sexta-feira, 17 de maio de 2013

Casas populares devem superar padrão antigo


Autor(es): Por Marleine Cohen | Para o Valor, de São Paulo
Valor Econômico - 17/05/2013

Em pleno século XXI, o Brasil ainda é prisioneiro dos paradigmas da habitação popular dos anos 70. Está construindo as mesmas casas que o antigo BNH (Banco Nacional da Habitação) e, num futuro próximo, elas não serão mais aceitas pela população a que se destinam, pois não incorporaram novos conceitos, materiais e parâmetros, nem se adequaram às atuais exigências da sociedade.

A constatação, feita pelo professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e membro da coordenação das Engenharias da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Wanderley John, encontra eco na reforma preconizada pela Agência Brasileira da Inovação (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que em 2010 fez uma chamada pública para formar uma rede de pesquisadores de universidades públicas interessados em lançar um novo olhar sobre a forma de planejar habitação de interesse social (HIS) no Brasil.

Estudar novas políticas, tipos arquitetônicos e métodos construtivos, incorporando tecnologia social no âmbito do programa Minha Casa Minha Vida, era o principal objetivo da convocação, atendida por sete das principais universidades do país mais a Fiocruz, em torno da chamada Rede Finep. A um dos grupos selecionados - o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ippur/UFRJ) - coube a tarefa de elaborar 13 projetos de arquitetura alternativos ao modelo tradicional de conceituar, projetar e construir HIS.

Resultado: a inovação incorporada na planta dos conjuntos habitacionais doravante construídos pelo governo federal já pode ir muito além de tijolos e cimento, e empregar como matéria-prima noções de sustentabilidade e integração de espaços, sem deixar de acolher conceitos arraigados nas comunidades, como a construção de "puxadinhos" e o traçado de vielas para locomoção.

Usando como cenário a favela da Rocinha - com seus desafios em forma de elevada taxa de ocupação do solo, desníveis das encostas, péssimas condições de acessibilidade e mobilidade; travessas, escadarias e becos onde vicejam doenças provocadas pela falta de ventilação e insolação -, a equipe chefiada pelo arquiteto Luiz Carlos Toledo projetou unidades que variam desde um pequeno estúdio (conjugado) com cerca de 22 m 2 a apartamentos de quatro dormitórios, com 85 m 2, "concebidos para atender à diversidade das famílias contemporâneas em termos de tamanho e composição familiar". Ainda segundo Toledo, "os tipos foram projetados de modo a dar às unidades habitacionais a maior flexibilidade possível, admitindo diversos arranjos dos cômodos de uma mesma edificação e, no caso das HIS evolutivas, o aumento da área da unidade".

De fato, segundo o arquiteto Alberto Barbour, sócio da Urdi Arquitetura, esta é a primeira diretriz da moderna construção civil: "À lógica dos "puxadinhos" desorganizados de antigamente se sobrepõe, hoje, uma estruturação modelada, que permite o crescimento da casa de dentro para fora, impulsionada por novas tecnologias que facilitam o processo de construção".

Ao lado da opção por um processo de montagem baseado em sistemas estruturais pré-fabricados e componentes arquitetônicos industrializados - painéis de concreto pré-fabricados, estruturas metálicas (pilares, vigas e lajes), esquadrias e painéis de fechamento de fachadas em PVC ou chapa dobrada e paredes de gesso cartonado, entre diversos materiais modernos -, a equipe do arquiteto Toledo também procurou dotar os projetos modulares de espaços próprios para atividades comerciais e de prestação de serviços, que possam complementar a renda das famílias. Pensando nisso, foram criados pilotis nos prédios para agregar espaços de comércio e lazer às construções.

Este é um outro olhar inovador sobre as HIS lançado pelo Ippu/UFRJ, explica a arquiteta Verônica Natividade, integrante da equipe: "Procuramos responder ao desafio de um melhor aproveitamento da infraestrutura urbana, atribuindo às unidades um papel ampliado, que vá além do fornecimento do abrigo", explica, lembrando que "se adotou como premissa que as HIS podem e devem ter um papel relevante na organização espacial de aglomerações que surgiram, cresceram e se consolidaram sem nenhum tipo de planejamento".

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