quinta-feira, 28 de novembro de 2019

O liberalismo é uma via estreita no Brasil, Fernando Schüler, FSP (definitivo)

Fala de Guedes sobre AI-5 não pode vir de quem ocupa posição de Estado

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ministro Paulo Guedes misturou as palavras “AI-5”, “Lula”, “povo na rua” em sua entrevista de Washington. É evidente que nada disso faz sentido. Não há ninguém quebrando nada pelas ruas, a retórica de Lula serve para animar sua base militante, o país tem uma pauta imensa de reformas a fazer no Congresso e há sinais claros de retomada econômica.
A fala de Guedes, como seria previsível, serviu como prato cheio a nossa algazarra digital. Qualquer fala sugerindo, ou aventando a hipótese absurda de um ato de exceção no Brasil deve ser repudiada como uma irresponsabilidade. Há menções desse tipo todos os dias, aos milhares, nas redes sociais. Mas elas não podem vir de quem ocupa posições de Estado.
O ministro Paulo Guedes durante entrevista à imprensa na embaixada do Brasil em Washington - Olivier Douliery-25.nov.19/AFP
Diria que a leitura política do país feita por Guedes é equivocada (não há uma “ameaça chilena” no Brasil), assim como sua menção a uma época que o país soube superar, a duras penas. Além disso, há o dito popular: não se fala em corda em casa de enforcado.
A fala de Guedes incomoda por uma razão peculiar: nosso ministro é um liberal e comanda a economia em um governo que não faz mistério de suas simpatias pelo ciclo autoritário na América Latina. Imagino que tenha sido isso que levou um analista a sugerir que Guedes se mostrava cada vez mais como um pinochestista.
Descontando o óbvio exagero, há um ponto interessante aí. Pinochestista é alguém que preza a liberdade de mercado, mas dispensa a democracia política. Por estranho que pareça, há muita gente que simpatiza, nos dias de hoje, com variantes dessa tese. Ela foi alimentada, à direita e à esquerda, pelo sucesso econômico do modelo chinês. 
Jason Brennan e sua epistocracia, isto é, o governo dos que “sabem”, em vez de um sistema refém da irracionalidade da multidão, navegam por essas águas. A tese é estranha à grande tradição liberal, por muitas razões. A ideia de que um ditador benevolente e racional serviria para garantir nossos direitos e uma vida tranquila no mercado não responde a uma questão muito simples: como fazemos para mandar embora o ditador quando ele perde sua racionalidade e benevolência?
James Madison matou essa charada à época da formação americana. É porque os homens não são anjos que precisamos de uma engenharia complexa de freios e contrapesos para garantir nossos direitos. O Brasil, entre idas e vindas, vem construindo uma engenharia desse tipo. Ela ainda é tremendamente falha, mas (como diz o próprio ministro Guedes) somos uma “democracia vibrante”, e seria muita burrice abrir mão do caminho que já percorremos.
Há uma razão mais profunda que torna o liberalismo e a democracia irmãos siameses. O exercício da palavra e da política expressam, em si mesmos, um direito individual. Vale o mesmo para as demais esferas da liberdade humana. Não faz sentido determinar (a partir de que lugar?) que a liberdade de empreender é mais importante do que a liberdade de opinar, criar uma obra de arte ou professar esta ou aquela religião.
É isto, no fundo, que define uma sociedade liberal: um delicado respeito aos infinitos modos de realização humana. Isso inclui o cidadão que deseja “mudar o mundo”, a jovem empreendedora da pet shop e um casal, não importa o sexo, que deseja criar os filhos de uma certa maneira. Infinitos modos de vida capazes de se expressar sem que as pessoas se matem pelas ruas.  
É por ai que dançam tanto a esquerda como certo conservadorismo de costumes, muito em moda por aqui. Este último tem um problema com a ideia de “diversidade”. Bolsonaro expressa isso quando sugere que o governo deveria financiar apenas filmes compatíveis com nossa “tradição judaico-cristã”.
À esquerda, o problema congênito é aquele que John Tomasi chama de “excepcionalismo econômico”. Em resumo: liberdades são importantes, desde que elas não envolvam a palavrinha “mercado”. Tipo particular de conservadorismo que põe à sombra uma esfera “não relevante” da liberdade individual. E não me refiro às distopias socialistas, que seriam um alvo fácil, mas ao que se vê no dia a dia do debate público e nas votações no Congresso.
A verdade é que o velho e bom liberalismo é uma via estreita no Brasil. Sua recusa simultânea do autoritarismo político, do mandonismo econômico e da tutela do Estado sobre a cultura faz de seus simpatizantes aves raras por estes trópicos. Se somarmos a isso certa disposição para o diálogo e aversão à gritaria política, a imagem que surge é a de um quase deserto.
Fernando Schüler
Professor do Insper e curador do projeto Fronteiras do Pensamento. Foi diretor da Fundação Iberê Camargo.

26.11.19 | Usina solar fotovoltaica em universidade está em fase de testes, Procel Info


Mato Grosso do Sul – A usina de energia solar fotovoltaica da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no Mato Grosso do Sul, está desde meados de outubro funcionando em fase de testes. Todas as 16 unidades de 70,35 kWp (quilowatt pico) estão em operação, totalizando uma potência instalada de 1.125,6 kWp, o que a torna uma das maiores usinas entre os setores públicos do Brasil.

A concessionária Energisa já efetuou a vistoria e aprovou a instalação. De acordo com o engenheiro eletricista e fiscal do contrato, Alessandro da Paixão, "o desempenho da geração está acima do esperado, graças ao minucioso trabalho da equipe de gestão e fiscalização da Prefeitura Universitária e à qualidade dos serviços prestados pela contratada".

Todas as informações de geração já podem ser acompanhadas em tempo real na TV instalada na Prefeitura Universitária. A partir de fevereiro de 2020, esses dados sobre a economia na conta de energia serão contabilizados e divulgados para o público. O evento para a inauguração da usina ainda não tem data definida.

Sobre o usina
A usina é composta por 16 unidades de 70,35 kWp (quilowatt-pico) cada, 12 postos estão nas coberturas dos blocos da Unidade 2 (2.520 placas em teclados) e quatro diretamente no solo (840 placas em solo), logo na entrada na UFGD, ao lado do Auditório Central, destacando-se como um cartão de boas-vindas para quem chega na universidade.

Atualmente a UFGD gasta cerca de R$ 2,6 milhões por ano com a conta de energia elétrica da Unidade 2. A previsão é de que os painéis solares proporcionarão uma economia na conta de energia que pode chegar a R$ 915 mil em 12 meses, através da produção de 1.705.000 quilowatt-hora, alcançando 30% de economia e com o custo de manutenção anual de apenas R$ 18 mil.

O montante de energia gerado no equivale à capacidade de retirada de carbono da atmosfera de 1.411 árvores pelo mesmo período, evitando a emissão de 17,6 toneladas de CO2 por mês.

Sob a responsabilidade da Prefeitura Universitária, o sistema recebeu R$ 4,5 milhões investidos por meio Termo de Execução Descentralizada (TED), via Secretaria de Educação Superior (SESU-MEC), no ano de 2018. O projeto contempla ampliação para atingir 100% do consumo de toda universidade, incluindo a Unidade 1, FADIR e Fazenda. Além da economia no custo com energia elétrica, a usina solar poderá ser utilizada para pesquisas acadêmicas de graduação e pós-graduação, gerando novos conhecimentos na área.

*Com informações da UFGD

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

A Presidente Vargas de 1984 a 2019, Elio Gaspari FSP

O povo não deve ter medo da polícia, nem a polícia deve ter medo do povo

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A avenida foi a mesma. Em abril de 1984 ali aconteceu o grande comício das Diretas. Noticiou-se que a multidão passava do milhão de pessoas. Nem chegava a isso, mas deixa pra lá. A festa durou cerca de sete horas, sem um só incidente. No último domingo (24), mais de 1 milhão de cariocas festejaram o Flamengo. A festa terminou com uma pancadaria e 23 feridos nas proximidades do monumento ao Zumbi dos Palmares.
Não se sabe como começou a confusão, mas é elementar que a Polícia Militar não precisava ameaçar o povo com fuzis ou apontando-lhe revólveres. A primeira bomba de gás contra uma multidão parada pode ter sido um exagero. As demais, truculência, sobretudo sabendo-se que na festa havia crianças.
O veículo da Guarda Municipal também não precisava dar marcha a ré em alta velocidade numa pista livre. Acabou atropelando um guarda. Assim como Gabigol fez a alegria dos brasileiros com dois gols em três minutos num final de jogo, a PM do Rio manchou a celebração no fim da festa.
O medo faz mal à alma. O povo não deve ter medo da polícia, nem a polícia deve ter medo do povo. Em 2013, quando o papa Francisco chegou ao Rio, estava protegido por um dispositivo teatral, com soldados e até cães farejadores.
Na Presidente Vargas o carro do papa ficou preso no trânsito e centenas de pessoas cercaram-no, assustando muita gente que via a cena pela televisão. Só Francisco não se assustou e manteve o vidro aberto. Os agentes da Polícia Federal que escoltavam o veículo a pé mantiveram a calma, sem agredir ninguém. Também não se assustaram as pessoas que queriam vê-lo, pois não é todo dia que há um papa na Presidente Vargas. 
O Rio é governado por um bufão que estimula a violência policial na construção de sua própria teatralidade. No gramado do estádio de Lima, ajoelhou-se diante de Gabigol, recebendo um olhar seco, digno dos melhores monarcas da casa de Windsor.
No dia seguinte à pancadaria do fim da festa do Flamengo, o repórter Rafael Soares revelou o áudio de um PM que revelou sua contrariedade diante de um episódio no qual um sargento matou a tiros dois jovens que estavam numa motocicleta.
O caso aconteceu em 2015, soldados da patrulha haviam dito ao sargento para não atirar, mas “ele estava trabalhando com ódio, ficava falando que ia matar, matar”. O sargento matou porque achou que a furadeira carregada por um dos jovens era uma arma.
Já houve casos em que um cidadão foi morto porque carregava um guarda-chuva e outro, uma esquadria de alumínio. O PM que matou o homem do guarda-chuva foi absolvido e o outro caso ainda está sendo investigado. O sargento que ficava falando em matar ainda não foi julgado.
Na tarde de domingo, depois da confusão da Presidente Vargas, uma mulher se referiu aos PMs como “esses milicianos”. É verdade que o pessoal das milícias está em alta, mas nenhuma cidade terá segurança se a sua polícia se comportar de forma a permitir tamanha confusão.
A PM é uma corporação militar que deve trabalhar com normas profissionais e, sobretudo, de forma disciplinada, cumprindo protocolos. O que aconteceu na Presidente Vargas não seguiu protocolo algum. Quanto à disciplina, quem sabe?
Em março do ano passado, durante a intervenção federal na segurança do Rio, um general foi inspecionar o quartel do 18º Batalhão da PM e viu-se diante de uma tropa formada por 20 homens.
À voz do comando, alguns deles não lhe deram continência. Foi preciso que o coronel repetisse: “Todo mundo”. Só então foi obedecido.
Elio Gaspari
Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".