segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Presidente do TST propõe substituir ‘penduricalhos’ de juízes, OESP

BRASÍLIA - O ministro Ives Gandra Martins Filho vai entregar nesta segunda-feira, 26, o cargo de presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e propõe uma alternativa para os chamados “penduricalhos” do Judiciário: trocar os benefícios a que os magistrados têm direito, como o auxílio-moradia, por um valor único pago como adicional por tempo de serviço. O mecanismo aumentaria o rendimento dos magistrados em 5% a cada cinco anos. Segundo Ives Gandra, o tema já foi tratado no Supremo Tribunal Federal e com representantes do governo e do Congresso Nacional.
Ives Gandra Martins Filho
O ministro Ives Gandra Martins Filho deixa hoje a presidência do Tribunal Superior do Trabalho.  Foto: Marcelo Campos/Agência brasil
“Tenho encontrado respaldo das associações (de magistrados) que concordam em trocar o auxílio-moradia pelo adicional por tempo de serviço. Também tenho conversado com ministros do Supremo e nomes do Legislativo e Executivo”, disse Ives Gandra em entrevista ao Estadão/Broadcast. “Essa é uma solução para acabar com os penduricalhos, especialmente na Justiça estadual.”
O ministro argumenta que o adicional por tempo de serviço acabaria com a polêmica sobre o auxílio-moradia e ainda incentivaria a carreira no Judiciário. Pela proposta de Ives Gandra, o adicional seria considerado parte do salário e, por isso, reforçaria a arrecadação do Imposto de Renda e a contribuição previdenciária. No caso do Supremo, a remuneração básica não é alterada, mas o adicional seria incorporado como uma gratificação – que também paga Imposto de Renda.
Já há no Congresso uma proposta de emenda constitucional (PEC) que prevê a regra defendida por Ives Gandra: aumento salarial para todos os magistrados de 5% a cada cinco anos até o limite de 35%. O projeto, porém, prevê o adicional como “parcela indenizatória por tempo de serviço”. Por ter essa característica de ressarcimento, não haveria incidência de IR – a exemplo do que acontece com o auxílio-moradia que também é considerado indenização. Com a intervenção militar no Rio de Janeiro, porém, a tramitação do projeto foi suspensa.
Estado mostrou que os magistrados dos tribunais federais e estaduais deixam de pagar cerca de R$ 360 milhões por ano de Imposto de Renda graças à isenção tributária de benefícios como auxílio-moradia, auxílio-alimentação e auxílio-saúde. Se os penduricalhos fossem tributados da mesma forma que os salários, cada juiz teria de repassar, em média, 19% a mais para a Receita Federal.
O auxílio-moradia hoje é concedido a 17.087 juízes e desembargadores, o que representa 70% do total dos magistrados. A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, marcou para o dia 22 de março o julgamento em plenário das ações que discutem a legalidade do benefício.
Para Ives Gandra, com o adicional também seria corrigida a distorção gerada pelos penduricalhos que resulta em salários maiores na primeira instância e valores menores à medida que o magistrado progride na carreira. “A pirâmide remuneratória está totalmente invertida”, disse. “Ministros do Supremo não recebem auxílio-moradia, ministros dos tribunais superiores recebem esse auxílio, enquanto desembargadores e juízes de primeira instância ganham, além disso, a gratificação por exercício cumulativo de jurisdição que representa 30% do salário.”
CRISE
Essa não é a primeira vez que Ives Gandra tenta mexer com o tão polêmico auxílio-moradia. Durante a crise orçamentária em 2016, o TST não tinha recursos suficientes para pagar toda a folha de pagamento. “Então, cortei o auxílio-moradia e expliquei o dinheiro seria usado para o custeio e manter a Justiça de portas abertas.” 
Semanas depois, porém, liminar do ministro do STF Luiz Fux restabeleceu o benefício. Nenhum ministro do TST renunciou ao benefício, inclusive Ives Gandra, que argumenta que não tem imóvel próprio e nem usa apartamento funcional em Brasília. 
A iniciativa para acabar com o auxílio-moradia tem respaldo nas associações de classe do Judiciário. Crítico da gestão de Ives Gandra no TST, o presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Guilherme Feliciano, disse que esse é um dos poucos temas de concordância entre os dois. “Essa é realmente uma solução plausível para reorganizar a remuneração da magistratura nacionalmente.”
O presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Jayme de Oliveira, concorda com a proposta, mas não em substituição ao auxílio-moradia. “O adicional é uma pauta prioritária, mas não vemos como uma troca porque entendemos que o auxílio-moradia é um direito que será julgado pelo Supremo”. Ele admite, porém, que essa posição não impede eventual iniciativa de debater uma nova política nacional de remuneração dos magistrados.
Ives Gandra e outros magistrados sustentam que a iniciativa pode ser ter resultado positivo para as finanças do governo, mas não há estimativas precisas sobre o tema. Após atuar ativamente na discussão sobre a reforma trabalhista, Ives Gandra entregará o cargo ao colega ministro João Batista Brito Pereira.

Para lembrar: ato e ameaça de paralisação

No início do mês, cerca de 800 juízes, procuradores e promotores promoveram um ato em Brasília cobrando a “valorização da Magistratura e do Ministério Público”. Eles entregaram à presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, uma “carta aberta” com a assinatura de 18 mil membros das categorias.
No abaixo-assinado, a Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público pediram que o STF e a Procuradoria-Geral da República “resgatem o valor histórico da irredutibilidade dos subsídios”. O documento também foi entregue à procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
Na semana passada, um dia após Cármen Lúcia pautar para o dia 22 de março o julgamento das ações que tratam do auxílio-moradia a juízes, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) resolveu fazer uma consulta entre seus associados sobre a possibilidade de realizar uma paralisação da categoria.
Segundo a entidade, uma eventual greve não está confirmada. “Os juízes federais entraram no foco de poderosas forças em razão de sua atuação imparcial e combativa contra a corrupção”, disse o presidente da Ajufe, Roberto Veloso, em nota. 
NOTÍCIAS RE

Eletrobras não pode ficar a serviço do uso político, diz ministro de Energia, FSP


Fernando Coelho Filho afirma que não é papel do governo colocar dinheiro na estatal 

O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho
O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho - Pedro Ladeira/Folhapress
Julio WiziackNicola Pamplona
BRASÍLIA
A dois meses de deixar o cargo para disputar a reeleição como deputado, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, tenta fechar dois acordos para salvar as contas do presidente Michel Temer.

Está prestes a pactuar com a Petrobras um megaleilão de petróleo na área da cessão onerosa que pode render mais de R$ 110 bilhões. No Congresso, negocia a venda da Eletrobras, um negócio que poderá trazer ao menos R$ 12,2 bilhões para a União. 

O ministro defende a privatização, sob o argumento de que, endividada, não tem como competir no mercado. 

Pelo cargo, Coelho Filho rompeu com o PSB no ano passado, quando o partido deixou a base de apoio do governo. Agora, diz que usará o legado na campanha a deputado federal pelo MDB.
 
Folha - O senhor saiu do PSB para ficar no governo, fez reformas ousadas, e foi o ministro que mais deu recursos à União. Ganhou politicamente com isso?
Fernando Coelho Filho - Modéstia à parte, no ano passado, foram R$ 22,5 bilhões, tirando imposto. Fomos nós que mais botamos [dinheiro no caixa da União]. Neste ano, tirando Eletrobras, vai dar mais uns R$ 20 bilhões. Dei uma contribuição para reanimar uma área que é vital para a recuperação da economia. Há um conjunto de medidas que trouxeram investimentos privados para cá. Não são investimentos de governo, subsidiados por bancos públicos, de estatais. São empresas estrangeiras ou nacionais que estão investindo no país mais de R$ 200 bilhões. Isso vai gerar uma infinidade de empregos.
O que ganhou com isso?
Oportunidade de contribuir para ajudar o país a reencontrar o crescimento.
Isso dá voto em Pernambuco?
É um desafio. Era muito melhor não bancar uma série de pautas tidas como antipáticas. Podia ter deixado isso para lá e cuidado da minha reeleição para deputado federal. Se vai dar voto ou não, em outubro a gente descobre.
Dá para usar a privatização da Eletrobras como discurso?
Vou apresentar a proposta apresentada aqui [no Ministério], de eficiência com a coisa pública, redução do papel do Estado. Não é papel do governo ficar colocando dinheiro na Eletrobras. Em 2017, foram R$ 3,5 bilhões que poderiam ter ido para a saúde. Em cinco anos, a Chesf[controlada da Eletrobras] investiu R$ 100 milhões em Pernambuco. Agora [com a privatização], serão R$ 500 milhões por ano.
Parte da situação da Eletrobras se deve a uso político. Vai mesmo passar no Congresso antes de sua saída, em abril?
Existe a compreensão, e o relator [deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA)] já deu seu depoimento nesse sentido, de que a Eletrobras não pode estar mais a serviço de mau uso político. Acredito que tem apoio também para reorganizar aquilo que foi um equívoco: colocar a energia em cotas achando que ia baratear o custo e não barateou. Desde o início a gente sabia que nossa janela [para aprovação] era muito apertada, mas o debate já está iniciado. Acho que dá tempo [de aprovar].
A venda das distribuidoras da Eletrobras também pode ser revista no Congresso?
Aí não há muitas opções. Ou se consegue fazer o leilão e a venda dasdistribuidoras ou se liquida as distribuidoras e o débito vai para a Eletrobras e, em consequência, para a União, que detém 60% daquilo. Essas distribuidoras representam perda de R$ 10 bilhões no balanço da Eletrobras.
Sem esse processo a privatização não sai?
Sem o equacionamento das dívidas, é muito difícil sair. Só a Amazonas Energia tem passivo de R$ 18 bilhões, o equivalente a 60% do valor da empresa em bolsa.
Por que a própria Eletrobras não saneou essas empresas?
Não é o papel da Eletrobras cuidar de distribuição. Quando chegamos aqui, dos R$ 32 bilhões em prejuízos em cinco anos, uns R$ 23 bilhões eram das distribuidoras.
Isso ocorreu por causa do aparelhamento político?
Pode ter atrapalhado, mas não é só isso. Foi a MP 579 [editada pela presidente Dilma Rousseff, que forçou a queda das tarifas, onerando as empresas] que fez todo o mal à Eletrobras? Fez um grande mal, mas foi responsável por tudo isso? Não. Foi só o uso político da empresa? Também não. Foi uma combinação de coisas que resultou na Eletrobras de hoje. Todo mundo fala da dívida astronômica da Petrobras. De fato, em valores absolutos, era. A relação dívida Ebitda[geração de caixa] era 5,3 vezes na Petrobras e de 9 vezes na Eletrobras. Quase o dobro. A Eletrobras vem diminuindo sua participação em empreendimentos porque não tem condições de competir. Corporações estrangeiras competem aqui com mais eficiência.
Qual será o papel da Eletrobras privatizada?
A maior parte do [programa] Luz para Todos está em áreas de concessão de distribuidoras privadas, no Tocantins, Mato Grosso, no Pará. A política de governo, que não é bancada pela Eletrobras, vai continuar. Outro papel da empresa é voltar a dar suporte ao Brasil no crescimento da geração e da transmissão, o que não vem ocorrendo. Nos últimos cinco anos, a Eletrobras só respondeu por 15% da geração instalada no Brasil.

A Eletrobras deve ter hoje ainda financiamentos com taxas de juros irreais, de 16%, 17% ao ano. Porque [os bancos] sabiam que emprestar à Eletrobras tinha um risco cada vez maior. Todo esse arcabouço foi onerando a empresa, má gestão, queda de receitas, investimentos caros e ruins. Não sei de cabeça, mas posso garantir que ela tinha projetos, investimentos com taxas de retorno no papel de 2%, 3%. Tinha subsidiária da Eletrobras que devia a um banco a um custo. E subsidiária que tinha dinheiro aplicado a custo muito menor. [As empresas] Não se comunicavam. Não é à toa que chamavam as controladas de descontroladas.
Os leilões de energias renováveis têm atraído muitos investidores e os preços são competitivos. Não é hora de acabar com subsídios?
A gente contratou energia eólica agora a R$ 96 [o MWh]. Ninguém dizia [que contrataria por esse preço]. Em algum momento, tem que começar a reduzir [subsídio]. A gente vê que a conta CDE [cobrada na tarifa para bancar subsídios], que começou com R$ 1,5 bilhão, R$ 2 bilhões, já bateu em R$ 18 bilhões. A curva não pode continuar assim. Um exemplo: a energia de determinada fonte é R$ 100 e vou dar um subsídio de R$ 30 [pelo MWh]. É melhor pagar R$ 130 do que dar o subsídio. É uma cultura que tem que mudar. Mas não muda apertando um botão.
A Fazenda quer fazer o leilão de petróleo na cessão onerosa para salvar as contas deste ano. Já se chegou a um acordo com a Petrobras sobre isso?
Temos conversado porque é do melhor interesse para a União e para a Petrobras que se chegue a um acordo. 
Já definiu o partido?
Estamos em uma questão com o MDB em Pernambuco. O senador meupai já se filiou e esse assunto está sendo discutido na Justiça. A gente tem convicção de que isso vai ser resolvido nos próximos dias e a ideia é me filiar [no MDB] no momento oportuno.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não ficou incomodado [por não ter aceitado convite para se filiar ao partido dele]?
Tenho relação boa com ele, mas disse que tomei a decisão de acordo com minha política local. Ele entendeu.

RAIO-X

Naturalidade 
Recife (PE)
Formação 
Administração de empresas pela Faap, em São Paulo
Atuação 
Ministro de Minas e Energia, já atuou como líder do PSB na Câmara e foi o deputado mais jovem já eleito no país, em 2006, aos 22 anos. Está em seu terceiro mandato e em dois meses deixa o cargo de ministro para concorrer à reeleição

    sábado, 24 de fevereiro de 2018

    Governo de SP avalia assumir obra da Linha 6 do Metrô, OESP

    Daniel Weterman, O Estado de S.Paulo
    24 Fevereiro 2018 | 11h48
    SÃO PAULO - O governo de São Paulo avalia rever o modelo de concessão da Linha 6-Laranja do Metrô após a paralisação das obras, em setembro de 2016. O secretário dos Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissioni, admitiu neste sábado, 24, que a administração estadual pode assumir as obras e passar apenas a operação à iniciativa privada, em vez de fazer uma concessão integral.
    Fórum estadão Infraestrutura
    Obra da Linha 6 do Metrô de SãoPaulo está parada há 1 ano Foto: Rafael Arbex/Estadão
     "Nós podemos avaliar se vamos continuar com o modelo greenfield ou em partes, ao invés de a concessionária fazer tudo, nós vamos fazer a obra. Vamos avaliar o que é mais conveniente", disse o secretário, evitando adiantar uma decisão definitiva do governo. "É prematuro afirmar qualquer coisa."
    Pelissioni afirmou que será possível abrir o processo de caducidade da obra nos primeiros 15 dias de março, já que o prazo dado para a retomada dos trabalhos vence no dia 5 de março. O Consórcio Move São Paulo, formado por Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC, tentava vender a concessão para um grupo asiático, e deve agora deixar oficialmente o projeto.
    Após a caducidade, a administração fará uma auditoria na obra e assumirá a vigilância e a segurança dos canteiros, disse o secretário. Segundo ele, o consórcio já tinha concluído a execução de 100% do projeto básico e de 15% do projeto executivo. Além disso, o poder Executivo já aportou R$ 694 milhões no projeto, afirmou.