terça-feira, 8 de junho de 2010

Governo desenvolve maior projeto de água de reúso do Hemisfério Sul

fonte: Portal do Governo de S. Paulo

O governador Alberto Goldman apresentou o projeto Aquapolo, dedicado à produção de água de reúso para fins industriais, tendo como insumo o esgoto tratado. Capacitado para produzir mil litros por segundo (l/s) de água de reúso, o empreendimento, inédito no Hemisfério Sul e o 5º maior do mundo, abastecerá o Polo Petroquímico do ABC paulista.

Por meio de um contrato que se estende até 2043, e com investimentos de cerca de R$ 252 milhões, as obras foram iniciadas em abril e o fornecimento de água de reúso está previsto para começar 21 meses após a concessão de todas as licenças. Para levar a água de reúso gerada para o Polo Petroquímico, será construída uma adutora de aço com 17 km de extensão, que passará pelos municípios de São Caetano do Sul e Santo André até chegar ao Pólo em Mauá. Durante a fase de implementação, serão gerados cerca de 800 postos de trabalho.


"Nós vamos fazer muito mais do que isso, de maneira que, nos próximos anos, não tenhamos nenhuma preocupação em relação a água que nós precisamos. A água potável que nós precisamos nós vamos ter porque estamos reaproveitando bem a água que já estamos usando", disse o governador Alberto Goldman.

O projeto também contempla a construção de uma Estação de Tratamento Terciário em uma área de 15 mil m² dentro da ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) ABC, da Sabesp, localizada na divisa entre os municípios de São Paulo e São Caetano do Sul. Com isso, a oferta de água tratada para a Região Metropolitana de São Paulo será ampliada. O volume de água de primeiro uso que deixará de ser consumido pelas indústrias é suficiente para abastecer continuamente uma população de 350 mil habitantes, com capacidade para chegar a 600 mil, caso seja estendido a outros clientes.

Água de reúso

Embora não seja potável para beber, a água proveniente do tratamento de esgotos pode ser utilizada para resfriamento de equipamentos, limpeza de ruas, rega de jardins, geração de energia ou em outros processos industriais. Desde a década de 80, a Sabesp recicla a água nas próprias instalações.

Cada litro de água reutilizado corresponde a um litro de água disponível para o abastecimento público, contribuindo para a preservação dos recursos hídricos, bem como redução de custos tarifários a prefeituras, comércio e indústria.

O volume disponível é armazenado e posteriormente retirado por caminhões- tanques ou distribuído por tubulações apropriadas. Atualmente, na Região Metropolitana de São Paulo, são reaproveitados 948 milhões de litros de água por ano. Os custos são reduzidos e variam de R$ 0,48 por mil litros para órgãos públicos e R$ 0,81 por mil litros para empresas privadas.

A primeira estação a oferecer água de reúso foi a de Jesus Neto, na região da Mooca, na capital. As prefeituras de São Caetano, Barueri, Carapicuíba, Diadema e São Paulo também compram a água de reúso para limpeza das ruas, após as feiras livres, rega de jardins.


Ganhos socioeconômico e ambiental

Para dar conta de sua demanda de água de 650 litros por segundo, a área em torno do Polo Petroquímico do ABC capta parte desse volume (500 l/s) do Rio Tamanduateí, tratando o recurso ETE própria. Outros 150 l/s são fornecidos pela rede de abastecimento pública, por meio das estações de tratamento de água (ETA's) Taiaçupeba e Casa Grande, da Sabesp.

Além do ganho ambiental, o Aquapolo proporcionará que o Governo do Estado, por meio da Sabesp, aumente a oferta de água tratada à população da Grande São Paulo. Além de fornecer água de melhor qualidade que o efluente tratado no Rio Tamanduateí, o Aquapolo fará com que o Polo Petroquímico deixe de captar água de suas fontes atuais, economizando mensalmente um volume de 1,684 bilhão de litros de água, o que corresponde a mais de 670 piscinas olímpicas.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Pelo ambiente vale tudo, até virar síndica

Marina Person criou coleta seletiva em seu prédio e só consome orgânicos
19 de maio de 2010 | 10h 14

Alice Lobo - Especial para O Estado de S. Paulo
Não é só no seu programa Viva! MTV que a apresentadora Marina Person fala sobre qualidade de vida e o futuro do planeta. Ela pratica o que prega dentro de casa. Há dois anos, candidatou-se a síndica de seu prédio, indignada com o fato de o condomínio não ter um programa de reciclagem de lixo. “Durante uns dez anos eu reciclei na cooperativa Coopamare. Separava e levava tudo no carro até lá.”


Kelly Fuzaro/MTV
Eleita síndica, Marina comprou lixeiras para lixo reciclado e fez uma parceria que garante o recolhimento do material toda semana. Mas não parou por aí. “O pessoal da limpeza usava aquela máquina d’água de alta pressão para limpar o chão. Proibi. Os faxineiros têm de varrer com vassoura. Só podem jogar um pouco de água na calçada se tiver muito xixi de cachorro”, diz. “A Sabesp devia multar quem usa água para limpar a calçada. Fico mal de ver isso.”

Dentro de casa, as exigências são ainda mais rígidas. Além da reciclagem e da economia de água, Marina divide o carro com o marido ou anda a pé.

A apresentadora come basicamente produtos orgânicos, a maioria deles entregues por um serviço de delivery. As exceções ficam para frutas como a melancia: Marina diz que nunca conseguiu encontrar um fornecedor orgânico. “Se alguém souber onde tem, me avisa.”

O maior dilema de Marina à mesa são as carnes. “Faz muito tempo que não tem carne vermelha em casa”, diz a apresentadora, que era uma carnívora assumida. Frango então, nem se fala. “Tem gosto de remédio e hormônio e ninguém me tira isso da cabeça. Só como se eu estiver em algum lugar muito formal e não tiver jeito.”

Para seu desgosto, o consumo de peixe, teoricamente um produto saudável, também tem implicações ambientais. “A forma como estão pescando é horrível. As redes pegam tudo do fundo do mar e se aproveita muito pouco do que se pesca.” Carne de soja pode ser uma opção? Ela torce o nariz. “Eu odeio, carne de soja é horrível.”

Na cartilha verde de Marina, outros vilões são os mercados. “O que eu acho mais grave é a quantidade de embalagens. Eu fico reclamando, acho que estou virando paranóica”, diz.

A apresentadora não se conforma com o fato de que, para vender frutas, verduras ou legumes, os mercados usem uma bandeja de plástico ou isopor e depois ainda a envolvam com filme plástico. “Quando vou comprar, peço sem plástico e as pessoas não entendem. Eu escolho e levo tudo junto em um saco só até o caixa, que pesa e passa separadamente, mas depois coloca tudo junto de novo em uma só sacola.”

Marina reduziu o uso de sacolinha plástica em casa e tenta sempre reutilizá-las. E aboliu o uso de garrafas PET. “Desde sempre bebo água em caneca na MTV e carrego uma garrafinha reutilizável.”

O lixo nosso de cada dia

Fernanda Fava e Karina Ninni - Especial para O Estado de S. Paulo


O material de trabalho da geóloga Ivone Silva, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é o que o resto das pessoas descarta. Munida de avental, luvas de borracha e uma balança de supermercado, ela gosta de sair a campo para analisar o lixo produzido nas cidades. Entre 2008 e 2009, Ivone separou e pesou 250 quilos de resíduos por dia. Contou apenas com o apoio de dois bolsistas e de dois funcionários da prefeitura para fazer um raio X do lixo em Diadema, no ABC.
A pedido do Estado, Ivone e os universitários Carolina Theóphilo e Paul Fooster repetiram a experiência num universo muito menor. Analisaram o lixo inorgânico produzido durante uma semana em quatro apartamentos, com dois a cinco moradores, de um prédio na região da Consolação, em São Paulo. O resíduo orgânico, que no País responde por cerca de 50% do lixo doméstico, foi descartado para facilitar a estocagem.

O objetivo da iniciativa foi mostrar às pessoas o quanto elas produzem de resíduos. “Nunca tinha parado para refletir sobre isso”, diz Márcia Marino, de 50 anos. Márcia, o marido e os filhos, adultos jovens, foram os campeões na produção de lixo, com 3,58 quilos – total que inclui 20 garrafas PET de refrigerante. Ou seja, em um ano a família produziria pouco mais de 170 quilos – ou o dobro disso, considerando o lixo orgânico. “Vou tentar produtos com embalagens diferentes, como vidro. Aqui em casa a gente manda para reciclagem, então esse lixo não está sendo jogado no ambiente.”

Ivone também analisou os itens que mais pesaram no volume de lixo produzido pelas famílias. Os vilões foram o papelão e o plástico duro ou PET. “São itens geralmente mais pesados”, explica.

A professora da Unifesp lembra que há diferenças gritantes de consumo em áreas pobres ou ricas, mas vê uma tendência clara da população em favor de alimentos prontos, embalados, em porções cada vez menores. “As pessoas têm rotinas corridas e preferem comprar o alho já picado, molho de tomate pronto. Até a água de coco vem em embalagem longa-vida”, afirma Ivone. “As embalagens representam um avanço tecnológico para conservar alimentos, mas depois o consumidor não sabe o que fazer com elas.”

A experiência teve um adendo: analisar os resíduos secos produzidos pelos serviços de delivery de fast food. Os moradores de um dos apartamentos, pai, mãe, filho de 10 anos e empregada doméstica, concordaram em pedir durante quatro noites refeições das redes Habib’s, China in Box, Mc Donald’s e Pizza Hut. Os resíduos foram pesados e separados por material. “O pedido de pizza fica em primeiro lugar, porque o papelão pesa mais, mas o lixo dos outros pedidos também foi relevante pelo grande número de unidades de embalagens”, analisou Ivone.

A Pizza Hut afirmou que as embalagens do delivery são recicláveis. “Nos últimos dois anos, a empresa investiu em novas tecnologias. Reduzimos em mais de 20% o material utilizado.”

O McDonald’s liderou em volume e em número de embalagens. A empresa afirma que tem um compromisso com o ambiente e adota condutas como o princípio dos três R’s: reduzir, reutilizar e reciclar. “Essa política norteia a logística de distribuição e a operação dos restaurantes.”

O Habib’s alegou que suas embalagens incentivam o cliente a reciclar. “Além disso, a rede sempre procura definir embalagens de materiais recicláveis, reduzindo sua variedade e tamanho.”

O China in Box afirmou que a embalagem de seu box padrão usa papel cartão certificado. “A empresa também está prestes a implantar o uso de sacolas biodegradáveis, possivelmente ainda no segundo semestre de 2010.”

Saiba mais:

- Em países ricos, a concentração de resíduos inorgânicos é maior do que a de orgânicos, pelo maior consumo de alimento embalado.

- 1 kg de lixo por habitante por dia é a média do brasileiro. Entre os americanos, esse volume é de 2,25 kg. Em São Paulo, é de 1,5 kg.

- 10% do lixo produzido por dia no Brasil é gerado na capital paulistana, o equivalente a 17 mil toneladas diárias de resíduos.

- R$ 8 bilhões por ano é o que o País poderia lucrar com a reciclagem. Hoje, a coleta seletiva rende de R$ 1,4 bilhões a R$ 3,3 bilhões

Resultados

Período: 6 a 13 de maio

Total das 4 famílias: 8,14 kg

APTO 21

Pai, mãe e dois filhos adultos

Total: 3,58kg


papel+papelão: 29,6%

tetrapak: 5,58%

vidro: 4,46%

latas de alumínio: 1,67%

latas de metal ferroso: 5,02%

isopor: 3,35%

plástico mole: 6,7%

plástico duro + PET: 41,05%

Material: 20 garrafas PET de refrigerante, garrafa de detergente, pote de fermento, pote de molho inglês, 2 copos de plástico de requeijão, pote de sorvete, garrafa de plástico de leite, 5 caixas Tetrapak de leite, 1 caixa Tetrapak de água de coco, 2 maços de cigarro, embalagem de papelão dos correios, 3 revistas, material publicitário, comprovantes bancários, caixas de ovo, caixa de gelatina, caixa de chocolate, caixa de sabão em pó, 2 latas de alumínio de refrigerante, 5 latas (sardinha, leite condensado, milho verde), embalagem de alumínio de desodorante, vidro de requeijão, caixas de isopor de ovos, de comida e de frios, sacolinhas plásticas, saco de arroz, sacos de salgadinho, saco de farinha, saquinho de queijo ralado, saco de batata palha, pacote de miojo, pacote de bis, saquinho de guardanapo

Márcia Marino, dona de casa, 50 anos

"Na semana, consumimos muito refrigerante porque teve uma festa, vieram os amigos dos meus filhos, as namoradas. Nem sabia quanto que eu produzia de lixo, não tinha ideia. Temos que procurar diminuir, tentar produtos com embalagens diferentes. Usar embalagens de vidro em vez de plástico, por exemplo. Aqui em casa a gente manda para reciclagem, leva o lixo para o ponto de coleta. Esta quantidade de lixo não está sendo jogada no meio ambiente. Mas acho que a prefeitura deveria fazer coleta, para as pessoas que não têm locomoção para ir até um ponto de coleta."

APTO 22

República com 5 universitários


Total: 2,36 kg

papel + papelão: 17,79%

Tetrapak: 11,01%

plástico mole: 11,86%

plástico duro + PET: 31,35%

latas de alumínio: 5,08%

latas de material ferroso: 3,38%

vidro: 19,49%

Material: 8 garrafas PET, pote de danone, pote de sorvete, pote de iogurte, pote de tempero, 2 garrafas de vidro de cerveja, latas de alumínio de cerveja, latas de refrigerante, latas de milho, caixa Tetrapak de suco e leite, embalagem de papelão para pizza, McDonald's, embalagem de cookies, maços de cigarro, comprovantes bancários e papel de caderno.

Júlio G. C., 30 anos, publicitário

"Pet, papelão, isopor, seja qual for a espécie de lixo que as pessoas produzam, a gente tem a consciência de que alguns materiais demoram centenas de anos para serem reabsorvidos. Mas será que as pessoas têm que pagar o preço de não consumir os produtos? Acho que é responsabilidade das empresas investir em pesquisa tecnológica, produzir material biodegradável e repassar o custo do valor de produção para os consumidores. Porque, com o aumento da população, o consumo vai ser sempre maior."

APTO 31
Mãe e filho adulto

Total: 0,90kg

papel + papelão: 43,33%

plástico mole: 12,22%

plástico duro + PET: 35,55%

isopor: 3,33%

Tetrapak: 4,44%

embalagens contendo alumínio: 1,11%

restos de madeira: 1,11%

Materiais: embalagens de sabão em pó, chocolate, bobina do rolo de papel higiênico, caixa de remédio, jornal, comprovantes bancários, isopor, garrafa de amaciante, garrafa PET de refrigerante, caixa de suco
embalagem de arroz, bisnagas, pão, sacolinhas.

Marina Ruocco, pedagoga, 52 anos

"Desde o ano passado, a gente começou a separar para a reciclagem. Levo o lixo no ponto de coleta, e não precisa levar separadinho, basta separar orgânico de inorgânico. Não tinha noção de quanto a gente estava acumulando, meu filho fica fora de casa o tempo todo e a gente acaba consumindo menos mesmo. Neste ano a gente tentou reaproveitar tudo aquilo que dava certo, por exemplo, vidro, latinha. Acho que a gente até que está no caminho certo, reduzimos nosso lixo."

APTO 32
Pai, mãe, filho de 10 anos, empregada doméstica


Total: 1,30kg

papel + papelão: 46,15%

plástico mole: 24,61%

plástico duro + PET: 16,92%

isopor: 4,61%

Tetrapak: 7,69%

Material: isopor, 3 garrafas PET, 2 potes de tempero, 6 potes de Danoninho, margarina, embalagem de papelão de congelados, caixas de ovos, bobina de rolos de papel higiênico, embalagem de papelão de batata frita de fast food, copo de papelão de fast food, sacola de papelão, papel de caderno, embalagem de papelão de sedex, embalagem de papelão de doce, embalagem de café, embalagens de remédio, panfletos publicitários, 3 caixas de leite e uma caixa Tetrapak de ervilha, sacolinhas de plástico, saco de arroz, saquinhos de doce e salgadinhos, pacote de miojo, pacote de chocolate, embalagem plástica de papel higiênico, saco de lentilha

Paula Ruocco, 25 anos, empresária

"Nós já encaminhávamos o lixo para reciclagem antes, então separar o lixo para O Estado foi fácil, porque não mudou nada na nossa rotina. Sempre tento comprar coisas que vêm com menos lixo - não gosto muito de embalagem de isopor, por exemplo, porque nao dá para reciclar - e tenho preocupação em evitar as sacolinhas, levo minha própria sacola de pano para fazer compras."

A mesa do delivery

Fast food, lixo gerado em 4 dias: 1,52 kg

Por restaurante e por peso

Pizza Hut: 0,58kg

McDonald's: 0,37kg

Habib's: 0,30kg

China in Box: 0,27kg

Paula Ruocco, 25 anos, empresária

"Os deliveries de fast food deveriam enviar embalagens recicláveis ou biodegradáveis e não investir em tantas caixinhas. Uma ideia é comer no restaurante no lugar de pedir em casa, para evitar uma parte do lixo."

Por material, por peso e por restaurante

Pizza Hut:

papelão: 86,2%

papel: 1,7%

plástico duro + PET: 10,3%

plástico mole: 1,7%

Materiais: papelão, garrafa PET, papel, duas mesinhas de plástico

McDonald's:

papel+papelão: 81%

plástico duro (copos): 16,2%

plástico mole: 2,7%

Material: 4 caixinhas de papelão, sacolas de papel, papel guardanado, embalagem plástica para guardanapo, embalagem de papel para canudo, canudos de plástico, 4 copos plásticos com tampa, 2 potes de plástico de molho

Habib's:

papelão: 73,3%

papel: 6,6%

plástico duro + PET: 20%

Material: 4 caixas de papelão, 1 potinho plástico e 1 garrafa PET

China in Box:

plástico duro + PET: 22,2%

papel+papelão: 59,2%

plástico mole: 7,4%

madeira: 7,4%

embalagens de alumínio: 3,7%

Material: 1 garrafa PET, 2 caixas de papelão, 4 caixinhas, 6 hashi de madeira, 2 saquinos plásticos de biscoito da sorte, saquinhos plásticos