quarta-feira, 1 de abril de 2020

O pior cenário, FSP

Um cenário epidemiológico mais assustador pode afetar a magnitude da epidemia

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Quanta gente vai morrer na pandemia de Covid-19? A pergunta é, por ora, irrespondível, embora não faltem modelos epidemiológicos que tentam oferecer às autoridades sanitárias uma base minimamente racional para a tomada de decisões.
Os cenários traçados nessas simulações vão desde os verdadeiramente lúgubres, que preveem, na pior hipótese, 40,6 milhões de óbitos globais (Imperial College), aos mais róseos, nos quais menos de um de cada mil infectados fica doente o bastante para precisar de tratamento médico (Oxford).
Como é possível tanta discrepância? Modelos são tão bons quanto seus pressupostos e os parâmetros com os quais você os alimenta. E a triste verdade é que ainda sabemos muito pouco sobre o Sars-Cov-2. Um número tão fundamental como a proporção de assintomáticos para cada paciente sintomático ainda não foi bem estabelecido. É ele que pode nos dar um vislumbre de quão longe estamos do fim da pandemia, na ausência de uma vacina.
Também estamos supondo que pessoas que tenham sido infectadas e se recuperado se tornem pelo menos transitoriamente imunes ao vírus. É uma boa aposta, considerando o comportamento da grande maioria dos vírus e os dados até aqui coletados, mas não estamos 100% seguros de que isso seja verdade. Se não for, todos os modelos ruem. Os que estamos usando são do tipo SIR e, não havendo imunidade, teriam de ser do tipo SIS. O cenário ficaria mais tenebroso também.
Apesar dessas limitações, modelos epidemiológicos têm uma peculiaridade que os torna nossa melhor defesa contra a epidemia. Uma previsão climática pessimista não altera o tamanho da tempestade, mas um cenário epidemiológico mais assustador muda o comportamento do público e de autoridades, o que afeta a magnitude da epidemia. Assim, paradoxalmente, podemos dizer que um modelo é bem-sucedido quando faz com que todos atuem para falsear as suas piores previsões.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

O QUE A FOLHA PENSA Competição no 5G

Sinal verde para chineses como fornecedores sugere ambiente de mais concorrência

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O general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência - Evaristo Sá/AFP
Na batalha entre Estados Unidos e China pelo protagonismo no 5G, o próximo degrau da revolução digital no campo da troca de dados, o Brasil sofre, como outros países, as pressões de Washington e Pequim visando favorecer seus lados.
Os americanos têm sido mais agressivos, ante ofertas chinesas de melhor custo-benefício. Afirmam que a Huawei, gigante rival, oferece soluções de rede que embutem mecanismos de espionagem.
Com isso, conseguiram que diversos aliados excluíssem a empresa asiática de fornecimento para operadoras que disputam leilões de frequências do 5G —a tecnologia sustenta a velocidade da chamada internet das coisas, que integrará de geladeiras a sistemas militares.
No Brasil, o alinhamento do governo Jair Bolsonaro à administração Donald Trump sugeria um favorecimento aos EUA. Com efeito, alguns acordos estabelecidos entre os países e a posição anti-China do filho presidencial Eduardo pareciam selar o curso do debate.
Entretanto a crise diplomática criada pelo mesmo Eduardo Bolsonaro, ao endossar acusações à ditadura chinesa pela pandemia do coronavírus, parece ter ajudado a reverter o quadro.
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Bolsonaro teve de apaziguar Xi Jinping, o líder chinês, na semana passada. Três dias depois do telefonema, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) decidiu não impor vetos a fornecedores de 5G ao instruir normas para o leilão que deverá acontecer no fim do ano.
A Huawei e americanas como a Qualcomm não participam do certame, mas são fornecedoras de infraestrutura das operadoras.
O GSI poderia impor restrições se considerasse, seguindo a tese dos EUA, que equipamentos chineses representam risco para dados sigilosos e à soberania nacional. Preferiu listar salvaguardas de segurança e também pulverizar a operação, obrigando que operadoras numa mesma região tenham fornecedores distintos.
Tudo isso contribui para um ambiente concorrencial mais saudável, embora a convergência inerente ao setor sugira limites às intenções de governos —como demonstra a tentativa de criar um ecossistema de empresas telefônicas regionais nos anos 1990.
Além disso, nunca é bom subestimar a influência dos Estados Unidos sobre o governo Bolsonaro.