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Os sinais eram vários, todavia causou surpresa, até aos mais pessimistas, o vigor com que se deu a retomada do desmatamento na Amazônia. Entre agosto de 2015 e julho de 2016, a área desflorestada alcançou 7.989 km².O incremento foi de 29% sobre a devastação verificada no período anterior, que por sua vez também registrara aumento de 24%. Dois anos seguidos com taxas acima de dois dígitos sugerem que se interrompeu a louvável redução do desmatamento iniciada em 2005.
Aqueles quase 8.000 km² parecem pouco (0,2%) diante da imensidão da floresta amazônica (cerca de 4 milhões de km² no Brasil). Mas na área destruída em um único ano cabem quase meio bilhão de árvores e o equivalente a cinco municípios como São Paulo.
É fato que ainda não se chegou nem perto das cifras exorbitantes do decênio 1995-2005, quando a média anual ultrapassou os 20 mil km².
Nessa toada, de todo modo, mais de 420 mil km² de mata se perderam desde 1988, quando se iniciou o monitoramento por satélite —superfície maior que os Estados de São Paulo e Ceará somados.
Trata-se de uma má notícia também para cumprir as obrigações assumidas pelo Brasil no quadro do Acordo de Paris, adotado por 195 nações há quase um ano.
O governo brasileiro comprometeu-se a reduzir suas emissões de carbono (gases que agravam o efeito estufa) até 2025 em 37%, sobre os níveis de 2005.
Como 46% da poluição climática gerada por aqui provém da chamada mudança do uso da terra, principalmente derrubada e queima de florestas, o setor é prioritário para o cumprimento da meta. Tanto é assim que o governo prometeu zerar o desmatamento até 2030 —mas apenas aquele realizado ilegalmente.
Organizações envolvidas no combate ao desmate veem nisso certa tolerância com crimes ambientais, pois é certo que o recrudescimento na taxa não se deu unicamente por derrubadas feitas com autorização de órgãos ambientais.
O temor predominante em quem encara com seriedade as metas internacionais assumidas pelo Brasil reside na mudança do cenário político no Congresso.
As facções parlamentares avessas a valores ambientais ganharam influência e têm patrocinado iniciativas retrógradas para incentivar combustíveis fósseis como carvão e diesel.
O ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho (PV-MA), tem buscado contra-arrestar essa tendência. Em Brasília, porém, as bancadas contrárias a prioridades ambientais já se movimentam para derrubá-lo. Falta um sinal claro do Planalto de que não terão sucesso.
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