sábado, 30 de novembro de 2019

Livro narra trajetória de Edir Macedo da fundação da Universal ao império de hoje, FSP

Obra aborda a construção do poder religioso, político e empresarial do bispo e suas polêmicas

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SÃO PAULO
As eleições de Donald Trump nos Estados Unidos e de Jair Bolsonaro no Brasil despertaram uma maior busca pelo conhecimento sobre as igrejas evangélicas e seus fiéis, tidos como importantes fatores da chegada dos dois conservadores ao poder.
A proximidade de Bolsonaro com o líder religioso da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, explicitada em eventos públicos nos últimos meses, e a fala do presidente de que pretende indicar alguém “terrivelmente evangélico” para uma futura vaga no STF (Supremo Tribunal Federal) chamaram ainda mais a atenção para o assunto.
Lançado nesta semana, o livro “O Reino - A História de Edir Macedo e uma Radiografia da Igreja Universal” usa as ferramentas do jornalismo profissional para levar ao leitor uma melhor compreensão sobre o tema.
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Em tempos de polarização, o livro não defende nem trata Edir Macedo e a Universal como vilões.
É um relato jornalístico que foge do maniqueísmo e busca, a partir da escuta de várias fontes, mostrar diferentes aspectos do desenvolvimento da Universal e de seu criador.
O autor é Gilberto Nascimento, jornalista com 40 anos de carreira dedicados à cobertura de temas de política, religião e direitos humanos.
Nascimento foi o primeiro a revelar, em reportagem na revista IstoÉ, o teor de gravações de vídeo nas quais Macedo orientava pastores sobre como obter doações dos fiéis, usando expressões como “ou dá, ou desce”.
A experiência em reportagens em veículos como a Folha, O Globo, O Estado de S. Paulo, IstoÉ e Rede Record deu ao autor a consciência sobre o didatismo necessário para abordar o tema das igrejas evangélicas, que são alvo de preconceitos e incompreensões em um país de maioria católica.
Assim, a obra explica as diferentes denominações evangélicas e esclarece, por exemplo, que a Universal não é aquela com maior número de seguidores no Brasil, posto ocupado pela Assembleia de Deus.  
No campo dos costumes, mostra que a Universal é mais tolerante que a maioria das igrejas evangélicas em relação à homossexualidade e ao aborto, mas também descreve os ataques de Macedo às religiões afro-brasileiras e as recentes manifestações do bispo de que as atividades de comando das famílias e instituições devem ser exercidas pelos homens, e por isso as mulheres não devem se preocupar em estudar.
A história da atuação de Macedo e seus seguidores em busca de poder político é um dos pontos altos da obra. O jornalista trata das relações do líder da Universal com os presidentes da República desde Fernando Collor de Mello (1990-1992) e das ações da igreja para a ampliação da bancada evangélica no Congresso.
As principais polêmicas ligadas à Universal são tratadas sob diferentes perspectivas e posições dos envolvidos, como manda o jornalismo profissional. 
A maior delas ocorreu no dia 12 de outubro de 1995, quando o bispo Sérgio von Helde deu chutes e socos em uma imagem de Nossa Senhora Aparecida durante o programa “Despertar da fé”, na Rede Record.
O livro também relata que em 2007 a jornalista Elvira Lobato, então na Folhafoi alvo de 111 ações judiciais após o jornal publicar uma reportagem dela sobre a evolução do patrimônio de dirigentes da Universal. Os processos foram movidos por fiéis e pastores da igreja.
Quanto às várias investigações e ações penais iniciadas contra Macedo, a obra traz um levantamento extenso e atualizado, uma vez que cita a reportagem da Folha de 19 de outubro deste ano que revelou a prescrição de ação penal contra o líder da Universal, na qual ele foi acusado de lavagem de dinheiro, em razão da lentidão da Justiça.
Ao abordar os vários processos, Nascimento não se esquece de esclarecer que Macedo nunca foi condenado criminalmente pela Justiça.
Uma parte do livro é dedicada a detalhar o conglomerado de empresas ligado a o bispo, com destaque para o processo de compra da emissora de TV Rede Record, que tinha como um dos donos o apresentador Silvio Santos.
Os conflitos com a Rede Globo e a Igreja Católica, as disputas internas de poder e a expansão internacional da Universal também são abordados na obra.  
A reportagem procurou Macedo e a Universal por meio da assessoria de imprensa da igreja evangélica, que se manifestou por meio de nota.
“Universal não responderá as perguntas da Folha de S.Paulo porque não conhece o teor do livro e não foi procurada pelo autor para relatar a verdade dos fatos que seriam narrados. Além disso, pelas perguntas do jornal, tudo indica que o livro traz apenas notícias requentadas, falsas e já desmentidas inúmeras vezes. É lamentável que algum veículo de imprensa se preste a levar tal conteúdo a sério”, diz a nota.
“Por fim, informamos que os abusos e eventuais crimes contra a honra praticados pelo autor da obra serão levados pelo Poder Judiciário, para que ele seja punido na forma da lei”, completa.

O REINO - A HISTÓRIA DE EDIR MACEDO E UMA RADIOGRAFIA DA IGREJA UNIVERSAL

  • Autor Gilberto Nascimento
  • Editora Companhia das Letras
  • Páginas 384
  • Preço R$ 59,90

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Mudança de regra para energia solar em casa pode desacelerar setor, diz MPF, FSP

Ministério Público envia recomendação a Aneel pedindo mudança gradual e maior prazo de discussão

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O MPF (Ministério Público Federal) recomendou a Aneel que a mudança nas regras para geração de energia solar por consumidores aconteça de modo mais gradual e passe por mais debates antes de sua implementação.
O risco, segundo o MPF, é que taxação significativa aos consumidores que produzem energia a partir4 de placas solares desacelere o avanço desse mercado e gere insegurança ao prejudicar quem já investiu no setor.
Uma consulta pública sobre o tema está aberta na Aneel até o dia 30 de dezembro. O ponto de maior divergência é a possibilidade de que a energia gerada pelo consumidor injetada na rede das distribuidoras, que hoje dá a ele créditos em igual proporção, seja devolvida em volume menor.
A partir de 2030, o consumidor passaria a ter direito a cerca de 30% do que insere na rede. Distribuidoras defendem a medida afirmando que a devolução integral da energia tem custos para a rede elétrica e, que hoje ele é pago pelos demais clientes, onerando principalmente os de menor renda e sem acesso a esse tipo de geração de energia.
O MPF pede que sejam mantidas as regras atuais para quem já investiu em sistemas de geração distribuída e que o funcionamento desse mercado não sofra alteração até que ele seja responsável por 5% da produção de energia no Brasil.
Também sugere a abertura de nova consulta pública, com prazo de 180 dias e com nova metodologia.
"A observância das regras atualmente vigentes é extremamente importante
para que esta forma distribuída de geração de energia continue se desenvolvendo, até mesmo para
que o País possa recuperar o “terreno perdido” em ganhos e escala neste setor", diz o Ministério Público no documento,  produzido pela Câmara do Consumidor e Ordem Econômica.
Com Filipe Oliveira Mariana Grazini
Painel S.A.
Jornalista, Joana Cunha é formada em administração de empresas pela FGV-SP. Foi repórter de Mercado e correspondente da Folha em Nova York.

Double stack na linha, RF


  28/11/2019
person RF
Double stack na linha
Utilizados em larga escala nos Estados Unidos, os vagões double stack voltaram a ser notícia no Brasil em junho, quando a Brado Logística anunciou a primeira viagem de trem com contêineres empilhados num trajeto de longa distância, de 1.400 km, entre Sumaré (SP) e Rondonópolis (MT), atravessando as malhas Paulista e Norte. Até o fim deste ano, a operadora pretende levar essa operação para o trecho entre Anápolis (GO) e Porto Nacional (TO), da Ferrovia Norte-Sul, cuja operação está sob concessão da Rumo. Antes mesmo de a Brado Logística existir e a Rumo assumir a concessão das malhas Norte, Paulista, Sul e Oeste, já havia um projeto de tornar possível a operação de double stack em grandes trajetos. Em 2010, a ALL anunciou um projeto de expansão do transporte de contêineres em direção a Santos, avaliado na época em R$ 600 milhões.
O plano dizia que o transporte de contêineres por trem só seria economicamente competitivo frente ao rodoviário se fosse feito em vagões double stack, com a possibilidade de empilhar duas caixas. Isso exigiria obras para aprofundar leito dos túneis de pelo menos uma das duas linhas usadas pela ALL na Serra do Mar, em São Paulo, para que os vagões, mais altos, pudessem passar. O projeto, no entanto, não chegou a sair do papel. As discussões para o uso de double stack na região voltaram há pelo menos dois anos, quando a Brado Logística encomendou à Greenbrier Maxion dois lotes de 74 vagões PRT - o primeiro entregue em 2018 e o segundo, no primeiro semestre deste ano. Novos lotes de vagões double stack podem ser adquiridos. Tudo vai depender do aumento da demanda de cargas, segundo a empresa. Hoje a frota própria da operadora é composta por 2,4 mil vagões e 16 locomotivas (todas AC-44, da GE). Os vagões foram projetados para empilhar até três contêineres, mas inicialmente estão fazendo viagens com dois (de 40 pés cada). O investimento foi de R$ 60 milhões para a aquisição dos double stack e, simultaneamente à compra e aos testes, a operadora investiu na via, para tornar possível a operação.
Do ano passado para cá, foram aplicados recursos no trajeto Sumaré-Rondonópolis, como obras de adequação do gabarito da via, pontes e viadutos, para adaptá-los à passagem dos double stack. Ao longo do percurso, intervenções foram feitas em 27 pontos. Os valores investidos não foram informados pela empresa. Segundo a Brado, não serão necessários adequações no trecho entre Anápolis e Porto Nacional para a operação dos double stack. Na viagem inaugural, o trem foi composto por 68 vagões double stack e 136 contêineres empilhados. A Brado ainda não tem números consolidados sobre os primeiros dias de operação dos double stack, mas trabalha com um panorama bastante otimista. No sentido Sumaré-Rondonópolis, a expectativa é chegar ao transporte de 4.828 contêineres até o final de 2019 (foram 474 em 2017 e 3.375 em 2018). Na rota Rondonópolis-Sumaré, a meta é chegar aos 10 mil contêineres até dezembro, contra 3.392 em 2017 e 8.961 em 2018.
Os produtos com maior demanda de transporte neste trecho são milho para ração animal, bebidas (cervejas, isotônicos e refrigerantes) e carne bovina congelada. A Brado estima que, com a operação dos vagões double stack, haja um ganho de 40% na capacidade dos trens. Para 2019, a operadora tem a expectativa de crescimento de 20% no que diz respeito ao volume de cargas transportado por contêineres, podendo atingir a marca de 330 mil TEUs. De acordo com a operadora, por trilhos circulam mais de 70 tipos de cargas diferentes, entre agrícolas, industriais e bens de consumo. Na avaliação de Rogério Patrus, presidente da Brado, a utilização dos vagões double stack cria um novo momento para o transporte de carga geral no Brasil. "Esta operação, inédita no país, traz vários benefícios, como a redução no consumo de combustível, melhor segurança e desempenho operacional, além de manutenção facilitada, o que nos permite atender nossos clientes com maior qualidade".
MRS Antes de a Brado iniciar viagem com contêineres empilhados, os double stack eram vistos apenas na malha da MRS, movimentando contêineres em trechos de curta distância, como nas entre margens do Porto de Santos. Naturalmente, MRS e Brado Logística - que juntas respondem por 77% do transporte de contêineres via ferrovia no país - têm em suas frotas vagões double stack. A MRS foi pioneira a adquirir esse modelo no Brasil, em 2014, mas ao contrário do que se espera na Brado, a operação com esses vagões não decolou. Hoje são apenas 40 vagões desse modelo. A maior parte da frota voltada para carga geral é composta por vagões plataforma. Atualmente, são 2.669 plataforma rodando na MRS, segundo o mais recente levantamento Todos os Vagões, feito pela Revista Ferroviária. A operadora ainda fez no ano passado a adaptação de 88 vagões gôndola para a movimentação de contêineres. Segundo a concessionária, não há previsão de adquirir novas unidades de double stack, por enquanto.
Um dos focos da empresa é a expansão da rede de terminais intermodais, para ampliar a carteira de clientes e aumentar a produtividade na carga geral. Nos últimos dois anos, foram mais de 1.500 vagões adquiridos para o segmento, entre HPTs, FTTs e plataformas. Sem trechos definidos para a operação cotidiana dos double stack, a MRS se vale deste modelo para atender a clientes dos ramos de bens de consumo e insumos industriais (matéria-prima, peças e componentes). Os double stack da MRS foram fabricados pela Amsted Maxion, e são do modelo PRU (penta articulados) e PRT. De acordo com a MRS, os vagões plataforma se adequam melhor à estratégia de transporte da companhia por serem mais versáteis. Enquanto os double stack podem movimentar apenas contêineres, os plataforma podem carregar tanto as caixas metálicas quanto produtos siderúrgicos - esses últimos correspondem a uma importante fatia da carga geral transportada pela ferrovia. A grande diferença entre double stack e plataforma (single stack) está na possibilidade de o primeiro empilhar até três contêineres - daí a necessidade de as ferrovias terem que adaptar suas vias para receber o material rodante. Geralmente, o projeto de engenharia para o uso dos double stack requer estudos de adaptação da via, pontes e túneis - que necessariamente precisam ter gabarito adequado para a passagem dos vagões mais altos.
Um dos entraves para o avanço da operação dos double stack na malha da MRS está o compartilhamento de via na região da Grande São Paulo com a CPTM. A rede aérea para os trens de passageiros (eletrificados) não tem altura suficiente para a passagem de vagões com contêineres empilhados. Além disso, a preferência por vagões plataforma está no fato de eles também serem usados em trens de serviços da operadora.