segunda-feira, 30 de novembro de 2020

MDB encolhe, mas lidera ranking de prefeitos eleitos; PP e PSD crescem e ocupam 2ª e 3ª posições, G1

 Um levantamento feito pelo G1 revela que o MDB continua com o maior número de prefeituras, assim como nas eleições passadas. O partido, porém, elegeu 251 prefeitos a menos em comparação com 2016 (caiu de 1.035 para 784). Em seguida, PP e PSD completam o pódio do Executivo municipal, com 685 e 654 prefeitos eleitos, respectivamente. Ambos partidos registraram alta em relação a 2016. O 2º turno destas eleições foi realizado neste domingo (29).

Além disso, em 5º lugar, o DEM foi a sigla que mais cresceu em números absolutos na comparação com quatro anos atrás. O número de prefeituras pulou de 266 para 464 – o que equivale a uma subida de 75%. Desse total, quatro são prefeitos de capitais.

Nº de prefeitos eleitos por partido no Brasil: Levantamento considera dados das últimas cinco eleições e mudança de nome dos partidos. Parte das siglas foi fundada após 2004. Veja as observações no roda-pé. — Foto: Gabriela Caesar / Datawrapper

Nº de prefeitos eleitos por partido no Brasil: Levantamento considera dados das últimas cinco eleições e mudança de nome dos partidos. Parte das siglas foi fundada após 2004. Veja as observações no roda-pé. — Foto: Gabriela Caesar / Datawrapper

Considerando a variação percentual, as legendas que mais cresceram foram Avante (583%), Patriota (277%), Podemos (252%) e PSL (200%). Por outro lado, as maiores baixas ficaram com siglas que conquistaram apenas uma única prefeitura – PTC (-94%), DC (-88%) e PMB (-67%).

Em números absolutos, os partidos que mais perderam prefeituras foram PSDB (-265), MDB (-251) e PSB (-151). O PSDB havia aumentado a quantidade de prefeituras em 2016, ano em que ocorreu o impeachment de Dilma Rousseff. Na época, elegeu 785 prefeitos. Em 2020, foram 520.

domingo, 29 de novembro de 2020

Ruy Castro - Impossível segurar Diego, FSP

 Há duas semanas, quando se soube que Diego Maradona forçara sua liberação do hospital em Buenos Aires onde fora operado de um hematoma no cérebro e iria "se recuperar" em casa, ficou claro que o fim ia chegar. O médico alegou que era "impossível segurar Diego". Não explicou que Maradona precisava sair dali porque não podia passar sem álcool. Não por falta de caráter, de força de vontade, de querer ou não beber, mas por uma exigência orgânica, que, se não atendida, custa caro ao indivíduo.

O mundo descobriu a expressão síndrome de abstinência, mas não o que ela significa. Significa delírio, alucinação, desespero, descontrole geral dos órgãos, risco de ferimentos autoinfligidos, inclusive mutilações, e, no limite, parada cardíaca e respiratória. Hoje há remédios para isso —há 100 anos, era a camisa de força. A própria cirurgia a que Maradona fora submetido deve ter sido problemática. Se feita de emergência, sem prevenir a síndrome, ele pode ter passado por aquilo.

Por que Maradona, o maior jogador de seu tempo, caiu pela cocaína e depois o álcool? Os obituários falam da sua necessidade de "refugiar-se", "preencher o vazio", "afastar os fantasmas". Mas só os amadores usam essas expressões. Elas não têm sentido no mundo real da dependência. Maradona foi apresentado à cocaína pela Máfia quando jogava no Napoli, em 1984. Experimentou-a, sentiu-se bem e passou a usá-la em doses crescentes —primeiro, de forma recreativa; depois, porque seu organismo a exigia. Só isso.

Tudo mais que lhe aconteceu foi decorrência —problemas jurídicos, de saúde, conjugais, financeiros e a conversão à bebida. A própria depressão —que todo dependente usa como pretexto para beber mais— foi uma decorrência física.

Maradona nunca foi tratado direito. É difícil convencer um deus de que ele tem um inimigo que não pode ser vencido. Mas pode ser controlado, desde que à distância.

Maradona fuma charuto no mar em Havana (Cuba), em 2000 - Reuters
Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.

Luther King e o fuso racial, Marcos Lisboa, FSP

 Após a Guerra Civil, o Congresso dos EUA aprovou emendas à Constituição para garantir a cidadania dos negros libertos. Não foram muito eficazes.

A política da época resultou em um acordo que permitiu aos estados possuir regras que segregavam os negros. O partido Democrata, por exemplo, os excluía de participar nas primárias eleitorais.
Nem tudo foi descalabro. A lei garantiu o tratamento igualitário, ainda que separado, dos cidadãos, incluindo o acesso à educação. Mais de três dezenas de escolas para "pessoas de cor" foram criadas apenas no século 19. Elas eram responsáveis desde a alfabetização e a formação de professores até a universidade, com ênfase em direito, medicina e engenharia.

No começo do século 20, Atlanta, capital da Geórgia, destacava-se por uma convivência racial relativamente pacifica. Havia, contudo, muito mais negros na extrema pobreza, e o urbanismo da cidade ratificava a segregação.

Essa desigualdade foi enfrentada pela elite negra que surgira graças a poucas décadas de acesso à educação de qualidade. Associações civis ofereciam cursos de cidadania e incentivavam a participação dos negros nas eleições. A cidade tornou-se um dos centros do movimento que resultou no fim da segregação nos EUA.

As conquistas foram obra de muitas lideranças, como Thurgood Marshall. Formado em direito, ganhou célebres ações judiciais contra a discriminação e, em 1967, tornou-se o primeiro juiz negro da Suprema Corte.

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Martin Luther King estudou em uma universidade para "pessoas de cor", assim como seu pai e seu avô. O mesmo ocorreu com Toni Morrison, Nobel de Literatura. Kamala Harris, vice-presidente eleita dos EUA, formou-se em uma dessas escolas, agora chamadas historicamente negras, e também na Universidade da Califórnia, onde a segregação fora abolida em 1947.

Em 1964, King recebeu o Prêmio Nobel. A prefeitura de Atlanta apoiou homenageá-lo com um jantar. Poucos brancos da elite se mobilizaram.

Uma exceção foi Paul Austin, presidente da mais conhecida empresa da região: "A Coca-Cola não pode continuar numa cidade que se recusa a prestar homenagem ao ganhador do Nobel da Paz. A Coca-Cola não precisa de Atlanta. Vocês têm que decidir se Atlanta precisa da Coca-Cola".

A elite branca cedeu e compareceu ao jantar. O reverendo e doutor negro, contudo, chegou atrasado. Ele fora retido pela polícia, que se preocupara com a segurança.

Ao comentar o atraso, King não resistiu à ironia: "Não sabia se seria no fuso horário do leste ou do FHPC". "FHPC?", estranhou o prefeito. "Fuso horário das pessoas de cor", explicou King. "Sempre nos toma muito mais tempo chegar aonde estamos indo."

Marcos Lisboa

Presidente do Insper, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005) e doutor em economia.