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Coluna Econômica - 13/12/2011
Gravei ontem uma entrevista com o doutor Adib Jatene. Uma aula inesquecível de brasilinidade, de visão de futuro e de construção de conhecimento.
Jatene começou na cirurgia cardíaca pelas mãos do dr. Euclides Zerbini. Depois de um estágio, mudou-se para Uberlândia onde desenvolveu os primeiros equipamentos tecnológicos para a cirurgia.
Zerbini passou por lá, entusiasmou-se e o chamou de volta para São Paulo, onde passou a trabalhar como instrumentador da equipe de Zerbini.
Como operavam-se em vários hospitais, Jatene andava com os instrumentos no carro.
Certo dia, o carro foi roubado e os instrumentos - importados -, levados.
Era uma quarta-feira; terça haveria cirurgia.
Jatene rumou então para a oficina de um conhecido, que há tempos tentava desenvolver esses equipamentos, mas sem ter domínio sobre o tema. Na terça seguinte apareceu na sala de Zerbini. Informou que os equipamentos importados tinham sido roubados, mas ele construíra equipamentos alternativos.
Zerbini olhou os equipamentos, sugeriu alguns ajustes. Feitos os ajustes, a operação transcorreu normalmente.
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O trabalho seguinte de Jatene foi com Dante Pazannese - que depois daria nome ao Instituto de cardiologia que chefiava. Estava nos anos 50.
Dali em diante, muitos equipamentos foram desenvolvidos por Jatene e outros especialistas.
Em 1966, no mesmo Pazzanese, o médico José Eduardo Souza criava as bases para os modernos cataterismos, a cinecoronariografia.
Em São José do Rio Preto, um aluno de Jatene, Domingo Braile, montaria um instituto de padrão internacional para doenças coronarianas, criando uma enorme gama de produtos.
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O próprio Jatene prosseguiu em suas pesquisas, trabalhando com pesquisadores do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), desenvolvendo válvulas, corações artificiais.
Em 1962 Jatene criou a Oficina Experimental, nbo Instituto de Cardiologia do Estado, que desenvolveu inúmeros equipamentos, como máquina de circulação extracorpórea, oxigenadores de sangue artificial, desfibriladores, instrumentais cirúrgicos para procedimentos de circulação extracorpórea, marcapassos internos e externos e válvulas cardíacas.
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Em 1986 foi criado o Instituto Adib Jatene, no âmbito do Instituto Pazzanese, para desenvolvimento tecnológico de equipamentos ligados à cardiologia. Nesse período, houve o desenvolvimento do Coração Auxiliar Artificial, Descartável “Spiral Pump”.
No momento, Jatene analisa o sistema de ultracentrifugação da Marinha, em Aramar - para enriquecimento de urânio - tentando adaptá-lo a equipamentos de centrífuga utilizados nas cirurgias cardíacas.
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É uma larga tradição, a dos cardiologistas e cirurgiões cardíacos brasileiros, que passa por Alípio Correa Netto, que formou Zerbini, que formou Jatene, que juntos espalharam conhecimento e generosidade por todo o país.
Em geral, há duas espécies de médico. Um, o missionário, geralmente formado nos cursos de saúde pública. O outro, o especialista, ferozmente individualista por formação, muitos sentindo-se próximos de Deus.
Jatene junto os dois, a ponto de ter se transformado numa referência moral para todos os brasileiros, um desses faróis que iluminará a nacionalidade na grande obra de construção ainda em curso.