segunda-feira, 24 de junho de 2024

Boulos promete 'choque de zeladoria' e força-tarefa contra roubo de celulares no centro de SP, FSP

 Guilherme Seto

SÃO PAULO

Em debate com a Associação Pró-Centro nesta segunda-feira (24), o pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL) prometeu contratar 5.000 guardas civis metropolitanos em quatro anos e fazer um "choque de zeladoria" na região caso seja eleito prefeito de São Paulo.

Membros da associação, empresários perguntaram ao deputado federal sobre políticas de segurança que ele apresentará para a região.

A imagem mostra um homem de barba e cabelo curto, vestindo um terno cinza, camisa azul e gravata vermelha, falando ao microfone. O fundo está desfocado, com luzes azuis visíveis
Deputado Guilherme Boulos (PSOL) durante sessão na Câmara dos Deputados - Zeca Ribeiro-10.out.2023/Câmara dos Deputados

Em relação ao choque de zeladoria, Boulos fez referência à "teoria da janela quebrada", segundo a qual um local com aparência de ordem tende a inibir o cometimento de crimes.

O psolista também disse que promoverá uma força-tarefa para combater o roubo de celulares na região central da capital, com inspiração do protocolo implementado pelo governo do Piauí, onde mais de 6.000 celulares foram recuperados a partir de uma nova estratégia de investigação envolvendo polícia e Judiciário.

Joel Pinheiro da Fonseca -Lula terá a coragem de ser responsável?, FSP

 Nenhuma regra, por si só, garante seu próprio cumprimento: se governo e Congresso quiserem, ela será violada. Vimos isso com as sucessivas violações do teto de gastos e agora com o novo arcabouço. Quando o tema é gasto público (ou isenção tributária, o que dá no mesmo), Lula e a maioria dos deputados e senadores estão juntos: querem sempre mais. Sem vontade política, as regras são só palavras mortas num papel.

No momento, quem pressiona por algum tipo de responsabilidade fiscal são o ministro da Fazenda, a ministra do Planejamento e os sinais preocupantes que vêm do mercado. Lembrando que responsabilidade fiscal não significa nenhum tipo de austericídio caricato, mas simplesmente que o aumento de despesas se dê de forma controlada, sem que a relação dívida/PIB cresça de maneira explosiva.

0
O presidente Lula durante reunião ministerial, em março, no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 18.mar.24/Folhapress

A situação do Brasil é complexa. Precisamos, ao mesmo tempo, de proteção social, ajuste fiscal e crescimento econômico. No longo prazo, esses fins se reforçam. O objetivo é o bem-estar da população, especialmente dos mais vulneráveis. Para atingi-lo, o Brasil ainda precisa crescer o PIB para se tornar um país desenvolvido. E, para isso, o Estado brasileiro não pode deixar os gastos saírem do controle. Sem ajuste fiscal, inflação e dólar disparam, juros têm que subir, o crescimento desanda, o desemprego cresce, os indicadores sociais pioram.

No presente, contudo, esses três objetivos impõem limites um ao outro. A necessidade de crescer —levando em conta nossa carga tributária já alta— significa que o ajuste não poderá vir apenas da receita; o Estado precisará cortar gastos. Ao mesmo tempo, dado o compromisso social do Estado, o corte de gastos não pode ser feito às custas da base da pirâmide. É preciso identificar privilegiados e passar a conta para eles.

Existem alguns grupos privilegiados óbvios, como juízes e militares. Cortar seus privilégios nem deveria levantar polêmica. Nosso Judiciário custa 1,6% do PIB anualmente. A média de países emergentes é 0,5% ao ano, ou seja, um terço do nosso. Com os militares, o caso é igualmente gritante: o déficit anual da previdência dos militares foi de R$ 49,7 bi em 2023. Em termos per capita, o déficit anual do militar aposentado é de R$ 158,8 mil. O dos demais funcionários públicos, R$ 68,8 mil.

PUBLICIDADE

Do lado da arrecadação, vivemos uma situação disfuncional, na qual qualquer aumento de receita é neutralizado por aumento de gastos obrigatório. O governo arrecada mais, mas ao fazer isso é obrigado a gastar mais também. Na mesma linha, uma série de benefícios são atrelados ao salário mínimo, o que significa que qualquer aumento nele gera custos proibitivos ao governo. No cálculo do economista Marcos Mendes, se os gastos públicos fossem vinculados apenas à inflação, e não ao aumento do salário mínimo ou aumento de receitas, o Estado brasileiro teria uma redução de R$ 131,6 bi em despesas em 2024.

O Estado brasileiro precisa ter a capacidade de escolher onde e quanto gastar. Sem isso, os aumentos obrigatórios de gasto se transformam em mais renda para o funcionalismo e para aposentados, sem benefício à população. Mudar isso não será possível sem comprar brigas difíceis. Na falta delas, sobrará o contigenciamento de gastos, que acaba prejudicando sempre o elo mais fraco, que depende do serviço público. Ou, então, a volta da inflação e da recessão. O caminho a seguir é claro, mas exige uma coragem que o governo até agora não mostrou.

A linha direta de Lula com o futuro presidente do BC, Adriana Fernandes, FSP

Luiz Inácio Lula da Silva terá a chance de escolher, pela segunda vez, o presidente do Banco Central. As comparações com o passado são inevitáveis agora que a indicação se dará em meio a um desgastante tiroteio, que tem produzido mais ruídos do que ganhos para o presidente da República.

Na primeira vez, Lula, eleito para o seu primeiro mandato na Presidência em 2002, escolheu no finalzinho da transição um então ex-banqueiro, na época recém-eleito deputado federal pelo PSDB.

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. - Gabriela Biló - 10.jun.2024/Folhapress

Henrique Meirelles teve seu nome aprovado pelo Senado somente no final de dezembro, faltando poucos dias para a posse de Lula em 1º de janeiro de 2003.

Na época, havia uma grande preocupação no governo eleito de a economia não andar bem, após Fernando Henrique Cardoso ter assinado um acordo de US$ 30 bilhões com o FMI.

O acerto com o fundo previa a liberação de US$ 24 bilhões a partir de 2003 e estava explícito que, para receber o socorro, o novo governo deveria preservar a política macroeconômica do governo FHC.

PUBLICIDADE

O trauma vivido pelo argentino Fernando de la Rúa, que renunciara à Presidência um ano antes, após 36 horas de violência social, caracterizada por saques a supermercados e por manifestações de protesto aos milhares, rondava o novo governo. O medo era de errar na economia.

Acordado com Lula, Meirelles assumiu o compromisso público com senadores de que o novo governo aprovaria lei dando autonomia ao BC.

A promessa feita a senadores (nunca cumprida nos oito anos em que Meirelles foi presidente do BC) provocou forte reação dos parlamentares do PT.

Os bastidores da transição e da escolha de Meirelles foram revelados 20 anos depois no livro "Eles não São Loucos!", do jornalista João Borges —chefe da comunicação do BC na época da transição, quando Armínio Fraga era o presidente da instituição.

Nesta segunda indicação, as circunstâncias econômicas e políticas que cercam a escolha de Lula são diferentes. Lula escolherá o presidente do BC já com quase metade do seu mandato transcorrido e diante de uma conjunção de fatores que tem alimentado incertezas sobre a política fiscal e o futuro das contas públicas.

Em 2002, as contas públicas do setor público consolidado estavam superavitárias em 4% do PIB. No ano passado, primeiro do Lula 3, fechou com déficit de 2,29% do PIB –rombo de R$ 249,12 bilhões. Inflação e juros muito mais altos.

Lula adotou agora a estratégia política de polarização ao carimbar Roberto Campos Neto, atual presidente do BC, como adversário e inimigo do país. Tem insistido na tese de que Meirelles tinha autonomia com ele e que não interferia na autoridade monetária.

A vantagem era que podia demiti-lo, como disse o próprio presidente em entrevista recente: "Meirelles era uma pessoa, era um cara que eu tinha o poder de tirar, como Fernando Henrique Cardoso tirou tantos, como outros presidentes tiraram tantos".

Nem tudo, porém, eram flores com Meirelles, como as falas recentes de Lula indicam. Quando o BC aumentou os juros em 2005, Lula cobrou duramente Meirelles com temor de a alta da Selic se constituir em ameaça real para os dois anos finais do seu mandato, interrompendo o crescimento de 2004. Outros tantos momentos de tensão aconteceram.

A diferença é o que Lula tinha com Meirelles, e que não tem com Campos Neto: linha direta.

Mas o trabalho do próximo presidente do BC (Gabriel Galípolo segue como favorito) dependerá do alcance da resposta que a equipe do ministro Fernando Haddad (Fazenda) dará para afastar as incertezas.

Lula pode ajudar ou piorar mais cenário. Para fortalecer o processo de transição, menos ruído e mais calmaria seriam bem-vindos.

Campos Neto deve sair temporariamente de cena nos próximos dias. Após viagem já marcada para esta quinta-feira (27), deve tirar férias.