quinta-feira, 6 de julho de 2017

Heresia jurídica (Defesa de Temer) FSP



Depois de 45 dias de acusações abjetas e caluniosas, repetidas ao país à exaustão, apresentei minha defesaoficial à Câmara dos Deputados. Nela fica demonstrada minha inocência cristalina. Não cometi, à frente da Presidência, nenhum deslize penal, ético ou moral.
São tantos os procedimentos e fatos ilegais e arbitrários assacados neste processo torpe contra mim que não é fácil escolher por onde começar. Meus defensores gastaram cem páginas apenas para descrevê-los sucintamente.
Não deixa de ser uma ironia que, advogado de carreira e professor, eu venha a ser apresentado, a esta altura da vida, ao "direito penal da ilação" e ao "direito penal do porvir" -criações inusitadas do Ministério Público Federal que estão assombrando o mundo jurídico.
Pelo "direito da ilação", da mera suposição e dedução, fui acusado, sem provas, de ter recebido R$ 500 mil pelas mãos de terceiros por ordem do empresário-grampeador Joesley Batista, dono do grupo J&F.
A denúncia não descreve sequer um detalhe de minha suposta conduta ilícita. Onde? Quando? A quem pedi? De quem recebi? Nem aponta o que teria eu oferecido em troca ao "corruptor-geral da República".  Esses fatos não podem ser encontrados na inepta peça acusatória. Eles simplesmente inexistem.
Bem como não se atendeu aos pleitos da empresa no Cade, local de origem da suposta propina. A Polícia Federal registrou essa falta de "contrapartida". A acusação se vale apenas, e o tempo todo, da palavra de um delator desesperado para transferir seus crimes a outros. E usa gravação clandestina feita por ele. E os fatos? Foram mandados às favas.
Descobrimos na peça acusatória outra novidade assustadora: a denúncia montada contra mim baseou-se em inédito pré-acordo de colaboração premiada.
E este não trouxe ao conhecimento da Procuradoria-Geral da República (PGR), autora do pedido de investigação, e ao Supremo Tribunal Federal (STF), que o autorizou,"fatos criminosos pretéritos à negociação do acordo em foco", como é usual, mas a previsão de crimes que poderiam ou não ocorrer no futuro, ou estariam em curso.
Ou seja: o delator não apontou crime contra mim, mas prometeu fabricar algum delito no futuro próximo. E assim o fez, em troca de imunidade total para 245 crimes e perdão para 2.000 anos de prisão, ao desdobrar a gravação ilícita e descontínua, imprestável como prova judicial, em "ações controladas". Inaugurou-se, assim, o espantoso "direito penal do porvir".
Foi uma ação desse nível de temeridade -com envergadura para macular não o governante, mas a instituição Presidência da República, e desestabilizar o país- que foi aceita de maneira açodada, sem passar pelo crivo do plenário do STF.
Foi, reafirmo, com base na gravação ilícita que o Ministério Público determinou as ações controladas e medidas cautelares posteriores -todas, portanto, frutos de uma mesma árvore envenenada.
Depois de constatarem a total falta de elementos mínimos para sustentar a imputação de crime, meus advogados perguntam se estou sendo denunciado por ter um ex-assessor "de total confiança" ou por ter conversado com um empresário no Jaburu.
"Ou estaria Michel Temer sofrendo os dissabores de uma denúncia exclusivamente em razão de ser o presidente da República, em uma verdadeira manifestação política contra seus ideais de governo?" A única resposta possível para esta última questão é "sim".
A experiência ensinou-me que a arrogância nunca é boa conselheira. Como sabem os que têm fé, Deus prefere os homens simples, aqueles que, mesmo alçados às mais altas posições, guardam a consciência de saber-se exatamente iguais aos seus semelhantes.
Destacaram, entre todas as manchetes infames destes últimos dias, que sou o primeiro presidente da República denunciado no exercício do cargo por corrupção.
Isso só foi possível porque é a primeira vez também que se atropela de forma tão violenta e absurda o devido processo legal.
Defendo-me de acusação que é uma verdadeira heresia jurídica, um atentado ao Estado democrático de Direito. Que seja a primeira e a última denúncia neste feitio arbitrário.
Digo isso em favor da presunção constitucional de inocência devida a todos os brasileiros. Que em nosso país até o mais humilde cidadão sinta-se preservado das flechas da injustiça.
Luto hoje não apenas pela minha inocência, mas para garantir o direito sagrado de todo brasileiro. Luto para que prevaleça a lei sobre os interesses subterrâneos e inconfessáveis que movem aqueles que envenenam nossas instituições e querem matar princípios básicos consagrados pela nossa civilização.
MICHEL TEMER é presidente da República. Foi vice-presidente (governo Dilma) e ocupou por três vezes a presidência da Câmara dos Deputados
PARTICIPAÇÃO

terça-feira, 4 de julho de 2017

Juro menor dá alívio bilionário nas contas públicas, OESP



Despesa da União com o pagamento de juros da dívida deve chegar a R$ 402,2 bilhões, quase R$ 100 bilhões a menos do que em 2015






Douglas Gavras, O Estado de S.Paulo
04 Julho 2017 | 05h00
Uma das vitrines da equipe econômica do governo Temer, a queda dos juros básicos também vai ajudar a impulsionar uma redução nos gastos públicos. A conta dos juros pagos pelo governo deve fechar o ano em R$ 402,2 bilhões – R$ 4,8 bilhões a menos que no ano passado e R$ 99,6 bilhões a menos que em 2015, segundo projeções da consultoria Tendências, que levam em consideração uma taxa de 8,75% ao fim do ano. 

Banco Central
BC manteve trajetória de queda dos juros básicos nas últimas reuniões do Copom Foto: André Dusek/Estadão
Caso esse cenário se concretize, a despesa do governo com juros neste ano, em relação ao PIB, ficaria abaixo dos 6,5% do ano passado e dos 8,4% de 2015.
No fim de maio, o Banco Central reduziu a Selic, os juros básicos da economia, pela sexta vez seguida. O Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a taxa em 1 ponto porcentual, de 11,25% ao ano para 10,25% ao ano. Na prática, isso significa que a dívida pública cresce menos, já que cerca de um terço dela é atrelada à Selic.
Os juros básicos estão no menor nível desde janeiro de 2014, quando estavam em 10% ao ano. Entre o fim de 2012 e abril de 2013, a Selic foi mantida em 7,25% ao ano, no menor nível da história, e passou a ser reajustada gradualmente até alcançar 14,25% ao ano em julho de 2015. Apenas em outubro de 2016 o Copom voltou a reduzir a Selic.
“É um impacto importante no déficit nominal (número que leva em conta o pagamento dos juros da dívida pública). Os economistas costumam olhar com mais atenção para o superávit primário (que não inclui o pagamento dos juros), mas a economia de R$ 99,6 bilhões mostra o quanto é importante que o BC reduza os juros de forma sustentável”, diz José Marcio Camargo, professor da PUC-Rio. “Muito se discute a velocidade do corte dos juros. É verdade que a economia está em recessão, mas a política monetária é feita olhando o futuro. Tudo que o Banco Central não quer é ter de aumentar os juros quando a economia retomar.” 
“É um resultado que ajuda a corroborar os ajustes feitos no último ano. Um movimento errado na política monetária não causaria esse efeito. Em 2012, os juros caíram de forma forçada, e o juro médio da dívida pública não reagiu”, lembra Fabio Klein, analista da Tendências. Ele ressalta que o custo de financiamento da dívida pública cai desde 2016, embalado pelas expectativas futuras de inflação. 
Por mais amargo que tenha sido até agora, o ajuste fiscal promovido pela equipe econômica abriu espaço para que a economia opere em um maior grau de segurança, diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. Ele lembra que a queda dos gastos públicos, como efeito colateral da Selic, abre espaço para outros avanços. “Em um primeiro momento, esses números podem não se traduzir em incentivos, mas podem nos ajudar a entender o tamanho do desequilíbrio das contas públicas.”


Mais tempo. Na avaliação de economistas ouvidos pelo Estado, a queda nos juros básicos poderia causar um certo alívio no ajuste fiscal do governo, pois juros menores fazem com que a dívida aumente a uma velocidade menor – é como uma bola de neve crescendo em um ritmo menos preocupante, mas que continua crescendo.
Eles lembram que, se o esforço do governo por um superávit primário não se mantiver, não adianta os juros pressionarem menos.
Para Raul Velloso, especialista em finanças públicas, o governo pode tentar ganhar tempo usando o corte de juros como um argumento a seu favor, no caso de não cumprir a meta de déficit primário de R$ 139 bilhões para este ano. “O governo pode pleitear uma revisão da meta e justificar o não cumprimento dizendo que a recessão foi mais aguda do que se imaginava, mas que se tentou compensar diminuindo o impacto dos juros na dívida.”
Já Sergio Vale, da MB Associados, diz que o desgaste político de Temer para tentar votar uma nova meta seria muito grande perante o mercado e que o maior problema continuará sendo mexer nos gastos primários. “A queda de juros em si ajuda a pagar menos serviço da dívida, sem dúvida, mas infelizmente não entra na conta que é apurada pra fazer o cálculo do déficit primário. O problema de alcançar a regra do teto de gastos e para isso ter de fazer a reforma da Previdência continuará sendo o mesmo.”
Vale também avalia que é preciso considerar o cumprimento das metas de gastos do governo olhando mais para 2018 do que para o mandato atual. “Temos de observar que só uma pequena parte dos atuais pré-candidatos fala da preocupação com a questão fiscal. A crise do governo Temer antecipa essa discussão.”
NOTÍCIAS RELACIONADAS

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Apple construiu escritório para adultos, triunfo póstumo de Steve Jobs, FSP



Noah Berger/Reuters
Campus da Apple em Cupertino, na Califórnia
Campus da Apple em Cupertino, na Califórnia

Uma espaçonave gigante aterrissou em Cupertino. Nas próximas semanas, os 12 mil funcionários da Apple começarão a se transferir para seu novo edifício com cara de disco voador, cuja construção durou oito anos e supostamente custou US$ 5 bilhões —o que faz dele o escritório mais caro do planeta.
O Apple Park é o triunfo póstumo de Steve Jobs; como projeto motivado pela vaidade, ele mais ou menos se equipara ao Palácio do Povo do ditador comunista Nicolae Ceausescu, em Bucareste.
Jobs detalhou as especificações como um verdadeiro maníaco por controle —o que ele era—, insistindo em portas impecáveis e no uso de pedras de uma pedreira do Kansas que passam por um processo de desgaste artificial para se assemelharem às paredes de um hotel em Yosemite do qual ele gostava. O capricho obsessivo e a grandiosidade do projeto fazem com que o mármore encomendado por Jacques Attali para a sede quando ele era presidente do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (Berd) fique com cara de capacho.
Se eu fosse acionista da Apple, não estaria feliz. Exagerar na decoração da sede quase sempre quer dizer que a calamidade está a caminho. As coisas não terminaram bem para a Romênia de Ceausescu e para o Berd de Attali.
Se eu morasse em Cupertino, tampouco gostaria da obra. O Apple Park tem pelo menos 9.000 vagas de estacionamento, o que significa circulação excessiva de carros. É melhor para as cidades que os escritórios fiquem no centro, para que as pessoas não precisem se deslocar tanto e possam sair na hora do almoço a fim de gastar dinheiro em lojas locais.
Mas em meu papel de observadora de escritórios, estou dando pulinhos de alegria. Nas duas últimas décadas, três coisas ruins aconteceram com o design de escritórios, e o Apple Park põe fim a todas elas.
Primeiro, perdemos de vez a confiança nos escritórios, agora que trabalhadores nômades preferem trabalhar de casa ou de um café. O edifício de Jobs é um hino à importância dos escritórios em geral. Os críticos resmungam sobre a possibilidade de que o edifício se torne um elefante branco caso a Apple quebre, mas isso não é relevante. O que o Apple Park diz, alta e claramente, é que "estamos aqui para ficar e, com isso, construímos algo de bonito onde nosso pessoal possa trabalhar todos os dias".
A segunda coisa ruim é a confusão entre casa e trabalho. Os projetistas de escritórios que estão na moda adoram fazer com que espaços de trabalho se pareçam com os apartamentos horrendos de hipsters imaginários - o escritório do Airbnb em San Francisco está repleto de espaços com cara de salas de estar descoladas, cozinhas e até mesmo uma "caverna para nerds".
Até onde consigo ver, assistindo a um vídeo sobre a nova sede no YouTube e lendo a resenha inicial da revista "Wired" sobre ela, o edifício da Apple foi construído com base na ideia de que trabalho e casa são distintos. Não há nem mesmo serviços de creche no local, o que também representa progresso. Eu nunca quis que meu empregador cuidasse dos meus filhos. Queria contratar pessoas que eu escolhesse para me ajudar a tomar conta deles, e sair do trabalho na hora certa para assumir a tarefa, no final do expediente.
O mais radical é que o Apple Park foi feito para adultos. Nas duas últimas décadas, os escritórios vêm sendo construídos como se fossem abrigar alunos do ensino básico. O Google é líder mundial na infantilização da força de trabalho, com gramados de croquê feitos de grama artificial e escorregadores.
No escritório da empresa em Tel Aviv, o pessoal faz reuniões em ridículas cápsulas voadoras —cestas com hélices no topo. Essa tendência perniciosa —feia, estúpida e eivada de preconceito de idade— surgiu no Vale do Silício e se espalhou. Mesmo na quadradíssima sede nova da Confederação da Indústria Britânica em Londres, a decoração usa cores primárias, cápsulas e murais engraçadinhos.
O Apple Park deu as costas à diversão e escolheu a beleza, em lugar dela. Beleza é algo de sério e adulto —como o trabalho deveria ser.
O edifício tem duas outras vantagens: a democracia e o verde. Os escritórios fingem ser igualitários há décadas, mas enquanto permanecerem em edifício altos, o presidente-executivo sempre estará no topo. A espaçonave da Apple tem só quatro andares, e todo mundo terá a mesma vista, a melhor para um trabalhador: árvores. Cerca de nove mil delas serão plantadas - quase uma por pessoa.
O único escorregão é a tentativa da Apple de justificar a despesa. A companhia afirma que o ambiente imaculado provavelmente levará seu pessoal a produzir trabalho imaculado. Isso é asneira: muitas das melhores invenções da história surgiram em galpões.
De qualquer forma, a Apple não precisa se justificar. Tem dinheiro para queimar, e escolheu queimá-lo em algo esplêndido para seus trabalhadores. Como acionista, eu talvez não gostasse disso. Mas se fosse um dos 12 mil trabalhadores envolvidos, estaria contando ansiosamente os dias até a mudança.