quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Colégio Bandeirantes abre turmas para alunos mais novos em meio a disputa de escolas de elite de SP

 Renata Cafardo, O Estado de S.Paulo

27 de outubro de 2021 | 10h10

Para competir em um mercado recentemente invadido por grandes grupos e novas escolas internacionais, o tradicional Colégio Bandeirantes, de São Paulo, vai começar a atender crianças a partir dos 6 anos. Conhecido pelo foco no conteúdo e no vestibular, a escola agora oferecerá artes, música, expressão corporal e dois recreios por dia para os alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental (1º ao 5º ano). O Bandeirantes foi fundado em 1944 e até hoje só tinha adolescentes entre seus estudantes - do 6º ano ao ensino médio.

 “Meu avô dizia que as tintas da aula de Artes não podiam manchar a carteira porque, depois, sujariam o caderno de Matemática. Agora não é mais assim, é mão na massa”, conta a diretora estratégica do Bandeirantes, Helena Salles Aguiar, neta do fundador, o engenheiro Antonio de Carvalho Aguiar. As matrículas para o fundamental 1 do Bandeirantes começam já no primeiro semestre de 2022, com aulas em 2023. A aposta é alta: serão abertas seis turmas de cada série, num total de 700 alunos novos e mensalidades em torno de R$ 5 mil.

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Novo prédio do Colégio Bandeirantes, em São Paulo  Foto: Colégio Bandeirantes/Reprodução

Nos últimos anos, o mercado de escolas particulares tem visto o investimento de grandes grupos, como o SEB, que aposta em ensino bilíngue no Pueri Domus e na nova Concept. O Grupo Bahema também anunciou a ampliação da Escola da Vila, com novos câmpus e currículo, e da Escola Viva, que terá ensino integral sem mexer na mensalidade. A Red House International School é outro grupo em grande expansão; chegará a 17 escolas no Brasil no ano que vem, seis delas na capital paulista. E ainda houve, em 2018, a entrada da americana Avenues na cidade, que movimentou o mercado. 

Todas elas atendem desde a educação infantil, uma maneira de já garantir boa parte dos alunos no fundamental e até no ensino médio, segundo consultores. Além disso, a pandemia de covid trouxe novos desafios para as escolas particulares. Pesquisa realizada pelo Instituto Escolas Exponenciais, que ouviu cerca de 500 instituições de 25 Estados, mostra que 21% das famílias têm a intenção de trocar o filho de escola no ano que vem.

Entre os motivos alegados estão o valor da mensalidade, pouca abertura para falar com os professores e "falta de atençao com o filho". Outro dado mostra a movimentação no mercado: 39% das escolas perderam matrículas este ano, 28% ganharam novos estudantes e 33% mantiveram-se no mesmo patamar.

Os alunos mais novos são também uma forma de tentar tirar o rótulo de conteudista e competitivo, que surgiu nos anos 1980 e 1990, quando o colégio era o campeão dos vestibulares. “O Band continua acreditando na excelência do conteúdo, mas também é uma escola que entende que o desenvolvimento integral do aluno é muito importante”, diz Helena. “Não é mais só uma carteira atrás da outra e todo mundo estudando para a prova.” Entre os ex-alunos da escola estão os ex-prefeitos da capital, Bruno Covas e Fernando Haddad (PT).

Nos últimos anos, cresceu no País e no mundo a valorização de uma educação com formação mais completa, que inclua interdisciplinaridade, competências sócio emocionais, foco no social, em cultura, nos esportes. O Brasil fortaleceu essa tendência com a aprovação em 2017 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que são as diretrizes para elaboração dos currículos das escolas. Ela indica como competências essenciais a análise crítica, a ética, a empatia, o reconhecimento da diversidade, entre outras. Muitos vestibulares, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), também deixaram de cobrar apenas conteúdo. 

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Tradicional Colégio Bandeirantes vai começar a atender crianças a partir dos 6 anos Foto: Colégio Bandeirantes/Reprodução

Para abrigar os novos alunos (e antigos também), o Bandeirantes está construindo um novo prédio de 11 andares que terá parquinhos, quadras e corredores cheios de brinquedos, segundo a coordenadora pedagógica do fundamental 1, Patrícia Cintra. São R$ 115 milhões investidos na construção, que terá 12 mil metros quadrados e fica ao lado do prédio tradicional, no bairro do Paraíso. 

Patrícia diz que o foco do currículo do fundamental 1 será a alfabetização e a matemática. “Além disso, vamos ter muita oportunidade de brincadeiras livres e conduzidas, em diferentes espaços, para aprendizagem por meio do corpo”, afirma. As aulas de inglês serão todos os dias, mas não há intenção de ter ensino bilíngue. Os dois recreios por turno (manhã ou tarde) são, segundo ela, para que a criança possa “intercalar momentos de concentração e de relaxamento”. 

A escola também está fazendo um rígido processo seletivo para contratação de professores para atender as crianças em fase de alfabetização. Recentemente, para completar 5 vagas apareceram mil candidatos e só quatro foram escolhidos. A intenção é contratar cerca de 50 novos professores polivalentes e especialistas.


Bolsonaro sanciona alterações na lei de improbidade administrativa; veja o que muda, CNN Brasil

 O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancionou o projeto que flexibiliza a lei de improbidade administrativa. A sanção foi publicada nesta terça-feira (26), sem vetos, no Diário Oficial da União (DOU).

Após ser aprovado em setembro no Senado, o tema foi encaminhado para análise da Câmara dos Deputados. Um dos principais pontos do projeto, que foi analisado pelo Congresso de forma acelerada, é a necessidade da comprovação de dolo para punição a agentes públicos, ou seja, a intenção de prejudicar a administração pública.

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O texto foi aprovado pela Câmara em junho, mas precisou ser apreciado novamente após sofrer modificações no Senado. Na Câmara, os deputados aprovaram sete das oito emendas que vieram dos senadores ao projeto que reformula a Lei de Improbidade.

A única emenda rejeitada foi a que determinava que “não se configurará improbidade a mera nomeação ou indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sendo necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do agente”.

Essa alteração seria para garantir um acordo feito com os senadores que estabelecia prazo de um ano, após a publicação da lei, para que o Ministério Público declare interesse na continuidade de um processo de improbidade.

Improbidade Administrativa

A Lei de Improbidade Administrativa, que completaria 30 anos em 2022, é de caráter civil, e não uma punição criminal. São julgados atos que atentam contra recursos públicos, que, por exemplo, possam resultar em enriquecimento ilícito.

Entre as penas previstas estão: ressarcimento ao poder público, indisponibilidade de bens e suspensão de direitos políticos. A lei é considerada por especialistas como um dos principais meios para agir contra irregularidades de servidores públicos.

Até então, a Lei de Improbidade permite a condenação de agentes públicos por omissões ou atos dolosos e culposos – sem intenção de cometer crime.

Com a nova lei, danos causados por imprudência, imperícia ou negligência não poderão ser configurados como improbidade. No caso de enriquecimento ilícito e prejuízo aos cofres públicos, por exemplo, a perda da função por improbidade só atinge o cargo que o político ocupava.

Principais mudanças

Críticos do projeto alegam que as mudanças enfraquecem o combate à corrupção, pois não haveria um mecanismo de responsabilização de medidas equivocadas adotadas.

Para os defensores, no entanto, a lei trazia insegurança aos servidores públicos e precisa ser atualizada.

O texto enviado ao presidente da República inclui ainda a súmula do Supremo Tribunal Federal (STF) que trata de nepotismo, proibindo a contratação de parentes. No entanto, a nova lei estabelece que não se configurará improbidade a nomeação ou indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, necessária a comprovação de dolo com finalidade ilícita por parte do agente.

Há ainda mudanças de que os cofres públicos apenas pagarão os advogados do acusado no caso de improcedência da ação caso seja comprovada a má-fé.

(*Com informações de Douglas Porto e João de Mari, da CNN, em São Paulo)

O caminho do vexame em Glasgow, Elio Gaspari, FSP

 Faltam dois dias para a ida de Jair Bolsonaro à reunião do G-20 de Roma e mais três para o começo, no domingo, da reunião da ONU sobre mudanças climáticas, a Cop 26. Se a conduta das delegações brasileiras for conduzida por profissionais do Itamaraty, será possível evitar que o Brasil saia satanizado de Glasgow. Se a orientação sair da copa do presidente Bolsonaro, arma-se um vexame. Essa preocupação é legítima quando se sabe que em setembro a copa do Alvorada deu o tom do discurso pedestre do capitão na abertura da Assembleia da ONU.

A entrega da chefia da delegação brasileira ao ministro Joaquim Leite, do Meio Ambiente, foi um mau sinal. Não só pelo seu currículo e pela sua falta de experiência em assembleias internacionais, mas também pelo seu desconhecimento dos antecedentes históricos da encrenca em que se meteu. Ele disse que a proposta da Comissão Europeia de criação de uma taxa de carbono sobre produtos importados seria "uma forma de proteger as indústrias europeias de concorrentes estrangeiros que não cumprem os mesmos padrões de redução das emissões de gases de efeito estufa."

Vegetação totalmente queimada
Queimada em área dentro da Terra Indígena Trincheira Bacajá, no Pará - Lalo de Almeida - 20.jul.2021/Folhapress

​Traduzindo: os europeus usam a proteção ao meio ambiente para proteger suas economias. Essa ideia é compartilhada, por exemplo, pelo ministro da Economia, doutor Paulo Guedes. Vá lá que haja um fator econômico na querela. Mesmo assim, acreditar que a preocupação mundial com o clima seja um joguinho de papeleiros "revela um despreparo enorme", para usar uma expressão do próprio Guedes detonando a fantasia de um Plano Marshall diante da Covid-19.

O pelotão palaciano viajou no tempo para escorregar numa casca de banana do século 19. Quando o império defendia a escravidão e o contrabando negreiro, argumentava, quase em surdina, que o abolicionismo era um ardil dos ingleses para proteger sua produção. Em benefício da elite da época, esse argumento nunca foi vocalizado por ministros.

O Barão de Penedo, embaixador em Londres, nunca disse essas tolices por lá.

Passou o tempo e, novamente em surdina, a ditadura dizia que a política de defesa dos direitos humanos do presidente Jimmy Carter era uma nova face do imperialismo americano.


Omitiam-se dois fatos essenciais: o império assentava-se na escravidão e a ditadura amparava-se na tortura. Hoje, tenta-se embaralhar a questão climática reciclando a ignorância. É perda de tempo porque, salvo na cabeça dos agrotrogloditas, as queimadas da Amazônia estão na agenda do mundo.

Se o Brasil for para a reunião do G-20 de Roma e para Glasgow oferecendo um vago projeto verde, falando em protecionismo e cobrando recursos dos países ricos, pagará um mico. Em situações semelhantes, defendendo posições escalafobéticas, a diplomacia brasileira soube deixar o país fora da vitrine. Foi assim quando defendeu a insana política de reserva de mercado na informática, aquela que proibia a importação de computadores. Depois de um surto nacionalista, deixou o Acordo Nuclear com a Alemanha ir para a sepultura sem muxoxos.

Um presidente que não toma vacina e divulga a mentira de que ela provoca reações letais pode ser um ícone para seus convertidos, mas suas ideias em relação ao meio ambiente não são produto de exportação