quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Saneamento ,Antonio Delfim Netto, FSP

Idealmente todos buscamos a sociedade civilizada. Esta, certamente, incluirá a igualdade de oportunidades: todos os cidadãos, independentemente do acidente de seu nascimento, têm o direito de partir para a vida do mesmo ponto. 
Em outras palavras, não importa se foi concebido por puro acaso numa noite chuvosa sob o muro do Museu do Ipiranga ou, deliberadamente, numa festiva noite de núpcias numa suíte presidencial. Gerados em situações tão desiguais, uma vez nascidos, deverão ter a oportunidade de desenvolver o seu aparato de apreensão do mundo em condições iguais.
Uma condição necessária (ainda que não suficiente) para isso é a existência de um sistema de saneamento que forneça água limpa e esgoto tratado para todos, o que dará aos novos cidadãos mais saúde e maior capacidade de aprendizado com menor custo. 
É empiricamente comprovado que tal investimento tem uma das mais altas taxas de retorno social. Devido a falsos preconceitos ideológicos —mas real e indisfarçável aparelhamento político— temos tratado muito mal o problema. O seu “planejamento”, o Plano Nacional de Saneamento Básico, é razoável, mas sua execução é deplorável.
saneamento é atribuição municipal, mas, na imensa maioria dos casos, é delegado a empresas estaduais, com contratos abertos: não se fixam metas, prazo para cumpri-las e muito menos as sanções se não forem cumpridas! São renovados automaticamente, ad infinitum, sem maiores exigências, num jogo entre amigos! 
Obviamente, não têm como a maior prioridade o atendimento do esgoto de mais de 40% da população urbana que ainda sofre sua falta. 
A medida provisória 844/2018 submetida à Câmara dos Deputados mostra que o governo decidiu rever o problema, mas o interesse político intrínseco resiste em aceitar um fato evidente: só o aumento da produtividade e o uso de recursos privados podem resolvê-lo. 
Por que, então, não estimular os municípios, quando da renovação dos seus compromissos, a procurarem soluções alternativas, públicas ou privadas, com contratos fechados que estipulem claramente metas em prazo certo e punição pesada por falta de cumprimento? 
Hoje, mais de 30 milhões de habitantes, em mais de 300 municípios (são 5.570 no país), já são atendidos por empresas privadas que, com tarifas equivalentes, investem para atendê-los com metas fixadas, prazo bem estabelecido e duras penas contratuais no caso de não cumprimento.
O que está em discussão não é a ridícula oposição Estado vs. Mercado, mas quando, afinal, os munícipes terão 100% da sua água e esgoto tratados! A competição bem regulada é a única forma de servir bem o cidadão na sua busca da sociedade civilizada.
Antonio Delfim Netto
Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

PSDB propõe primeira CPI da gestão França e pode desgastar governador que busca reeleição, FSP


Artur RodriguesGabriela Sá Pessoa
SÃO PAULO
bancada do PSDB vai propor a primeira CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) envolvendo a gestão do atual governador Márcio França (PSB). O pedido é relacionado à suspeita de fraude numa licitação da área da educação e pode desgastar o socialista em meio à sua campanha para reeleição. 
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, subordinada a França, suspendeu nesta semana uma licitação de R$ 5,6 milhões uma hora após o UOL publicar reportagem publicar reportagemrevelando que já sabia o vencedor 12 dias antes do final do pregão.
Foto de perfil do deputado estadual Cauê Macris (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo
O deputado estadual Cauê Macris (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo - Karime Xavier - 15.mar.17/Folhapress
O líder do PSDB na Assembleia, deputado Marco Vinholi, começou nesta terça-feira (7) a colher assinaturas —são necessárias 32. Mediante o requerimento, é necessário que o presidente da Casa, o tucano Cauê Macris, crie a comissão. 
Mesmo pontuando baixo nas pesquisas, França é tido dentro do PSDB como candidato que mais pode crescer e atrapalhar o tucano João Doria na disputa ao governo. Só o pedido de CPI, numa Assembleia onde historicamente o tucanato é forte, pode desgastar o socialista, ao associar sua gestão à suspeita de corrupção.
A notícia do pedido agitou a Casa às vésperas das eleições, quando os deputados costumam pensar apenas em campanha. Na tarde desta terça (7), o deputado Roberto Morais (PPS) cruzou rapidamente com o colega Caio França (PSB) na Assembleia. Deu um toque de mão e comentou: "O PSDB pedindo CPI na Assembleia Legislativa, isso sim é novidade". Morais é da base de França na Casa, parte de um grupo que, até abril, era governista junto com o PSDB.
Para França, líder do PSB no Legislativo e filho do governador, o pedido de abertura de investigação dos tucanos é inócuo porque a licitação foi cancelada pelo próprio governo. "Já existem cinco comissões em andamento na casa e uma fila de pedidos anteriores a essa. Não vai entrar em discussão provavelmente até o fim do ano", afirma o pessebista.
O líder do governo na Assembleia, Carlos Cezar (PSB), afirma ainda que a CPI prejudicará o ex-governador e presidenciável tucano Geraldo Alckmin. "O termo de referencia da licitação foi realizado em fevereiro de 2018, no governo Alckmin", diz. "Isso mostra mais uma tentativa do PSDB, ao criar essa CPI, de gerar um factoide político em véspera de eleição, de forma clara para atingir o ex-governador, o candidato a presidente da Republica deles."
Para os tucanos, a decisão de uma CPI passar na frente de outras é do presidente da Casa e há precedentes do tipo. Consideram que a gravidade do caso justifica a abertura.
Enquanto Alckmin era governador, a base tucana era acusada por opositores de barrar CPIs que pudessem prejudicar a imagem do governo. 
No fim de 2017, circulavam sete pedidos de abertura de CPI para investigar obras viárias citadas por empreiteiras no acordo de leniência com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Construtoras apontaram a formação de cartel no Rodoanel e no Programa de Desenvolvimento do Sistema Viário Estratégico Metropolitano de São Paulo, um esquema que teria ocorrido entre 2004 e 2015, em obras custaram cerca de R$ 10 bilhões. Por falta dos 32 votos, os requerimentos de investigação não prosperavam.
Carlos Giannazi (PSOL) tem pedidos de CPI para investigar o governo nas áreas de educação, saúde e transporte que nunca atingiram as 32 assinaturas necessárias. "Nós vamos assinar [o pedido do PSDB] porque é importante que a Assembleia investigue todas as denúncias de corrupção. Agora, sabemos que essa CPI não tem função nenhuma de investigar, o PSDB está querendo apenas desgastar a imagem do Márcio França", diz ele.
Desde maio, a bancada do PT tenta convocar representantes dos transportes de São Paulo para depor em comissões. Todas foram esvaziadas. Os petistas tentam recolher assinaturas para abrir uma CPI que investigue a atuação de Paulo Preto na Dersa. 
O PT, segunda maior bancada da Casa com 14 deputados, diz que ainda vai reunir a bancada para discutir se apoia ou não a CPI. Por ora, vão enviar requerimentos ao governo pedindo informações sobre a licitação.
“Sempre fomos favoráveis à investigação. Mas esse viés é muito mais eleitoral, o do PSDB. Eles nunca assinaram nenhum pedido de abertura de CPI nosso”, afirma a líder petista no Legislativo, Beth Sahão.
Por nunca ter contado com o apoio tucano na Casa, o PT avalia, em troca, não assinar essa CPI. “Precisamos entender qual a real intenção deles. Pode ser que estejam fazendo isso para beneficiar o candidato tucano”, diz Sahão.

LICITAÇÃO

 De acordo com a reportagem do UOL, a agência de viagens Armazém Turismo e Eventos foi declarada vencedora da licitação apesar de não ter apresentado a melhor proposta na concorrência. O processo licitatório foi encerrado na segunda-feira (6).
O UOL sabia do resultado antes de ele sair —antes da abertura e do término da licitação em modalidade de pregão eletrônico— e registrou em cartório quem seria o vencedor. O contrato não foi assinado.
O governo Márcio França afirma que mandou suspender a licitação. Além disso, encaminhou o caso para a Corregedoria Geral da Administração e noticiará ao Ministério Público. A vencedora da licitação nega irregularidades.