domingo, 21 de fevereiro de 2016

O silêncio dos bons - ELIANE CANTANHÊDE


O Estado de S. Paulo - 17/02

Na Bancoop, os dirigentes pintaram e bordaram, deixando centenas de famílias a ver navios e tríplex no Guarujá. No Petros (Petrobrás), no Postalis (Correios), na Previ (BB) e na Funcef (CEF), os presidentes e diretores também fizeram a maior farra, deixando milhares de funcionários com uma aposentadoria incerta e uma dívida já estimada em R$ 46 bilhões.

O que uma cooperativa de bancários de São Paulo tem a ver com os fundos de pensão das principais estatais brasileiras? Todas viveram o mesmo aparelhamento, com o mesmo modo de fazer as coisas e personagens que têm origens parecidas: os presidentes da Bancoop e dos fundos de pensão eram do PT, ou indicados pelo partido de Lula, e fizeram carreira em sindicatos. Exemplo: João Vaccari Neto, da Bancoop, ex-tesoureiro do PT e hoje preso na Lava Jato.

É preciso reconstituir essa história e mostrar o que há de tão intrigantemente igual na escolha dos dirigentes, na origem sindical e partidária de cada um, na ausência de limites entre público e privado, na forma invertida de tirar da maioria para favorecer a minoria do poder. Como lembrou o chefe da Casa Civil, o também petista Jaques Wagner, “quem nunca comeu melado, quando come...” A turma encheu a pança.

Há muitos detalhes cruéis nessa trama, mas o principal deles é que os governos passam, os partidos passam, os presidentes dos fundos de pensão passam, mas as vítimas ficam e se tornam vítimas para sempre. Aí, entra uma curiosidade, resvalando para uma cobrança: como tudo isso pôde acontecer, durante tanto tempo, atingindo tanta gente, prejudicando tantas instituições, e ninguém meteu a boca no trombone?

Funcionários do Banco do Brasil, da Petrobrás, dos Correios, da Caixa Econômica Federal são historicamente reconhecidos e admirados por vestirem a camisa e defenderem suas instituições. Por que, depois da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, eles passaram a também não ver, não ouvir, não saber e não falar? Um mistério.

Vejamos a Petrobrás. O desastre e o escândalo que marcaram para sempre a história da maior empresa brasileira refletiram diretamente sobre a gestão do fundo de pensão dos funcionários, desenrolando-se dia após dia, semana após semana, anos após anos, à luz do sol, envolvendo bilhões de reais, dólares, euros. E não havia um só diretor, gerente, engenheiro, secretária, telefonista, garçom, servente, motorista, para defender a companhia e impedir que o Titanic afundasse?

A bem da verdade, registro aqui que, em outubro de 2011, dois anos e meio antes do início da Lava Jato, recebi o e-mail de um engenheiro da Petrobrás que, obviamente, assinava com um pseudônimo, “Miamoto Kojuro”: “Causa espanto o que vem acontecendo nas obras de expansão das refinarias e de construção das novas, na verdade, em praticamente todos os empreendimentos que levam o nome Petrobrás”.

Segundo esse engenheiro, “se a corrupção no Ministério dos Transportes chocou a opinião pública, levando a uma pseudo faxina do governo, motivada por denúncias da imprensa, o que acontece na Petrobrás excede em muito as irregularidades dos Transportes”. E acrescentava algo que o juiz Sérgio Moro agora diz claramente: “Notadamente empresas doadoras de campanha para o PT são bem aquinhoadas na Petrobrás. (...) Mesmo que orcem as obras baixo, elas nunca perdem dinheiro mediante os mais diversos expedientes”.

“Kojuro”, se você estiver me lendo, entre em contato, por favor! Aliás, senhores funcionários da Petrobrás e da Petros, do BB e da Previ, da ECT e do Postalis, da CEF e da Funcef, é hora de falar. Além das suas instituições, os atingidos são o País e cada um de vocês. Como ensinou Martin Luther King Jr. (1929-1968), o pior não é o grito dos violentos, corruptos, desonestos e sem caráter. “O que preocupa é o silêncio dos bons.”

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Governo federal mantém investimento em saneamento e 3,5 milhões de pessoas passam a ter acesso ao serviço em um ano



Número é superior à população do Uruguai. Atualmente, mais de 156 milhões de brasileiros têm água tratada na zona urbana

O Ministério das Cidades, por meio da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, divulgou nesta terça-feira, os dados da 20ª edição do Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos referentes ao ano de 2014. Os números apontam que 156,4 milhões de brasileiros moradores em áreas urbanas são atendidos por redes públicas de abastecimento de água. Já a construção de coletores de esgotos beneficiou em 2014 mais 3,5 milhões de habitantes. Esse número é maior que toda a população do Uruguai.
O Diagnóstico SNIS 2014 apurou informações sobre o abastecimento de água em 5.114 municípios e sobre o esgotamento sanitário em 4.030 cidades, que correspondem a 98% e 92,5%, respectivamente, da população urbana do país.
Nesta edição, o levantamento apontou índice de abastecimento de água nas áreas urbanas de 93,2% dos moradores. Destacam-se as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com 97,3%, 96,8% e 96,7%, respectivamente. Em números absolutos são 156,4 milhões de brasileiros que tem acesso ao serviço. Somente em 2014, houve um incremento de 2,4 milhões de habitantes.
Na área de saneamento, 57,6% da população brasileira residente em áreas urbanas são atendidas por redes coletoras de esgotos o que significa 96,8 milhões de habitantes beneficiados com o serviço. Neste item, destaca-se a região Sudeste, com 83,3%. Em 2014, foram beneficiados mais 3,5 milhões de brasileiros.  De todo esgoto coletado, 70,9% ou 3,8 bilhões de m³ ao ano são tratados. Esse índice é 5,6% superior ao registrado no ano anterior.
Outros dados relevantes contidos no Diagnóstico são que as cidades brasileiras possuem 586,2 mil quilômetros de redes de água, o que daria para 14 voltas em torno da Terra. Essa quantidade está conectada a 51,6 milhões ramais prediais. Em termos de esgotamento sanitário, são 270,7 mil quilômetros de redes conectadas a 27,6 milhões de ramais prediais. Em 2014 houve crescimento de 14,7 mil quilômetros de rede de água se comparado a 2013 e de 3,3 mil quilômetros na rede de esgotos.
Consumo de água - O levantamento revelou que o consumo médio per capita de água no país foi de 162 litros por habitante ao dia, uma queda de 2,6% em relação a 2013. A população do Nordeste consumiu em média 118,9 litros, enquanto que no Sudeste foi de 187,9 litros. Por sua vez, ao distribuir água para garantir tal consumo, as redes sofreram perdas na distribuição, que na média nacional alcançaram 36,7%, mantendo-se praticamente no mesmo patamar de 2012 e 2013.
Investimentos - Segundo dados do Diagnóstico, o país registra investimentos efetivamente realizados nos serviços de água e esgotos, no ano de 2014, no montante de R$ 12,2 bilhões (crescimento de 16,7% quando comparado com 2013), com destaque para os serviços de esgotos que receberam diretamente 46% do total investido. O porte dos serviços de água e esgotos na economia pode ser medido pela movimentação financeira de R$ 99,8 bilhões em 2014.
Empregos - Sobre geração de empregos no setor, foram 864,7 mil novas vagas diretas e indiretas em todo o país, sendo 218,2 mil nas atividades diretas de prestação dos serviços e 646,5 mil gerados pelos investimentos. Em comparação a 2013, observa-se um aumento de 12,7%.
Diagnóstico - O Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos é composto por dados operacionais, administrativos, econômico-financeiros, contábeis e qualidade dos serviços de saneamento, que permite descrever, com elevado grau de objetividade, aspectos sobre a gestão dos serviços nos municípios brasileiros. No componente “água e esgotos”, as informações são fornecidas por companhias estaduais, empresas e autarquias municipais, empresas privadas, secretarias e departamentos das Prefeituras municipais, responsáveis pela prestação dos serviços de água e esgotos no país.
O documento apresenta ainda uma grade extensa de informações e indicadores capazes de possibilitar uma visão abrangente, de forma a se obter avaliações consistentes sobre o desempenho dos serviços em todo o país. O Diagnóstico e o conjunto completo dos dados podem ser acessados no site www.snis.gov.br.


Governo admite que não deve cumprir meta de saneamento básico, do G1


Meta era ter rede de esgoto em mais de 90% do país dentro dos próximos 17 anos. Quase 43% da população vive em cidades sem o tratamento.

O Brasil não consegue avançar em um problema que é histórico: quase metade da população não tem acesso ao saneamento básico.
O governo parece que entrega os pontos e admite que não dá para cumprir uma meta prevista para daqui a 17 anos. Metade da população brasileira não tem acesso a rede de esgoto.
É o que o governo mais tem falado, que o pessoal tem que cuidar para não deixar lixo na rua. Mas e o esgoto na rua? Quase 43% da população vive em cidades sem rede de esgoto.
Assim, com tudo escorrendo. É muita gente nessa situação. O governo concorda. E pior, admitiu, nesta terça-feira (16), que não deve conseguir cumprir o que planejou, que era ter, dentro dos próximos 17 anos, rede de esgoto em mais de 90% do país.
“A gente vai incentivar para que haja condição de atingir as metas. Mas no momento, a gente olhando o horizonte de 2033, com os olhos de hoje, a gente acha que ainda tem uma certa dificuldade”, diz Paulo Ferreira, secretário nacional de Saneamento Ambiental.
E por que? O governo tem algumas justificativas.
“Nos municípios menores do Nordeste, o principal problema talvez seja da gestão. A gente está procurando. Problema de perdas, problema de técnicos. Tem uma dificuldade de você ter engenheiros, corpo de engenharia para lá. Prefeitos às vezes não priorizam a necessidade de projetos”, afirma Paulo Ferreira.
E aí, no fim das contas, separando por região, está assim:
No Norte, mais de 90% vivem sem rede de esgoto. Na região Nordeste quase 70%. 
Na Sul, pouco mais da metade conta com fossas. Um pouco melhor está a região Centro-Oeste. E em disparada está a sudeste, onde quase só 17% não têm saneamento.
E a diferença do que foi investido também é gritante. No Norte foram quase de R$ 170 milhões em 2014. Já no Sudeste, R$ 3 bilhões para melhorar a rede de esgoto. E quase 30% do esgoto coletado do país, não são tratados.
Para o Instituto Trata Brasil, que também faz estudos sobre saneamento no país, ter quase metade da população sem rede de esgoto é simplesmente inaceitável, ainda mais, em tempos de epidemias.
“A gente sempre se preocupava com as diarreias, com a mortalidade infantil, com as doenças de pele, com as hepatites que eram típicas de falta de saneamento. Agora se juntou as doenças do Aedes aegypti. Complica o quadro. Saneamento é um grande investimento. As autoridades acostumaram a ver o saneamento como um custo quando na verdade tem que olhar como um grande investimento“, afirma o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Edison Carlos.
Outra informação que foi divulgada é que a meta é levar o abastecimento de água para todas as cidades até 2023.