terça-feira, 30 de abril de 2024

Rômulo Saraiva- A matemática da filantropia do INSS

 Com o nome de instituição de caridade ou entidade beneficente, redes gigantes de hospitais ou de universidades particulares há décadas são indiretamente financiados às custas da Previdência Social.

Não se trata de estabelecimentos de pequeno ou médio porte, em tese mais precisados do benefício fiscal. Mas de hospitais com 6.000 a 12 mil funcionários ou universidades com 10 mil a 25 mil alunos. Todos os meses o Instituto Nacional do Seguro Social deixa de arrecadar centenas de milhões de reais dessas instituições em prol de elas atenderem pequena parcela do público mais carente.

No Brasil, o setor filantrópico é formado por 27 mil instituições, composta por hospitais, ambulatórios, escolas, universidades, centros de acolhimento, lares de idosos e associações de defesa de direitos sociais.

Em tempos que se reclama tanto do equilíbrio financeiro e atuarial da Previdência e aumento da dívida pública, será que não chegou a hora de rever a política de isenção da contribuição previdenciária? Não seria mais inteligente receber os valores da contribuição previdenciária, ainda que pagando excepcionalmente por eventual serviço utilizado pela população no hospital ou universidade? Até porque temos universidades federais que têm cota para as minorias, bem como a rede do Sistema Único de Saúde que atende gratuitamente a maioria da população carente.

Zanone Fraissat/Folhapress

Em 2019, na última reforma da Previdência, o assunto fazia parte do pacote de mudanças, mas terminou sendo segregado e agora caiu no ostracismo da PEC Paralela, que não saiu do papel. Continua hibernando nas prateleiras do Congresso Nacional. O lobby dos maiores hospitais e universidades do país é muito forte para que esse assunto continue inerte.

Na época, o então senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) precificou em seu relatório do impacto fiscal que a Previdência deixa de arrecadar R$ 120 bilhões, conforme informações da Agência Senado. "Não temos clareza sobre por que faculdades destinadas à elite da elite; hospitais que pagam salários de seis dígitos; ou bem-sucedidos produtores rurais não devem pagar o INSS de seus funcionários. A lógica aqui é simples: se eles não estão pagando, alguém está", pontuou Tasso em seu relatório.

Por outro lado, o Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas (Fonif) defende, na pesquisa "A contrapartida do setor filantrópico no Brasil", que a imunidade tributária de instituições filantrópicas retorna quase dez vezes mais benefícios para a sociedade, com bolsas de estudo, vagas na assistência social e procedimentos hospitalares.

Apesar dessa pesquisa, feita pelo próprio Fonif, a Previdência Social não torna público o número do que ela deixa de arrecadar para os cofres previdenciários. É um assunto praticamente intocado.

É evidente que o setor filantrópico gera benefício para a sociedade. Mas esta também depende da saúde financeira do INSS para prover no futuro as despesas de trabalhadores que não conseguem mais trabalhar, estão doentes ou morrem. Embora o INSS seja tratado com regras onerosas, próprias de um seguro privado, ele tem despesas a honrar. Não são poucas nem baratas. Ter uma previdência social forte é interesse de toda sociedade.

Ao longo das décadas, a arrecadação previdenciária vem sofrendo prolongados abalos, cujo principal algoz é o próprio governo quando resolve renovar a desoneração da folha de pagamento ou mesmo não revendo as isenções previdenciárias dos grandes hospitais e das universidades particulares.

Não existe almoço grátis. Se os grandes hospitais e universidades não pagam a contribuição destinada ao custeio do INSS, alguém vai pagar por isso. Quem tem assumido a conta da filantropia tem sido o trabalhador na hora de se aposentar.

Ela é concretizada nas sucessivas reformas previdenciárias que buscam o equilíbrio financeiro, já que parte significativa da arrecadação previdenciária não é custeada por hospitais e universidades particulares.

O resultado dessa matemática da filantropia são milhares de trabalhadores pagarem, cada um um pouquinho por essa conta, ao precisarem contribuir por mais tempo para se aposentar ou terem o benefício reduzido drasticamente em função das novidades da última reforma previdenciária.

Joel Pinheiro da Fonseca - Precisamos do bolsonarismo moderado, FSP

 Tornei pública minha oposição a Bolsonaro no segundo turno de 2022, por considerar que ele atentava diretamente —e sem o menor disfarce— contra os pilares mais elementares da democracia brasileira, como nosso sistema eleitoral. O 8 de janeiro e as investigações que seguem até hoje mais do que comprovaram esse receio. Bolsonaro era mesmo golpista, preparou um golpe, mobilizou uma parcela da opinião pública para esse fim.

Quem apoia Bolsonaro até hoje não vai jamais admitir que ele fomentou um golpe de Estado. Mesmo com a PF descobrindo que organizadores do 8/1 falavam abertamente de seu objetivo, os apoiadores continuarão dizendo que era apenas "uma manifestação", como tantas outras, no máximo culpada de vandalismo.

Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa ordinária. - Jonas Pereira - 16.abr.24/Agência Senado

Essa negação cumpre o mesmo papel psicológico da negação de parte da esquerda da corrupção nos governos do PT. Aceitando o fato, ficaria muito difícil seguir com o apoio ao líder; por isso é preciso negá-lo até o fim. Viver numa democracia com liberdade de expressão inclui tolerar esse tipo de visão e aceitar que ele pode ter expressão política.

Para nós, de uma direita que nunca aceitou Bolsonaro, resta o trabalho de longo prazo de construir as bases para uma direita liberal no Brasil. O Brasil, contudo, não vai esperar, e o conflito entre petismo e bolsonarismo deve seguir a todo vapor. A direita antibolsonarista permanecerá, por enquanto, como uma minoria valorosa, imprescindível no debate público qualificado mas incapaz de conquistar as multidões.

Sendo assim, e dado que a conservação da democracia depende de as principais alternativas aceitarem as regras do jogo, é importante que se crie espaço para que bolsonaristas moderados ascendam. Por "moderado" quero dizer: que respeite as regras da democracia, como aceitação do resultado das urnas (que é plenamente compatível com fazer sugestões de como melhorá-las) e repúdio público ao uso da violência mesmo quando ele parte de seu próprio campo.

O bolsonarismo surgiu como uma resposta à revolta contra o sistema que tomou o Brasil desde 2013. De alguma maneira, há um profundo mal-estar com a forma de se fazer política no Brasil: a falta de transparência, os conchavos, a falta de compromisso, a distância para com o eleitor, o descaso com o dinheiro público e, coroando e simbolizando tudo isso, o desvio ilegal desse dinheiro, a corrupção. Seja em Brasília ou nas ruas, era preciso impor ordem.

Frente a uma política corrompida, Bolsonaro representou a aposta na antipolítica, na esperança de que o autoritarismo trouxesse a integridade perdida por uma democracia corrupta. Felizmente, fracassou. Mas seus valores podem encontrar formulações compatíveis com a ordem democrática.

Não será a primeira nem a última vez que movimentos extremistas moderam-se para entrar no jogo. Grupos diretamente envolvidos com a luta armada e o terrorismo, como o IRA e as Farc, foram capazes de ceder suas armas e aceitar a dinâmica da democracia. Ao fazê-lo, deixam um gosto azedo na boca de todos os que gostariam de extirpá-los e a tudo que representam.

Democracia é também aprender a conviver com o diferente e vencê-lo na base da persuasão, não das armas. Punindo quem cometeu crimes, é preciso deixar que seus correligionários que respeitam as regras do jogo sigam participando dele. O TSE pode tirar da corrida um concorrente infrator; não pode silenciar metade da população.

PF usa scanner corporal e prende 18 pessoas com drogas no estômago no aeroporto de Guarulhos. FSP

 

BRASÍLIA

Polícia Federal prendeu 18 passageiros no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, tentando embarcar com drogas em cápsulas, dentro do corpo, com destino à Europa.

Com a utilização do scanner corporal, a PF prendeu os passageiros que tentavam embarcar com a substância ilícita para França Suíça. As prisões aconteceram entre os dias 29 e 30 de abril.

Policial Federal mostra o scanner corporal em uso no aeroporto
Policial federal observa imagem gerada por scanner corporal em aeroporto; equipamento é usado para descobrir drogas engolidas por passageiros - Divulgação/PF

Todos foram submetidos ao scanner após serem entrevistados pelos policiais federais.

Os suspeitos foram conduzidos ao Hospital Geral de Guarulhos e ficarão sob custódia da Guarda Municipal da cidade.

Após receberem alta hospitalar, os presos serão apresentados à Justiça Federal e poderão responder pelo crime de tráfico internacional de drogas.

Segundo a Polícia Federal, a apreensão de passageiros com drogas no corpo cresceu nos últimos anos. Foram 53 prisões em flagrante em 2024, 44 em 2023, 7 em 2022 e apenas uma prisão em 2021.