sexta-feira, 25 de maio de 2012

Chamando as coisas pelos seus nomes


RENATO LESSA - O Estado de S. Paulo
Há coisa de algumas semanas, um personagem sombrio, egresso do esgoto da memória nacional, deu seu testemunho a respeito do que andou a fazer durante a vigência do regime de exceção, implantado em março de 1964. Ex-delegado de polícia, o personagem ganhou notoriedade pela força de suas revelações sobre torturas, assassinatos e ocultamento de corpos de militantes da resistência ao descalabro. O livro encontra-se nas boas casas do ramo, e deve ser lido por quem tem estômago forte e um mínimo de apego à memória histórica. Se apenas, digamos, 10% do que diz correspondem à verdade, o efeito é estarrecedor.
No dia do lançamento, presidente afirmou que o grupo dos sete respeitará ‘pacto de democratização’  - Roberto Stuckert Filho/ ABR
Roberto Stuckert Filho/ ABR
No dia do lançamento, presidente afirmou que o grupo dos sete respeitará ‘pacto de democratização’
O saudoso deputado Ulysses Guimarães bem sabia do que estava a falar quando declinou seu ódio absoluto às ditaduras. Se vivo estivesse, e houvesse lido o relato do abjeto personagem, teria ali encontrado fartos motivos para sua aversão, que incidia sobre um regime que fez do suplício e da eliminação física prática corrente e meio de sustentação. Não é preciso aderir ao modismo das teorias a respeito da “biopolítica” para reconhecer que regimes políticos são inteligíveis pelo que fazem com os corpos de seus súditos. Regimes cuja sustentação exige o suplício e o assassinato de oponentes têm tradicional acolhida conceitual na história do pensamento político: são regimes despóticos, tiranias e estados de exceção.
A Comissão da Verdade, instalada há poucos dias pela presidente Dilma Rousseff, tem diante de si um desafio e uma oportunidade decisivos para fixar uma narrativa a respeito de história recente do país. Há duas ordens imediatas de objetivos, para a fixação de tal narrativa, de natureza incontornável: (1) elucidar, tanto quanto for possível, os parentes, amigos e o País sobre o paradeiro dos desaparecidos e (2) desfazer a funda assimetria instituída pelos termos da anistia, que tornou públicos os nomes e os atos dos presos políticos e ocultou os de seus perpetradores.

A anistia concedida em 1979 abrangeu, além dos então presos políticos, possíveis perpetradores de “crimes conexos”. Pelo eufemismo, estavam cobertas as ações do aparelho de repressão à dissidência política. A assimetria reside no fato de que a anistia concedida ao primeiro grupo – opositores ao regime -, por razão lógica, só pode ser concedida aos que reconhecida e publicamente praticaram atos julgados atentatórios à segurança nacional. É claro que isso não impede que a eventual descoberta posterior de ocorrência de ato dessa natureza tenha como implicação a aplicação da anistia. Mas o fato é que a viabilidade do usufruto da anistia por parte da esquerda exigiu a ostensão personalizada dos beneficiados.

Os perpetradores de “crimes conexos” foram agraciados por uma anistia generalizada, inespecífica e despersonalizada. Suas identificações não foram definidas como necessárias para o usufruto do perdão. Trata-se, é evidente, de assimetria forte e apenas mentes paranoicas podem supor que a possível reposição da simetria seja algo aparentado a “revanche”.
Mas, além desses dois objetivos , há ainda a valiosa oportunidade para a elucidação da natureza do regime vigente no País entre 1964 e 1985. Mais do que o inestimável serviço de inscrever na memória nacional os nomes e os paradeiros dos desaparecidos e de seus verdugos – em seus respectivos nichos -, trata-se de pôr à disposição dos brasileiros novos elementos para interpretar seu passado recente. O efeito principal poderá ser o da elucidação do que significa um regime de exceção com a implicação de que os que ocuparam sua direção devem ser chamados pelos nomes apropriados: ditadores, e não “presidentes”, como se pudesse haver alguma analogia com os que ocuparam a direção do País por força de procedimentos legítimos.

Independentemente do juízo que se possa fazer a respeito de Dilma Rousseff como chefe de governo, seu gesto como chefe de Estado inscreve-se em um dos momentos fortes da história republicana. A qualidade da peça lida pela presidente e a condensação política presente no ritual – mais do que completo e generoso, a ponto de incluir um presidente indigno e impedido – parecem à altura do fato nada trivial de termos na chefia de Estado – e no comando supremo das Forças Armadas – alguém que sentiu no próprio corpo o que significa uma ditadura. O consenso reunido representa o reconhecimento desse aspecto crucial.

O desconforto dos chefes militares na cerimônia mostra, lamentavelmente, quanto as forças sob seu comando têm dificuldade em se distinguir do que foi feito por alguns de seus antecessores. A cena beira o absurdo, pois afinal nada há no comportamento corrente dos militares brasileiros que autorize temor corporativo diante das atribuições da Comissão.

RENATO LESSA É PROFESSOR TITULAR DE TEORIA POLÍTICA DA UFF, INVESTIGADOR ASSOCIADO DO INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA E PRESIDENTE DO INSTITUTO CIÊNCIA HOJE

A justiça restauradora


Negociadores sul-africanos pós-apartheid optaram por anistiar quem admitisse publicamente ter violado direitos humanos, aplicando uma forma de justiça não destinada a 'punir', mas a 'curar'

20 de maio de 2012 | 3h 07
Desmond Tutu - O Estado de S.Paulo

Durante o período que antecedeu as eleições, os negociadores tiveram de decidir como lidar com o horrendo legado do passado recente. Algumas pessoas, em especial as que tinham feito parte do regime do apartheid, defendiam que uma anistia geral deveria ser promulgada a todos, de modo - assim imaginavam - que o passado seria simplesmente esquecido, não tornando reféns o presente e o futuro. Infelizmente, não existe mágica capaz de nos fazer dizer "agora, vamos esquecer o passado", que, então esquecido, morreria em silêncio. O passado tem uma capacidade inata de tirar todo tipo de esqueleto do armário para atormentar o presente. Perguntem ao general Pinochet.
George Santayana declarava frequentemente: "Quem esquece o passado está fadado a repeti-lo". Além disso, a anistia geral faz a vítima ser vítima uma segunda vez ao oficializar ou o que aconteceu - na verdade, não aconteceu - ou, ainda pior, o que teve pequena importância, de modo que as vítimas não vejam um encerramento da questão e acabem nutrindo ressentimentos que podem ter consequências nefastas para a paz e para a estabilidade por causa da agonia que envenena o espírito e faz ansiar pelo dia da vingança.
Já outros pensavam que o caminho mais fácil seria seguir o exemplo do tribunal de Nuremberg e levar a julgamento todos aqueles publicamente culpados ou suspeitos de cometer graves violações dos direitos humanos. Nuremberg aconteceu porque os aliados derrotaram os nazistas e optaram por impor o que chamaram de justiça dos vencedores. Em nosso caso, nem o governo promotor do apartheid nem os movimentos de libertação do Congresso Nacional Africano (CNA) e do Congresso Pan-Africanista (CPA) tinham a possibilidade de derrotar o lado adversário. Havia um empate em termos militares. É quase certo que as forças de segurança do regime do apartheid conseguiriam debelar qualquer plano de ataque pelo qual, no fim das contas, acabariam sendo apontadas como responsáveis. Além disso, a África do Sul não suportaria mais longos julgamentos, nem o já sobrecarregado sistema judicial conseguiria suportar o esforço.
Assim, os negociadores optaram por assumir um compromisso mútuo: anistia individual, em vez da anistia geral, em troca de toda a verdade a respeito do crime pelo qual se estava fazendo o pedido. "Anistia em troca da verdade?", muitos se perguntaram, com uma preocupação genuína. "E quanto à justiça? Isso não equivale a incentivar a impunidade?" Antes de tudo é necessário ressaltar que esse jeito de lidar com a situação foi proposto exclusivamente para esse delicado período de transição, ad hoc - de uma vez para sempre. Em vez de incentivar a impunidade, a opção escolhida para seguir adiante ressaltava a responsabilidade, já que quem procurasse a anistia deveria admitir ter cometido um crime. Inocentes e aqueles que alegavam inocência, obviamente, não necessitavam de anistia.
Alguns argumentaram que isso significaria deixar os culpados escaparem ilesos. Significaria mesmo?
Todos sabem como é difícil dizer "sinto muito". São duas das palavras mais difíceis de qualquer língua. Não acho fácil dizê-las nem na privacidade do meu quarto para minha esposa. Posso imaginar, portanto, o que deve ter significado para alguns deles terem de confessar publicamente, sob as lentes das câmeras de televisão. Era comum culpados serem considerados respeitáveis membros de sua comunidade. Provavelmente aquela seria a primeira vez que a família ouviria que aquele aparente bastião de virtude era, na verdade, membro de uma equipe policial responsável por torturas diárias de presos, ou que pertencia a um esquadrão da morte que tratava assassinatos como acidentes de percurso do depravado sistema de apartheid. O estigma da vergonha e da humilhação pública é um preço alto a se pagar, em alguns casos levando esposas ao choque e ao consequente pedido de divórcio.
Usar o argumento do "escapar ileso" significaria pensar apenas em termos de justiça punidora, cuja raison d'être é punir o perpetrador do crime. Há outro tipo de justiça: a restauradora, cujo propósito não é punir, mas curar. Ela estabelece como ponto central a humanidade até dos culpados das piores atrocidades, sem desistir de ninguém, acreditando na bondade essencial de todos que foram criados à imagem de Deus, defendendo que mesmo o pior de nós é filho de Deus e tem o potencial de ser uma pessoa melhor, alguém que pode ser salvo, reabilitado, que não precisa ser alienado, mas sim reintegrado à comunidade. A justiça restauradora acredita que um crime cause uma brecha, perturbe o equilíbrio social, o qual deve ser recuperado e a brecha, fechada, em um processo em que ofensor e vítima possam se reconciliar e retornar à paz.

História sem recalque


Ex-guerrilheiro que se tornou psicanalista fala do desamparo da tortura

19 de maio de 2012 | 16h 46

Ivan Marsigliae - O Estado de S. Paulo
Em 1970, aos 25 anos – um “adulto”, segundo diz – Reinaldo Morano Filho largou o quarto ano do curso de medicina na Pinheiros para se lançar em uma aventura tão incerta quanto perigosa. Paulista de Taquaritinga, com emprego no Banco do Brasil, diploma de direito e um Fusca 1967 para desfrutar da juventude sem aperreio, aderiu à Ação Libertadora Nacional (ALN) com a ideia de derrubar a ditadura militar pela força das armas.
A presidente e ex-presa política Dilma Rousseff se emociona na cerimônia de instalação da Comissão - Andre Dusek/ AE
Andre Dusek/ AE
A presidente e ex-presa política Dilma Rousseff se emociona na cerimônia de instalação da Comissão
Em pouco tempo seria preso, torturado e testemunharia o assassinato de companheiros. Foram 6 anos e meio nos porões da repressão, dos quais emergiu com sequelas que o tempo não desfaz. As menos dolorosas são as duas hérnias de disco (uma entre as vértebras L4 e L5, outra na região lombar) provocadas pela violência dos golpes. A pior, conta na entrevista a seguir, foi “a vivência do desamparo” da tortura.
Livre, Reinaldo tentou retomar a vida do ponto em que parou. Trocou apenas, e não por acaso, a pediatria pela psiquiatria, da qual derivaria para a formação na Sociedade Brasileira de Psicanálise. Hoje, mantém um consultório na zona oeste de São Paulo e ensina Freud a alunos da Escola Paulista de Medicina. Na semana em que foi instalada a Comissão da Verdade para apurar crimes cometidos por agentes do Estado entre 1946 e 1988, o analista de 66 anos pôs o País – e a si próprio – no divã.
A Comissão da Verdade é para valer?
Reinaldo Morano Filho - Tenho esperança de que ela vá suscitar debates e estimular revelações. Alguns já começaram a falar, aqui e ali, por conta do clima que se criou. As declarações daquele delegado do Espírito Santo (Cláudio Guerra, que detalhou sua participação na repressão em Memórias de uma Guerra Suja, da Topbooks) podem ser exageradas, mas parte do que ele fala é coerente com o que familiares de desaparecidos e pesquisadores de direitos humanos têm descoberto.
O que resta ainda por saber?
Reinaldo Morano Filho - Eu mesmo tenho coisas que gostaria de tornar públicas. Fala-se pouco dos furtos cometidos por agentes da repressão na época. Obras de arte, objetos pessoais, etc. Eu tinha um fusquinha 1967, adquirido com meu salário de funcionário do Banco do Brasil. Comprei da mãe de um colega do curso de medicina. Quando fui preso, dia 15 de agosto de 1970, o levaram. Anos mais tarde, acho em um arquivo de Campinas uma série de documentos: primeiro, um auto de apreensão do Fusca, datado de 16 de abril de 1971, quase um ano depois. Então, um encaminhamento do juiz auditor alegando que o veículo fora adquirido “com dinheiro da organização terrorista”. Em seguida, o mais fantástico: o carro foi transferido para o delegado Renato D’Andrea, citado em todas as listas de torturadores.
A Comissão recebeu críticas à direita e à esquerda. Para uns ela é revanchista; para outros, uma espécie de rendição, pois não tem dimensão punitiva. Qual sua opinião?
Reinaldo Morano Filho - A busca da justiça não é ressentimento, nem mágoa. Eu não tenho nem uma nem outra. Mas é nossa obrigação honrar a memória dos assassinados e perseguidos. Sobre eventuais punições, vai depender da correlação de forças. Não é assunto encerrado; pelo contrário, está se iniciando.
E a ideia, defendida por membros dos clubes militares, de que ela deveria investigar os ‘dois lados’ – também os crimes cometidos por militantes de esquerda?
Reinaldo Morano Filho - O palco da política é o Congresso, onde os termos da Comissão foram definidos. De que se trata? Do esclarecimento da prática de tortura, assassinato e desaparecimento enquanto política de Estado. Porque ela era institucionalizada, não um “excesso” cometido por poucos agentes.
Os clubes alegam que organizações como a de que o sr. tomou parte queriam implantar uma ditadura de esquerda.
Reinaldo Morano Filho - Não dá para tergiversar sobre a história. Qual foi o grande pecado do presidente João Goulart? Ele estava em vias de estabelecer um regime comunista? As chamadas reformas de base de Jango eram bandeiras de aggiornamento, de atualização democrática da sociedade, que na Europa já estavam resolvidas havia 200 anos. Quem interrompeu o debate democrático foi a ditadura, não as organizações de esquerda que se opuseram a ela depois.
Qual é a sua pior lembrança da tortura?Reinaldo Morano Filho - A vivência do desamparo. Um desamparo absoluto na hora em que você está pendurado num pau de arara com um bando de animais – que não são animais porque os animais não fazem isso – a sua volta batendo, gritando. Acontece de você precisar usar o banheiro, isso não ser permitido, e você acabar evacuando lá, ouvindo gozação. É uma situação extremamente humilhante.
Já encontrou um torturador pela frente?
Reinaldo Morano Filho - Em março de 1991, numa audiência na Câmara Municipal sobre as ossadas do cemitério de Perus. Fui depor contra Josecyr Cuoco (delegado do Deops paulista em 1970), que tinha participado da minha prisão. Ele foi o primeiro que me agrediu, na chegada, com um soco no nariz. Fazia exatamente 20 anos, eu já tinha feito análise, mas ainda assim a gente tem uma espécie de revival. O sentimento que prevalece é a raiva. Anos depois, vim a saber que Josecyr era sobrinho-neto da minha avó.
O torturador gosta do que faz?
Reinaldo Morano Filho - A (psicanalista e membro da CV) Maria Rita Kehl usou uma expressão para ser referir a isso: gozo, um termo lacaniano. Eu chamo de prazer mesmo. Um prazer sádico, do poderoso que é dono da situação diante de alguém desamparado. Esse sadismo se manifesta às vezes de forma sexualizada. Por isso, a quantidade de estupros e abusos.
De que maneira a psicanálise o ajudou a lidar com a experiência nos porões?Reinaldo Morano Filho - O registro de um trauma depende da pele psíquica de cada um, do quanto aquela agressão fere a pele psíquica do indivíduo. Após a tortura, o clima de terror permanece. E você compartilha de uma angústia coletiva a cada vez que um preso é levado para a sala de torturas ou para uma “diligência” onde, sabe-se, será assassinado. Freud tem uma passagem sobre o desamparo em que o localiza no nascimento do ser humano. O bebê humano, diferentemente do de outras espécies, é indefeso. Deixado à própria sorte, não consegue nem se virar, morre. Isso cria um registro na mente infantil, que gera o medo do desamparo. A experiência da tortura só faz exacerbar essa marca.
Que marca a tortura lhe deixou?Reinaldo Morano Filho - Mesmo com todos os anos de análise que fiz, hoje me vejo como alguém que tem um colorido... meio depressivo. Nada que me atrapalhe a vida, talvez até ajude em minha profissão. Mas fica uma espécie de nuvem, que eu não tinha antes.
Que efeito tem para o sr. a volta desse tema ao debate público nacional?Reinaldo Morano Filho - Quando outras narrativas começam a surgir, há um certo alívio. No sentido de que não somos mais os únicos a falar. Isso aconteceu mesmo, não éramos malucos.
Em um artigo na revista Piauí o ex-guerrilheiro, economista e um dos pais do Plano Real, Persio Arida, reavaliou seu passado na luta armada e concluiu que ela contribuiu apenas ‘por vias tortas’ para o retorno da democracia. O sr. concorda?
Reinaldo Morano Filho - Eu me lembro quando o grupo do Persio chegou ao DOI-Codi. A Beth Mendes (então militante política, depois eleita deputada federal pelo PT em 1983) foi presa com eles. A chegada do grupo causou certo rebuliço, porque eram todos muito jovens, estudantes secundaristas. Eu já tinha 25 anos, era um adulto, advogado formado. Considero minha adesão à luta diferente da do Persio. Eu tinha participado de toda aquela esperança pré-golpe. Não aderi à luta armada porque um dia de manhã acordei e falei “gosto de dar tiros, vamos ver onde posso saciar essa compulsão”. Fiz por falta de opção, por não poder participar da vida política. Não concordo com a opinião do Persio e prefiro a do (ex-guerrilheiro) Ivan Seixas: a ditadura foi alvejada de várias formas. Eu tomei parte em uma delas.

Falando mais como psicanalista que como alguém que participou dos acontecimentos, o sr. acha que ‘recalcar’ essa parte da história tem consequências no País hoje?
Reinaldo Morano Filho - A situação vigente, de tortura como método de investigação nas delegacias de qualquer biboca do País, tem a ver com essa história de violência. Que é anterior até à ditadura, vem da escravidão e da permanência de uma cultura da impunidade. “Bate, tortura, que não dá em nada.” O momento que estamos vivendo é a chance de uma outra fala: “Quer fazer, faça. Mas você corre o risco de ser denunciado. E, quem sabe, num País mais maduro, apenado.” O desrecalque é também uma redenção. Trata-se de uma necessidade, uma obrigação e uma contribuição que a gente tem que fazer para o Brasil.