O ESTADO DE S.PAULO
15 Junho 2014 | 02h 06
Recursos para as empresas aplicarem em projetos de inovação existem, boa parte está sendo utilizada, mas os resultados em termos de ganhos de produtividade e competitividade são poucos. A contínua perda de participação do produto nacional no mercado doméstico de bens industrializados, constatada em pesquisas frequentes das associações representativas do setor, está se transformando na prova mais dramática de que, se não se tornar mais competitiva, e com rapidez, a indústria brasileira poderá ser condenada a contentar-se apenas em atender a nichos de um mercado que já dominou.
Esta talvez seja a conclusão mais objetiva do Fórum Estadão - Inovação, Infraestrutura e Produtividade, realizado pelo Estado, em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que reuniu representantes do governo, empresas e instituições de pesquisa.
Como ficou claro nos debates e exposições, embora indispensável, por si só a inovação - isto é, a criação, modernização ou transformação de sistemas e métodos produtivos, de produtos ou serviços e de modelos de gestão e de comercialização que abram ou ampliem mercados - não é capaz de assegurar o aumento da competitividade de uma empresa ou de uma economia. Ela precisa vir acompanhada de outros fatores, como infraestrutura adequada, sistema econômico que facilite e estimule a atividade empresarial, além de disponibilidade de recursos para investir.
Entre os pontos positivos destacados durante o Fórum Estadão está o fato de que cresceram, nos últimos anos, os recursos públicos destinados a apoiar as empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento. Eles estão disponíveis por meio de programas criados pela Finep e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e há demanda, uma indicação positiva de que o tema inovação ganhou relevância no meio empresarial, como observou o presidente da Finep, Glauco Arbix.
É preciso reconhecer, porém, que, apesar dessa melhora, o Brasil investe pouco em pesquisa e desenvolvimento. A diretora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para a área de inovação, Fernanda De Negri, lembrou que, nos países desenvolvidos, as empresas investem de 2% a 2,5% do PIB em pesquisa em desenvolvimento, enquanto no Brasil elas investem apenas 0,5% do PIB.
Exemplos de outros países deixam claro que as empresas mais inovadoras e de crescimento mais rápido basearam sua expansão na conquista do mercado internacional. O foco no mercado externo, onde certamente são muito maiores as oportunidades do que no mercado doméstico, implicou a necessidade de oferta de produtos e serviços inovadores e, sobretudo, competitivos. "Quem atua no mercado externo é mais competitivo e inova mais", observou, durante o Fórum Estadão, o secretário de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Nelson Fujimoto. Boa parte das empresas brasileiras, no entanto, concentrou sua atenção no mercado interno, que durante muito tempo foi fechado a diversos produtos importados, o que retardou a busca de produtividade e competitividade.
Além de mais recursos para pesquisa e desenvolvimento que levem à inovação, especialmente do setor privado, o avanço da competitividade da economia brasileira requer outras medidas, muitas delas de iniciativa do poder público.
É preciso dotar o País de infraestrutura suficiente para facilitar o escoamento da produção e reduzir os custos da atividade produtiva. Os países de rápido crescimento nas últimas décadas, como os asiáticos, demonstraram que uma economia só é capaz de crescer e se modernizar rapidamente se dispuser de pessoal preparado, o que exige um sistema educacional de qualidade. Há, no Brasil, profissionais qualificados, mas em número insuficiente para permitir o salto de competitividade que o País precisa dar. Além disso, as instituições de pesquisa, especialmente as ligadas às universidades, precisam aproximar-se das empresas.
Em inovação e produtividade, dinheiro é importante, mas não é tudo.
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