domingo, 28 de fevereiro de 2021

Petrobras recuperou R$ 5,3 bilhões da Lava Jato; valor representa 5% dos bilhões perdidos por intervenção de Bolsonaro, FSP

 A Petrobras vai anunciar nesta semana ter sido ressarcida até o momento em R$ 5,3 bilhões pelos prejuízos originados nos desvios praticados pelo esquema de corrupção descoberto e investigado na Lava Jato e em seus desdobramentos.

O montante é considerado, de forma isolada, relevante e uma vitória do trabalho do Paraná. A divulgação ocorre dias após a intervenção desastrosa de Jair Bolsonaro na estatal.

O valor total recuperado representa apenas 5% dos R$ 102 bilhões perdidos em valor de mercado nos dias seguintes à troca no comando da empresa.

Mercado ou sociedade? Problema é bem mais complexo do que sugere o caso Petrobras, Marcos Liboa, FSP

 27.fev.2021 às 14h34

Os reajustes promovidos pela Petrobras iniciaram uma polêmica. Pessoas à esquerda e à direita defenderam a intervenção do governo para controlar os preços dos combustíveis. Tornou-se lugar-comum tratar do tema como uma oposição entre interesses do mercado e os da sociedade.

Não é bem assim, mas análises precipitadas têm conduzido o debate. Preços menores dos combustíveis barateariam o transporte, que beneficiaria a todos. A conduta da Petrobras, por outro lado, atenderia aos investidores em detrimento dos demais cidadãos.

Argumentos semelhantes ocorrem em outras áreas. No Rio de Janeiro, por exemplo, continua a novela sobre a encampação da Linha Amarela. A prefeitura acha excessivo o pedágio previsto pelo contrato de concessão e continua a optar pela ruptura. A Assembleia Legislativa apoia a intervenção em outras rodovias.

Em alguns estados, o poder público tem concedido reajustes menores do que o previsto para empresas de saneamento.

Esses confrontos, entretanto, decorrem de um dilema bem mais sutil, e que prejudica o país a longo prazo.
A oferta de combustíveis, de estradas ou de saneamento requer investimentos. Em uma licitação, os participantes competem comparando a receita esperada do empreendimento com os gastos necessários para viabilizar a produção.

[ x ]

O rompimento dos contratos depois da obra pronta significa que o setor privado arcou com o custo, mas não terá a receita esperada. O governo distribui benefícios que foram pagos com o chapéu alheio.
No caso dos combustíveis, cujos investimentos por vezes são financiados em moeda estrangeira, uma coisa é assumir o risco do negócio. Outra é saber que os preços dependem das idiossincrasias do príncipe de plantão.

Quem acredita que se trata de um conflito entre mercado e sociedade parece ignorar que o país precisa de novos investimentos. As intervenções arbitrárias do poder público garantem benefícios imediatos para os consumidores. A contrapartida, contudo, é a piora da oferta de bens e serviços que penaliza a todos nos anos à frente.

Para quem menospreza a queda da bolsa de valores, vale lembrar que os preços das ações apenas refletem a disposição do setor privado em investir no país. Nossas escolhas têm levado a uma expressiva saída de recursos do Brasil e à depreciação da taxa de câmbio.

Aparentemente, muitos esqueceram as intervenções desastradas da última década, como na Petrobras, que quase levou a empresa à lona. No setor elétrico, a promessa de tarifa barata resultou em energia mais cara e mais escassa.

Temos uma infraestrutura deficiente quando comparada com a de outros países. Não é obra do acaso.

Marcos Lisboa

Presidente do Insper, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005) e doutor em economia.

Hélio Schwartsman Pazuello, o verdadeiro mito, FSP

 A palavra “ironia” vem do grego “eironeía”, com o significado de “dissimulação”, “falsa ignorância”. O termo parece ter origem no teatro. “Eíron” é um personagem-estereótipo recorrente nas comédias gregas que, valendo-se da modéstia e até da autodepreciação, sempre desmascara “alazón”, que faz as vezes do impostor ou do fanfarrão.

Modernamente, a ironia costuma ser definida como o artifício retórico que embaralha os significados reais e aparentes das coisas para provar uma tese, enfatizar um argumento ou apenas para fazer rir.

Estão pegando pesado com o Eduardo Pazuello, tentando desmerecer suas capacidades logísticas só porque ele deixou faltar oxigênio em Manaus, mandou as vacinas do Amazonas para o Amapá e as do Amapá para o Amazonas e se esqueceu de comprar imunizantes, seringas e agulhas para a campanha de inoculação contra a Covid-19, para a qual outros países se preparam desde o início da pandemia.

Esses críticos se esquecem de que o ministro Pazuello é um general do Exército, e, como qualquer criança sabe, exércitos existem para matar pessoas. Sob essa chave interpretativa, o que parecia fracasso torna-se um retumbante sucesso. Qual, afinal, é o general que consegue infligir mais de mil baixas por dia ao longo de mais de um mês sem disparar um único tiro? Pazuello é que é o verdadeiro mito. O outro é um mero amador.

“É simples assim. Um manda e o outro obedece”, obtemperou com sabedoria o general após ter sido desautorizado pelo capitão (reformado) no episódio da compra de vacinas do Instituto Butantan.

Um terceiro personagem arquetípico das comédias gregas é “bomolóchos”, que é mais ou menos o nosso bufão.

Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman - Annette Schwartsman
Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".