terça-feira, 30 de setembro de 2014

Estre cria empresa para vender energia

NAIANA OSCAR - O ESTADO DE S.PAULO

13 Agosto 2014 | 02h 02

Gestora de aterros sanitários vai investir R$ 300 mi em parceria com grupo português Enc Energy para criar a Estre Energia Renovável

Divulgação
Renovável. Usina de Guatapará, em São Paulo, tem capacidade para abastecer 18 mil pessoas
A gestora de resíduos sólidos Estre Ambiental - fundada pelo empresário Wilson Quintela Filho e com sócios como o BTG Pactual, do banqueiro André Esteves - vai estrear na área de energia. A companhia se associou à portuguesa Enc Energy para criar a Estre Energia Renovável, empresa que vai gerar eletricidade a partir do biogás de seus aterros sanitários. Serão investidos R$ 300 milhões no novo negócio, que, em três anos, deve faturar R$ 200 milhões.
Esse já é um plano antigo de Quintela. Mas, só em maio deste ano, a primeira usina entrou em operação (em caráter experimental) no aterro de Guatapará, interior de São Paulo. Para lá, são levadas diariamente 2,2 mil toneladas de resíduos, vindos de municípios como Araraquara e Ribeirão Preto. A usina ainda aguarda autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) para se tornar comercial, mas já pode vender energia no mercado, por estar em fase de testes. Por enquanto, ela tem capacidade para gerar 4,2 megawatt (MW), quantidade suficiente para abastecer 18 mil pessoas.
"Estamos fazendo um esforço para ampliar essa iniciativa e estender o projeto a 10 dos 23 aterros da Estre", diz Alexandre Alvim, diretor de novos negócios da empresa. "A meta é, em três anos, atingir uma capacidade instalada de 100 MW e ser o maior player do setor."
A Estre não está sozinha nesse mercado, tampouco está no grupo dos pioneiros. As usinas de biogás mais antigas do País estão na capital paulista. A primeira foi instalada no aterro desativado Bandeirantes, na Zona Oeste da cidade, em 2004. A outra entrou em operação em 2007, no também desativado aterro São João. O sistema é administrado pela Biogás Energia Ambiental.
Os projetos seguintes demoraram a aparecer porque era difícil fechar a equação para ganhar dinheiro com biogás no País. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos, sancionado em agosto de 2010, e considerado o marco regulatório do setor, impulsionou alguns projetos. Em outubro, o governo federal fará o primeiro leilão de energia para empreendimentos de biogás - oito projetos estão inscritos. "Era um investimento muito caro e o mercado não considerava as empresas de resíduo como fornecedores", diz Carlos Silva Filho, diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
Em 2011, o Grupo Solví, que atua em 171 cidades no Brasil e em 16 municípios no Peru, inaugurou uma termelétrica no aterro municipal São Cristóvão, em Salvador. A empresa investiu R$ 50 milhões no projeto, que tem capacidade de 19,7 MW, capaz de abastecer 50 mil residências.
O grupo está construindo uma nova usina no Rio Grande do Sul, prevista para entrar em operação em agosto do ano que vem, com capacidade de 8 MW. A paranaense J. Malucelli também tem usinas de biogás.
A própria parceira da Estra no negócio de energia já operava no Brasil. Com oito aterros sanitários sob gestão em Portugal, a Enc Energy fez uma parceria com a Vital Ambiental, do grupo Queiroz Galvão, em 2012, para gerar biogás no aterro de Juiz de Fora.
Parceria. A sociedade com a Estra é uma joint venture, em que a Enc Energy detém 10% do negócio. Três executivos portugueses já estão no Brasil para implementar as novas usinas. "O histórico brasileiro em biogás não é muito positivo, por isso buscamos uma empresa que já entendia desse negócio para desenvolver os projetos", dia Alvim.
A empresa não informa quanto faturou e por que preço vendeu sua energia nesses primeiros meses. Diz apenas que 80% do que foi produzido já está contratado. Os 20% restantes poderão ser comercializados futuramente no mercado à vista, onde o preço da energia superou nesta semana R$ 650 o MWh.
O negócio ainda é pequeno para Estra, que faturou no ano passado R$ 1,9 bilhão e teve prejuízo de R$ 458 milhões. A empresa busca alternativas para se tornar mais rentável. Depois de uma série de cinco aquisições, a Estra tenta equacionar uma dívida de R$ 1,8 bilhão. Desde o fim do ano passado, a companhia vem passando por uma reestruturação operacional.

Estimação de animais


Lúcia Guimarães
Na calçada, o grupo diverso espera sentado. Eles têm idades, tamanhos e temperamentos diferentes, mas aprenderam a ficar em repouso por alguns minutos. Com sua força física somada, uma reação súbita os levaria a derrubar o frágil poste de metal que sustenta o toldo da entrada do meu edifício. A cena se repete em qualquer quarteirão da cidade. Os dog walkers, pessoas que passeiam com os cachorros dos ocupados nova-iorquinos, amarram os bichos na porta de prédios enquanto vão recolher mais um para a caminhada matinal. Observando o tamanho dos grupos é fácil acreditar por que a profissão informal, frequentemente exercida por estrangeiros sem documentos, permite uma renda mensal superior, às vezes, à do cliente que contrata o serviço.
Pelo menos 83 milhões de cachorros vivem nos Estados Unidos e, desde os anos 70, eles se multiplicaram mais rápido do que a população humana. A explosão da indústria americana de animais de estimação, com receita estimada este ano em US$ 60 bilhões haveria, é claro, de ser importada no surto de emergência consumista brasileiro, onde não basta imitar estilos de vida, é preciso desfrutá-los em inglês. Deixei um país com animais domésticos e bicicletas e o reencontro cheio de pets e bikes. Mas importamos também o lado nefasto da indústria: os canis inescrupulosos, em que a ganância resulta na reprodução de animais com defeitos genéticos, e a falta de critério para trazer um animal para casa. Nos Estados Unidos, mais de 60% das pessoas que moram sozinhas têm animais domésticos.
Além de ótimo companheiro, os médicos confirmam que a presença de um cachorro faz bem à saúde do dono: Contribui para baixar a pressão, combater a melancolia e força idosos a fazer mais caminhadas. Há grupos de voluntários que levam cachorros para alegrar crianças hospitalizadas. Há todo tipo de grupo de apoio e até uma associação de combate à obesidade canina, que só aumenta, pelos mesmos motivos que fazem aumentar a humana.
Se você notar alguém num restaurante nova-iorquino acompanhado de um cachorro usando um colete como um uniforme, pode concluir que a exceção à proibição habitual de entrada de qualquer bicho se deve ao fato de se tratar de mais do que um animal de estimação: ele é um acompanhante terapêutico, assim designado porque um médico comprovou que um paciente sofredor de, digamos, síndrome de pânico, se beneficia da companhia constante de um cachorro. Os americanos na verdade têm mais gatos do que cachorros, mas, além de afeto de felino pelo dono ser mais comedido, seu cuidado requer muito menos atenção e esforço físico.
Só no meu edifício, conto uns três cães que gostaria de ter denunciado a um juizado de menores para bichos. Há a recém-divorciada com dois filhos, um imenso Golden Retriever e sem a menor paciência para os três. Mas os meninos ao menos gastam energia na escola fazendo esportes, enquanto o animal, que precisa de exercício, vai ficando cada vez mais neurastênico, isolado no apartamento, e já mordeu uma diarista. Há um homem com evidente distúrbio mental, notório por brigar com porteiros e vizinhos, que decidiu adotar um pitbull de um abrigo - combinação explosiva. E há, tristemente, uma idosa, que tanto precisa da companhia, mas mal consegue exercitar seu adorável vira-lata porque caminha com dificuldade.
No ano de 1997, milhares de dálmatas foram encontrados vagando por ruas e estradas americanas ou abandonados em abrigos. Tinham sido comprados ainda filhotes por famílias que não aguentaram a trabalheira que dá esta raça de cão. Mas seus filhos os acharam uma gracinha na tela quando assistiram ao filme 101 Dálmatas. Episódios como este ilustram uma forma de negligência que não discrimina por classe ou pressão econômica.
Os Estados Unidos conseguiram diminuir drasticamente a eutanásia de cachorros com campanhas pela adoção nos abrigos. O casal Obama foi bastante criticado em 2009 quando adquiriu sua primeira cadela da raça cão d'água português de um canil e não deu o exemplo da adoção.
A medicina estende a vida, nem sempre com qualidade de vida. Ouvi de um veterinário nova-iorquino um desabafo que soava meio culpado: "Graças a cirurgias e remédios, os cachorros doentes estão vivendo mais e seus donos não aguentam tomar conta deles nos anos de velhice prolongada". Está aí uma indústria cujo crescimento, sem educação do consumidor, a longo prazo, incentiva a crueldade.

sábado, 27 de setembro de 2014

A água do Sistema Cantareira pode acabar? , por Fernando Reinach

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Você já deve saber que nossa água está acabando. Assim, quando me deparei com o secretário de recursos hídricos do Estado, Mauro Arce, e o presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, em um mesmo palco, dispostos a responder perguntas, não resisti: “Se nos próximos 12 meses as chuvas forem semelhantes às que ocorreram nos últimos 12 meses, os 6 milhões de paulistanos que dependem exclusivamente do Sistema Cantareira terão água em 2015?” A pergunta é simples e não exige adivinhação, pois não questiona se vai chover. Simplesmente solicita a construção de um cenário a partir de dados já conhecidos. O sr. Andreu respondeu: “Se nós tivermos um ano parecido com esse, não teremos uma resposta satisfatórias na região metropolitana no ano de 2015”. O sr. Arce divagou sobre o que ocorreria se nunca mais chovesse. Fiquei sem resposta. Afinal, a água do Cantareira pode acabar?
Se os responsáveis pela ANA e pela Sabesp se recusam a nos contar o que pode acontecer em 2015, só me resta uma opção: tentar construir com você, caro leitor, os cenários mais prováveis. Isso é possível porque os dados necessários são atualizados diariamente em uma série de tabelas e gráficos publicados no site da ANA.
Convido a olhar com cuidado o gráfico acima. Ele mostra a quantidade de água estocada no Sistema Cantareira ao longo de cada ano, de 1982 até o presente. No eixo horizontal estão as datas. Cada linha vertical marca o início de um ano. No eixo vertical está o volume de água acumulada nos reservatórios do Cantareira em milhões de metros cúbicos (hm³). Este número vai de zero (reservatório seco) a 1.460, reservatório transbordando, totalmente cheio. Você também pode ver uma linha horizontal no valor 486, que separa o volume “vivo”, que pode ser retirado sem uso de bombas (entre 1.460 e 486) e o volume “morto” (entre 486 e 0), que só pode ser retirado por bombeamento.
É fácil verificar que todos os anos o nível do reservatório sobe e desce. Ele enche logo após o ano-novo (período de chuvas), se estabiliza antes da metade do ano, e esvazia na segunda metade do ano (período de secas). Mas o quanto ele enche e esvazia varia de ano para ano, dependendo de quanto chove e de quanta água é retirada. Veja o ano de 1999: ele iniciou com aproximadamente 1.050 hm³, subiu até 1.430 e desceu para 1.030. Em 1999, a água que entrou foi quase igual a água que saiu. Já em 1987, o reservatório começou com 860, subiu para 1.420 e só baixou para 1.200. Naquele ano entrou mais água do que saiu.
Acompanhe agora o que aconteceu a partir de 2010. Em 2010 o reservatório chegou ao seu máximo, 1.460, e caiu para 1.200, no ano seguinte (2011) ele subiu para 1.400 e terminou em 1.150. Em 2012, ele subiu muito pouco e terminou o ano em 950. O ano de 2013 já foi trágico, a subida foi pequena e a queda foi grande, e acabamos 2013 já com um pouco mais de 700 hm³, um dos menores níveis históricos. Foram quatro anos em que os níveis registrados em dezembro sofreram quedas grandes e sucessivas. E aí veio 2014, um ano em que ocorreu um fenômeno nunca antes observado. O ano de 2014 foi o único em que o reservatório nem sequer encheu, a quantidade de água armazenada caiu continuamente. Iniciou o ano com 700 hm³ e agora em setembro estamos com somente 370 hm³. Veja que em setembro de 2013 estávamos com 870 hm³. A queda nos últimos 12 meses foi de 500 hm³.
Agora, caro leitor, eu pergunto, você é capaz de responder a pergunta que a Sabesp e a ANA se recusaram a responder? Se os próximos 12 meses (setembro de 2014 a setembro de 2015) forem iguais aos 12 meses anteriores (setembro de 2013 a setembro de 2014), qual cenário enfrentaremos em setembro de 2015? É fácil, mas trágico. Se nos próximos 12 meses o nível cair 500 hm³ (como caiu nos últimos 12 meses), chegaremos muito antes de setembro ao nível zero, pois hoje só temos, 370 hm³ no Cantareira. Esta é a resposta simples e objetiva. Se tudo se repetir, milhões de pessoas vão ficar sem uma gota de água. Simples assim.
Mas talvez não seja correto ser tão pessimista, vamos imaginar que as chuvas do fim do ano acrescentem 200 hm³ ao reservatório, como aconteceu em 1985, 1988 e 2011. O nível vai passar de 370 para 570. Mas se continuarmos a tirar água como tiramos neste ano, vai cair para quase zero novamente, e as pessoas vão ficar sem água.
Mas o melhor seria se São Pedro ajudasse e repetíssemos em 2015 o que ocorreu em 1987, o reservatório subisse 650 hm³ em um único ano (o recorde). Aí passaríamos de 370 para 920 e se retirássemos os mesmos 500 acabaríamos o ano com 420 hm³, um pouco abaixo do limite do volume morto. Melhor, mas ainda preocupante.
É claro que estes cenários são os mais crus que um leigo educado pode deduzir a partir dos dados disponíveis. Eles assumem que a Sabesp não vai mudar a maneira como está retirando água do Cantareira e assumem que é possível retirar até a última gota do reservatório, o que não é verdade. O fato é que muito antes de o volume acumulado nos reservatórios chegar a zero não haverá água sequer para organizar um rodízio ou racionamento forçado.
Senhor secretário, senhor presidente da ANA, não fiquem acanhados em mostrar o que está errado nesses cenários criados por um simples biólogo. Todos gostaríamos de saber com que cenários a Sabesp e a ANA trabalham. Quais são seus cenários? Sei que devo estar errado nos detalhes, mas todos gostaríamos de saber o que teremos de enfrentar em 2015. Afirmar que teremos água até março não é suficiente. Afinal, é a vida cotidiana de milhões de pessoas que está em jogo.
Se outros cenários não forem descritos e justificados, só me resta acreditar que estes cenários, simples, mas lógicos, representam em grande parte o que nos espera em 2015.
*É BIÓLOGO