FOLHA DE SP - 09/07
Um dos revisionismos mais evidentes da história brasileira diz respeito às leituras do levante que se iniciou em 9 de julho de 1932.
Faz parte do exercício da historiografia conservadora, em sua matriz paulista, vender a ideia de que uma típi- ca revolta oligárquica teria sido uma revolução popular. Dessa maneira, somos obrigados, desde 1997, a comemo- rar as aspirações da elite paulista de outrora em retomar o controle do país.
Não se trata aqui de fazer a apologia do varguismo, o que seria um exercício míope e equivocado.
A ditadura instaurada por Getúlio Vargas a partir de 1937 foi um dos momentos mais sombrios da história brasileira. Querer vender, entretanto, a ideia de que os paulistas se revoltaram para fundar uma institucionalidade democrática e defender a legalidade constitucional é algo da ordem da piada malfeita.
Expulsa do poder por ser o eixo de uma República de fachada, assentada sobre os piores laivos autoritários e periodicamente sacudida por revoltas populares, a eli-te paulista procurou criar para si uma história de gló- ria e resistência.
O descontentamento po- pular com os pilares da Re- pública oligárquica e com a sua política dos governado- res era de ordem tal que go- vernos como o do mineiro Arthur Bernardes somente fo-ram possíveis sob estado de sítio permanente.
Outros, como o do presidente Washington Luís, governaram sob a Lei Celerada, de 1927, que censurava a imprensa e restringia o direito de reunião. Contudo, na defesa entusiasta do "espírito insubmisso de nosso povo", tal descontentamento desaparece.
O fato impressionante é como tal momento é usado atualmente por alguns que procuram recriar nossa história como se ela fosse a luta contínua contra o "perigo populista".
Estes que têm um cuida- do especial para com o risco populista, sempre prontos a denunciar as pretensas derivas em direção às modalidades de "chavismo", são estranhamente complacentes com os fundamentos oligárquicos dos Poderes no Brasil e em nosso Estado de São Paulo. Talvez porque eles gostem mesmo é de uma República nos moldes da que existia no país até 1930.
Isso apenas demonstra como o escritor George Orwell estava certo ao lembrar que "quem controla o passado controla o futuro".
Os embates históricos têm a característica de nunca terminarem completamente, de ressoarem como matriz de compreensão das lutas presentes. Por isso, quando levarmos hoje nossas crian- ças para desfiles, seria bom nos perguntarmos o seguin- te: o que estamos mesmo comemorando?
Um dos revisionismos mais evidentes da história brasileira diz respeito às leituras do levante que se iniciou em 9 de julho de 1932.
Faz parte do exercício da historiografia conservadora, em sua matriz paulista, vender a ideia de que uma típi- ca revolta oligárquica teria sido uma revolução popular. Dessa maneira, somos obrigados, desde 1997, a comemo- rar as aspirações da elite paulista de outrora em retomar o controle do país.
Não se trata aqui de fazer a apologia do varguismo, o que seria um exercício míope e equivocado.
A ditadura instaurada por Getúlio Vargas a partir de 1937 foi um dos momentos mais sombrios da história brasileira. Querer vender, entretanto, a ideia de que os paulistas se revoltaram para fundar uma institucionalidade democrática e defender a legalidade constitucional é algo da ordem da piada malfeita.
Expulsa do poder por ser o eixo de uma República de fachada, assentada sobre os piores laivos autoritários e periodicamente sacudida por revoltas populares, a eli-te paulista procurou criar para si uma história de gló- ria e resistência.
O descontentamento po- pular com os pilares da Re- pública oligárquica e com a sua política dos governado- res era de ordem tal que go- vernos como o do mineiro Arthur Bernardes somente fo-ram possíveis sob estado de sítio permanente.
Outros, como o do presidente Washington Luís, governaram sob a Lei Celerada, de 1927, que censurava a imprensa e restringia o direito de reunião. Contudo, na defesa entusiasta do "espírito insubmisso de nosso povo", tal descontentamento desaparece.
O fato impressionante é como tal momento é usado atualmente por alguns que procuram recriar nossa história como se ela fosse a luta contínua contra o "perigo populista".
Estes que têm um cuida- do especial para com o risco populista, sempre prontos a denunciar as pretensas derivas em direção às modalidades de "chavismo", são estranhamente complacentes com os fundamentos oligárquicos dos Poderes no Brasil e em nosso Estado de São Paulo. Talvez porque eles gostem mesmo é de uma República nos moldes da que existia no país até 1930.
Isso apenas demonstra como o escritor George Orwell estava certo ao lembrar que "quem controla o passado controla o futuro".
Os embates históricos têm a característica de nunca terminarem completamente, de ressoarem como matriz de compreensão das lutas presentes. Por isso, quando levarmos hoje nossas crian- ças para desfiles, seria bom nos perguntarmos o seguin- te: o que estamos mesmo comemorando?
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