quinta-feira, 29 de março de 2012

Favela vai virar estação da CPTM


Favela vai virar estação da CPTM

CAIO DO VALLE
A região central de São Paulo vai ganhar uma nova estação de trem. Até 2015, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) planeja inaugurar uma parada no terreno hoje ocupado pela Favela do Moinho, em Campos Elísios. Segundo o presidente da companhia, Mário Bandeira, três linhas atenderão o local: a 7-Rubi (Jundiaí-Luz), a 8-Diamante (Itapevi-Júlio Prestes) e o Expresso Leste (que atualmente vai de Guaianazes à Luz).
“Estamos com o projeto funcional em curso e esperamos, no segundo semestre, contratar o básico e o executivo”, disse o dirigente na semana passada. O nome da estação será Bom Retiro. Ela atenderá, conforme a estimativa da CPTM, cerca de 30 mil passageiros por dia. A elaboração do projeto funcional custará R$ 140 mil. De acordo com Bandeira, as obras devem começar no fim de 2013.
O problema é que boa parte das pessoas que vivem na favela ainda não têm opções de moradia fora dali. A Secretaria Municipal de Habitação, responsável pelo remanejamento, informou ontem que, desde janeiro, 815 famílias da comunidade cadastradas pela equipe social da pasta recebem ajuda para pagar aluguel. Além disso, todas receberão moradia definitiva em conjuntos que serão construídos em áreas vizinhas ao local. A Prefeitura, porém, não informou quais são elas.
As 407 famílias diretamente afetadas pelo incêndio que, em dezembro, consumiu o prédio abandonado do Moinho Central, matando duas pessoas, teriam optado pelas unidades habitacionais que já estão em construção na Vila dos Remédios, na zona oeste. Elas representam cerca de metade dos moradores cadastrados.
Entretanto, a aposentada Neide Aparecida Campos, de 61 anos, que mora na favela, reclama da falta de informações para quem ficou. “Estamos sem saber nada. De uns tempos para cá, a Prefeitura sumiu. Não sabemos quando, exatamente, teremos que sair.”
A Prefeitura informou quando os conjuntos habitacionais para as famílias serão entregues. O JT visitou o local ontem e viu muitas pessoas vivendo sob o Viaduto Engenheiro Orlando Murgel, ao lado da comunidade, em chão de terra batida. O carroceiro João Miguel da Silva, de 55 anos, era uma delas. “Dizem que vão dar apartamentos. Estamos esperando.”
Várias crianças e idosos arriscavam-se atravessando a linha férrea – com intenso fluxo de trens – que passa sob a estrutura. Segundo a Prefeitura, a área da favela é de 30,1 mil metros quadrados.
Nos projetos da gestão Gilberto Kassab (PSD), pela região da comunidade passarão uma avenida e um parque, e as linhas de trem serão enterradas. Trata-se da Operação Urbana Lapa-Brás, que não tem um prazo para sair do papel.
Apesar disso, o presidente da CPTM disse que a Estação Bom Retiro já será construída prevendo a mudança. Enquanto a estação for na superfície, o mezanino ficará embaixo da parada. Depois, atenderá as linhas subterrâneas.

O papel das prefeituras na disseminação de ideias



Coluna Econômica - 29/03/2012
O grande desafio brasileiro, nos anos 90, era a ausência de redes sociais, estruturas nacionais que pudessem ser articuladas para a implantação de grandes políticas públicas. Alguns anos antes o poder havia sido devolvido à sociedade civil, só que não havia sociedade civil de âmbito nacional, com exceção de alguns clubes de serviços e de algumas organizações empresariais e religiosas.
Foi uma década fervilhante em ideias, mas que sempre esbarravam nessa ausência de redes. Os institutos de pesquisa poderiam pensar em inovações tecnológicas incrementais para pequenas empresas. Mas quem se incumbiria da sua disseminação?
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Aos poucos várias redes foram se formando. O Sebrae logrou montar uma rede nacional, com variações em cada estado da União. As próprias confederações empresariais e sindicais lograram alguma abrangência.  Empresas pública, como o Banco do Brasil, foram incumbidos dessa ação de disseminação de conceitos. Principalmente o SUS (Sistema Único de Saúde) tornou-se referência nacional em modelo de ação federativa.
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O salto final, no entanto, está se dando no âmbito da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP). Acompanhei seu início, em fins dos anos 80, sob a liderança da então prefeita paulistana Luiza Erundina.
De lá para cá o movimento ganhou musculatura. Com a Lei Geral da Pequena e Microempresa, está se formando uma rede nacional de agentes de desenvolvimento, lotados em cada prefeitura.
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Durante décadas, no Brasil, academias desenhavam modelos de desenvolvimento tendo como ponto central a grande empresa. Julgava-se que fortalecendo os setores mais modernos, eles, por si, arrastariam a economia atrás, em um esforço modernizante.
Foi fundamentalmente esse o modelo empreendido por Fernando Henrique Cardoso e que, de certo modo, copiava as ações de Albert Hirschmann na Colômbia, no início dos anos 50. País pobre, sem estrutura industrial, sem mercado de capitais, a única maneira de promover o desenvolvimento, segundo Hirschman, seria eleger alguns setores para serem campeões e disseminarem os novos conceitos para o restante da economia.
Era essa a posição de um dos grandes economistas brasileiros, Ignácio Rangel, quando, nos anos 60, defendia o fortalecimento do setor financeiro para que se transformasse na ponta de lança da economia.
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Hoje em dia, pode-se abrir mão dessas gambiarras. O país tem uma estrutura industrial e de serviços, tem organizações de cunho nacional e, agora, tem a estrutura das prefeituras podendo atuar de forma coordenada.
Essa é a face sustentada do desenvolvimento, a formação de redes econômicas, de pequenos, micro empresários organizando-se em cooperativas, em arranjos produtivos, ou em torno de estruturas mais fortes.
E aí o papel do prefeito é fundamental. Caberá e ele a coordenação das forças locais, a identificação das carências, a prospecção das fontes de financiamento.
É um duro trabalho de construção social, até porque a maioria das prefeituras carece de quadros técnicos mínimos. Mas não existe outra maneira de construir uma nação. É através dessas redes, e não de planos econômicos mirabolantes, que o país se tornará primeiro mundo

terça-feira, 27 de março de 2012

De onde vêm as boas ideias? Do site Opinião e Notícia


De onde vêm as boas ideias? Por séculos, todo o crédito desses misteriosos presentes foi para a fé, sorte e algumas musas mitológicas. Mas presumir que a criatividade é um aspecto elevado, concedido apenas a alguns é tanto contraproducente como tolo, argumenta Jonah Lehrer em Imagine, um inteligente novo livro sobre “como a criatividade funciona”. Utilizando-se de um grande conjunto de pesquisas científicas e sociológicas– incluindo a poesia de W.H. Auden e os filmes da Pixar – Lehrer argumenta de modo convincente que a inovação não só pode ser estudado e medida, como também nutrida e encorajada.
Nos arredores de St. Paul, Minnesota, localiza-se o extenso quartel general corporativo da 3M. A empresa vende mais de 55 mil produtos,dentre os quais lâmpadas de postes e telas sensíveis ao toque, e é ranqueada como a terceira empresa mais criativa do mundo, mas quando Lehrer fez uma visita, ele encontrou funcionários fazendo toda sorte de frivolidades, como jogar pinball e passear a esmo pelo terreno. Na verdade, esses funcionários são impelidos a incluir em seus expedientes pequenos intervalos, porque o distanciamento pode contribuir para surgir um insight. Isto se dá porque interromper o trabalho com uma atividade relaxante permite à mente se voltar para dentro, onde é possível resolver um problema e criar conexões sutis em um nível subconsciente (o cérebro encontra-se incrivelmente ocupado em momentos de devaneio). “Isso explica porque tantos insights acontecem durante banhos quentes”, diz Joydeep Bhattacharaya, um psicólogo da Universidade de Londres, em Goldsmith.
Entretanto, essa é apenas uma das razões que explica a produção criativa da 3M (e a 3M é apenas um exemplo dentre muitos deste livro). A empresa também encoraja seus funcionários a se arriscar, não só investindo em pesquisa (8% de seu faturamento bruto), mas também por esperar que seus empregados dediquem cerca de 15% de seu tempo a ideias especulativas. A razão do sucesso dessa abordagem – e o porquê desta ter sido imitada por outras companhias astutas como a Google – deve-se ao fato de que muitos avanços se dão quando pessoas vão além de suas áreas de especialização. Geralmente é preciso que alguém de fora faça perguntas bobas para que uma solução pouco convencional seja gerada. É por isso que os jovens tendem a ser os mais inovadores em todos os campos, como na física e na música.
Trata-se de um livro cativante e inspirador que revela a criatividade mais como um potencial do que como um sinal de rara inteligência. Lehrer conclui com um apelo por métodos que “aumentam a criatividade coletiva”. Ele sugere uma maior permissão à imigração, maior abertura a riscos e mais possibilidades de apropriações e adaptações culturais (ao cortar pela raiz a enxurrada de patentes e pedidos de copyrights vagos). Ele também adverte que o trabalho toma muito tempo, suor e persistência. Ou, como disse Albert Einstein: “a criatividade é o resíduo do tempo desperdiçado”.