domingo, 22 de fevereiro de 2015

Racionais e Criolo, planetas diferentes

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR



Os primeiros têm base fincada no mundo real; o outro, amado pelos críticos, sobrevive graças ao Sesc
Chamaram a atenção dois anúncios de shows em São Paulo no final de 2014: Racionais MC's no Espaço das Américas (lugar para 8.000 pessoas) e Criolo, como sempre, em alguma unidade do Sesc.
Ambos são expressões da periferia da zona sul paulistana. Os Racionais, na estrada desde os anos 90. Criolo, ex-sambista, se destacou como rapper a partir de 2011.
Os Racionais lançam o álbum "Cores & Valores", o primeiro de inéditas em 12 anos. Criolo também tem trabalho novo, "Convoque Seu Buda".
Improdutivos, irascíveis, fora de controle, na contramão do "mercado", os Racionais construíram uma base de fãs no mundo real. Seus shows lotam de gente que pagou ingresso para valer, sem preço subsidiado.
Tenho dúvida se a cena da "nova MPB" da qual Criolo faz parte existe nesse mundo de verdade. Onde ela vive, aí sim, é nas páginas de jornais e revistas, nos blogs de "jornalistas" e "críticos" amigos e nas unidades do Sesc espalhadas pelo Brasil.
Mas fazer sucesso no Sesc é fazer sucesso de verdade? É uma discussão delicada, porque não se podem negar os enormes benefícios, que já duram décadas, trazidos pela programação musical dos Sescs.
Um programa de TV fundamental para a minha geração, "A Fábrica do Som", na Cultura, era apresentado por Tadeu Jungle do Sesc Pompeia, para ficar em único exemplo entre dezenas.
O argumento a favor do Sesc é que, se não fosse por ele, muitos músicos de talento não teriam onde se apresentar. Da banda indie australiana com meia dúzia de fãs a essas figuras da "nova MPB". Dos veteranos do samba e do manguebeat aos moleques doidões de som experimental.
Mas a visão contrária é igualmente válida. Ela diz o seguinte: não existem opções ao Sesc porque o Sesc não deixa que existam. É uma estrutura tão milionária de subsídios, que pode pagar cachês fixos e cobrar ingressos tão baratos, que destrói o que há em volta. Um oásis a transformar em deserto o seu entorno.
Essa crítica à política cultural dos Sescs (como neste texto do colega André Barcinski: http://ow.ly/GCg9h) tem base sólida na realidade. Em São Paulo, por exemplo, a cena de Criolos, Emicidas, indie sambinha e similares só tinha força, além do Sesc, em duas casas de porte médio e mesmo dono, na rua Augusta: o Studio SP e o Comitê Club. Ambas fecharam (a segunda durou só seis meses).
No Rio, o Studio RJ, muito "hypado" pela tropa de sempre, em um ponto valorizadíssimo entre Arpoador e Ipanema, tem portas cerradas desde fevereiro de 2014 ("para obras", segundo a conta oficial no Twitter).
Que eu me lembre, só fui a um show no ano passado, o da banda colombiana Bomba Estéreo, de cúmbia eletrônica. E foi justamente em um Sesc, o do Belenzinho, zona leste de São Paulo.
Não conhecia. De cara me espantei com a suntuosidade, uma piscina não muito menor do que o mar Cáspio. Quem constrói algo daquelas dimensões e qualidade tem muito dinheiro para gastar --não há como fugir dessa conclusão.
Como nada é perfeito, o show foi em um ambiente estranho, um refeitório gigantesco e frio, apesar do nome "modernex": "comedoria". Os ingressos, baratíssimos como sempre, estavam esgotados (como em tudo no Sesc, onde o público não é necessariamente do artista, mas do próprio Sesc e de seus eventos quase gratuitos).
Mas, imagino que por razões de segurança, a lotação, ainda que máxima, deixava enormes vazios. Calculo que em uns 70% do espaço não havia ninguém.
Outra conclusão inescapável: aquele refeitório --desculpe, "comedoria"-- não tinha nada a ver com o Bomba Estéreo. Não é lugar para show, nem aqui, nem no Belenzinho, nem em Bogotá.
O mesmo acontece com outras bandas de rock estrangeiras que, acostumadas em seus países a clubinhos para 150 pessoas, quando vêm ao Sesc tocam nesses refeitórios nada a ver ou nos teatros da instituição, para uma audiência respeitosamente sentada. Só no Brasil isso deve acontecer.
Goste-se ou não dos Racionais MC's, é inegável que eles sobrevivem muito bem de uma plateia que aceita pagar preços justos para vê-los. Criolo e congêneres dependem da rede de proteção paraestatal oferecida pelo Sesc.
Não duvide: esta é uma discussão importante.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Pavimento permeável pode minimizar enchentes urbanas

Inovação Tecnológica
Uma das causas das enchentes nas grandes cidades é a impermeabilização do solo, com o concreto e o asfalto impedindo que a terra absorva parte da água e evite que ela se acumule nos locais mais baixos.
O problema não é exclusividade do Brasil, e engenheiros finlandeses desenvolveram uma solução para o problema: um asfalto permeável que absorve parte da água da chuva.
"As soluções de pavimento desenvolvidas no projeto podem ajudar na mitigação das inundações urbanas causadas por grandes volumes de água na rede de águas pluviais," disse Erika Holt, do Centro de Pesquisas Tecnológicas da Finlândia.
Pavimento permeável
O pavimento permeável consiste em uma camada superficial de rolamento, aplicada sobre camadas de materiais de alta porosidade, capazes de reter água. As camadas de subsuperfície podem receber sistemas de drenagem ou coleta de água, ou se interligarem com a rede pluvial.
A camada de rolamento é uma mistura de asfalto, brita fina e concreto de alta permeabilidade.
O material ainda não é um substituto completo para o asfalto, sendo adequado para áreas com baixo volume de tráfego, tais como parques de estacionamento, calçadas, pátios, quadras e praças.
Segundo Holt, o pavimento permeável foi desenvolvido para atender aos rigores do inverno nórdico, resistindo ao congelamento nas estações frias e à aplicação de sal para remoção do gelo, aplicado no inverno para evitar que os carros derrapem.
As propriedades geotécnicas das camadas inferiores também foram ajustadas para as condições climáticas da Finlândia, e a aplicação da técnica em outros climas precisaria refazer os experimentos para encontrar a solução mais adequada a cada região.
Como guia para quem desejar fazer seus próprios experimentos, a equipe indica que as variáveis envolvidas incluem seleção dos materiais aplicados em cada camada, projeto e dimensionamento das camadas, técnicas de construção e períodos de manutenção.
Solução sob medida
Já existem pavimentos permeáveis em utilização no Japão, Bélgica, Alemanha e nos EUA.
O projeto finlandês teve o mérito de destacar a necessidade de adaptação do conceito às condições climáticas específicas de cada área de utilização, de forma a reduzir custos e maximizar a absorção de água.

Leia na biblioteca do ENGENHARIA COMPARTILHADA:

Pavimento permeável pode minimizar enchentes urbanas

Redação do Site Inovação Tecnológica - 30/01/2015
Pavimento permeável pode minimizar enchentes urbanas
Teste de vazão da camada de pavimento permeável, vista na parte superior da imagem. [Imagem: VTT/Class Project]
Uma das causas das enchentes nas grandes cidades é a impermeabilização do solo, com o concreto e o asfalto impedindo que a terra absorva parte da água e evite que ela se acumule nos locais mais baixos.
O problema não é exclusividade do Brasil, e engenheiros finlandeses desenvolveram uma solução para o problema: um asfalto permeável que absorve parte da água da chuva.
"As soluções de pavimento desenvolvidas no projeto podem ajudar na mitigação das inundações urbanas causadas por grandes volumes de água na rede de águas pluviais," disse Erika Holt, do Centro de Pesquisas Tecnológicas da Finlândia.
Pavimento permeável
O pavimento permeável consiste em uma camada superficial de rolamento, aplicada sobre camadas de materiais de alta porosidade, capazes de reter água. As camadas de subsuperfície podem receber sistemas de drenagem ou coleta de água, ou se interligarem com a rede pluvial.
A camada de rolamento é uma mistura de asfalto, brita fina e concreto de alta permeabilidade.
O material ainda não é um substituto completo para o asfalto, sendo adequado para áreas com baixo volume de tráfego, tais como parques de estacionamento, calçadas, pátios, quadras e praças.
Segundo Holt, o pavimento permeável foi desenvolvido para atender aos rigores do inverno nórdico, resistindo ao congelamento nas estações frias e à aplicação de sal para remoção do gelo, aplicado no inverno para evitar que os carros derrapem.
As propriedades geotécnicas das camadas inferiores também foram ajustadas para as condições climáticas da Finlândia, e a aplicação da técnica em outros climas precisaria refazer os experimentos para encontrar a solução mais adequada a cada região.
Como guia para quem desejar fazer seus próprios experimentos, a equipe indica que as variáveis envolvidas incluem seleção dos materiais aplicados em cada camada, projeto e dimensionamento das camadas, técnicas de construção e períodos de manutenção.
Solução sob medida
Já existem pavimentos permeáveis em utilização no Japão, Bélgica, Alemanha e nos EUA.
O projeto finlandês teve o mérito de destacar a necessidade de adaptação do conceito às condições climáticas específicas de cada área de utilização, de forma a reduzir custos e maximizar a absorção de água.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O fantasma do distritão - BERNARDO MELLO FRANCO (pauta)


FOLHA DE SP - 15/02

BRASÍLIA - Tudo o que está ruim pode piorar. A máxima, que nos últimos dias vitimou a Petrobras e o ex-bilionário Eike Batista, começou a assombrar o debate da reforma política. O maior fantasma responde pelo nome de distritão e ganha força velozmente no Congresso.

A proposta muda a forma como são eleitos os deputados. Hoje, no sistema proporcional, as vagas são divididas pela soma dos votos acumulados por cada partido ou coligação. Com a mudança, as cadeiras passariam a ser dos candidatos mais votados individualmente.

A fórmula é simples e agrada ao senso comum, mas enfraquece ainda mais o papel dos partidos. Se o distritão for adotado, o voto de legenda vai sumir e a eleição se tornará uma luta de todos contra todos. Dois candidatos filiados à mesma sigla serão tão adversários quanto dois que pertençam a siglas diferentes.

"Os partidos vão ficar absolutamente em segundo plano. No distritão, é cada um por si", resume Antonio Augusto Queiroz, diretor do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).

Os defensores do modelo, patrocinado pelo PMDB, dizem que ele corrigiria uma distorção atual: a eleição de candidatos quase desconhecidos graças ao desempenho de celebridades. Em 2002, Enéas Carneiro recebeu 1,5 milhão de votos para deputado e arrastou para a Câmara um aliado com míseros 275 votos.

O problema é real, mas podem surgir outros piores. Entre eles, o encarecimento das campanhas, já que cada candidato investirá o máximo para se eleger por conta própria, e o lançamento de mais famosos, como artistas e ex-jogadores. Se a coerência partidária já está em falta, um sistema eleitoral que só valoriza indivíduos pode condená-la à extinção.

O cientista político Jairo Nicolau, que considera o distritão uma ideia desastrosa, levanta um argumento adicional. O sistema só é adotado hoje em quatro países: Afeganistão, Jordânia, Vanuatu e Ilhas Pitcairn.