O Estado de S.Paulo
Não bastassem os inúmeros obstáculos que enfrentou antes de seu início e continua a enfrentar, o que vem elevando seu custo, a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, foi escolhida como refém preferencial de índios que se opõem a esta e a outras usinas ainda em estudo. As frequentes interrupções das obras, por ações dos indígenas ou por greves, impõem custos adicionais e deixam dúvidas sobre o cumprimento do cronograma, que prevê o início da geração em fevereiro de 2015.
Entre 140 e 170 indígenas conseguiram, pela segunda vez no mês de maio, paralisar o trabalho de cerca de 4 mil operários do Sítio Belo Monte, um dos três canteiros da usina. A ocupação retardará o andamento das obras e poderá adiar sua conclusão, o que imporá perdas para o grupo de empreiteiras contratado para sua execução, para o consórcio que está pagando as obras e será responsável pela operação de Belo Monte e para o País. É do interesse geral que, uma vez iniciada, uma obra desse porte seja concluída com a presteza possível, para gerar os benefícios que dela se esperam.
O governo afirma que Belo Monte será a terceira maior usina hidrelétrica do mundo (atrás de Três Gargantas, na China, e de Itaipu). Sua potência instalada, que deverá ser de 11.233 MW, justifica essa classificação, mas somente uma parte desse total (4.500 MW) será utilizada com regularidade.
Problemas políticos, técnicos, financeiros, ambientais e trabalhistas têm dificultado a construção da usina. A ocupação de canteiros por índios tornou mais difícil o cumprimento do cronograma pelo Consórcio Construtor de Belo Monte, que considera a situação tensa e já alertou o governo para o risco de conflitos entre trabalhadores e indígenas.
As duas ocupações de Belo Monte em maio foram feitas por índios que vivem numa reserva localizada em Jacareacanga. Eles tiveram de viajar cerca de 800 quilômetros até o local onde a usina está sendo construída. Eles são contra a usina de Belo Monte e exigem que o governo suspenda os estudos para a construção de um complexo hidrelétrico no Rio Tapajós. Dizem que só deixarão o canteiro depois de negociar com um membro do governo federal.
Durante a ocupação realizada no início de maio, a Justiça Federal determinou à Polícia Federal que apurasse "a possível participação de não índios na manifestação". O consórcio construtor obteve, na ocasião, decisão do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região determinando a reintegração de posse do canteiro, com o uso de força policial, se necessário. A desocupação foi pacífica. O consórcio afirma que a decisão da Justiça continua em vigor.
Somando-se as interrupções dos trabalhos por ocupações de canteiros e greves, já são mais de 90 dias de paralisação. As empreiteiras calculam que cada dia de paralisação implica perdas de R$ 10 milhões. Benefícios concedidos aos trabalhadores em negociações para encerrar greves igualmente impõem custos adicionais. Tanto o consórcio construtor como o Grupo Norte Energia, que o contratou e será responsável pela operação de Belo Monte, afirmam que o ritmo das obras se intensificará no segundo semestre, quando o número de trabalhadores deverá subir dos atuais 23 mil para 28 mil, o que poderá aumentar a tensão na área de relações trabalhistas.
Não é de estranhar, por isso, que, orçada pelo governo inicialmente em R$ 16 bilhões, a usina tenha sido leiloada por um valor acima de R$ 19 bilhões. Já no fim do ano passado, seu custo tinha sido revisto para R$ 28,9 bilhões. Há tempos, o consórcio construtor negocia com a Norte Energia um reajuste de R$ 1 bilhão.
Será basicamente o setor público que arcará com o encarecimento da obra, uma das principais peças do Programa de Aceleração do Crescimento. A iniciativa privada pouco se interessou pelo empreendimento, que só saiu do papel com a participação de estatais e de fundos de pensão de estatais nos dois consórcios que disputaram a obra em 2010. Além disso, sua execução conta com pesados financiamentos públicos.
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