é dar a ele uma utilidade pública, especialmente se for para visitação pública e de educação histórica”, acrescenta.

Em nota, a Prefeitura não informou detalhes sobre o funcionamento da casa após a reconstrução e se será incorporada à rede Museu da Cidade, que inclui outros espaços culturais sediados em antigas residências. “O Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), da Secretaria Municipal de Cultura, informa que no momento o foco das ações está voltado para a licitação e o projeto de restauração das remanescentes históricas existentes.”

Sítio Mirim foi tombado pelo Iphan em 1965 e está em degradação desde os anos 1970
Sítio Mirim foi tombado pelo Iphan em 1965 e está em degradação desde os anos 1970 Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 24/06/2022

Moradores criticam falta de diálogo e reivindicam melhorias na praça do Sítio Mirim

Moradores envolvidos em movimentos pela valorização do Sítio Mirim consideram que a elaboração do projeto de reconstrução não ouviu a população local, tanto que nem sequer sabiam da publicação da licitação. Eles também reivindicam melhorias na praça em que a antiga casa está inserida, que não tem bancos, lixeiras ou qualquer outro tipo de mobiliário ou equipamento urbano.

Idealizador do Sarau Urutu, que faz atividades na Praça Sítio Mirim há sete anos, o educador cultural Edson Lima, de 36 anos, celebra a reconstrução da antiga casa, mas questiona se o projeto será efetivo sem uma infraestrutura no entorno. 

“Acho legal que seja um ponto turístico, mas vamos pensar mais. A praça é grande, passa de um quarteirão a outro”, diz. Hoje, avalia que há uma sensação de insegurança no local à noite, por exemplo. “(Precisa ter) Uma mínima estrutura, muito básica, com bebedouro, parquinho para as crianças, para que a gente possa utilizar esse espaço de forma mais presente.”

Lima também questiona a falta de diálogo. “Os moradores não serem consultados é uma ideia invasiva”, avalia. “Acho super importante ter um olhar para esse espaço, que seja valorizado, pela dimensão que tem, mas, (precisa ser) principalmente, (valorizado) pelo olhar dos moradores, que querem há muito tempo esse espaço para ser frequentado, e não ser apenas visitado.”

O pesquisador Danilo Morcelli, de 34 anos, morador da região, também defende maior diálogo com a população, especialmente na configuração das atividades do futuro espaço cultural. “As comunidades e os grupos devem estar envolvidos em todas as etapas do processo, inclusive na gestão e na utilização do equipamento", afirma.

“O Sítio é vivo, as crianças brincam no local, a comunidade utiliza ele como caminho de passagem. Por vezes, diversas manifestações culturais estão ocorrendo no espaço, de origens afro brasileiras, indígenas e populares”, diz ainda. “O espaço deve ser protegido para que se mantenham vivas memórias e tradições culturais que fazem parte da cultura brasileira.”

Também morador da região, o arquiteto Ruy Barbosa Silva, de 58 anos, faz críticas à insuficiência de informações sobre o espaço anteriores a 1750. Ele defende a hipótese de que a construção é mais antiga e teve uso não residencial, possivelmente ligado à guarda de minas de ouro do Rio Baquirivu-Guaçu. Além disso, considera que a reconstrução com solo cimento deixará a casa frágil aos efeitos da trepidação da linha de trem.

Procurada, a Prefeitura se manifestou em uma nota na qual ressalta que ações de zeladoria “são realizadas continuamente” na praça. Sobre iluminação pública, respondeu que as vias do entorno “se encontram adequadamente iluminadas por meio de luminárias equipadas com tecnologia LED” e que, no interior da praça, “existem postes para iluminar uma passagem de pedestres”.