domingo, 14 de julho de 2013

Número de médicos não segue crescimento de infraestrutura de saúde


Dados do Ministério da Saúde mostram que, nos últimos cinco anos, total de equipamentos teve alta de 72,3%, leitos subiram 17,3% e unidades de atendimento, 44,5%, enquanto a oferta de profissionais cresceu apenas 13,4%; entidades de classe discordam

13 de julho de 2013 | 16h 18

Bruno Deiro e Rodrigo Burgarelli - O Estado de S.Paulo
Nos últimos cinco anos, a infraestrutura de saúde no Brasil cresceu em ritmo mais acelerado do que o número de médicos que atendem a população. No período, o total de equipamentos de saúde registrados pelo governo federal teve alta de 72,3%. O número de leitos hospitalares subiu 17,3% e o de estabelecimentos de saúde, 44,5% no Brasil. A oferta de médicos, porém, cresceu apenas 13,4% - ou seja, menos do que os principais índices de infraestrutura de saúde.
Os dados dizem respeito às redes pública e privada e foram compilados pela reportagem com base no sistema DataSUS, banco de dados oficial do Ministério da Saúde que contém as informações de todos os estabelecimentos registrados no órgão, como hospitais, consultórios, clínicas e postos de saúde. Entre os equipamentos relacionados no levantamento, constam qualquer tipo de aparelho de saúde existente nos locais, como raio X e endoscópio.
Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, os números mostram que a falta de médicos é hoje o principal gargalo para que várias novas unidades de saúde comecem a funcionar. "No começo do ano, fizemos uma chamada nacional para médicos brasileiros irem para a periferia das grandes cidades e para o interior. Havia 13 mil vagas em unidades de saúde já estruturadas, mas faltavam médicos para abrir. E foram obtidos apenas 4 mil profissionais", afirmou Padilha ao Estado.
Os números do DataSUS mostram que, de fato, os equipamentos de saúde continuam concentrados nos Estados mais ricos - São Paulo, por exemplo, tem três vezes mais equipamentos por habitante do que o Maranhão. Entretanto, os locais onde houve o maior crescimento nos equipamentos de saúde registrados pelo DataSUS foram os Estados do Norte - Roraima, Rondônia, Acre e Pará mais do que dobraram a quantidade de aparelhos desde 2008.
Como esses são os locais em que hoje há um menor número de médicos, é na Região Norte que há mais equipamentos por profissional. Isso, entretanto, não significa que não falte infraestrutura nesses locais. Já em cidades como São Gonçalo do Rio Baixo, a 84 km de Belo Horizonte (MG), apesar do programa de médico de família, moradores precisam viajar para ir a um hospital.
Críticas. As entidades médicas, no entanto, defendem que não há falta de profissionais. O principal problema, segundo os representantes de classe, é a falta de uma carreira estruturada para os médicos na rede pública, além da necessidade de melhoria nas condições de trabalho nos locais mais remotos.
Cid Célio Jayme Carvalhaes, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), afirmou que o aumento numérico verificado não significa uma infraestrutura mais desenvolvida nessas regiões. "Um dos principais problemas, que vale tanto para número de médicos quanto para a estrutura, é a distribuição desigual", disse. "Os hospitais entre a região da Avenida Paulista até o Jabaquara têm mais tomógrafos do que a França inteira. Enquanto isso, em alguns bairros na zona leste da cidade não há nenhum."
O dirigente, um dos líderes do protesto realizado por associações médicas que reuniu cerca de 5 mil em São Paulo no dia 3, manteve a posição da entidade de que o problema não é a carência de médicos. "Quase um terço dos médicos do País está em São Paulo, e isso não garante a qualidade de atendimento no Estado", afirmou Carvalhaes.
Para o dirigente, a grande diferença entre o crescimento no número de equipamentos disponíveis e o de novos profissionais não sugere que haja um excedente de estrutura parada. "O aumento impressionante no número de equipamentos revela apenas uma maior exploração comercial em lugares onde já há atendimento."
Cidade no Pará tem apenas 1 médico para 29 mil pessoas
Gurupá, no Pará, é a cidade brasileira que registra o menor número de médicos por habitantes do País, segundo o DataSUS. Apenas um médico atende no município, que tem cerca de 29 mil habitantes. Uma cidade no interior de São Paulo revela o tamanho da disparidade regional - Águas de São Pedro tem uma população dez vezes menor do que Gurupá, mas 15 médicos para atendê-la. O município com mais médicos por habitante é Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Lá, há um profissional para cada 176 moradores. A média brasileira é de um médico para cada 658 habitantes. / R.B.

‘Carreira tem de ter dedicação exclusiva e controle rigoroso’, diz Padilha

Ministro da Saúde defende o programa 'Mais Médicos' e afirma que concorda com a estruturação da carreira

13 de julho de 2013 | 16h 23
O Estado de S.Paulo
Para o titular da pasta da Saúde, Alexandre Padilha, há um descompasso entre a oferta e a demanda de médicos que deve ser resolvido no curto prazo. Ele defendeu o programa Mais Médicos e afirmou que concorda com a estruturação da carreira, desde que haja dedicação exclusiva e controle rigoroso de presença.
Para Padilha, falta de profissionais é ‘crítica’ - Elza Fiuza - Abr/Divulgação
Elza Fiuza - Abr/Divulgação
Para Padilha, falta de profissionais é ‘crítica’
Qual é o maior problema hoje da saúde brasileira?
ALEXANDRE PADILHA - O programa Mais Médicos busca enfrentar os principais problemas de forma conjunta. Vamos continuar investindo e ampliando a infraestrutura, com mais de R$ 12 bilhões em investimentos. E queremos formar mais médicos e mais médicos especialistas no Brasil. Esses dados mostram que já avançamos na infraestrutura de algumas unidades de saúde, que hoje têm como principal gargalo para funcionar a falta de profissionais.
Como essa questão da infraestrutura foi tratada durante a formulação do programa?
ALEXANDRE PADILHA - Nós levantamentos o número de unidades de saúde que estão ficando prontas e onde o maior problema para funcionar é a falta de médicos. Vamos continuar investindo para melhorar a infraestrutura, mas a questão do médico é crítica, porque o período para formar um médico demora de 6 a 8 anos. Por isso precisamos ter medidas já, imediatas, para levar médicos em unidades que já estão prontas e que não abrem por causa disso.
Entidades médicas dizem que a falta de uma carreira estruturada e o calote de algumas prefeituras afastam profissionais.
ALEXANDRE PADILHA - Por isso estamos fazendo uma chamada nacional de médicos que vão receber diretamente do Ministério da Saúde os R$ 10 mil por mês. Agora, nós achamos que é importante debater uma carreira pública para médicos, mas ela tem de ser de dedicação exclusiva, ou seja, ele não poderá ter clínica particular. Além disso, a proposta tem de ter critérios rigorosos de controle da presença do profissional na unidade de saúde.
O projeto de aumentar em dois anos o curso de Medicina para atuação profissional na rede pública também ajudará a minimizar a falta de médicos?
ALEXANDRE PADILHA - É importante frisar que o estudante vai atuar em uma unidade de saúde próxima da faculdade em que estudou. Esse modelo dos dois anos será implementado para os alunos que entrarem a partir de 2015 - ou seja, só em 2021 começará a efetivamente acontecer. Uma das ações do Mais Médicos é levar mais cursos de Medicina para o interior, e isso certamente significará uma contribuição para esse cenário. / R.B.

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