segunda-feira, 30 de abril de 2012

O fator cool


Lúcia Guimarães - O Estado de S.Paulo
Oooh, yeah.
Lá estava Barack, ou o "preezie of the United Steezie", na gíria do anfitrião Jimmy Fallon. Enquanto Fallon imitava um cantor de soul à la Isaac Hayes e a banda neo-soul The Roots caprichava no slow jam, a pedido do próprio "Barackness Monstro", a plateia de universitários da Carolina do Norte urrava de satisfação. O presidente, no segundo plano da câmera, como num programa de TV dos tempos da Motown, declamava sua iniciativa para segurar os juros dos empréstimos para estudantes.

Hummm, yeah.

O cool cat que canta Let's Stay Together. O presidente Black Ninja, no apelido cunhado pelo comediante Bill Maher, logo depois do assassinato de Osama Bin Laden. O armador que ginga na quadra de basquete da Casa Branca.

O vídeo do jamming com Jimmy Fallon, como se esperava, se tornou viral.

E o zilionário comitê político pró-Mitt Romney contra-atacou imediatamente com uma montagem impiedosa de imagens de Obama em pleno exercício do cool, concluindo com a pergunta: "Depois de quatro anos do presidente-celebridade, a sua vida melhorou?" Cesta!

Nuance não é arma de campanha. Como fabricar slogans com o fato de que Obama herdou um desastre e a vida dos americanos estaria pior ainda sem iniciativas que ele tomou?

Obama dificilmente vai tirar tantos jovens de casa para votar como fez em 2008, neste país onde o voto não é obrigatório e quando ele não representa mais o desafio do novo e a esperança imortalizada no pôster de Shepard Fairey. Um em cada dois jovens com curso universitário nos Estados Unidos está desempregado.

Apelar para os símbolos da cultura popular é um velho truque de campanha. Quem pode esquecer Bill Clinton tocando saxofone de óculos escuros no finado talk show de Arsenio Hall, em 1992?

O contraste entre o sensaborão mórmon Mitt Romney, de 65 anos, e o esguio presidente 15 anos mais novo, que canta blues com B.B. King na Casa Branca, é óbvio. Mas a economia americana continua mancando com um crescimento abaixo das expectativas de economistas.

É a velha pergunta: com qual dos dois o eleitor indeciso tomaria uma cerveja? Preciso responder?

A ironia é que Obama e Romney têm muito em comum: ambos são psicologicamente distantes, detestam o varejo da campanha, os beijos e abraços, as fotos com bebês, preferem pontificar sobre suas convicções do que defender suas ideias no corpo a corpo com adversários. Ambos confiam num círculo limitado de amigos e parentes.

Obama dá uma surra em Romney no quesito simpatia. Uma pesquisa recente mostra que a diferença é de 54% a 18%, a favor de Obama. E, quando a pergunta é "Quem tem mais compaixão pelo homem comum?", a vantagem é a mesma.

Mas os Estados Unidos de 2012 são um país com fadiga de crise e escassez de matéria-prima para slogans movidos a "esperança" ou "mudança". São um país muito mais dividido ideologicamente do que a América que Obama seduziu com um discurso eletrizante na Convenção Democrata de 2004. Sedução e oratória, duas armas de Obama, podem sair pela culatra com um outro grupo crucial de eleitores - os independentes, entre os quais se incluem americanos que dificilmente serão recebidos de volta pelo mercado de trabalho.

Quem não gosta de um presidente cool? A resposta pode ser irrelevante em novembro.

Desperdiçando nossas mentes


30/04/2012 - 15h24
Paul Krugman,  DO "NEW YORK TIMES"
O índice de desemprego entre os jovens com menos de 25 anos passa dos 50% na Espanha. Na Irlanda, quase um terço dos jovens estão desempregados. Aqui nos Estados Unidos, o desemprego entre os jovens é de "apenas" 16,5%, o que ainda é terrível -mas as coisas poderiam ser piores.
Muitos políticos estão fazendo o possível para garantir que as coisas piorem realmente. Temos ouvido falar muito da guerra contra as mulheres, algo que é real. Mas também existe uma guerra contra os jovens, coisa que é igualmente real, embora seja mais bem disfarçada. E está fazendo mal imenso não apenas aos jovens, mas ao futuro do país.
Comecemos por um conselho que Mitt Romney deu a estudantes universitários na semana passada, numa aparição pública. Depois de criticar o "divisionismo" do presidente Barack Obama, o candidato recomendou à platéia: "Aposte nisso, vá fundo, se arrisque, consiga uma educação, empreste dinheiro de seus pais se for preciso, abra um negócio".
A primeira coisa que se nota aqui é o toque típico de Romney --a nítida ausência de empatia por quem não nasceu em uma família de posses, quem não pode depender do Banco Papai e Mamãe para financiar suas ambições. Mas o restante da frase é igualmente ruim, à sua maneira.
Afinal, "consiga uma educação". E pague por ela de que maneira? As mensalidades das universidades e faculdades públicas estão subindo, graças em parte à redução aguda na assistência do governo. Romney não está propondo nada que resolva esse problema. Mas é fortemente a favor do plano orçamentário Ryan, que prevê cortes radicais na assistência federal aos estudantes, o que levaria cerca de 1 milhão de estudantes a perder suas bolsas Pell.
Então como, exatamente, os jovens de famílias com poucos recursos devem fazer para "conseguir uma educação"? Em março, Romney apresentou a resposta: encontre a faculdade "que tenha um preço um pouco mais baixo e onde você possa conseguir uma boa educação". Boa sorte com isso. Mas acho que seria divisivo apontar que as prescrições de Romney de nada adiantam para os americanos que não nasceram com os mesmos privilégios que ele.
Há uma questão maior em jogo, entretanto: mesmo que os estudantes "consigam uma educação", de alguma maneira, algo para o qual eles muitas vezes incorrem em dívidas pesadas, vão se formar em uma economia que não parece querê-los.
Você provavelmente já ouviu muito que profissionais com formação universitária estão se saindo melhor nesta recessão do que pessoas que têm apenas o ensino médio completo, e é verdade. Mas a história se mostra bem menos animadora se você foca sua atenção não sobre americanos de meia idade com formação universitária, mas sobre pessoas recém-formadas.
O desemprego entre recém-formados vem crescendo; o emprego em tempo parcial, também, fato que provavelmente reflete a dificuldade dos recém-formados em encontrar empregos em tempo integral. Fato que talvez seja ainda mais revelador, os ganhos vêm caindo mesmo entre os recém-formados que trabalham em tempo integral --sinal que muitos deles podem ter sido obrigados a aceitar empregos em que não fazem uso de sua formação.
Portanto, os diplomados estão se saindo mal devido à economia fraca. E as pesquisas nos revelam que esse preço não é temporário. Os estudantes que se diplomam numa economia fraca nunca chegam a recuperar o terreno perdido. Ao invés disso, seus ganhos ficam deprimidos pelo resto de suas vidas.
O que os jovens mais precisam, portanto, é de um mercado de trabalho melhor. As pessoas como Romney afirmam que têm a receita para a geração de empregos: reduzir os impostos sobre as empresas e os ricos, reduzir os gastos com serviços públicos e com os pobres. Mas hoje dispomos de muitas provas de que como essas políticas funcionam de fato numa economia deprimida --e está claro que, ao invés de gerar empregos, elas os destroem.
Quando olhamos a devastação econômica na Europa, devemos guardar em mente que alguns dos países que estão passando pela pior devastação vêm fazendo tudo o que os conservadores americanos dizem que devemos fazer aqui. Não faz muito tempo, os conservadores se derramavam em elogios à política econômica da Irlanda, especialmente os impostos baixos cobrados das empresas; a Fundação Heritage dava ao país uma nota mais alta que a de qualquer outra nação ocidental no quesito "liberdade econômica". Quando as coisas deram errado, a Irlanda voltou a ser fartamente elogiada, desta vez pelos cortes intransigentes em seus gastos, que supostamente iriam inspirar confiança e levar a uma recuperação rápida.
E agora, como mencionei antes, quase um terço dos jovens irlandeses não conseguem achar emprego.
O que devemos fazer para ajudar os jovens da América? Basicamente, o contrário do que querem Romney e seus amigos. Deveríamos estar ampliando a assistência aos estudantes, e não reduzindo-a. E deveríamos reverter as políticas de austeridade que estão freando a economia americana: os cortes inusitados nos gastos estaduais e locais, que vêm atingindo a educação muito duramente.
Sim, tal inversão de política custaria dinheiro. Mas recusar-se a gastar esse dinheiro é estupidez e miopia, mesmo falando em termos puramente fiscais. Vale lembrar que os jovens não são apenas o futuro da América: eles são também o futuro da base de contribuintes.
Desperdiçar uma mente é uma coisa terrível; desperdiçar os cérebros de uma geração inteira é ainda mais terrível. Vamos parar de fazê-lo!
Tradução de CLARA ALLAIN

A terceira revolução industrial


22/04/2012 | Enviar | Imprimir | Comentários: 1 | A A A
A primeira revolução industrial começou na Inglaterra no final do século XVIII, com a mecanização da indústria têxtil. Tarefas feitas anteriormente a mão em centenas de ateliês foram reunidas em um único espaço, e a fábrica nasceu. A segunda revolução industrial veio no início do século XX, quando Henry Ford dominou a linha de montagem móvel e inaugurou a era da produção em massa. As duas primeiras revoluções industriais tornaram as pessoas mais ricas e mais urbanas. Agora, uma terceira revolução está em curso. A manufatura está migrando para o campo digital. E isso pode mudar não apenas os negócios, mas muitas outras coisas mais.
Uma série de tecnologias notáveis estão convergindo: software inteligente, novos materiais, robôs mais ágeis, novos processos (em especial a impressão tridimensional) e toda uma gama de serviços baseados na web. A fábrica do passado baseou-se na produção de zilhões de produtos idênticos: uma frase atribuída a Ford diz que os compradores de carro podem escolher um automóvel na cor que quiserem, desde que ele seja preto. Mas o custo de produção de lotes muito menores de uma variedade mais ampla, com cada produto adaptado com precisão aos caprichos de cada cliente, está caindo. A fábrica do futuro se concentrará na customização em massa e pode acabar se assemelhando mais a esses ateliês do que à linha de montagem da Ford.
A velha maneira de fazer as coisas envolvia várias peças que deveriam ser aparafusadas ou soldadas. Agora, um produto pode ser projetado em um computador e “impresso” em uma impressora 3D, que cria um objeto sólido através da construção de camadas sucessivas de material. O design digital pode ser ajustado com alguns cliques. A impressora 3D pode funcionar de maneira autônoma, e pode fazer muitas coisas que são complexas demais para as fábricas tradicionais. Com o tempo, essas máquinas incríveis podem se tornar capazes de fazer quase qualquer coisa, em qualquer lugar – desde a sua garagem até uma aldeia africana.
As aplicações da impressão 3D são especialmente complexas. Atualmente, aparelhos auditivos e partes de jatos militares de alta tecnologia estão sendo impressos em formatos personalizados. A geografia das cadeias de abastecimento vai mudar. Um engenheiro que trabalha no meio de um deserto que carece de uma determinada ferramenta não tem mais que esperar que ela seja entregue da cidade mais próxima. Ele pode simplesmente baixar o projeto e imprimi-lo. Os dias em que os projetos eram paralisados por falta de peças, ou que os clientes reclamavam que não podiam mais encontrar peças de reposição para as coisas que tinham comprado, estão prestes a se tornar lembranças esquisitas do passado.
Outras mudanças são quase tão importantes. Novos materiais são mais leves, mais fortes e mais duráveis do que os antigos. A fibra de carbono está substituindo o aço e o alumínio em produtos que vão desde aviões até bicicletas. Novas técnicas permitem que engenheiros moldem objetos minúsculos. A nanotecnologia está dando recursos avançados aos produtos, tais como ataduras que ajudam a curar cortes, motores que funcionam de forma mais eficiente, e pratos que são limpos com mais facilidade. Vírus geneticamente modificados estão sendo desenvolvidos para produzir itens como baterias. E com a internet permitindo que designers colaborem cada vez mais em novos produtos, as barreiras à entrada estão caindo. A Ford precisou de muito capital para construir sua fábrica gigantesca; o seu equivalente moderno pode começar com pouco mais que um laptop e uma sede pela invenção.
Como todas as revoluções, ela será perturbadora. A tecnologia digital já abalou os setores de mídia e varejo, assim como fábricas de algodão esmagaram os teares manuais e os automóveis aposentaram muitos fabricantes de ferraduras. Muitos vão olhar para as fábricas do futuro e estremecer. Elas não estarão cheias de máquinas sujas operadas por homens em macacões oleosos. Muitas serão completamente limpas e quase desertas. Algumas montadoras já produzem duas vezes o número de veículos por empregado, do que faziam apenas uma década ou mais atrás. A maioria dos empregos não estará no chão da fábrica, mas nos escritórios nas proximidades, que estarão cheios de designers, engenheiros, especialistas de TI, especialistas em logística, marketing pessoal e outros profissionais. Os empregos na indústria do futuro exigirão mais habilidades. Muitas tarefas enfadonhas e repetitivas se tornarão obsoletas: você não precisa mais de rebitadores quando um produto não tem rebites.
A revolução vai afetar não apenas a maneira como as coisas são feitas, mas também onde elas são produzidas. Fábricas costumavam se deslocar para países de baixos salários para reduzir custos trabalhistas. Mas os custos trabalhistas estão se tornando cada vez menos importantes: um iPad de US$ 499 inclui apenas cerca de US$ 33 de trabalho manufatureiro, do qual a montagem final na China foi responsável por apenas US$ 8. A produção offshore está voltando cada vez mais para os países ricos, não porque os salários chineses estão subindo, mas porque as empresas agora querem estar mais perto de seus clientes, para que eles possam responder mais rapidamente às mudanças na demanda. E alguns produtos são tão sofisticados que se torna vantajoso ter as pessoas que os concebem e as pessoas que os produzem no mesmo lugar. O Boston Consulting Group estima que, em áreas como os transportes, computadores, produtos metalúrgicos e máquinas, um número entre 10 e 30% dos bens que os Estados Unidos importam da China poderiam ser produzidos no país até 2020, aumentando a produção norte-americana em até US$ 55 bilhões anuais.
O choque da novidade
Os consumidores terão pouca dificuldade em adaptar-se à nova era de melhores produtos, rapidamente entregues. Os governos, no entanto, poderão ter mais problemas. Seu instinto é o de proteger indústrias e empresas que já existem, e não as empresas iniciantes que podem destruí-las. Eles inundam antigas fábricas com subsídios e chefes intimidadores que querem transferir a produção para o exterior. Eles gastam bilhões que apóiam as novas tecnologias que, eles acreditam que irão prevalecer. E eles se agarram a uma crença romântica de que a produção é superior aos serviços, e muito mais importante que as finanças.
Nada disto faz sentido. As linhas entre indústria e serviços estão se tornando cada vez menos visíveis. A Rolls-Royce já não vende mais motores a jato; ela vende as horas que cada motor está impulsionando um avião no céu. Os governos sempre foram péssimos na hora de escolher os vencedores, e eles tendem a se tornar piores, enquanto uma legião de empresários troca projetos online, transforma esses projetos em produtos em casa e os comercializa globalmente da uma garagem. Com a revolução em andamento, os governos devem manter o básico: melhores escolas para uma força de trabalho qualificada, regras claras, e igualdade de condições para empresas de todos os tipos. Deixe o resto para os revolucionários.
F22/04/2012 | Enviar | Imprimir | Comentários: 1 | A A A
A primeira revolução industrial começou na Inglaterra no final do século XVIII, com a mecanização da indústria têxtil. Tarefas feitas anteriormente a mão em centenas de ateliês foram reunidas em um único espaço, e a fábrica nasceu. A segunda revolução industrial veio no início do século XX, quando Henry Ford dominou a linha de montagem móvel e inaugurou a era da produção em massa. As duas primeiras revoluções industriais tornaram as pessoas mais ricas e mais urbanas. Agora, uma terceira revolução está em curso. A manufatura está migrando para o campo digital. E isso pode mudar não apenas os negócios, mas muitas outras coisas mais.
Uma série de tecnologias notáveis estão convergindo: software inteligente, novos materiais, robôs mais ágeis, novos processos (em especial a impressão tridimensional) e toda uma gama de serviços baseados na web. A fábrica do passado baseou-se na produção de zilhões de produtos idênticos: uma frase atribuída a Ford diz que os compradores de carro podem escolher um automóvel na cor que quiserem, desde que ele seja preto. Mas o custo de produção de lotes muito menores de uma variedade mais ampla, com cada produto adaptado com precisão aos caprichos de cada cliente, está caindo. A fábrica do futuro se concentrará na customização em massa e pode acabar se assemelhando mais a esses ateliês do que à linha de montagem da Ford.
A velha maneira de fazer as coisas envolvia várias peças que deveriam ser aparafusadas ou soldadas. Agora, um produto pode ser projetado em um computador e “impresso” em uma impressora 3D, que cria um objeto sólido através da construção de camadas sucessivas de material. O design digital pode ser ajustado com alguns cliques. A impressora 3D pode funcionar de maneira autônoma, e pode fazer muitas coisas que são complexas demais para as fábricas tradicionais. Com o tempo, essas máquinas incríveis podem se tornar capazes de fazer quase qualquer coisa, em qualquer lugar – desde a sua garagem até uma aldeia africana.
As aplicações da impressão 3D são especialmente complexas. Atualmente, aparelhos auditivos e partes de jatos militares de alta tecnologia estão sendo impressos em formatos personalizados. A geografia das cadeias de abastecimento vai mudar. Um engenheiro que trabalha no meio de um deserto que carece de uma determinada ferramenta não tem mais que esperar que ela seja entregue da cidade mais próxima. Ele pode simplesmente baixar o projeto e imprimi-lo. Os dias em que os projetos eram paralisados por falta de peças, ou que os clientes reclamavam que não podiam mais encontrar peças de reposição para as coisas que tinham comprado, estão prestes a se tornar lembranças esquisitas do passado.
Outras mudanças são quase tão importantes. Novos materiais são mais leves, mais fortes e mais duráveis do que os antigos. A fibra de carbono está substituindo o aço e o alumínio em produtos que vão desde aviões até bicicletas. Novas técnicas permitem que engenheiros moldem objetos minúsculos. A nanotecnologia está dando recursos avançados aos produtos, tais como ataduras que ajudam a curar cortes, motores que funcionam de forma mais eficiente, e pratos que são limpos com mais facilidade. Vírus geneticamente modificados estão sendo desenvolvidos para produzir itens como baterias. E com a internet permitindo que designers colaborem cada vez mais em novos produtos, as barreiras à entrada estão caindo. A Ford precisou de muito capital para construir sua fábrica gigantesca; o seu equivalente moderno pode começar com pouco mais que um laptop e uma sede pela invenção.
Como todas as revoluções, ela será perturbadora. A tecnologia digital já abalou os setores de mídia e varejo, assim como fábricas de algodão esmagaram os teares manuais e os automóveis aposentaram muitos fabricantes de ferraduras. Muitos vão olhar para as fábricas do futuro e estremecer. Elas não estarão cheias de máquinas sujas operadas por homens em macacões oleosos. Muitas serão completamente limpas e quase desertas. Algumas montadoras já produzem duas vezes o número de veículos por empregado, do que faziam apenas uma década ou mais atrás. A maioria dos empregos não estará no chão da fábrica, mas nos escritórios nas proximidades, que estarão cheios de designers, engenheiros, especialistas de TI, especialistas em logística, marketing pessoal e outros profissionais. Os empregos na indústria do futuro exigirão mais habilidades. Muitas tarefas enfadonhas e repetitivas se tornarão obsoletas: você não precisa mais de rebitadores quando um produto não tem rebites.
A revolução vai afetar não apenas a maneira como as coisas são feitas, mas também onde elas são produzidas. Fábricas costumavam se deslocar para países de baixos salários para reduzir custos trabalhistas. Mas os custos trabalhistas estão se tornando cada vez menos importantes: um iPad de US$ 499 inclui apenas cerca de US$ 33 de trabalho manufatureiro, do qual a montagem final na China foi responsável por apenas US$ 8. A produção offshore está voltando cada vez mais para os países ricos, não porque os salários chineses estão subindo, mas porque as empresas agora querem estar mais perto de seus clientes, para que eles possam responder mais rapidamente às mudanças na demanda. E alguns produtos são tão sofisticados que se torna vantajoso ter as pessoas que os concebem e as pessoas que os produzem no mesmo lugar. O Boston Consulting Group estima que, em áreas como os transportes, computadores, produtos metalúrgicos e máquinas, um número entre 10 e 30% dos bens que os Estados Unidos importam da China poderiam ser produzidos no país até 2020, aumentando a produção norte-americana em até US$ 55 bilhões anuais.
O choque da novidade
Os consumidores terão pouca dificuldade em adaptar-se à nova era de melhores produtos, rapidamente entregues. Os governos, no entanto, poderão ter mais problemas. Seu instinto é o de proteger indústrias e empresas que já existem, e não as empresas iniciantes que podem destruí-las. Eles inundam antigas fábricas com subsídios e chefes intimidadores que querem transferir a produção para o exterior. Eles gastam bilhões que apóiam as novas tecnologias que, eles acreditam que irão prevalecer. E eles se agarram a uma crença romântica de que a produção é superior aos serviços, e muito mais importante que as finanças.
Nada disto faz sentido. As linhas entre indústria e serviços estão se tornando cada vez menos visíveis. A Rolls-Royce já não vende mais motores a jato; ela vende as horas que cada motor está impulsionando um avião no céu. Os governos sempre foram péssimos na hora de escolher os vencedores, e eles tendem a se tornar piores, enquanto uma legião de empresários troca projetos online, transforma esses projetos em produtos em casa e os comercializa globalmente da uma garagem. Com a revolução em andamento, os governos devem manter o básico: melhores escolas para uma força de trabalho qualificada, regras claras, e igualdade de condições para empresas de todos os tipos. Deixe o resto para os revolucionários.
Fontes: The Economist - The third industrial revolutionontes: The Economist - The third industrial revolution