CELSO MING - O ESTADO DE S.PAULO
15 Junho 2014 | 02h 06
O Brasil está perdendo grande oportunidade de ampliar o uso de fontes alternativas de energia. Apesar do aumento da produtividade e da redução de custos, a energia eólica corresponde a apenas 1,1% na matriz elétrica brasileira e a fonte solar nem sequer é citada no Balanço Energético Nacional 2014 (BEN).
Em média, o megawatt-hora (MWh) gerado pelos ventos foi contratado por R$ 129,97 no leilão realizado no último dia 6 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), valor 30% mais baixo do que os R$ 184,65 alcançados no primeiro leilão, em 2009. É uma energia já mais barata do que a gerada nas Pequenas Centrais Hidrelétricas - PCH (R$ 161,56) ou nas centrais processadoras de bagaço de cana (R$ 174,83), óleo combustível (R$ 192,52) e óleo diesel (R$ 203,59).
A redução de custos deveu-se principalmente à instalação no Brasil de fábricas de aerogeradores, pás e ao desenvolvimento de equipamentos mais potentes, como aponta Eliane Fadigas, professora do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE/USP). "No Brasil, os ventos apresentam uma produtividade média de 42%, enquanto a europeia é de 25%", explica Elbia Melo, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeólica).
Velhos problemas ainda são enorme encrenca. Para Guilherme Valle, especialista em Energia da consultoria PwC, os principais entraves são os atrasos na instalação das redes de transmissão e as complicações que envolvem a concessão de licenciamento ambiental para instalação dos parques eólicos.
Eliane Fadigas também fala das dificuldades de natureza fundiária. Muitas áreas propícias à instalação dos cataventos não são regularizadas e não dispõem sequer de registro no Incra, por onde iniciativas assim têm de começar.
Nos Estados Unidos e na Europa, onde os parques eólicos eram considerados boa resposta ambiental, cresce a oposição de ambientalistas, pelos altos índices de mortandade de pássaros, geração de ruídos e "poluição visual".
Elbia Melo, da Abeólica, argumenta que as licenças ambientais brasileiras já consideram as rotas migratórias de aves desde 2000. Além disso, os avanços tecnológicos elevaram a altura das torres, o que tem evitado as colisões de pássaros e de morcegos. Ela também considera que o barulho deixou de ser problema, já que os equipamentos mais recentes produzem ruídos de até 50 decibéis, o mesmo produzido pelo funcionamento de um escritório situado na Avenida Paulista.
"No Brasil, os parques ficam fora dos perímetros urbanos e não geram esses impactos", diz. A Abeólica calcula que a participação da fonte eólica na matriz elétrica brasileira atingirá 5,2% até 2022.
Enquanto o setor eólico experimenta crescimento virtuoso, a geração de energia por fonte solar ainda engatinha. Em leilão realizado em novembro de 2013, nenhum dos 31 projetos emplacou. Como não sai negócio, não há preço de referência, informa a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Outro leilão está previsto para o dia 10 de outubro.
A coordenadora do Grupo de Estudos em Energia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Antônia Diniz, reconhece que o setor enfrenta altos custos e a dependência de componentes importados para as células fotovoltaicas, a alma desse equipamento, que convertem a luz em energia elétrica.
A geração de eletricidade a partir de energia solar em residências é regulamentada pela Aneel desde 2012, mas os custos ainda são altos. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) calcula que a instalação de placas fotovoltaicas não sai por menos de R$ 20 mil para atender ao consumo médio de 300 quilowatts-hora por mês de uma residência em São Paulo. O consumidor levaria entre 7 e 14 anos para ter o retorno do investimento em economia na conta de luz, a depender da eficiência das placas na geração de energia.
Relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) mostra que 80% dos investimentos em energia na Europa nos últimos 10 anos foram para fontes renováveis, 60% dos quais só para energia eólica e solar fotovoltaica. Para Suzana Kahn, professora da Coppe/UFRJ, o Brasil pode ficar para trás. "Independentemente dos problemas de abastecimento, essa é uma questão de segurança energética", diz. Aliadas a outras fontes geradas localmente, as energias eólica e solar podem ajudar a reduzir a dependência brasileira na importação de combustíveis. / COLABOROU DANIELLE VILLELA
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