segunda-feira, 9 de junho de 2014

O que querem os metroviários em SP?

8/6/2014 14:19


Expansão do sistema desabou nas gestões tucanas. Falta de investimentos e suspeitas de corrupção levam transporte sobre trilhos ao colapso.





A capital paulista é uma cidade em que as linhas do transporte sobre trilhos foram implantadas tardiamente. Enquanto metrópoles como Londres, Paris ou mesmo Buenos Aires começaram a instalar seus metrôs entre 1890 e 1910, São Paulo somente colocou em operação suas linhas em 1974. Mas os primeiros projetos remontam a primeira gestão do prefeito Prestes Maia (1938-45).

Os planos iniciais foram deixados de lado e somente na segunda metade dos anos 1960, quando a população da cidade já ultrapassava a marca de cinco milhões de habitantes, é que se iniciou a construção sistema.

Pequena extensão
Do início dos anos 1970 até hoje, a cidade implantou 75 quilômetros de linhas.

Se compararmos com metrópoles da periferia, que assentaram seus trilhos no mesmo período, como Seul e Cidade do México, a cidade brasileira faz feio. Os dois municípios estrangeiros têm, respectivamente 287 e 226 quilômetros de vias, que cobrem boa parte da malha urbana.

O ritmo de construção diz muito sobre a dinâmica dos investimentos. Nos primeiros 17 anos de operação – entre 1974 e 1991 – foram implantados 57 quilômetros de linhas. Um ritmo de 3,35 quilômetros por ano.

Nos 22 anos seguintes - entre 1992 e 2014 – foram assentados apenas mais 18 quilômetros. Aqui, o ritmo desabou para 770 metros por ano.

Este segundo período coincidiu com as administrações do PSDB, que fizeram do ajuste fiscal e da falta de investimentos sua pedra de toque.

Em 1970, a cidade tinha 5,9 milhões de habitantes. Em 1991, eram 9,6 milhões os moradores da capital e hoje temos 11,25 milhões dividindo esse imenso chão.

O que isso indica? Que enquanto a população crescia e a urbanização se espalhava de forma desordenada, o investimento no mais moderno sistema de transportes para grandes cidades se reduziu. E pior: uma das linhas, a amarela, que liga a Estação da Luz ao Butantã, é privada. Ou seja, o poder público não tem controle sobre planos de investimento e gestão.

Mesmo assim, esse metrô de reduzidíssimo tamanho é vital para a cidade.

A pauta de reivindicações
Os metroviários foram à greve como último recurso, após várias tentativas de negociação com o governo do PSDB.

O que querem?

Nada demais.

Pedem um piso salarial equivalente ao salário mínimo – isso mesmo, mínimo! – calculado pelo DIEESE, o que dá R$ 2.778,63 por mês e o reajuste dos salários para acompanhar a inflação.

A pauta de reivindicações estende-se por 98 páginas. A maior parte das demandas versa sobre direitos trabalhistas. Mas á solicitações de interesse cidadão, que devem merecer especial atenção. Entre elas estão:

- Uma gestão empresarial democrática;

- O fim à privatização, “para que todo o investimento em sistemas metroviários seja realizado através desta, com a imediata suspensão do projeto de expansão (...) através de PPP’s” [Parcerias Público-Privada];

- Combate à corrupção, com demissão e “confisco dos bens e cadeia para todos os corruptos e corruptores envolvidos nas denúncias de cartel no Metrô”;

- Deve-se também “reverter o dinheiro confiscado em investimento e em expansão do metrô público e com redução da tarifa, rumo à tarifa zero”.

Os metroviários não estão aí para atrapalhar a vida de ninguém. Querem retomada de investimentos, para que o sistema não entre definitivamente em colapso.

Para isso é preciso expandi-lo rapidamente.
210 visitas - Fonte: Carta maior

sábado, 7 de junho de 2014

É a gota d’água: No Dia Mundial do Meio Ambiente, WWF-Brasil faz alerta sobre crise de abastecimento em São Paulo

Para marcar o Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado hoje, quinta-feira, 5 de junho, a organização ambientalista WWF-Brasil faz um alerta para a população brasileira sobre a questão da gestão adequada dos recursos naturais, com foco na crise de abastecimento de água vivida atualmente pela região metropolitana de São Paulo. Com a mensagem “É a gota d’água!”, a organização instalou uma gota de água inflável, com 10 metros de altura, na Avenida Paulista, em frente ao Parque Trianon. O objetivo é transformar a crise em oportunidade para repensar o modo como os recursos hídricos são geridos, não só em São Paulo, mas em todas as grandes e médias cidades brasileiras.

Assista ao vídeo da ação:


“Soluções de curto prazo para problemas ambientais são geralmente desastrosas. A crise de água em São Paulo é a prova que a gestão dos recursos hídricos requer investimentos e planejamento de longo prazo. É um compromisso de todos: governos, empresas e sociedade civil”, afirma a secretária-geral do WWF-Brasil, Maria Cecilia Wey de Brito, citando que aos governos cabe implementar políticas e instrumentos, com orçamentos compatíveis; às empresas, seguir a legislação ambiental, buscar inovações para a redução do uso de água em processos produtivos e interagir com a comunidade. Já o cidadão deve economizar água em casa, participar dos comitês de bacias da sua região e fiscalizar e cobrar ações responsáveis dos setores público e privado.

Com a sua pior crise nos últimos 70 anos, o colapso de abastecimento de água no Sistema Cantareira se deve a uma série de fatores integrados, entre os quais a questão da seca e das mudanças climáticas é apenas um deles. A falta de investimentos em planejamento aliada a falta de governança do sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e ao desrespeito à legislação ambiental, como a ocupação irregular e o desmatamento de áreas como nascentes e matas ciliares, são as principais razões do problema. Outro agravante é o aumento da demanda devido ao uso irracional do recurso e ao crescimento populacional. “Entre 2004 e 2013, o consumo de água nos 33 municípios abastecidos pela Sabesp aumentou em 26%, enquanto a produção cresceu apenas 9%. Ou seja, há um claro descompasso entre demanda e oferta de água”, afirma Maria Cecilia. 

O WWF-Brasil também aponta o risco para a biodiversidade aquática com a decisão do Governo do Estado de São Paulo em utilizar o volume morto do Sistema Cantareira, com impacto direto na economia pesqueira e turística da região. “O volume morto é o último refúgio dos peixes e da fauna aquática, mas nessas condições a temperatura da água fica mais quente, diminui o oxigênio dissolvido e aumenta a mortandade de muitos peixes”, explica Maria Cecilia, estimando que até o momento foram perdidas 20 toneladas de peixes, principalmente cascudos e corimbatás que vivem no fundo do reservatório. 

A utilização do volume morto também traz riscos à saúde humana e aumenta o custo de tratamento da água, já que a parte funda do reservatório acumula sedimentos, matéria orgânica e metais pesados que se decantam ali. “O governo irá gastar 40% a mais para desintoxicar e tratar a água do volume morto. Ainda assim, não há tecnologias disponíveis para a eliminação completa de metais pesados”, diz a secretária-geral.

Mas existe uma solução para o problema, e ela não está na construção de novos reservatórios, nem em obras de infraestrutura hídrica. Para o WWF-Brasil, a crise deve incentivar investimentos, no mínimo 0,5% do PIB por ano em planejamento e gestão de recursos hídricos no país, reforma dos sistemas de captação, tratamento e distribuição da água, que desperdiça uma média de 40% do recurso no país, são ações relativamente simples que podem trazer grandes benefícios.

Com a ação “É a Gota D’Água”, o WWF-Brasil espera que a crise seja transformada em oportunidade para repensar a gestão dos recursos hídricos. “A gestão não deve ser somente para atender a demanda, mas também para garantir a oferta”, finaliza Maria Cecilia, lembrando que o WWF-Brasil coloca em prática ações consistentes e replicáveis em favor da conservação e da boa gestão de ecossistemas aquáticos na Mata Atlântica, no Pantanal, na Amazônia e no Cerrado, com iniciativas como o Programa HSBC pela Água, Projeto Bacias e Água Brasil. 

Em conjunto com o banco HSBC, em parceria iniciada em 2002, o WWF-Brasil busca engajar governos, empresas, sociedade civil e comunidade para conservar 747 km de rios, restaurar 30 nascentes e 5 km de afluentes na bacia do Alto Paraguai. Já o Projeto Bacias, em parceria com a Ambev, objetiva promover a recuperação, a conservação e a gestão da bacia Corumbá-Paranoá, no Distrito Federal, uma das mais importantes do país. Junto com o Banco do Brasil, a Fundação Banco do Brasil e a Agência Nacional de Águas, o Programa Água Brasil desenvolve projetos de conservação de recursos hídricos em sete microbacias hidrográficas e em cinco cidades brasileiras, que poderão ser replicados em todo o país no futuro.

Torço para dar certo - ZUENIR VENTURA


O GLOBO - 07/06

Por que ser contra a Copa agora, quando de nada mais adianta, pois os gastos já foram feitos, os ingressos vendidos e os times estão chegando?


Estamos a menos de uma semana — este é o último sábado — da 20ª Copa do Mundo, a segunda realizada no Brasil, mais de meio século após a primeira, em 1950. Tomara que daqui até o dia 12 prevaleça a vontade da maioria, não a desconfiança e o medo estimulados por ameaças da minoria, numa total inversão do princípio democrático. Estou com os 71% que disseram ao Ibope que vão torcer para que tudo dê certo (só 11% de espíritos de porco querem que o Mundial fracasse). Concordo que a Copa não é prioridade, que saúde e educação deveriam vir antes, que houve desperdício de recursos, atraso nas obras, inépcia e provável superfaturamento, entre outras críticas dos que se opõem. É tanta coisa dando errado, e ainda querem privar o povo de uma fonte de alegria. Além do mais, em que o cancelamento do evento esportivo nessa altura do campeonato ajudaria a resolver as mazelas do país? E por que não houve protestos quando o governo se empenhou tanto para sediá-la, nos sujeitando às imposições tirânicas da Fifa? Houve comemoração.

Em vez de palavras de ordem, gostaria de assistir a um amplo debate em que fossem contestadas as vantagens anunciadas pelo governo de que, por exemplo, os turistas vão gastar R$ 25 bilhões, de que o nosso PIB vai receber um reforço de R$ 30 bilhões, três vezes mais do que na Copa das Confederações, e de que, ao contrário do que se diz, a reforma dos estádios não está drenando recursos que deveriam ir para a educação. A presidente declarou que no início da administração Lula o orçamento dessa pasta era de R$ 18 bilhões e hoje é de R$ 112 bilhões. As despesas com os estádios vão ficar, segundo ela, em R$ 8 bilhões.

Por que ser contra a Copa agora, quando de nada mais adianta, pois os gastos já foram feitos, os ingressos vendidos e os times estão chegando? Não se trata evidentemente de proibir as manifestações, mas de impedir seus abusos e excessos, de dar um basta a uma rotina em que grupos organizados, sob qualquer pretexto e muitas vezes com violência, tumultuam as cidades, impedindo o trânsito, bloqueando ruas e cerceando a prerrogativa de ir e vir da população. Por isso, foi muito oportuno o manifesto recém-lançado por sociólogos, antropólogos, pesquisadores universitários, exigindo respeito aos direitos constitucionais que estão sendo “usurpados”.

Em suma, por que não seguir o exemplo dos servidores de Goiânia em greve? Eles aproveitaram a oportunidade do jogo amistoso lá e realizaram protesto pacífico contra o governador do estado, sem atrapalhar a alegria de milhares de torcedores que foram vibrar com a vitória do Brasil.